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Eixo 1 | Proteção do ambiente e melhoria da qualidade das massas de água

2. FASE 2: QUADRO ESTRATÉGICO

2.2 VISÃO E OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

2.2.2 Eixo 1 | Proteção do ambiente e melhoria da qualidade das massas de água

64. A proteção do ambiente e melhoria da qualidade das massas de água representa a “imagem de marca” do PENSAAR 2020 enquanto estratégia para um setor que é parte integrante da área mais vasta que é o ambiente, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida das populações mas garantindo, ao mesmo tempo, a sustentabilidade ambiental de todas as ações propostas pela estratégia. Deste modo, a proteção do ambiente e a melhoria da qualidade das massas de água estarão, do ponto de vista da perceção dos utilizadores, interligadas com a qualidade dos serviços. As ações a desencadear dentro da estratégia e, em particular, neste Eixo, permitirão um desenvolvimento equilibrado de ambas as vertentes – a prestação de serviços à população e o potenciar do capital ambiental e da economia verde de uma forma articulada. Ao mesmo tempo, as ações com um objetivo ambiental terão em conta a sua sustentabilidade económico-financeira e social evitando que se incorram em custos excessivos que se iriam repercutir nos utilizadores. Esta preocupação está patente nos objetivos operacionais 1.2 e 1.3 apresentados no capítulo 2.3.

65. Tendo Portugal ultrapassado as questões de saúde pública associadas ao saneamento básico, as atenções de caráter ambiental direcionam-se agora para a resolução de problemas relacionados com a sustentabilidade ambiental, que do ponto de vista do cumprimento da legislação tem também que ser assegurada. Com a DQA e com a Lei da Água a gestão dos recursos hídricos deixou de ser orientada fundamentalmente para garantir os usos, passando- se a privilegiar também a proteção e melhoria do estado das massas de água. Efetivamente as massas de água deixaram de corresponder a meros recursos, passando a ser encaradas como um suporte da vida nos meios aquáticos, absolutamente decisiva para a sustentabilidade. Mantem-se, assim, a atualidade do PEAASAR II, quando referia que a Lei da Água “visa objetivos ambiciosos, para cuja prossecução define princípios e metodologias incidindo no

planeamento e na gestão dos recursos hídricos que irão influenciar de forma marcante o desenvolvimento do sector num horizonte temporal alargado”. À Lei da Água deve ser associado o Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de junho, que transpõe a Diretiva das Águas Residuais Urbanas (DARU) e que constitui como que um “pré-requisito” ao cumprimento da Lei da Água. O Eixo 1 inclui um objetivo operacional primário que visa a resolução das situações pendentes de incumprimento da legislação nacional e comunitária, nomeadamente as que sustentam a existência de processos de infração da DARU ou as que, caso não sejam tomadas medidas a curto prazo, poderão vir a configurar um incumprimento da DARU (nomeadamente pela incapacidade de cumprimento do Título de Utilização dos Recursos Hídricos (TURH) para descarga de águas residuais ou decorrente de alterações futuras das zonas sensíveis).

66. O esforço de melhoria do estado das massas de água deverá continuar a visar a prossecução dos objetivos ambientais previstos na Lei da Água, dos quais se destaca, para as águas superficiais, o de alcançar o bom estado de todas as massas de água e o bom potencial ecológico e o bom estado químico das massas de água fortemente modificadas e das massas de água artificiais até 2015. Este prazo foi prorrogado, em Portugal e noutros Estados-Membros, para 2021 e 2027.

67. O Eixo 1 do PENSAAR 2020 contém o contributo dos serviços de AA e de SAR para a proteção do ambiente e para a melhoria da qualidade das massas de água, numa perspetiva de repartição justa e equilibrada dos custos das ações a desencadear, que terão de ser repercutidos sobre os utilizadores, incluindo os do ciclo urbano da água.

68. No período de vigência do PENSAAR 2020 a gestão dos recursos hídricos será norteada, sobretudo, pela nova geração de PGBH, atualmente em elaboração, que entrarão em vigor em 2016 por um período de 6 anos. Fruto da experiência entretanto adquirida e da necessária adaptação à evolução do sector, na nova geração de PGBH as descargas para águas superficiais serão controladas de acordo com a abordagem combinada estabelecida na Lei da Água. Deverá dar-se também particular destaque à contabilização da poluição difusa. De facto, poderão existir casos em que sem haver melhorias efetivas ao nível do controlo das fontes difusas, o estado das massas de água não alcançará os objetivos previstos na Lei da Água por melhor que seja feito o controlo das fontes pontuais, sejam elas urbanas, pecuárias, agropecuárias ou da indústria. Com a melhoria da estimativa das cargas difusas acoplada à modelação matemática prevista pela APA, espera-se não só aumentar o conhecimento, como fazer adequar os níveis de tratamento dos efluentes urbanos ao seu contributo real para o estado das massas de água, sendo este um passo decisivo para a implementação do princípio do poluidor-pagador.

