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Eleições para a Prefeitura de São Paulo em 1988: resultado proporcional do PT e candidato vencedor por Zona Eleitoral.

Na região Leste tiveram boa votação, além de Adriano Diogo, Valfredo Ferreira Silva e Juscelino Silva Neto, reeleitos, e Devanir Ribeiro. Na região Noroeste, Tereza Lajolo é reeleita. Além dela foram eleitos Henrique Pacheco e Maurício Faria. Os três também receberam votação expressiva em algumas zonas eleitorais da Zona Norte. No centro expandido, apareceram, entre os mais votados, Chico Whitaker, arquiteto; Pedro Dallari, economista; e Tita Dias, bancária. Desta forma a política do partido se estabelecia espacialmente. E o PT, apesar de ter seus candidatos com votação na região central, passou a contar, cada vez mais, com lideranças nas regiões Sul e Leste.

A ampliação do número de vereadores permitiu que mais lideranças passassem à face pública do partido. Na Zona Sul, além dos citados, se destacou Ítalo Cardoso, somando três parlamentares com expressão na região. Na Leste, foram quatro: além de Adriano Diogo, mantiveram boa votação Valfredo Ferreira Silva e Juscelino Silva Neto, e Devanir Ribeiro. Na Noroeste foram dois os representantes, com a reeleição de Tereza Lajolo. Concentraram a votação no centro expandido Chico Whitaker, Tita Dias, Irede Cardoso e Pedro

Dallari49. Os territórios começaram a colocar suas lideranças no parlamento.

A passagem da liderança local ao parlamento traz consigo benefícios locais imediatos, já que o Poder Público passa a operar a partir do território sem, necessariamente, a mediação das demandas. Antes, com incentivos seletivos limitados, as lideranças eram legitimadas por sua ação e envolvimento no território, independendo das estruturas estatais. Eram instituídas em cargos que não carregavam consigo a estrutura que um mandato tem. A partir da representação enquanto face pública, a liderança passa a operar de outra forma. O parlamentar tem a possibilidade da governança política no território, a partir da possibilidade de distribuição de incentivos seletivos que concorrem, inclusive, com aqueles que a burocracia partidária dispõe. Ao dispor de assessores que possam se dedicar ao partido, o parlamentar da região passa a influenciar a agenda partidária local, invertendo a relação anteriormente existente.

49 A tabela com os votos dos candidatos a vereador eleitos que pontuaram entre os dez mais

Até 1988, com a vitória do PT no Executivo municipal, a dispersão territorial dependia da existência de grupos locais orgânicos para se estabelecer. Isso começou a se modificar a partir de então, com a montagem do governo municipal. A estrutura administrativa paulistana, em virtude do tamanho e da complexidade da cidade contava, além das pastas setoriais, como Finanças, Saúde, Educação, entre outras, com as Administrações Regionais, estruturas

territoriais que buscam descentralizar o atendimento direto ao cidadão. Em 1989,

elas eram vinte. Se, na proposição de nomes para o Secretariado, Erundina buscou pessoas com expertise nos temas, como Paulo Freire na Educação, Marilena Chauí na Cultura, Eduardo Jorge na Saúde, Paul Singer no Planejamento, Ermínia Maricato na Habitação e Perseu Abramo na comunicação, nas Administrações Regionais ela buscou contemplar as lideranças locais, que já eram interlocutoras e referências nos territórios. Para isso, solicitou aos Diretórios Zonais que elaborassem lista tríplice para a decisão.

O resultado foi que, dos 20 Administradores Regionais, nove compunham Executivas Zonais, em sua maioria a Presidência. Isso facilitava a relação do governo com os militantes do partido e as lideranças locais e respeitava a territorialização política já estabelecida. Também fortalecia financeiramente o partido, em função da contribuição partidária. Ao mesmo tempo, e no sentido inverso, a transferência destas lideranças locais para a administração, para a face pública do partido, acabava por enfraquecer o partido, já que era o poder público, com seus agentes em suas funções, com suas possibilidades e limitações, que estava presente no dia a dia de cada um dos lugares.

