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4.3 Apresentação dos resultados

4.3.3 Categoria III Conhecimento da língua e produção de textos

4.3.3.1 a Elaboração do texto no post

Durante a criação do blog, na fase C desta pesquisa, uma ação recorrente dos alunos foi a leitura em voz alta de algumas partes do próprio texto.

Em alguns casos essa leitura em voz alta foi usada como estratégia para continuar escrevendo ou para concluir frases e ideias no texto. A leitura em voz alta daquilo que o aluno tinha escrito até esse momento facilitava a continuação da escrita. Essa estratégia também foi usada para verificar a coerência da frase e identificar elementos que não faziam sentido e, se for o caso, melhorá-los. A partir dessa verificação, eles modificavam ou continuavam escrevendo as frases do texto.

No caso desta fala do Aluno 3, ele lê em voz alta parte do texto que ele tinha escrito e, ao ler um dos trechos, percebe alguma anomalia, erro ou falta de informação, portanto ele diz: "Ai, eu fiz errado".

Aluno 3: Eu só vou terminar. Para mim ficou legal. Ô! (lê em voz alta): Oi gente vou falar um pouco de Doctor Who para vocês, tema da série, ficção cientifica, nome dos atores, eu vou escrever agora, (continua lendo o texto em voz alta) curiosidades, tadisse é o nome de um time de futebol americano. Ai, eu fiz errado.

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Aluno 3: Porque se alguém nunca assistiu a série, não vai saber o que é a tadisse.

(Fase C. Sessão 2)

Neste caso, o Aluno 3 percebeu que fazia falta informação para o leitor entender o texto que ele estava elaborando. Portanto, a leitura em voz alta foi uma boa estratégia para ele melhorar o texto do post e dar a informação necessária para o leitor entrar em contexto.

A Aluna 4, nesta sessão, leu, em algumas ocasiões, o texto em voz alta para a pesquisadora escutar. Ela queria reafirmar a clareza e coêrencia do texto, buscando apro- vação da pesquisadora. Ela também leu em voz alta para a Aluna 2, em complicidade. As duas sabem de quem ela está falando ao colocar "uma pessoa que você odeia":

Aluna 4: Ô! (Lê em voz alta)As músicas fazem a gente se animar com a dança, mas também fazem a gente ficar triste, também faz a gente lembrar de certas pessoas. Por exemplo, uma pessoa que você ama, ou uma pessoa que você não vê em muito tempo ou uma pessoa que você odeia, recalcada kkk.

Aluno 3: Oxe!

Aluna 2: Recalcada (fala o nome da pessoa, a qual a Aluna 4 está se referindo), coloca aí.

Aluna 4: Vou colocar.

Aluna 2: Você não vai colocar, vai? E se ela vê depois? Aluna 4: Ah, não paga minhas conta.

(Aluna 2, Aluno 3, Aluno 4, Fase C. Sessão 2)

A Aluna 4 verifica com a Aluna 2 que, mesmo não colocando o nome da pessoa quem ela ’odeia’, dá para entender de quem ela está falando e se cria uma complicidade entre elas e o texto.

Na primeira atividade no tablet, durante a Fase B da coleta, os alunos tinham de cumprir uma série de comandas nas redes sociais e no blog, as quais resultaram muito mecânicas para os objetivos definidos nesta pesquisa. Na Fase C, em uma tentativa de abrir um espaço à criatividade, a atividade se focou na produção, tornando aos alunos autores no meio digital. Portanto, foi solicitado aos alunos a criação de um post no blog. Desta forma, a atividade não era apenas cumprir com uma comanda, mas escrever sobre algum tópico, pensando na possibilidade de serem lidos por um público. O fato do alunos estarem se dirigindo a alguém (mesmo sem estabelecer um público específico) mudou a forma em que desenvolviam a atividade, as palavras cobraram sentido. Bakhtin(2004) mencionava que a língua só pode existir em uma interação social e que ela só pode ser estudada de forma dialógica, tendo um interlocutor, ainda que potencial. Neste sentido, achou-se importante que os alunos criassem um post, tendo em mente a possibilidade de serem lidos, ou seja de terem um interlocutor. Isto

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possibilitou o estudo de caráter comunicativo (social e ideológico) da língua em uso, nos ambientes digitais.

Foi perguntado aos alunos se eles tinham escrito o texto para alguém em especí- fico ou para um público delimitado. A Aluna 2 não identificou um público específico ou, pelo menos, não indicou ele ao responder à pergunta:

Ah, eu tou escrevendo para todo mundo que quiser ler. É, não tem uma pessoa, tipo, ah, eu vou escrever para essa pessoa. (Aluna 2, Fase D)

A Aluna 4 dirigiu-se ao público na terceira pessoa do singular: você. Quando a pesquisadora perguntou para ela o motivo dessa escolha, ela disse:

É, vai ter vários leitores que vai ler, eu acho. Só que coloquei você, porque é específico, específico para o leitor que ta lendo. (Aluna 4, Fase D)

O Aluno 3 escreve o post na primeira pessoa, dirigindo-se ao público como se ele estivesse ’falando’ com a pessoa, frente a frente.

Ah, eu tou, tipo, tou me apresentando, que eu vou falar um pouco de Doctor Who. É porque assim, é a primeira vez que eu vou fazer um post, nem primeira vez é, acho que é a segunda, aí eu fiquei meio nervoso de não entender, aí eu coloquei: “Oi gente eu vou. . . ” como se eu estivesse do lado (...) Falando, pessoalmente para a pessoa. (Aluno 3, Fase D)

As palavras dos alunos adquiriram maior força e importância quando eles ficaram sabendo que haveria leitores, ainda que potenciais, para os posts que desen- volvessem. Na fase anterior, quando foi solicitado compartilhar o blog de Minecraft, comentar em um vídeo de Youtube e depois escrever sobre sua experiência, eles fizeram as atividades de forma mecânica, sem colocar sua própria voz. Ao contrário, nesta Fase C de escrita do post, eles estavam falando para alguém sobre um tópico do interesse deles.