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Desenvolvimento da estrutura partidária local no contexto metropolitano : o PT na cidade de São Paulo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

GUILHERME PEDROSO NASCIMENTO NAFALSKI

DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA PARTIDÁRIA LOCAL NO CONTEXTO METROPOLITANO: O PT NA CIDADE DE SÃO PAULO

CAMPINAS 2020

(2)

GUILHERME PEDROSO NASCIMENTO NAFALSKI

DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA PARTIDÁRIA LOCAL NO CONTEXTO METROPOLITANO: O PT NA CIDADE DE SÃO PAULO

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Ciência Política.

Orientadora: PROFA. DRA. RACHEL MENEGUELLO

ESTE TRABALHO CORRESPONDE

À VERSÃO FINAL DA TESE

DEFENDIDA PELO ALUNO

GUILHERME PEDROSO

NASCIMENTO NAFALSKI, E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. RACHEL MENEGUELLO

CAMPINAS 2020

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Cecília Maria Jorge Nicolau - CRB 8/3387

Nafalski, Guilherme Pedroso Nascimento,

N13d NafDesenvolvimento da estrutura partidária local no contexto metropolitano : o

PT na cidade de São Paulo / Guilherme Pedroso Nascimento Nafalski. – Campinas, SP : [s.n.], 2020.

NafOrientador: Rachel Meneguello.

NafTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Filosofia e Ciências Humanas.

Naf1. Partido dos Trabalhadores (Brasil). 2. Partidos políticos. I. Meneguello,

Rachel, 1958-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Development of local party structure in metropolitan context :

Workers Party in the city of São Paulo

Palavras-chave em inglês:

Workers Party (Brazil) Political parties

Área de concentração: Ciência Política Titulação: Doutor em Ciência Política Banca examinadora:

Rachel Meneguello [Orientador] André Vitor Singer

Cláudio Gonçalves Couto Pedro José Floriano Ribeiro

Oswaldo Martins Estanislau do Amaral

Data de defesa: 15-06-2020

Programa de Pós-Graduação: Ciência Política Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-3367-5664 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/8961299983448239

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

A Comissão julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 15 de junho de 2020, considerou o candidato Guilherme Pedroso Nascimento Nafalski aprovado.

Profa. Dra. Rachel Meneguello Prof. Dr. André Vitor Singer

Prof. Dr. Cláudio Gonçalves Couto Prof. Dr. Pedro José Floriano Ribeiro

Prof. Dr. Oswaldo Martins Estanislau do Amaral

A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Teses e na Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

(5)

Um dia

Vivi a ilusão de que ser homem bastaria Que o mundo masculino tudo me daria Do que eu quisesse ter

Que nada

Minha porção mulher, que até então se resguardara

É a porção melhor que eu trago em mim agora

É o que me faz viver Quem Dera

Pudesse o mundo compreender, oh, mãe, quem dera

Ser o verão o apogeu da primavera E só por ela ser

Quem sabe

O superhomem [?] venha nos restituir a glória

Mudando como um deus o curso da história Por causa da mulher

Gilberto Gil, 1979 – Superhomem, a canção

Dedico às mulheres que dão sentido à minha vida: Letícia, Adriana, Luísa e Helena.

E à memória da Maria Célia Paoli, sempre em busca da política.

(6)

Agradecimentos

Apesar do processo de investigação e redação da tese ser de responsabilidade do autor, é impossível levar o empreendimento adiante sem um conjunto de pessoas e instituições que apoiam, ajudam, ouvem, leem, compreendem... a quem agradeço!

Agradeço, inicialmente, à Professora Rachel Meneguello, que confiou no projeto apresentado e que, como orientadora, foi bússola e oráculo. Esse agradecimento se estende ao Departamento de Ciência Política do IFCH da Unicamp, onde fui acolhido. Tive a oportunidade de ter aulas e discussões com parte do corpo docente do qual destaco Luciana Tatagiba, Armando Boito, Valeriano Costa, Andréa Freitas e Oswaldo Amaral, estes dois últimos membros da banca da minha qualificação.

Também agradeço ao Centro de Estudos de Opinião Pública – CESOP,

que tenho orgulho de fazer parte e que ajudou na tabulação dos dados, e, nele, ao grupo de estudos de Política Brasileira, o PolBras, formado por colegas discentes incríveis(!), com quem tive a oportunidade de discutir diversos assuntos e textos durante o doutoramento.

Em tempos em que o Governo Federal e o Presidente da República desvalorizam a ciência, em especial as Humanas, torna-se ainda mais importante marcar que o presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), que garantiu uma bolsa emergencial durante 10 meses (2014/15).

Agradeço: à Fundação Perseu Abramo e ao Carlos Menegozzo, que muito me auxiliou no Centro Sérgio Buarque de Holanda de Documentação e História Política; ao Arquivo Edgar Leuenroth – AEL, da Unicamp; ao arquivo do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e, nele, aos solícitos Alex Brasil e Washington Assis que disponibilizaram, com interesse e animação, tempo de trabalho à pesquisa e; ao Partido dos Trabalhadores, em especial ao Roberto e à Ednalva da Secretaria Geral do Diretório Municipal. A imersão contínua, por meses, nestes locais em busca de documentos forjou, além de dados primários, algumas boas amizades. Também ao Eduardo Pastrelo ao Mathews Lopes e à Thais Alcantara, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo, que me ajudaram com dados da cidade de São Paulo e com a confecção de mapas.

Não posso deixar de agradecer ao André Singer pelas muitas conversas e pela disciplina ministrada em 2014, que estruturou um dos capítulos desta tese, bem como à Angela Alonso, que me aceitou como ouvinte em 2013 e com quem, desde então, tenho conversado sobre a política sempre que posso.

Agradeço também Joana Barros, Diego Azzi e Fabio Sanches, os resistentes Embuscados, com quem mantenho acesa a busca da política nos marcos apresentados pela querida e saudosa Maria Célia.

(7)

Dentre os muitos amigos que acompanharam de perto essa investigação destaco alguns que, para além do afastamento causado pela tese (impossível não lembrar da crônica do Mário Prata Uma tese é uma tese), participaram ativamente lendo e comentando o texto ou partes dele, trocando informações e incentivando o trabalho: Alexandre Abdal, Douglas Mendosa, Lara Mesquita, Carlos Sant’Anna, Gustavo Sugahara, Vitor Vasques, Simão Pedro Chiovetti, Raulino Pessoa Junior, Jean Tible, Lara Cavalcanti, João Branco, Fabio Peres, Daniela Camargo, Clarissa Bernini e Leandro Ferreira.

Por fim, agradeço à minha (hoje grande) família composta, além dos Nascimento, pelos Nafalski, os Ivancko, os Aguiar e os Ferreira. Em especial à Letícia Nascimento, minha mãe, à Adriana Aguiar, minha esposa e o amor da minha vida, à Luísa e à Helena, minhas filhas, a quem dediquei esta tese. Foram elas que aguentaram as ausências e os momentos de clausura que o estudo, a reflexão e a redação do texto impuseram. E ainda assim me deram força para continuar trabalhando. Sem elas nada disso existiria.

(8)

A engenharia cai sobre as pedras Um curupira já tem seu tênis importado Não conseguimos acompanhar o motor da história Mas somos batizados pelo batuque E apreciamos a agricultura celeste Mas enquanto o mundo explode Nós dormimos no silêncio do bairro Fechando os olhos e mordendo os lábios Sinto vontade de fazer muita coisa Chico Science

O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia a volta atrás da casa. Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. Manoel de Barros

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RESUMO

A tese analisa o desenvolvimento da estrutura partidária local do Partido dos Trabalhadores na cidade de São Paulo no período compreendido entre 1980 e 2016. Trata do contexto metropolitano e sua importância no momento da fundação, bem como explora o desenvolvimento dos diferentes lugares da metrópole no processo de institucionalização e normalização do partido. Para isso utiliza diferentes estratégias metodológicas entrelaçando conceitos, documentos coletados em arquivos e acervos, além de dados e informações coletados com dirigentes partidários locais, sujeitos da política cotidiana.

