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Evolução dos resultados eleições para o Executivo Federal (1989, 1994 e 1998).

A década de 1990 também foi um momento de reorganização dos grupos políticos, com impacto na organização partidária. Visando a unidade, as tendências foram regulamentadas, mas proibidos os partidos internos. Considerada como um deles, a tendência Causa Operária foi expulsa em 1991, constituindo o Partido da Causa Operária - PCO. No ano seguinte foi a expulsão da Convergência Socialista, que formou o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - PSTU. Corroborando a análise de Lacerda (2002) de que o custo eleitoral de rompimento com o PT é alto, os resultados eleitorais destas siglas

foram baixos nas eleições seguintes54.

Em 1993, no 8º Encontro nacional, após uma ruptura na tendência Articulação, que até então comandava o partido, ganhou o grupo de oposição,

agrupado na chapa “Uma opção da esquerda”55, elegendo Rui Falcão presidente

nacional do PT. Essa alteração no comando da sigla criou um impasse na coordenação da campanha para a Presidência da República do ano seguinte. Com seu grupo fora, a estratégia adotada pelo grupo político do candidato, Lula, foi a formação do Instituto Cidadania. Com estrutura formada por seus principais conselheiros e por técnicos em diversas áreas, muitos deles de forma profissionalizada, o Instituto foi o responsável pela formulação do programa de governo apresentado nas eleições de 1994 e nas seguintes, até 2002. Apartado da estrutura partidária, mantinha o grupo mais distante das disputas internas do partido.

Essa separação afastou a base partidária das campanhas. Ainda assim, o partido realizou debates e oferece contribuições ao comando da campanha, em suas diferentes esferas, em todas as eleições. Boa parte delas provém dos Setoriais do partido, grupamentos temáticos formais que abrigam pessoas de diversas correntes, tendências e grupos internos que se dedicam a setores específicos da política partidária como, por exemplo, Educação, Cultura, Saúde,

Direitos Humanos, Moradia, Assistência Social, entre outros56. Também são

54 Valério Arcary, que concorreu à prefeitura de São Paulo pelo PSTU em 1996 teve média de

0,16% dos votos, com média de 227 votos por Zona Eleitoral. Em 1998 os candidatos à Presidência da República e ao governo do Estado pelo partido tiveram 0,14% e 0,11% dos votos, respectivamente.

55 Trata-se do nome da Chapa que concorreu no Encontro. Na Página 146 Pedro Batista se refere

a ela como A Hora da Verdade, nome de um dos grupos que sustentava a chapa.

56 É interessante a análise de Mendosa (2012) sobre a influência do Setorial de Assistência Social

realizados debates territoriais, nas diferentes escalas, pelos Diretórios.

Na cidade de São Paulo os Diretórios Zonais costumam realizar debates para as eleições municipais, realizados por seus filiados e com convidados, e, a partir deles, elaboram propostas para o comando das campanhas. A prática remonta ao período de formação, quando o sentido era o de informação das demandas locais ao comando da campanha, de forma centrípeta, e permaneceu, apesar da profissionalização das campanhas. O documento passou a ser menos informativo e mais reivindicatório, como uma cobrança local das pautas municipais a serem implementadas, nem sempre incorporadas nos programas de governo.

A derrota nas eleições de 1994 levou o grupo mais próximo ao Lula a reorganizar o comando da sigla. No 10º Encontro Nacional do PT, em 1995, foi aprovada a resolução da proporcionalidade na composição dos Diretórios e Executivas. Com a alteração, todas as chapas com coeficiente mínimo de votos teriam representação no comando do partido. A medida buscava dividir os grupos na formação das chapas e permitiu o retorno da Articulação, recomposta em um grupo mais amplo, o Campo Majoritário, ao comando do PT. Ao mesmo tempo, a medida possibilitou que os grupos minoritários participassem de forma mais efetiva do cotidiano e das decisões do partido, legitimando-as, e internalizou a disputa entre as correntes nos fóruns do partido.

O Campo Majoritário também elegeu, no mesmo encontro, o presidente nacional do partido, José Dirceu. Oriundo da esquerda organizada no período da

ditadura, quando foi presidente da União Estadual dos Estudantes – UEE57,

Dirceu havia sido Secretário de Formação Política (1981 a 1983) e Secretário Geral (1983 a 1987) do PT do Estado de São Paulo, Secretário Geral do PT Nacional no período de seu mandato como deputado estadual (1987 a 1990) e deputado federal entre 1990 e 1994, ano em que foi o candidato do partido ao Governo do Estado de São Paulo.

setorial, com seus principais atores. Mas pelo seu desenvolvimento é possível compreender como os setoriais, de forma geral, buscam influenciar, com ou sem sucesso, a agenda dos governos do PT.