Os Diretórios também buscaram influenciar Secretarias e departamentos com presença territorial, como o das Diretorias de Ensino, na Educação, as Coordenadorias Regionais de Saúde, bem como equipamentos presentes em cada um dos lugares, com algum sucesso, já que a quantidade de cargos da administração era grande. Como ilustração, destaca-se Hugo Folegati, Secretário de Finanças do DZ da Lapa, que passou a administrar o Centro Desportivo Cultural “Edson Arantes do Nascimento”, o Pelezão, importante equipamento público da região; Vilson Augusto Nascimento, Vice-Presidente do DZ Guaianases, que assumiu como Assistente I na Administração Regional de Guaianases; Januário Figueiredo de Almeida, Secretário Executivo do DZ

Pirituba, que assumiu como Oficial de Gabinete na Administração Regional daquele bairro. Enfim, houve uma transferência dos quadros do partido para o governo.

Tabela 3.1 Relação de Administradores Regionais nomeados em 1990 e, quando há, correspondência com

os cargos em Diretórios Zonais Eleições.

Administradores Regionais nomeados em 1990 Cargo em DZ

Butantã Nelson Bedin PT

Campo Limpo Vicente Cândido PT Presidente DZ Campo Limpo Capela do Socorro Leonide Tatto PT Presidente

DZ Capela do Socorro

Freguesia do Ó Roberto Lajolo PT

Itaquera/ Guaianses Américo Rodrigues Filho PT Presidente DZ Itaquera Ipiranga Anísio Batista de Oliveira PT

Lapa Nelson Frateschi Jr. PT Presidente DZ Lapa

Mooca Waldemar Rossi PT

Penha de França Antonio Crescente Filho PT Secretário Geral DZ Vila Matilde Perus José Carlos Miranda PT Vice Presidente DZ Pirituba Pinheiros Cid Barbosa Lima Jr. PT ? DZ Pinheiros Pirituba/ Jaraguá José Laurindo de Oliveira PT

Santana/ Tucuruvi Lauro Marcondes PT

Santo Amaro Ubiratan de Carvalho PT Secretário Geral DZ Cidade Ademar

São Mateus Aldo Leite da Silva PT

São Miguel Paulista Manoel Cordeiro Coelho Jr. PT

Sé Vicente Trevas PT

Vila Maria/ Vila

Guilherme Henrique Olitta PT

Secretário de

Formação DZ Vila Guilherme Vila Mariana Luiz Fernando Telles Claro PT

Vila Prudente Francisco Macena PT Presidente DZ Vila Prudente Fonte: Diário Oficial da Cidade de São Paulo para os cargos na Prefeitura de São Paulo e fichas de “Classe 5” do TRE- SP para os cargos nos Diretórios Zonais.

Não é possível precisar o quanto essa mudança de papeis ajudou na relação do partido com a população. Enquanto há relatos positivos, como o de Lajolo, de que a população se reconhecia no governo, há falas, como a de

Pacheco, que criticaram a dificuldade de ação dos movimentos, que precisavam

continuar agindo politicamente em função de suas pautas e que, ao serem situação, ficavam receosos de agir. O ex-vereador contou das brigas que teve tanto com o Executivo Municipal, quanto com o presidente da Câmara, Eduardo Suplicy, que pediam que ele não “jogasse contra” um governo do PT, em razão das ocupações que realizou em prédios públicos durante o governo Erundina.

expressado na seleção da candidata majoritária naquelas eleições, se refletiram na montagem e no andamento do governo, expondo a dificuldade de uma diretriz única das diferentes faces do partido (KATZ, 2014). O Diretório Municipal tentou conduzir as indicações, mas Erundina nomeou um grande número de pessoas sem correntes ou não filiadas (independentes), e pertencentes a pequenas tendências/correntes que a apoiaram quando o partido desistiu do pleito em razão de seu nome, apesar de ceder algumas poucas nomeações ao grupo do DM. A nomeação do Secretariado foi vista pelo núcleo dirigente como uma “declaração de guerra”, conforme anotou Couto (1995:129). É interessante que a disputa interna ao governo acontecia apenas entre petistas, tendo em vista que o governo Erundina não cedeu cargos a outros partidos em nenhuma secretaria. Todos os cargos foram preenchidos pelo PT, que se coligara apenas com PCB e PCdoB.