(10)

ABSTRACT

The thesis analyzes the development of the local party structure of the Workers' Party (PT) in the city of São Paulo in the period between 1980 and 2016. It deals with the metropolitan context and its importance at the time of foundation, as well as explores the development of the different places of the metropolis in the process of institutionalization and normalization of the party. For this purpose, it uses different methodological strategies interlacing concepts, documents collected in archives and collections, aside from data and information collected with local party activists.

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Relação de Administradores Regionais nomeados em 1990 e,

quando há, correspondência com os cargos em Diretórios Zonais Eleições.

Pág. 73

Tabela 3.2 Resultados das eleições municipais em São Paulo, com

destaque ao PT. Pág. 76

Tabela 3.3 Exercício comparativo da população e do número de eleitores

por Zona Eleitoral da cidade de São Paulo. Pág. 81

Tabela 3.4 Zonas Eleitorais e seus desdobramentos ao longo do tempo na

cidade de São Paulo. Pág. 83

Tabela 3.5 Base eleitoral principal dos Deputados Federais eleitos pelo PT

em 1998. Pág. 86

Tabela 3.6 Administradores Regionais nomeados em 2001 e o partido ao

qual estavam filiados. Pág. 97

Tabela 3.7 Evolução no número de filiados nos Diretórios Zonais (1982 e

2014). Pág. 109

Tabela 4.1 Respondentes, por cargo no DZ. Pág. 123

Tabela 4.2 Respondentes, Diretório Zonal Pág. 123

Tabela 4.3 Respondentes, por corrente política. Pág. 123

Tabela 4.4 Respondentes, por gênero. Pág. 124

Tabela 4.5 Respondentes, por cor (autodeclarada). Pág. 124

Tabela 4.6 Respondentes, por escolaridade. Pág. 124

Tabela 4.7 Respondentes, por renda mensal declarada. Pág. 124

Tabela 4.8 Respondentes, cidade de nascimento. Pág.125

Tabela 4.9 Respondentes, moradia na região da filiação. Pág.125

Tabela 4.10 Respondentes, motivo da filiação. Pág.126

Tabela 4.11 Respondentes: como foi a filiação. Pág.126

Tabela 4.12 Respondentes: participação em outras instâncias Pág.127

(12)

Tabela 4.14 Respondentes: participação em encontros estaduais. Pág.127

Tabela 4.15 Respondentes: participação em encontros nacionais. Pág.127

Tabela 4.16 Respondentes: participação em organizações da sociedade

civil. Pág.128

Tabela 4.17 Respondentes: participação em organizações da sociedade

civil - tipo de participação. Pág.128

Tabela 4.18 Respondentes: participação anterior em organizações da

sociedade civil. Pág.128

Tabela 4.19 Respondentes: participação anterior em organizações da

sociedade civil - tipo de participação. Pág.128

Tabela 4.20 Respondentes: atividades realizadas como militante Pág.129

Tabela 4.21 Respondentes: importancia dos DZs. Pág.130

Tabela 4.22 Respondentes: influência nas decisões do partido Pág.130

Tabela 4.23 Respondentes: atividades dos DZs Pág.131

Tabela 4.24 Respondentes: Frequencia das atividades dos DZs Pág.131

Tabela 4.25 Respondentes: Escala de concordância - Sistema de eleições

internas Pág.133

Tabela 4.26 Respondentes: Escala de concordância - controle de filiação Pág.133

Tabela 4.27 Respondentes: Escala de concordância - Elaboração do

programa eleitoral Pág.133

Tabela 4.28 Respondentes: Escala de concordância - fonte de ecursos do

partido Pág.133

Tabela 4.29 Respondentes: Escala de concordância - acúmulo de cargo

no partido e em governos Pág.134

Tabela 4.30 Respondentes: Funções do partido político Pág.134

Tabela 4.31 Respondentes: Relevancia direita/ esquerda Pág.135

Tabela 4.32 Respondentes: Escala direita/ esquerda Pág.135

Tabela 4.33 Respondentes: Avaliação governo Luiza Erundina Pág.136

Tabela 4.34 Respondentes: Avaliação governo Marta Suplicy Pág.136

(13)

LISTA DE MAPAS

Mapa 2.1 Cidade de São Paulo dividida em 3 Áreas Homogêneas e mapa com

divisão territorial proposta Pág. 40

Mapa 2.2 Distribuição espacial dos Diretórios Zonais na cidade de São Paulo em

1982 resultado do PT nas eleições ao Executivo estadual do mesmo ano. Pág. 47

Mapa 2.3 Resultado proporcional do PT e os segundos colocados por Zona Eleitoral

nas eleições ao Executivo estadual de 1982 na cidade de São Paulo. Pág. 55

Mapa 2.4 Evolução dos resultados proporcionais nas eleições para o Executivo

em 1982 e 1985. Pág. 58

Mapa 2.5 Evolução dos resultados proporcionais nas eleições para o Executivo em

1985 e 1986. Pág. 60

Mapa 2.6 Primeiro colocado nas eleições para Deputado Constituinte em 1986,

por Zona Eleitoral. Pág. 62

Mapa 3.1 Eleições para a Prefeitura de São Paulo em 1988: resultado

proporcional do PT e candidato vencedor por Zona Eleitoral. Pág. 70

Mapa 3.2 Zonas Eleitorais Exercício em 1982 e os as novas que delas se

desdobraram ao longo do tempo. Pág. 82

Mapa 3.3 Evolução dos resultados proporcionais nas eleições para o Executivo

em 1988 e 1992. Pág. 88

Mapa 3.4 Evolução dos resultados proporcionais nas eleições para o Executivo

em 1992 e 1996. Pág. 89

Mapa 3.5 Evolução dos resultados eleições para o Executivo Estadual (1986,

1990, 1994 e 1998). Pág. 90

Mapa 3.6 Evolução dos resultados eleições para o Executivo Federal (1989, 1994

e 1998). Pág. 92

Mapa 3.7 Distribuição espacial dos domicílios por renda familiar na cidade de São

Paulo. Pág. 99

Mapa 3.8 Evolução dos resultados eleições para o Executivo Municipal (2000,

2004 e 2008). Pág. 101

Mapa 3.9 Distribuição espacial dos domicílios por renda familiar na cidade de São

Paulo em 2010. Pág. 103

Mapa 3.10 Evolução dos resultados eleições para o Executivo estadual (2002 e

2006). Pág. 104

Mapa 3.11 Evolução dos resultados eleições para o Executivo federal (2002 e

2006). Pág. 105

Mapa 3.12 Evolução da distribuição dos Diretórios Zonais na cidade (1982 e

(14)

LISTA DE SIGLAS

Partidos Políticos

Arena Aliança Renovadora Nacional

DEM Democratas (renomeação do PFL)

MDB Movimento Democrático Brasileiro

PCB Partido Comunista Brasileiro

PCdoB Partido Comunista do Brasil

PCO Partido da Causa Operária

PDS Partido Democrático Social

PDT Partido Democrático Trabalhista

PFL Partido da Frente Liberal

PL Partido Liberal

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PP Partido Progressista

PPB Partido Progressista Brasileiro

PPS Partido Popular Socialista

PR Partido Republicano

Prona Partido de Reedificação da Ordem Nacional

PSB Partido Socialista Brasileiro

PSC Partido Social Cristão

PSD Partido Social Democrático

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PSOL Partido do Socialismo e Liberdade