69. Neste enquadramento o Eixo 1 inclui um segundo objetivo operacional que engloba as medidas e ações cuja implementação apresenta um rácio custo-benefício ambiental positivo, decorrente de melhorias no tratamento em ETAR urbanas. Com base neste pressuposto, as intervenções passarão a ser devidamente justificadas, nomeadamente com base na monitorização e na modelação matemática, que permitirão estabelecer a existência de relações claras de causa-efeito entre a pressão urbana e a qualidade da massa de água ou da sub-bacia e que determinarão o nível de tratamento a propor, não alheadas do custo associado à sua adopção.

70. O Eixo 1 abarca ainda a preocupação com a universalidade no acesso universal ao saneamento, através de soluções adequadas, em conformidade com as exigências em matéria

de direitos humanos, acautelando a sustentabilidade económico-financeira e a proteção do ambiente por via de um outro objetivo operacional.

71. No âmbito deste Eixo estão também previstas ações específicas vocacionadas para sistemas de saneamento não convencionais. No período 2007-2013 a AdP efetuou um levantamento das infraestruturas do ciclo urbano da água existentes em grande parte do território nacional, tendo confirmado que para uma parcela considerável da população, considerando a dispersão da ocupação do solo, as características do habitat, etc. não é técnica e economicamente adequado implementar redes de drenagem convencionais. Esta situação está prevista na Diretiva 91/271/CEE, devidamente transposta para a legislação nacional pelo DL n.º 152/97 de 19 de junho, que no n.º3 do artigo 4º refere: “Sempre que fique demonstrado que a instalação de um sistema de drenagem não se justifica, por não trazer qualquer vantagem ambiental ou por ser excessivamente oneroso, pode a entidade licenciadora autorizar a utilização de sistemas individuais ou outros adequados que proporcionem o mesmo grau de proteção ambiental.”

72. No caso dos sistemas de tratamento individuais, não obstante serem propriedade dos particulares, o serviço de recolha das lamas deve ser assegurado, de acordo com o previsto no DL n.º 194/2009, de 20 de agosto, pela EG, garantindo o seu funcionamento adequado. Desta forma, conseguir-se-á assegurar um serviço de saneamento adequado para as populações que não estão ainda servidas por um serviço público de SAR, a custos mais baixos comparativamente às soluções convencionais, sem prejuízo para o ambiente.

73. Esta problemática estava já referida no PEAASAR II mas não foi incluída qualquer medida específica para controlar e melhorar esse tipo de solução como é agora proposto no PENSAAR 2020. A opinião expressa pelo CNA em 2006 vai no mesmo sentido, ao referir o seguinte: 74. “No domínio das águas residuais foram adotadas soluções integradoras, o que tendo em conta

certas condições topográficas e de dispersão de certos aglomerados existentes em zonas rurais do País, conduziu, em muitos casos, a um número elevado de sistemas, com as consequentes dificuldades de exploração. Entende-se que a sustentabilidade deste tipo de sistemas deve obrigar à análise de soluções descentralizadas de saneamento, com o desenvolvimento de soluções adaptadas à realidade local. Muitas vezes, pode ser uma solução adequada manter o nível de serviço existente, frequentemente por fossas sépticas e de tratamento no solo, ou reabilitá-lo com custos reduzidos de investimento.”

75. Dentro do Objetivo Estratégico de proteção do ambiente e melhoria da qualidade das massas de água definem-se três objetivos operacionais, a saber:

Objetivo Operacional 1.1: Cumprimento do normativo

Objetivo Operacional 1.2: Redução da poluição urbana nas massas de água Objetivo Operacional 1.3: Aumento da acessibilidade física ao serviço de SAR

76. A prossecução destes objetivos operacionais é assegurada por um conjunto de medidas e ações, que por seu lado têm correspondência em situações a resolver para proteger o ambiente e melhorar a qualidade das massas de água e aumentar a acessibilidade das populações aos serviços de SAR, com enfoque para a adoção de soluções descentralizadas, cujo adequado funcionamento será garantido pelas EG.

77. Os três objetivos são complementares dado que ao OP 1.1 de cumprimento do normativo associa-se o OP 1.2 que promove investimentos que são justificados pela relação causa-efeito entre a poluição urbana e a melhoria da qualidade das massas de água para onde a poluição é descarregada, bem como pela sua viabilidade económica. Os investimentos realizados no âmbito desses dois objetivos vão contribuir também para o OP 1.3 de aumento da acessibilidade física ao serviço, aos quais se adicionam os investimentos que estarão previstos neste último objetivo operacional através da realização de soluções de mais baixo custo nas quais se incluirá a melhoria da gestão de soluções individuais.