Essa cisão perdurou todo o governo Erundina. Os membros do governo buscavam construir um modelo administrativo que contemplasse a participação popular, mas respondiam aos constrangimentos da máquina pública. Por outro lado, o partido trabalhava na produção de Resoluções que garantissem uma

linha de ação para a prefeitura, que a colocasse a serviço do partido e da eleição

de Lula à Presidência da República. Para a unificação foram propostos um Fórum de Integração (1989), um Conselho Político (1989) e um Fórum das Três Instâncias (1991), com a participação do governo municipal, parlamentares e o partido, mas com grande dificuldade de deliberação, já que as lógicas institucionais eram diferentes. Sobre essas diferenças entre as faces do partido destacamos dois relatos:

[...] Na medida em que a gestão avançou esse posicionamento [movimentista e revolucionário no ethos petista] foi se modificando em parte dos agentes, sobretudo daqueles diretamente envolvidos com as responsabilidades governamentais, que precisavam dar respostas à população, zelar pela máquina administrativa e negociar com representantes de diversos interesses. Essa transformação podia ser claramente percebida no discurso daqueles setores partidário mais próximos da prefeita [...]. (COUTO, 1995:168)

Paul Singer, que foi o Secretário de Planejamento do governo Erundina, em passagem sobre uma discussão sobre o subsídio ao transporte público à época,

apresenta de forma muito clara essa divergência:

O que mais me impressionou foi que ali estávamos dezenas de militantes, que tinham compartilhado todo tipo de lutas por muito anos, protagonizando um verdadeiro ‘diálogo de surdos’: enquanto Lula e os dirigentes do partido falavam de nossos princípios e expectativas, propondo saídas para o impasse – mobilização popular para exigir recursos federais e estaduais para subsidiar as tarifas, além de contribuições do patronato etc. – prefeitos e secretários falavam das finanças municipais, do custo do transporte e do que fazer para ampliar a frota de ônibus. [...] Ali estavam reunidos dirigentes políticos da mais alta expressão e que tinham suas trajetórias pessoais marcadas pela fidelidade às convicções ideológicas e pelo desprendimento pessoal. E, no entanto, essas pessoas simplesmente se mostravam incapazes de captar argumentos que contrariavam sua visão, sem dúvida muito parcial e incompleta, da realidade. [...] Se tivéssemos trocado de posição com o Lula e outros dirigentes, certamente teríamos defendido o mesmo que eles defenderam e eles, em nosso lugar, teriam sustentado o que sustentamos. (SINGER, 1996:89-90)

A vivência da face pública do partido é um dos fatores apontados para a moderação do partido e para sua profissionalização (HUNTER:2010). Os atores que até então debatiam a transformação da sociedade descolados da gestão pública passaram a incorporar limitações impostas pelas responsabilidades inerentes a ela.

As estruturas da base do partido foram impactadas com a mudança. Boa parte das lideranças foram incorporadas pela máquina pública, como apresentado, servindo os Diretórios Zonais, segundo entrevistas com dirigentes zonais à época, mais como correia de transmissão entre as demandas locais e o governo municipal e, no sentido inverso, como locus para a apresentação dos projetos do governo para os petistas e simpatizantes. Mas até essa relação era prejudicada, já que para a solução de problemas locais era mais fácil acionar a Administração Regional, onde havia ativistas partidários trabalhando, do que o Diretório. As faces se imiscuem e o dirigente partidário passa a ser também agente público.

eleitorado paulistano, em torno dos 23% dos votos nominais no primeiro turno, com um aumento no período entre 2000 e 2008, auxiliado pela presença do

partido no governo federal. E, com as eleições em dois turnos50, iniciou-se um

período de polarização na cidade, em que um candidato petista confronta um candidato da direita, observada por Limongi e Mesquita (2008), que se encerra apenas em 2016. Na Câmara dos Vereadores, a representação também ficou relativamente estável, tendo o PT em torno de 20% dos representantes. Essa estabilidade facilitou a normalização do partido.

Tabela 3.2 Resultados das eleições municipais em São Paulo, com destaque ao PT. Resultados das eleições municipais em São Paulo, com destaque ao PT

Ano da eleição 1982 1985 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016 Partido do candidato

eleito Prefeitura - PTB PT PDS PPB PT PSDB DEM PT PSDB Votação nominal do PT (%) - 19,9 29,4 23,3 22,5 34,1 32,4 28,9 24,5 13,8 Total de Vereadores 33 - 53 55 55 55 55 55 55 55 Vereadores eleitos pelo PT 5 - 16 12 10 16 13 11 11 9 % da Câmara 15,2 - 30,2 21,8 18,2 29,1 23,6 20,0 20,0 16,4

Fonte: TRE-SP, organizado pelo autor.