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

PV Partido Verde

Correntes / tendências/ grupos políticos

AE Articulação de Esquerda

ALN Aliança Libertadora Nacional

AP Ação Popular

CNB Tendência - Construindo um Novo Brasil

MaP Mensagem ao Partido

OSI Organização Socialista Internacionalista

Polop Política Operária

PRC Partido Revolucionário Comunista

PTLM PT de Lutas e Massas Demais siglas e abreviações

ABCD

Cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema, na região Metropolitana de São Paulo

ABC Cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São

(15)

ADM Associação de Defesa da Moradia

AEL Arquivo Edgard Leuenroth (IFCH/Unicamp)

CDP Comitê Democrático Popular

CEB Comunidade Eclesial de Base

CUT Central Única dos Trabalhadores

DE Diretório Estadual

DM Diretório Municipal

DN Diretório Nacional

DR Diretório Regional (antiga denominação do Diretório Estadual)

DZ Diretório Zonal

FPA Fundação Perseu Abramo

ME Movimento Estudantil

NB Núcleo de Base

NO Noroeste

PED Processo de Eleições Diretas

PUC Pontifícia Universidade Católica

RMSP Região Metropolitana de São Paulo

SAB Sociedades Amigos de Bairro

SM Salário Mínimo

TRE Tribunal Regional Eleitoral

TSE Tribunal Superior Eleitoral

UEE União Estadual dos Estudantes

(16)

SUMÁRIO

Introdução 17

Capítulo 1: O debate acadêmico sobre o desenvolvimento

partidário petista 25

Capítulo 2: A cidade de São Paulo e a fundação do PT 38

Capítulo 3: O desenvolvimento partidário na metrópole

paulistana 66

O período de acomodação institucional – A década de 1990 79 De volta ao Executivo Municipal. A eleição de Marta Suplicy em

2000. 96

Capítulo 4: Opinião e percepção da militância sobre o

desenvolvimento do PT na capital paulista 120

Questionários 121

Entrevistas 138

Considerações sobre os dados 150

Conclusão 154

Bibliografia 160

Anexos 173

Anexo I - Resultados das eleições por Zona Eleitoral da cidade de

São Paulo 174

Anexo II - Nominatas das Executivas dos Diretórios Zonais 261 Anexo III - Material das prévias para a prefeitura em 1988 275

(17)

Introdução

Esta tese busca compreender como o contexto local, com suas dinâmicas e lideranças, impacta o desenvolvimento das estruturas partidárias de base, analisando o desenvolvimento organizacional do Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade de São Paulo entre 1980 e 2016.

O PT, fundado em 1980 com a abertura democrática, tornou-se um partido central na política brasileira. Pode-se destacar que é um dos maiores partidos

do país tanto em número de filiados, com cerca de 1,6 milhão de filiados1, quanto

em número de parlamentares2. Demonstrou ser um partido competitivo, tendo

apresentado candidatura à Presidência da República nas oito eleições diretas realizadas após a ditadura, obtido a segunda melhor votação nas três primeiras e na última, em 2018, e vencido o pleito em quatro eleições seguidas, entre 2002 e 2014.

Em relação à organização partidária, o partido possui estruturas vigentes em

2.191 (43%) dos 5.070 municípios brasileiros. Destas, 83% são Diretórios3, o que

demonstra ser um partido de alto enraizamento, possuindo grande presença e distribuição de estruturas partidárias pelo país, e alta institucionalização, já que possui uma porcentagem alta de Diretórios em relação a Comissões Provisórias (CERVI & BORBA, 2019). A presença de estruturas organizadas do PT nos municípios chegou a 97% nos anos de 2012 e 2013, mas vem declinando desde então (SILVA, 2017:25-26).

O PT apresenta um alto índice de preferência partidária. Desde 2000, quando suplantou o PMDB, é o maior entre os partidos brasileiros. Em agosto de 2018,

tinha 29%, 2% a mais do que a soma dos demais partidos4. Após alcançar seu

ápice, 36%, em abril de 2013, a preferência do partido caiu abruptamente para

1 Segundo os dados extraídos da página do TSE na Internet (www.tse.gov.br) em setembro de

2019 o PT conta com 1.593.355 filiados regulares.

2 Conquistou a maior bancada da Câmara dos Deputados nas últimas três legislaturas (2011-2014,

2015-2018, 2018-2022) e atualmente possui a quarta maior bancada do Senado Federal, com 6 Senadores, segundo dados das páginas dessas casas legislativas na Internet, em setembro de 2019.

3 Segundo os dados extraídos da página do TSE na Internet (www.tse.gov.br) em setembro de

2019

4 Segundo pesquisa Ibope em agosto de 2018. A Pesquisa do Datafolha do mesmo período

apontava 24% de preferência ao PT contra 22% na soma de todos os demais, mantendo a diferença de 2 pontos percentuais.

(18)

22% em julho do mesmo ano e seguiu caindo até atingir 11% em novembro de

20165. A recuperação nos anos seguintes mostra que o partido permanece forte

no sistema partidário nacional.

Também é alto o número de antipetistas, cidadãos que não possuem necessariamente uma preferência partidária, mas que rejeitam o PT. Em 2014

eram 20,6% (SAMUELS e ZUCCO, 2018:28). Em meio à corrida eleitoral de

2018, 38%6, o que reforça, mesmo que em sentido negativo, sua centralidade na

política nacional.

As características da formação do partido e seu desenho organizacional, principalmente em seu momento fundacional, possibilitaram que fosse entendido como uma novidade (MENEGUELLO, 1989), uma anomalia (KECK, 1991), no sistema político brasileiro. E, como buscaremos demonstrar, tem forte relação com a cidade de São Paulo.

Esta, por sua vez, com sua magnitude territorial, populacional e econômica, impacta de maneira significativa grande parte dos indicadores nacionais (MARQUES, 2014), com reflexos na vida política do país. Em decorrência dos ciclos industriais do país que atingiram a cidade se tornou, ainda na década de 1970, uma metrópole nacional (ABDAL, 2009) passando, posteriormente, pela desconcentração industrial e pela transição para uma economia de serviços e informações. Além disso, o fato de ser uma metrópole faz com que seja um ambiente privilegiado para a investigação política (SELLERS & WALKS, 2015:420). A cidade também se destaca por seu desenvolvimento segregado e desigual, composto por núcleos habitacionais diversos e distantes, conectados de forma precária.

São Paulo foi o epicentro organizativo do Partido dos Trabalhadores, ao menos no momento de sua fundação (MENEGUELLO, 1989; SINGER, 2001; SECCO, 2011). É a cidade que concentra o maior contingente de militantes

5 Dados do Ibope Inteligência. Os dados podem ser acessados em:

http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/46-dos-brasileiros-nao-tem-preferencia-por-nenhum-partido/

6 Segundo pesquisa Ibope Inteligência, de outubro de 2018. Os dados podem ser acessados em:

(19)

filiados, cerca de 8% do total do partido7, e onde ficam sediados o Diretório

Estadual e o Diretório Nacional8. Também em virtude desta concentração, o PT

paulistano possui expressiva representação nas direções nacional e estadual desde a fundação do partido. Eleitoralmente, o PT mostra-se competitivo na cidade (LIMONGI e MESQUITA, 2008), tendo elegido prefeito em três das oito disputas e ficando em segundo lugar nas demais. Mantém representação parlamentar na Câmara dos vereadores desde 1983 e elegeu deputados estaduais e federais em todos os pleitos.