57 Dirceu foi preso em 1968 no 30º Congresso da UNE, em Ibiúna. Foi solto em troca do

embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, sequestrado pelo MR-8 e ALN no Rio de Janeiro e enviado a Havana, em Cuba.

Com um perfil estrategista, centralizador, conhecedor da burocracia partidária e da vida política, era um dirigente partidário comprometido com o

sucesso eleitoral do PT58. Afastou os quadros partidários sem voto, que

detinham espaço na estrutura partidária em função do apoio de correntes políticas, mas que tinham candidaturas pouco expressivas. Também valorizou a seleção de candidatos alinhados à sua proposta de partido, eleitoral, em detrimento dos mais comprometidos com os movimentos de base ou de grupos que se opunham ao Campo Majoritário, muitas vezes promovendo a competição entre lideranças locais. Foi o responsável pela ampliação do leque de alianças do PT com siglas para além das esquerdas e comandou a moderação no discurso do partido59.

Essas mudanças impactaram as estruturas locais do partido. A expulsão das tendências afetou pouco os Diretórios Municipal e Zonais em São Paulo. Concentradas em alguns diretórios, sua presença era residual no partido. Em relação à proporcionalidade das direções, ela permitiu a participação de grupos que não conseguiam espaço nos Diretórios, nos cargos de direção. A mudança foi menos marcante nos DZs, pois a convivência no cotidiano comum da região aproximava os militantes de diferentes correntes e tendências, a maior parte não remunerada, que se desdobravam para a manutenção das estruturas locais do partido

A mudança nas candidaturas pode ser observada com a comparação das eleições de 1992 e de 1996. Ainda que haja reflexo da participação do PT na administração municipal da cidade de São Paulo entre 1990 e 1994, quando muitos quadros administrativos tiveram destaque, competindo com lideranças locais, houve uma mudança significativa no perfil da bancada de vereadores do partido, com maior presença de candidatos advindos da estrutura partidária em relação àqueles ligados a organizações de movimentos sociais. Além disso, em algumas entrevistas realizadas houve a citação nominal de Dirceu em relação à

58 Djalma Bom, sindicalista e fundador do PT, afirma que o PT foi formado por um grande

conjunto de lideranças e que havia apenas um dirigente partidário, que sabia o que deveria ser um partido: José Dirceu (FERREIRA & FORTES, 2008:63)

59 Apesar de comandar a moderação no discurso do partido, Dirceu foi um dos defensores da

manutenção do “Socialismo” no Estatuto do PT no 3º Congresso do Partido, em 2006, aceito após acalorada discussão.

apresentação de nomes para a disputa de territórios, visando a mudança das lideranças do partido60.

De volta ao Executivo Municipal. A eleição de Marta Suplicy em 2000. O modelo de profissionalização da campanha a partir de estruturas externas ao partido, a exemplo do Instituto Cidadania, pareceu promissora e foi utilizada por outros candidatos. Após a derrota de Marta Suplicy para o Governo do Estado, em 1998, o comando da sua campanha, com o apoio do Diretório Municipal e de algumas correntes do partido, constituiu o Instituto Florestan Fernandes, seu think tank eleitoral, que concentrou a elaboração das propostas e do programa de governo da candidata e ajudou na conquista da prefeitura de São Paulo, em 2000.

Como candidata do PT ao Executivo Municipal, Marta ampliou a votação média do partido na cidade, que passou dos 23% em 1996 para cerca de 34% em 2000 e se estabilizou na faixa dos 30% (32,43% em 2004 e 29,46% em 2008)

naquela década61. A distribuição dos cargos, com a conquista da prefeitura, em

2000, ajudou a consolidar algumas bases eleitorais, notadamente nas Zonas

Leste e Sul. No Secretariado, eminentemente petista62, Jilmar Tatto, da família

com grande proeminência na Capela do Socorro, e Deputado Estadual foi nomeado para a Pasta do Abastecimento nos dois primeiros anos do governo e assumiu, em 2004, a Secretaria de Governo. A Zona Leste teve Eduardo Jorge, Deputado Federal mais votado de forma recorrente, nomeado como Secretário de Saúde, bem como Paulo Teixeira, Deputado Estadual com base eleitoral crescente na Zona Leste, como Secretário de Habitação.