Com uma face pública estável e, consequentemente, com estabilidade na sustentação da estrutura partidária, ocorreram algumas mudanças na sua organização, durante a década de 1990. Em 1995, as direções passaram a ser proporcionais, congregando diferentes correntes políticas, e aconteceu pela primeira vez uma disputa pela presidência nacional do partido (PT, 1998:614ss). A partir de 1996, o PT passou a receber de forma substancial o fundo partidário, que vai compor cerca de 70% dos recursos do partido (RIBEIRO, 2010:105), o que poderia fazê-lo independer mais da face pública, mas não é o que ocorre. A face pública e a estrutura partidária estabelecem uma relação simbiótica, algo como uma face institucional, que se contrapõe e disputa com o partido na base. Em relação à face pública nos parlamentos, a década de 1990 marcou uma mudança, que constituiu parte dessa estratégia de crescimento. Em 1982 e 1986, os Deputados Estaduais eram majoritariamente da cidade de São Paulo ou sindicalistas do ABCD paulista. Em 1990, entretanto, foram eleitos

50 Após a promulgação da constituição de 1988 passou a haver possibilidade de dois turnos nas

eleições das cidades com mais de 200 mil eleitores, quando nenhum candidato atingir mais de 50% dos votos válidos.

representantes de outros municípios, como João Paulo Cunha, de Osasco; Antonio Palocci, de Ribeirão Preto; Professor Luizinho, de Santo André; Luiz Carlos Pedro, de São Vicente; Antenor Chicarino, da região do Vale do Paraíba (Taubaté/ Guaratinguetá); e Elói Pietá, de Guarulhos. Nessas regiões houve o direcionamento de votos em um candidato, visando agregar um maior número de votos, para facilitar sua eleição. Os eleitos da cidade de São Paulo foram candidatos com base eleitoral ampla, de alguma categoria profissional ou com destaque, como Pedro Dallari e Bia Pardi. Com base eleitoral definida se elegeram Roberto Gouveia e Zico Prado, com votos na Zona Leste, demonstrando a força política local e a capacidade eleitoral daquela região.

Na cidade de São Paulo, o grupo partidário majoritário, derrotado nas prévias de 1988, se rearticulou, ao final do governo Erundina e, com a derrota de Suplicy, em 1992, com uma estratégia que buscava controlar as representações públicas não alinhadas às direções partidárias, dividindo as bases eleitorais de representantes que agiam de forma independente. A estratégia passou pelo apoio a candidaturas aos Diretórios Zonais, em que os votos estão restritos ao conjunto de filiados, ou seja, dependem da adesão desses grupos, que buscam ter proeminência local. Coordenada pelas direções municipal e estadual, novos nomes foram lançados, dividindo localmente o partido, sem maiores reflexos na adesão local à legenda.

Fora do governo municipal, o Partido voltou a contar com as suas estruturas burocráticas para garantir o apoio popular. As lideranças nos Diretórios retomaram a agenda local e o trabalho cotidiano da política. Os membros ativos nos DZs voltaram a ser legitimados pelo partido enquanto porta- vozes em suas regiões. As nominatas das Executivas Zonais apontam para o

sucesso da estratégia, com o surgimento de novos nomes51, que terão peso

político e aparecerão na cena pública do PT, como Alfredo Alves, na Capela do Socorro, Antonio Donato, no Campo Limpo, João Antonio, no Itaim Paulista, Paulo Teixeira, em São Miguel Paulista, ou que apontam os grupos que se fortalecem, o que, em Pinheiros, pode ser identificado com o aparecimento dos nomes de Maria Alice Vieira e de Naldo Cardoso nas Executivas, militantes

próximos do José Dirceu e do Aloísio Mercadante, respectivamente. É a partir da retomada da instância partidária local, que se legitima por representar o partido em cada lugar, que se opera a mudança na face pública.