Esta investigação examina o contexto do momento da fundação do PT, momento que define e marca as características organizativas (PANEBIANCO,

2005:92, 93), e ao longo do desenvolvimento da organização partidária,

buscando analisar o lugar nesses processos. Nele, as categorias sociais e

clivagens podem ser analisadas no cotidiano das pessoas. O comportamento político é, então, visto como produto da agência humana, estruturada pelos contextos sociais historicamente constituídos nos quais as pessoas vivem suas vidas (AGNEW, 1987:41,43). A cidade de São Paulo, desta forma, não seria um recorte espacial de onde se observa o desenvolvimento do PT, mas o lugar onde se concentrou um conjunto de fatores que tornou possível a fundação deste partido e que mantém importância no seu desenvolvimento. Essa opção por um olhar local não descarta nem está descolada de outras escalas, como a regional ou a nacional. A ação humana nos lugares traz à vida prática uma variedade de influências de diferentes escalas (AGNEW, 1996:130), o que é fortalecido em regiões metropolitanas, intensamente incorporadas à vida nacional, servindo como centros econômicos e culturais, onde coexistem uma multiplicidade de comunidades, dispersas pelo território, unidas pelos fluxos de capital e trabalho e pela circulação de bens e mercadorias (SELLERS & WALKS, 2015:419).

Dentro desta perspectiva local, analisaremos os Diretórios Zonais (DZs) do PT e a geografia eleitoral em sua distribuição por zonas eleitorais na cidade. Resquícios da transição democrática, os DZs foram as estruturas partidárias

7 São Paulo possui 130.065 filiados, segundo dados do TSE extraídos em setembro de 2019,

número que diverge dos 175.615 registrados pelo partido no mesmo mês. Na tese, optamos por manter os dados oficiais, do TSE, para fins de cálculo.

8 A partir de 2006 o Diretório Nacional passou a atender também em Brasília sem, no entanto,

(20)

permitidas nas capitais dos estados onde, até 1985, não havia eleição para prefeito, cargo indicado pelos Governadores. Essas estruturas se mantêm presentes na organização partidária mesmo após a Justiça Eleitoral deixar de acompanhá-las, em 1993, e com a institucionalização do partido (PANEBIANCO, 2005), destino diferente dos Núcleos de Base, outra estrutura de base comum na fundação do partido. A dispersão espacial dos 36 DZs existentes, as transformações locais e os dados das zonas eleitorais permitem a análise do desenvolvimento da estrutura partidária no contexto da cidade, como um todo, e de cada um de seus lugares.

Desta forma, e em diálogo com a literatura do desenvolvimento organizacional petista no plano nacional, buscaremos compreender como as transformações se refletem na base partidária, onde permanece a maior parte dos filiados, que impactam e são impactados pelas transformações no partido, em um cotidiano que perpassa não apenas o trabalho ou a militância política, mas as relações de vizinhança, de pertencimento, de um dia-a-dia distante das grandes decisões.

A pesquisa trabalhou com a hipótese de que as características metropolitanas de São Paulo favoreceram a emergência de um partido com a configuração organizacional que teve o PT em seu momento fundacional e que o desenvolvimento das estruturas de base ocorreu de acordo com os contextos locais nos quais estavam inseridas, diversos entre si. Dada a centralidade da cidade no cotidiano do partido, em especial no momento da sua fundação, também surgiu a hipótese de que a estrutura organizacional partidária na metrópole paulistana influenciaria o desenvolvimento das demais estruturas organizacionais petistas, que acabou não sendo explorada.

Para a investigação foram desenvolvidas diferentes abordagens metodológicas, que se complementaram. Houve a revisão bibliográfica do desenvolvimento partidário petista, levantando marcos conceituais, bem como a do desenvolvimento da cidade de São Paulo, que permitiu entender a distribuição das populações pelo território e as dinâmicas próprias dos lugares. Buscando localizar os sujeitos da política local ao longo do tempo, foi realizada pesquisa documental em arquivos e acervos, que permitiram

(21)

identificar: as direções zonais do PT em sua primeira década de existência, extraídas das “fichas de classe 5” do TRE, pequenas fichas de fichário datilografadas, nas quais a justiça eleitoral fazia suas anotações (disponibilizada no Anexo II); as atividades realizadas pelos diretórios, presentes em boletins partidários; as nomeações de lideranças zonais em cargos da prefeitura, a partir da leitura dos Diários Oficiais da Cidade de São Paulo (com seu acervo digitalizado pela Imprensa Oficial). Também foi realizado um levantamento dos resultados eleitorais na cidade no período estudado, tendo como foco as zonas eleitorais e suas lideranças (disponibilizado no Anexo I).

Para trazer a voz dos sujeitos, foram feitas duas abordagens diferentes: a primeira foi a aplicação de questionários com os diretores das Executivas Zonais. Para além dos resultados que serão apresentados é importante anotar a dificuldade de conseguir a participação destas lideranças, mesmo garantindo o sigilo dos resultados, o que parece ser uma peculiaridade das pesquisas sobre organização interna dos partidos políticos. A segunda foi a realização de entrevistas semiestruturadas com algumas lideranças locais em diferentes momentos do partido e lugares da cidade, que permitiram compreender melhor seus contextos. As entrevistas foram elaboradas a partir do resultado dos questionários e precedidas de tratativas que explicitaram os motivos de sua realização, para o uso nesta tese. Nem todos os contatados se dispuseram a participar, mas os que a realizaram deram permissão para que fossem citados. O primeiro capítulo resgata o debate acadêmico sobre a formação e o desenvolvimento da organização partidária petista. No final da década de 1980,

os trabalhos de Meneguello (1989) e Keck (1991) investigaram o surgimento do

PT, um partido de massas, uma novidade no sistema político brasileiro, muito próximo ao movimento sindical, mas que propunha a luta institucional e congregava um conjunto heterogêneo de grupos políticos. O debate sobre a estrutura partidária petista é retomado a partir da década de 2000, após a conquista da Presidência da República, quando algumas investigações buscam analisar o seu desenvolvimento. São referência os trabalhos de Hunter (2010), Ribeiro (2010) e Amaral (2010). A literatura sobre o partido responde à retomada do debate internacional sobre partidos políticos, estimulado pela mudança nos

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modelos de investigação sobre estrutura partidária, notadamente as propostas por Katz e Mair (1994).

O segundo capítulo trata do surgimento do Partido dos Trabalhadores na cidade de São Paulo. Nele são apresentadas características da cidade que influenciam a formação do partido: modelo de povoamento, com um centro estruturado em oposição às periferias desprovidas de serviços públicos; o voto oposicionista; a distribuição de lideranças no território, entre outras. Para a reconstituição do momento histórico são consultados os trabalhos de Baeninger (1999) sobre a migração, Abdal (2009) sobre a industrialização, Kowarick (1979), Bonduki e Rolnik (1982), Bonduki (2017) e Caldeira (1984) que tratam do povoamento na cidade, bem como as caracterizações e análises organizadas por Marques (2015 e 2016). Conta também com os trabalhos que abordam a fundação do partido, como Secco (2011) e Singer (2001), a aderência da Igreja

Católica ao PT (Machado, 2010; Barbosa, 2007) e as obras de Azevedo (2010),

Bittar (1992) e Gurgel (1989), que relatam passagens da formação e consolidação da estrutura organizacional petista. O capítulo abrange o período até 1988, quando o partido conquistou a prefeitura da capital paulista. Até então a face pública do partido era pequena e muito ligada aos movimentos que formaram o partido, em especial o movimento sindical e a Igreja Católica, cada um enraizado em uma determinada região da cidade.

No terceiro capítulo apresentamos dados sobre o desenvolvimento partidário petista na cidade de São Paulo. São apresentados os mapas eleitorais do período entre 1989 e 2014 com a análise da distribuição dos votos, apoiado na

literatura sobre o tema, como Limongi e Mesquita (2008 e 2015), e na

composição dos governos petistas do período, com atenção especial às estruturas locais do partido. No capítulo aparecem algumas das dificuldades na interação entre as diferentes faces do partido, e o fortalecimento da face pública.

Sobre a Gestão Erundina, exploramos os trabalhos de Kowarick e Singer (1993),

Couto (1995) e Singer (1996). Fiorilo (2006) auxilia a análise do governo Marta Suplicy.

