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4 DOS BENEFÍCIOS DA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

4.2 Dos Benefícios Indiretos da Redução da Jornada de Trabalho

4.2.1 Geração de empregos

Conforme dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), uma efetiva redução da jornada de trabalho brasileira, das atuais 44 para 40 horas semanais, fará surgir no mercado de trabalho, um grande número de vagas de emprego.

Assim se posicionou o Dieese, a partir das informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), obtidas em 2004:

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Essa redução teria, potencialmente, a capacidade de gerar aproximadamente 2,2 milhões de postos de trabalho. Isto porque, em 2004, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mais de 21 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil tinham jornadas de 44 horas semanais. Caso se limitasse a jornada em 40 horas semanais, 4 horas de cada um deles estariam disponíveis para serem realizadas por um trabalhador desempregado. Assim, para manter o mesmo nível de produção, sem alterar qualquer outra variável, seria possível empregar mais de 2 milhões de trabalhadores que executariam, assim, as mais de 84 milhões de horas que deixariam de ser cumpridas por aqueles que tiveram sua jornada reduzida.91

A preocupação em gerar mais empregos é antiga e várias políticas já foram implementadas neste sentido.

Renato Saraiva lembra os esforços para ampliar o número de empregos, como por exemplo, o trabalho em regime de tempo parcial:

O trabalho em regime de tempo parcial é adotado desde 1944 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio da Convenção 175, complementada pela Recomendação 182, objetivando ampliar o número de empregos.92

Outros países também adotaram essa prática visando gerar mais empregos aos cidadãos:

Quando o limite de 48 horas, em vigor no Chile desde 1924, foi reduzido para 45 horas em 2005, o objetivo principal era criar empregos (ECHEVERRÍA, 2002). Na Coreia, também, o debate sobre a redução do limite de 44 horas, instituído quando a crise de 1997 começava a ser superada, centrou-se inicialmente na erradicação do desemprego (LEE, 2003; YOON, 2001).93

Observamos, no entanto, que não há consenso na doutrina sobre a redução da jornada de trabalho realmente gerar mais empregos. Para Mauricio Godinho Delgado, o encurtamento da jornada de trabalho proporciona mais vagas no mercado:

91 DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Nota técnica: Estudo sobre a

Redução da Jornada de Trabalho e Fim das Horas Extras no Brasil. 2006. Disponível em:

<http://www.dieese.org.br/notatecnica/notatec37JornadaHoraExtras.pdf> Acesso em: 3 mai. 2012.

92

SARAIVA, Renato. Direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: Método, 2008, p. 217.

93 SANGHEON LEE, Deirdre McCann e Jon C. Messenger. Duração do trabalho em todo o mundo. Suíça.

Assim, a criação de empregos novos em face do encurtamento da duração do trabalho seria fundamental mecanismo de democratização do processo científico e tecnológico alcançado pela humanidade nas últimas décadas.94

Manuel Alonso Olea também defende que a redução da jornada trará mais oportunidades de trabalho:

A redução “considerável” das horas de trabalho (assentado já que as atuais, como consequência de sua considerabilíssima redução histórica, não são em geral decisivas), se apresenta inclusive como alternativa do crescimento econômico para reduzir o desemprego, ante a convicção de que a continuação daquele – após a “brutal desaceleração do crescimento em quase todo o mundo... durante os anos oitenta” – não freá-lo, pois que aquele não garante “a consecução de níveis de emprego apropriados”. Os prognósticos de redução do tempo de trabalho para um futuro não remoto são verdadeiramente espetaculares, embora minuciosamente contempladas são extrapolações de tendência, hoje pode afirmar-se que seculares.95

Acreditamos que a geração de novos postos de trabalho irá tirar muitos trabalhadores da condição de informalidade e contribuir para criar um sistema de seguridade social mais sustentável.

Conforme bem observa José Pastore, a crescente força de trabalho informal preocupa o equilíbrio financeiro da seguridade social:

Entre nós, quase 60% da força de trabalho estão na informalidade e nada contribuem à seguridade social. Ao mesmo tempo, todos têm o direito de serem atendidos "gratuitamente" pelo SUS na hora do acidente ou da doença, e pelo INSS, na chegada da velhice carente.96

Sadi Dal Rosso também entende que a redução da jornada de trabalho irá gerar mais empregos:

O professor de sociologia do trabalho Sadi Dal Rosso, da UnB, sustenta que a redução da jornada terá, sim, impacto positivo na geração de empregos. Dal Rosso lembra que, em 1988, estudo por ele realizado demonstrou que a

94

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTR, 2012, p. 865.

95

OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao direito do trabalho. Tradução de Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Aglaé Marcon, Itacir Luchtemberg e Sebastião Antunes Furtado. 5. ed. Curitiba: Genesis, 1997, p. 78.

96

PASTORE, José. A questão da informalidade. Disponível em: <http://www.josepastore.com.br> Acesso em: 30 abr. 2012.

redução da jornada de 48 para 44 horas semanais, instituída pela Constituição, elevou em 0,7% o total de empregos no País.97

Assim, não obstante o dissenso doutrinário sobre a eficácia da redução da jornada de trabalho em gerar mais postos, acreditamos que poderá haver efetivo aumento de vagas fundamentado no fato de que, com a redução da jornada realizada em 1988, houve aumento real do número de postos de trabalho naquele momento.

Outro aspecto bastante relevante, que poderá contribuir com a criação de novas vagas, é a estipulação de maior percentual para o pagamento de horas extraordinárias, como prevê o Projeto de Emenda Constitucional nº 231, que tramita no Brasil.