A troca de lideranças foi possível em decorrência da alternativa que a face institucional tem de legitimar as novas lideranças locais com incentivos seletivos, normalmente cargos em gabinetes parlamentares e escritórios políticos locais dos parlamentares. Este processo acelera a normalização do partido, que passa a agir cada vez mais de forma profissional e pelas vias institucionais. Os representantes de organizações de movimentos sociais, operando sua múltipla filiação, também buscam esses incentivos e, em decorrência, fragilizam as não institucionais, que passam a fazer parte de um repertório conhecido (MCADDAM, TARROW & TILLY, 2004), utilizado como suporte ou pressão às ações institucionais. Os próprios movimentos sociais passaram, no período, por um processo intenso de institucionalização, não apenas constituindo organizadas e profissionais estruturas burocráticas, mas aderindo às diretrizes normativas

apresentadas pelo Estado52.

O processo de redesenho de lideranças locais foi notado com maior clareza na região Oeste, onde os dois principais representantes do Partido, Tereza Lajolo e Henrique Pacheco passaram a dividir cada vez mais votos com os demais candidatos petistas até não se reelegerem. A votação agregada, no partido, naquela região, aumentou, mas sua distribuição para um número maior de candidatos resultou na não eleição de alguém com expressão local. Na Zona Sul, a liderança de Irma Passoni e João Carlos Alves passou a sofrer concorrência de novos candidatos, notadamente da família Tatto, Ítalo Cardozo, Vicente Cândido, Carlos Giannazi, entre outros, em sua maioria nomes apresentados pela face pública do partido. O aumento do número de candidatos também aumentou a votação do PT na região.

52 Para uma crítica desta aproximação dar organizações de movimentos sociais às formas

O período de acomodação institucional – A década de 1990

Os resultados da estratégia partidária podem ser observados na segunda experiência do PT no governo da cidade. Nela houve maior união entre as faces do partido, com o objetivo da vitória eleitoral. O Processo de prévias foi dispensado pelas instâncias e o partido coesiona sua decisão no fortalecimento do nome de Marta Suplicy, que havia concorrido nas eleições de 1998 como candidata ao governo do estado. Seu nome passou a ser exposto em seminários e debates, como “o PT e a cidade de São Paulo”, ainda em dezembro daquele ano, e com a anuência de grande parte das correntes na constituição do Instituto Florestan Fernandes que, nos moldes do Instituto Cidadania, visava construir um programa de governo para a candidata (AVRITZER, 2004:411-413). Os grupos e tendências evitaram o desgaste em torno da disputa da seleção da candidata e focaram no apoio ao seu nome.

A experiência institucional do partido e a profissionalização da sua estrutura burocrática facilitaram a mudança, reforçada também pela legitimidade auferida pela base partidária controlada, nas estruturas partidárias locais, pelos representantes resultantes do redesenho estratégico. À época, os cargos de direção do partido na cidade, tanto no diretório municipal quanto em grande parte dos Diretórios Zonais, eram compostos por parlamentares por lideranças ligadas diretamente a eles. Também refletiram a institucionalidade o discurso moderado do partido (SINGER, 2001) e as articulações conduzidas para garantir, na Câmara do Vereadores, o apoio necessário à governabilidade (SUPLICY, 2008), realizadas a partir do preenchimento de cargos no governo (FIORILLO, 2006).

Se a primeira experiência de governo havia oposto as faces do partido, que passaram o período de quatro anos disputando a condução das políticas, nesta segunda experiência as faces pública e da organização partidária agiram como face institucional, estabelecendo uma relação mutualística, em que o apoio era recompensado com incentivos seletivos, garantindo o alinhamento na condução do governo e o controle da base partidária.

Também colaborou na mudança do perfil dos representantes do PT o aproveitamento estratégico da estrutura demográfica da cidade. O grande crescimento populacional das regiões Sul e Leste as valorizaram eleitoralmente.

Enquanto na região central houve o decréscimo da população e o número de eleitores permanece estável, cresceu a população das regiões periféricas, bem como o número de eleitores, em especial nas regiões Leste 1 e Sul.

A partir de um exercício comparativo de dados populacionais e eleitorais realizado, apresentado na tabela 3.3, verifica-se a subvalorização eleitoral das periferias paulistanas, onde grande parte da população não possuía título de eleitor na cidade. Uma hipótese para o baixo índice de alistados em 1982 é a migração para São Paulo em um período não democrático, ou seja, muitas vezes o cidadão até possui um título de sua cidade natal, mas não o transfere, pois as eleições durante a ditadura foram apenas para os parlamentos e com