Também foram consultados diversos arquivos, em busca de documentos que trouxessem luz aos Diretórios Zonais e às atividades de base do Partido dos Trabalhadores. No arquivo do Centro de Documentação Sergio Buarque de

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Holanda, da Fundação Perseu Abramo, resultado de um processo de sistematização de arquivos dispersos reunidos no Diretório Nacional do partido, foram consultados boletins de Diretórios Zonais, em sua maioria resquícios de coleções particulares doadas. Há muitos documentos referentes ao desenvolvimento nacional do Partido como boletins, jornais, fotos, teses apresentadas em Encontros e Congressos. Há, inclusive, a compilação das Resoluções dos Encontros e Congressos entre 1979 e 1998, publicada como livro em 1998 (após essa data os dados existem, mas sem sistematização, dispersos em páginas do partido na Internet). Nos outros níveis, esse tipo de informação é mais difícil de ser acessada, quando existe. Os arquivos do

Diretório Estadual do Partido se desfizeram com a má conservação9 e inexiste

departamento que cuide dos arquivos ou da memória, o que também ocorre no nível municipal. Verifica-se que não há uma preocupação em registrar a memória do partido além da narrativa construída pelos arquivos nacionais. Os jornais

estaduais foram localizados e consultados no Arquivo Edgard Leuenroth – AEL,

da Unicamp, em busca de informações sobre os DZs e São Paulo. As informações sobre as Direções Zonais foram conseguidas nos Arquivos do Tribunal Regional Eleitoral, que guarda as atas dos encontros partidários e as “fichas de Classe-5”, nas quais eram registradas as nominatas, lista de pessoas que compunham os diretórios, de todos os Diretórios Municipais e Zonais do conjunto dos partidos registrados. Esses registros existem até 1994, quando a responsabilidade por eles passou a ser dos partidos. No caso do PT, as nominatas dos Diretórios Zonais deixaram de ser registradas, o que voltou a ocorrer apenas em 2005, não havendo informações consistentes no interregno. O quarto capítulo apresenta os dados coletados na aplicação de questionários com dirigentes das Executivas Zonais e nas entrevistas semiestruturadas junto a um conjunto de filiados. As duas abordagens tiveram como objetivo compreender diferenças locais bem como captar as percepções sobre o desenvolvimento do partido. Os dados coletados ajudam a compreender melhor os contextos de cada uma das regiões e elucidar algumas passagens que documentalmente não são muito claras.

9 Informação prestada pelos técnicos do Centro de Memória Sergio Buarque de Holanda, da

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Fecha o texto a conclusão da tese, onde buscamos apresentar uma síntese da investigação antes de finalizar a partir dos resultados obtidos. Os dados coletados e sistematizados estão disponíveis nos anexos.

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Capítulo 1

O debate acadêmico sobre o desenvolvimento partidário petista

O ponto de partida para o exame do desenvolvimento do partidário petista na cidade de São Paulo nesta tese foi a revisão bibliográfica do debate acadêmico sobre seu desenvolvimento nacional. A literatura sobre o PT é vasta (MENEGOZZO, 2013), ainda mais se comparada à dos demais partidos brasileiros, o que parece ser comum aos partidos de esquerda (CARAMAGNI & HUG, 1998). Dentro do recorte do desenvolvimento do partido, Amaral e Power (2015:2) sistematizaram a bibliografia em quatro “ondas”: (i) a formação e a consolidação do PT, (ii) as primeiras experiências do partido em governos subnacionais, (iii) a transformação e a moderação do PT e, (iv) o PT no governo federal a partir de 2003. Destas, nos deteremos, principalmente, na primeira e na terceira onda, que tratam do desenvolvimento da estrutura da organização partidária, e apresentam os modelos analíticos e os conceitos que balizam a pesquisa. Também apresentam dados que permitem relações sobre o desenvolvimento partidário em seus diferentes níveis.

As investigações sobre a estrutura partidária petista e seu desenvolvimento têm como trabalhos inaugurais Meneguello (1989) e Keck (1991). Ambos tratam da formação do novo partido no processo de redemocratização do Brasil. Meneguello (1989) observa que o partido, sob seu aspecto organizacional, poderia ser considerado, de acordo com o modelo proposto por Duverger (1980), um partido de massas, o que faria dele uma novidade no sistema político brasileiro. Seriam características do novo partido sua origem externa, extraparlamentar, sua organização interna intensa, sua forte articulação estrutural, rigorosos requisitos para filiação, uma centralização nacional, doutrinarismo, e o controle do partido sobre seus parlamentares, características que são exploradas detidamente na obra. A novidade seria reforçada, segundo a autora, pelos mecanismos internos do partido, que escapariam do modelo imposto pela Lei Orgânica dos Partidos Políticos e que buscariam evitar sua oligarquização (MICHELS, 196?), como os encontros do partido antes das convenções oficiais e os Núcleos de Base.

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A autora também analisa os resultados eleitorais do PT em 1982, apontando que o partido se revelava eminentemente paulista (1989:128) e que, na distribuição dos votos no estado, estes concentravam-se na região metropolitana de São Paulo, onde o partido teria recebido 76% de seus votos (id:134). Na cidade de São Paulo, a concentração dos votos petistas estava nas áreas mais pobres da cidade e nos bairros da região sudeste, vizinhos às cidades do ABC paulista (id:157). Outro fator que majoraria os votos no PT seria a presença da organização e o trabalho de base do partido, já que as regiões com maior número de votos, Sul e Sudeste, concentrariam 80% dos Núcleos de Base e dos militantes do partido na cidade (id:133, 162).

A investigação de Keck (1991) busca compreender o PT enquanto novo ator no cenário político. Mobilizando a estrutura proposta por Panebianco (2005 [1982]) para o desenvolvimento partidário, identificava no partido uma grande valorização dos incentivos coletivos em detrimento das carreiras políticas, o que dava ao partido um caráter de movimento. Também explora a relação entre a constituição do partido e a constituição da Central Única dos Trabalhadores, demonstrando que era possível desempenhar um trabalho conjunto, mas separando as esferas, garantindo a cada uma das estruturas sua legitimidade interna. Sobre o mesmo tema, mas em sentido oposto, explora como os indivíduos envolvidos na redemocratização transitavam nas diferentes estruturas, constituindo um modo particular de filiação, que era ao mesmo tempo partido e movimento, de forma muito semelhante à múltipla filiação (MISCHE, 2008). Keck também ressalta a função das campanhas eleitorais como instrumento de organização do partido. Desde a seleção dos candidatos para as disputas, nas quais “núcleos moribundos frequentemente se reconstituem [...] para permitir que seus membros participem do processo de escolha” (1991:133), até o envolvimento dos filiados e dos simpatizantes nas eleições, é notório que a participação em torno das estruturas partidárias aumenta consideravelmente quando há disputa eleitoral, seja ela interna ou externa (id).

Essas pesquisas não apenas inauguram os estudos organizacionais sobre o PT como servem como um “momento zero”. Realizadas no calor dos acontecimentos, elas registram a estrutura da organização no momento de sua fundação quando, segundo Panebianco (2005), ficam marcadas características

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da organização que terão influência mesmo após bastante tempo, seu modelo originário. O autor também analisa a institucionalização dos partidos, em que há a consolidação da organização, “[...] a passagem de fluidez estrutural inicial, quando a recém-nascida organização ainda se encontra em construção, a uma fase em que a organização se estabiliza, desenvolve interesses estáveis para a sobrevivência e lealdades organizativas igualmente estáveis” (2005:36), o processo por meio do qual a organização incorpora valores e objetivos dos seus fundadores. O modelo resultante seria o profissional-eleitoral, semelhante em alguns aspectos ao catchall, proposto por Kirchheimer (1966), que já previa a adequação ao sistema eleitoral visando a conquista de votos, mas diferente em virtude da qualidade da burocracia, que seria ocupada por profissionais especializados em suas áreas. Este processo de institucionalização e profissionalização do partido, que visa adequar a organização ao sistema partidário, indica elementos que devem ser observados no desenvolvimento partidário petista, mas sem com isso assumir por completo o modelo proposto.

Nesse processo, Panebianco propõe observar algumas características do partido. No momento fundacional seria importante observar três: (i) o modo como se desenvolveu a construção da organização, (ii) a presença ou ausência de uma instituição externa que legitime o partido e (iii) o seu caráter carismático. A primeira característica seria identificar se o desenvolvimento organizativo ocorreu por penetração ou por difusão territorial, ou por alguma forma combinada de ambos. Isso definiria a existência de um centro coeso, no caso do desenvolvimento por penetração, enquanto haveria maior dispersão de lideranças no caso do desenvolvimento por difusão. No PT, como veremos, ainda que tenha havido o controle por parte de um centro coeso, a incorporação de grupos já organizados permite a afirmação de que o PT se desenvolveu por difusão territorial. A segunda, se há alguma instituição externa que tenha criado o partido. Ainda que tenha havido grande participação da Igreja Católica

(progressista) e a criação da Central Única dos Trabalhadores – CUT,

congregando uma diversidade de sindicatos bastante envolvidos com a fundação do PT, as lógicas de funcionamento não estavam diretamente relacionadas, tendo cada uma das instituições autonomia tanto em seu funcionamento quanto em suas diretrizes de ação, o que permite classificar o PT

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como um partido de legitimação interna10. Por último, se há alguma liderança carismática que interprete de forma incontroversa os símbolos do partido, existe no PT na figura do seu Presidente de Honra, Luís Inácio Lula da Silva, o “Lula”.

Em relação à institucionalização devem ser observados, segundo Panebianco, os interesses e as lealdades. Em função dos interesses, a organização partidária distribui incentivos. Eles podem ser seletivos, que seriam cargos, carreiras, que dão status àqueles que os recebem, ou podem ser coletivos, aqueles incentivos que não são destinados a dar status ou diferenciar os militantes, mas sim um posicionamento partidário, que faz com que os indivíduos ou grupos pertencentes ou próximos ao partido se identifiquem. Se antes da institucionalização são fortes os incentivos coletivos, a manifestação das ideologias, após predominariam os incentivos seletivos e as ideologias ficariam menos explícitas. Em relação às lealdades, elas permitiriam a formação do corpo burocrático do partido, a quem seriam confiadas as atividades cotidianas.

Por fim, também vale destacar alguns elementos que Panebianco aponta no processo de transformação do partido de massas em um partido profissional eleitoral, ou na profissionalização do partido, que seriam a contratação de um corpo técnico profissional, especializado, muitas vezes mais conectado com as questões externas ao partido e à opinião pública do que ao corpo burocrático do partido e à suas decisões internas. Aponta também que, em partidos deste tipo, o financiamento não estaria necessariamente atrelado às filiações, mas a dotações externas, de grupos de interesse e fundos públicos.

Amaral (2003) trata da desideologização do PT no sentido de sua adaptação ao sistema partidário brasileiro, demonstrando como os programas de governo apresentados pelo PT, ao longo do tempo, foram sendo modificados visando a ampliação da base eleitoral do partido. Questões importantes quando do momento fundacional do partido, como o avanço no sentido do socialismo, foram substituídas por elementos que exaltavam a capacidade do partido em resolver demandas concretas da população. Também ressalta que os programas passaram a apresentar características dos governos petistas indicando que

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partido sabe governar e que tem essa intenção, ao invés de estabelecer uma ruptura com o sistema capitalista. Dois motivos que poderiam levar a essas transformações seriam a vivência do ambiente administrativo, como retratado por Couto (1995), bem como uma mudança na base social do partido, com o aumento de funcionários públicos, em concordância com Singer (2001).

Essa transformação também foi anotada por Samuels (2004) que credita a vitória do PT no plano Federal ao deslocamento do PT rumo ao centro, no sistema partidário brasileiro. No artigo, classifica o PT como um partido de massas burocratizado, um modelo com grande dificuldade de mudança estratégica, já que, no modelo, há alto grau de participação dos militantes de

base e relativamente baixa autonomia das lideranças em relação a esta base11.

Desta forma, a mudança decorreria, então, não de uma liberdade das lideranças em relação à militância de base, comum na literatura sobre partidos de esquerda, mas sim com seu apoio. Este apoio pode ser creditado, em parte, à participação do partido em governos locais e em parlamentos, mudando, pouco a pouco, a maneira de compreender o petismo, deslocando-a de uma postura movimentista para uma postura mais institucionalizada.

Seguindo a mesma linha, ainda que com nuances, vale destacar dois trabalhos de Hunter (2008 e 2010). No texto de 2008, a autora apresenta as modificações pelas quais passou o Partido dos Trabalhadores como um processo de normalização, ou seja, de adequação de um partido tido como diferente ao conjunto dos demais competidores a um partido do tipo catchall, que busca a ampliação de sua base eleitoral a partir de um discurso abrangente e genérico, capaz de aproximar eleitores de diferentes classes, tendo como meta a vitória eleitoral (KIRCHHEIMER, 1966). Este processo teria sido iniciado, segundo a autora, a partir da segunda metade da década de 1990 e se acelerado na campanha presidencial de 2002, tendo sido implementado por conta da forte “disciplina, lealdade e coesão de seus militantes” (HUNTER, 2008:17). Assim como Amaral (2003), identifica os resultados deste processo com a omissão do socialismo no programa partidário, a moderação em relação à política neoliberal

11 As eleições do partido, entre 1995 e 2001, bem competitivas, tendo o candidato eleito pouco

mais de 50% dos votos (52,6% em 1997, 54,5% em 1999 e 55,6% em 2001), o que poderia restringir o poder para mudanças bruscas, que poderiam acarretar na alteração da direção

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vigente e a diminuição da força da militância junto ao partido. Em certa medida, os resultados parecidos se devem à aplicação de um mesmo modelo ao partido, o catchall. As pressões políticas e econômicas sobre o partido acabariam modificando sua prática, aproximando-a da dos demais partidos.

Hunter aprofunda sua argumentação em um livro publicado em 2010, em

que busca apresentar as modificações que levaram à normalização do PT12

articulando duas interpretações teóricas, a da Escolha Racional e a do Institucionalismo Histórico. A transformação do PT seria “um fascinante e complexo caso de mudança organizacional” (HUNTER, 2010:3) pois, por suas raízes radicais e ideológicas, e por ser um caso clássico de partido de massas institucionalizado, com uma densa organização, o PT não parecia ser um caso de adaptação. Ainda assim, o partido moderou suas posições programáticas, adotou alguns aspectos de partidos catchall e, como consequência, ampliou seu apelo eleitoral. A adaptação teria sido facilitada por causa da liderança “insubstituível” de Lula. Mas foi incompleta, pois muitos elementos de um partido de massas permaneceram, notadamente na vida interna do PT.

Desagregando o fenômeno da adaptação partidária, a análise de Hunter (2010) reconhece a irregularidade da mudança organizacional e sugere uma sequência esperada de transformação. Mudanças externas ocorreriam mais rapidamente em assuntos externos, respondendo ao eleitorado. As mudanças na sua dinâmica interna, como relações entre quadros partidários e líderes, ocorreriam de forma mais lenta. No texto de Hunter (2010), primeiro é analisada a atuação do PT na Câmara dos Deputados como oposição parlamentar, destacando a construção de uma imagem partidária própria e elementos de disciplina e coesão que o distinguia dos demais partidos. Em sequência são analisados os governos municipais petistas que possibilitaram uma experimentação do partido na situação, instituindo diferenciações entre os filiados no governo e os remanescentes no partido e suas diferenças. Por último, antes de seguir às conclusões, analisa a disputa pela Presidência da República. Nesta, dois fatores são destacados: a mudança no programa partidário e a política de alianças, que teriam sido fundamentais para a vitória em 2002 e que

12 Amaral (2010:103), citando o texto de Hunter, sugere que a normalização apontada pela autora

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acenariam com força para a mudança no tipo de partido. Vale notar que os três estratos estudados estão relacionados com a ocupação que o partido faz das instituições democráticas representativas do Estado, na face pública do partido.

Singer (2010)também trabalha as mudanças na organização partidária,

dentro da perspectiva da normalização. Na obra, ele apresenta dois perfis petistas, ou almas, que têm como marco divisório a publicação da Carta ao Povo Brasileiro em 2002. O partido, que em sua fundação buscava não ser “eleitoreiro” e sim mobilizador, com forte caráter radical, “que fazia desse traço elemento diferenciador numa cultura política tingida pela ambiguidade e pela conciliação das elites, tinha o sentido de negar as limitações das fases anteriores” (SINGER, 2012:88), o que teria se modificado bruscamente, notadamente em sua postura anticapitalista, na sua política de alianças e de financiamento e na ampliação e dispersão de seus filiados. O processo de desideologização teria afastado militantes, que migraram, por exemplo, para o PSOL.

Junto da mudança programática/ ideológica teriam ocorrido mudanças na base eleitoral do PT, que depois de 2002 passaria a ter menos força relativa nas classes médias, em eleitores de alta escolaridade, no Sul/Sudeste e nas capitais das regiões mais ricas, como se caracterizava à época de sua fundação, e ampliaria de forma significativa o suporte entre eleitores do Norte/Nordeste, nas metrópoles periféricas e no entorno das capitais, sugerindo que elas podem também estar refletidas na composição do partido, que teria ficado mais parecida com a da sociedade brasileira (SINGER, 2012:116-117). Esse realinhamento, porém, é questionado por alguns autores, como Amaral e Power (2015:15).

Outra referência utilizada para a análise do desenvolvimento das estruturas partidárias, que incrementa o campo de investigação são Katz e Mair, que, críticos dos modelos apresentados na literatura acadêmica internacional sobre partidos políticos, propõem que o partido não seja analisado como como um ator unitário, mas desagregado em três diferentes faces, que interagem entre si: Party in the Public Office – PPO, ou Partido no Poder Público, o partido quando ocupa parlamentos ou governos; Party on the Ground – POG, ou Partido

na Base, quando junto dos filiados e eleitores fieis e; Party in Central Office –

PCO, ou Estrutura Partidária Central, quando se trata da face da estrutura organizacional partidária, da sua estrutura profissional e representativa (KATZ e

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MAIR, 1994). Separado desta forma, seria possível questionar qual face tem maior poder. Enquanto as teorias que tratam da institucionalização ou mesmo da oligarquização das estruturas partidárias tenderiam a mostrar uma transição do poder no sentido do Partido na Base para a Estrutura Partidária Central, responsável pelas decisões, a existência do Partido no Poder Público tenderia a modificar esse entendimento, já que os membros do partido, que detêm mandato parlamentar ou que ocupam cargos em governos, acabam tendo uma projeção pública grande, além de terem grande parte de suas atividades subvencionadas pelo Estado, diminuindo sua dependência em relação à estrutura partidária. Nesse sentido, também observam como esse processo é comum a partidos de diversas famílias ou matizes ideológicos, formando o que chamam de Partidos Cartel (KATZ e MAIR, 1994 e 1995). Para a investigação realizada nesta tese, a desagregação por eles apresentada, em três faces, faz sentido e será utilizada.

Ribeiro (2010) adota essa linha. Para ele, o fortalecimento da face do Poder Público teria como consequência o afastamento do partido em relação à sociedade civil e o fortalecimento da direção partidária em detrimento da base de filiados, hipóteses que o autor busca responder. Para tanto, estabelece indicadores empíricos para suas hipóteses e busca seus dados em uma pesquisa documental múltipla, buscando objetividade para seus resultados.

Presente em diversas obras sobre o partido, desde “os clássicos” de Meneguello (1989) e Keck (1991), uma característica marcante do PT seria a contribuição financeira dos filiados para a manutenção do partido. Ribeiro (2010) demonstra como, ao longo do tempo, o financiamento estatal, seja pelo Fundo Partidário13, seja pela transferência de recursos oriundos da participação em

cargos públicos14, ultrapassou de forma substantiva a contribuição dos filiados

sem cargos públicos. Se, em 1989, esta contribuição correspondeu a 30,4% da arrecadação do partido, em 2004 correspondia a apenas 0,7%. No sentido contrário, o Fundo partidário passou a representar, a partir de 1996, cerca de 70% da arrecadação do partido, perdendo espaço apenas a partir de 2002, com

13 Recursos da União distribuídos para os partidos políticos de acordo com a Lei dos Partidos

Políticos

14 De acordo com o Artigo 80 do Estatuto do Partido dos Trabalhadores “Os militantes destacados

paea exercerem função no âmbito distrital, estadual e nacional, inclusive os parlamentares de cada um destes níveis, fixarão suas contribuições em discussão com os diretórios respectivos”.

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o crescimento da contribuição dos filiados que passaram a assumir cargos no governo federal. O papel do filiado no financiamento também ficou reduzido em relação à presença de grandes pessoas jurídicas, que, a partir de 2000, passaram a responder por pelo menos 60% da receita não estatal do partido.

Sobre uma segunda característica marcante na novidade petista, a participação da base nos processos decisórios, Ribeiro (2010) apresenta dados que indicariam o aumento da profissionalização da militância, seja pelo partido ou pelos mandatos parlamentares e cargos em Executivos, e o aumento da participação de parlamentares nas estruturas partidárias, alterações que facilitariam o descolamento da direção em relação à base do partido. Apresenta o Processo de Eleição Direta, PED, como elemento de esvaziamento do debate partidário. Conclui, em sua análise, que todos os indicadores verificados evidenciariam que “é inegável que a agremiação se aproximou do modelo de partido de cartel delineado por Katz & Mair” (RIBEIRO, 2010:287, grifo nosso). Afirma também que apesar de continuar se definindo como socialista, “na prática consolidou-se como o genuíno partido da socialdemocracia brasileira [...] condição [que] precisa ser assumida pela legenda, superando pudores em relação ao termo” (id.:290). Preconiza, com isso, o “fim de uma era” (id.:303).

Meneguello e Amaral (2008) apresentam texto que diverge de parte das afirmações de Ribeiro. Preocupados com a questão da participação dos filiados na vida partidária, os pesquisadores apresentam dados que demonstram o “surpreendente fôlego organizativo” do PT, que “iniciou o século 21 com mais de 860 mil filiados e com diretórios em 4016 municípios do país” (p.11). Apesar da histórica hegemonia da tendência Articulação, e com um novo modelo despolitizado de escolha das lideranças, o primeiro PED teve o comparecimento de 227 mil filiados e elegeu o presidente nacional por uma pequena maioria de votos (55,5%), o que consideram como um cenário de disputa ao invés de uma oligarquia descolada da base. Para os autores o processo e seu resultado sugerem “um fôlego de resistência a Michels” (p.11). Mesmo com a cisão que gerou o PSOL e com a crise de 2005 “o partido tinha um significativo vigor de participação na base: nos 1º e 2º turnos do processo eleitoral, respectivamente, 314.692 e 232.701 filiados votaram em 3.650 municípios brasileiros, superando o comparecimento verificado em 2001” (p. 12).

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Sobre o distanciamento do partido em relação aos movimentos sociais, demonstram que uma proporção alta das lideranças médias (72,3%) mantinha vínculos claros com os movimentos sociais, tanto em posições de direção (76,1%) quanto militando na base (72,7%), o que sugere a existência de bases objetivas para a recuperação dos vínculos de organização. Os autores também identificam que, apesar da crescente autonomização das lideranças, diminuição da importância das bases, e da moderação do discurso em busca de maior competitividade eleitoral o PT, de forma semelhante à socialdemocracia europeia, não fez concessões aos referenciais da esquerda marxista e sempre teve seu projeto socialista associado às perspectivas da democracia. Além disso, o partido teve êxito em manter uma dinâmica de funcionamento e de tomada de decisão com base na convivência entre grupos distintos, sustentada por mecanismos deliberativos participativos. A organização interna em nível local, o envolvimento das lideranças de base na dinâmica partidária e os dispositivos de distribuição de poder, segundo os autores, destacam o PT do conjunto das agremiações partidárias brasileiras (MENEGUELLO e AMARAL, 2008:19ss). E parte da contínua novidade, mesmo sob pressões do ambiente político, seria devido ao modelo genético do PT.

Amaral (2010) aprofunda parte das análises em sua tese de doutoramento que teve “como objetivo geral analisar as transformações na organização interna do PT e seus impactos sobre a dinâmica partidária entre 1995 e 2009” (AMARAL, 2010:9). Sua pesquisa traz, à luz de dados empíricos, seis questionamentos a respeito do desenvolvimento partidário do PT, sendo que os três primeiros dialogam diretamente com a produção de Hunter (2010) e Ribeiro (2010).

O primeiro ponto se debruça sobre a transformação na base de filiados do PT e na avaliação de sua conexão com os atores da sociedade civil organizada. O autor demonstra que, no desenvolvimento do partido, a base de filiados aumentou constantemente, mesmo em períodos de forte exposição negativa na mídia. Esse aumento pode ter sido possível em virtude da moderação do espectro ideológico ou mesmo da presença do partido na Presidência da República, mas foi habilmente incorporado pela máquina partidária e “marcado pela preservação de mecanismos deliberativos participativos e ausência de práticas clientelísticas em larga escala” (AMARAL, 2010:9). Demonstra também,

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a partir da análise das lideranças partidárias, que há estabilidade no perfil do dirigente. Pode ter havido um deslocamento no perfil ideológico, mas não é possível evidenciar. Por fim, destaca que não há distanciamento em relação aos movimentos sociais e classistas, tendo em vista que há um grande número de militantes e dirigentes de movimentos e organizações sociais nas fileiras do partido, que não declinou entre 1997 e 2007, o que sugeriria que os atores da sociedade civil organizada ainda enxergariam o partido como um representante institucional aberto às suas demandas e capaz de compartilhar propostas políticas. Desta forma, a despeito de ter sofrido pressões externas, às quais teve que responder, o partido não teria completado seu processo de normalização, como havia sugerido Hunter (2010). Amaral credita o fato à permanência de características genéticas do partido15.

O segundo ponto trata das formas de militância no interior do partido. Resgata uma das características marcantes no momento de fundação do partido e amplamente debatida, a organização em Núcleos de Base, e busca relacioná-la com participação dos filiados na década de 2010. A primeira primaria por uma participação de alta intensidade, o que motivou o debate sobre sua existência e apareceu na literatura como diferencial partidário. O modelo, por sua vez, seria marcado pelo Processo Eleitoral Direto. Com ele não haveria a necessidade de uma participação intensa, mas seria possível a todo e qualquer filiado participar da escolha dos dirigentes partidários. Amaral busca descaracterizar, nesta mudança, um elemento da emergência do modelo de partido cartel. Seria uma adequação da estrutura partidária aos anseios participativos do conjunto de filiados, como um atrativo à sua participação16. Demonstra que não é visível

desmobilização por parte da base militante no modelo adotado pelo partido17.

Relacionado ao debate sobre a participação dos filiados nas deliberações partidárias, o terceiro ponto foca o PED e sua inserção na estrutura partidária, e indaga se o instrumento modificaria as correlações de poder internas ao partido e ampliaria o poder das lideranças partidárias, reproduzindo e reforçando a tese de Michels (196?) sobre a formação das oligarquias partidárias. Amaral (2010)

15 Referindo-se à teoria de Panebianco (2005)

16 O autor sugere uma alternativa ao proposto por Katz e Mair, a partir dos trabalhos de Scarrow

e Gezgor (2010) e Kittilson e Scarrow (2003).

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busca alternativas à caracterização da democratização interna como elemento de enquadramento do partido no modelo cartel. Segundo os autores que mobiliza, não haveria diferença substantiva na opinião dos membros mais ativos ou menos ativos sobre as lideranças, que favorecesse ou não um determinado grupo ao modificar o sistema de seleção das lideranças. O PED, no sentido apresentado, ampliaria o peso de elementos externos à vida exclusivamente intrapartidária para a seleção, permitindo ao filiado o controle das lideranças, mesmo sem uma intensa vida partidária, o que consistiria em resistência à Lei de Michels, e não a sua reafirmação. A vinculação dos filiados, independentemente da intensidade de sua participação, se daria pelas tendências, que

“se constituíram no principal veículo de canalização de demandas, organização de conflitos e ascensão na hierarquia partidária, ajudando a moldar o sistema político petista e construindo relações de identificação com os membros a partir da continuada prática de disputas pelos postos de direção da agremiação” (AMARAL, 2010:159).

O número de grupos que disputam o comando do partido permaneceu proporcionalmente semelhante àquele do período em que as direções eram selecionadas em Encontros Nacionais. Isso valeria também em relação à competitividade dos candidatos à presidência do partido, minimizando o impacto da mudança no modelo de seleção das direções partidárias.

O ponto seguinte trata das clivagens internas ao partido, com suas divisões ideológicas e programáticas. Heterogêneo desde seu momento fundacional, o partido permaneceria assim em 2010, com suas distinções internas ajudando a moldar o quadro cognitivo petista, mesmo que o posicionamento das tendências tenha se modificado ao longo do tempo (AMARAL, 2010:191). Um elemento importante para a mudança do posicionamento teria sido a presença continuada no governo federal. O deslocamento ideológico e programático do conjunto do partido foi aos poucos se afastando do espectro da esquerda, inclusive por conta das cisões ocorridas neste campo do partido, o que acabou por fortalecer a hegemonia de grupos mais moderados na direção.

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Por fim, Amaral se debruça sobre o perfil da direção nacional do partido. Observa que não há grandes modificações nas características em relação ao observado uma década antes, e que houve o envelhecimento do conjunto dos dirigentes. Observa também que a ascensão partidária se dá nos moldes dos clássicos partidos de massas, sendo mais fácil àqueles que desenvolvem sua carreira política no interior do PT e dificultando a entrada lateral, a partir de recursos exógenos. Este seria mais um aspecto do momento fundacional do PT mantido. Cabe destacar que o autor indica, ainda que de maneira imprecisa, que “a estrutura de incentivos proveniente de estímulos baseados em determinantes estabelecidos pela competição eleitoral ou pela atividade política mais ampla junto às esferas institucionais não é capaz de alterar o posicionamento ideológico as opiniões das lideranças” e que “os parlamentares e os mandatários do Poder Executivo não estão descolados de suas bases partidárias” (AMARAL, 2010:214). As duas características seriam a tônica da ambiguidade constante no desenvolvimento da organização partidária, que concilia sua origem e preceitos genéticos com a necessidade de vencer eleições e ter presença institucional.

As obras apresentadas neste capítulo constituem o conjunto conceitual sobre o qual esta tese se fundamenta. O PT se transforma durante os 36 anos analisados, institucionalizando sua estrutura organizacional nacional e normalizando sua atuação. Neste processo, ganha força a face pública do partido, subvencionada pelo Estado, que fortalece, em um primeiro momento, a capacidade de arrecadação financeira do PT e cujos expoentes compõem o Diretório e a Executiva Nacional. Na análise do desenvolvimento partidário no nível local será possível observar como essas mudanças impactam o cotidiano dos ativistas que estão na base do partido.

Referências

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