60 Alguns entrevistados manifestaram que não se sentiam à vontade para falar de Dirceu,

solicitando que as notas não fossem gravadas, nem transcritas na tese, o que foi respeitado.

61 Vale destacar que a criação do PSOL, a partir da saída de grupos à esquerda no partido, em

2006, após a expulsão de um conjunto de parlamentares petistas, não se refletiu nos resultados eleitorais do PT. O novo partido não alcançou 1% dos votos nas eleições de 2008, com Ivan Valente, nem em 2012, quando concorreu com Carlos Gianazzi, reforçando a tese de Lacerda (2002).

62 No secretariado de Marta Suplicy apenas o PCdoB e o PSB, que concorreram coligados na

eleição, tiveram espaço, nas Secretarias do Esporte e Família e Bem-Estar Social, respectivamente. O PMDB fez rápida passagem, com a indicação, em um período de 2004, da Secretaria da Educação. Um terço (sete) das Secretarias tem nomeados, em 2001, Secretários sem vida partidária ativa. O número cai para três em 2004, quando 16 das vinte secretarias são ocupadas por petistas.

A nomeação dos Administradores Regionais (renomeados naquela gestão como Subprefeitos), levou em conta o pertencimento à política local. Dos 28, apenas seis não eram do PT: José Luiz Leite, do PSB, na Casa Verde; Arnaldo Bispo do Rosário, do PCdoB, em Ermelino Matarazzo; Valdemir Chicareli, em Itaquera; João José Azevedo, em Vila Formosa e Carlos Valdir Ayudarte, na Vila Maria. A grande maioria pertencia ao Diretório Zonal e/ou a

mandatos com base eleitoral da região63.

Tabela 3.6 Administradores Regionais nomeados em 2001 e o partido ao qual estavam filiados. Administradores Regionais nomeados em 2001

Butantã Eduardo J. Siqueira Barbosa PT

Campo Limpo Ubaldo Evangelista Neto PT

Capela do Socorro Tadeu Dias Paes PT

Casa Verde José Luiz Leite PSB

Cidade Ademar Eliana Francisca Queiroz PT Ermelino Matarazzo Arnaldo Bispo do Rosário PCdoB Freguesia do Ó Neli Márcia Ferreira Baral PT

Guaianses Vilson Augusto de Oliveira PT

Ipiranga Carlos Mossato kiyomaoto PT

Itaim Paulista João Francisco Nascimento PT

Itaquera Valdemir Chicarelli Independente

Jabaquara Odilon Guedes PT

Jaçanã/ Tremembé Sueli Ramos PT

Lapa Adauto José Durigan PT

Mooca Sergio Navarro Torrecillas PT

Penha de França Luis Barbosa Araújo PT

Perus Mario Sérgio Bortoto PT

Pinheiros Beatriz Pardi PT

Pirituba Givaldo Souza Cunha PT

Santana Hélvio Nicolau PDT

Santo Amaro Nerilton Antonio Amaral PT

São Mateus Franco Torresi PT

São Miguel Paulista Adalberto Dias Souza PT

Sé Clara Ant PT

Vila Formosa João José Azevedo Independente

Vila Maria Carlos Valdir Ayudarte Independente

Vila Mariana José Américo Dias PT

Vila Prudente/Sapopemba Carlos Eli Gonçalves PT Fonte: Fiorilo (2006:93-94)

Para citar alguns exemplos, no caso de São Miguel Paulista foi nomeado Adalberto Souza, assessor do Deputado Paulo Teixeira, com expressão eleitoral

63 Os mandatos costumam manter relação com os DZs locais, onde disputam espaço, visando

naquela região, que se tornara Secretário de Habitação. Em Pinheiros, foi nomeada Bia Pardi, ex-Deputada Estadual, filiada ao DZ Pinheiros. No Jabaquara, Odilon Guedes, com base eleitoral na região e suplente em diversas eleições. O mesmo ocorreu nas outras regiões com indicados petistas, seguindo a lógica da matemática eleitoral, o que não garantiu a reeleição da prefeita, em 2004.

Marta teve redução de quatro pontos percentuais na média da cidade no primeiro turno. Houve aumento de cerca de 10% nas zonas eleitorais da Zona Sul, mesmo percentual reduzido nas zonas eleitorais do centro expandido. Na Zona Leste, os percentuais se mantiveram estáveis. Na metrópole, a mesma conta pode não dar certo em lugares diferentes. O movimento permaneceu em 2008. Nas eleições daquele ano a candidata conquistou, no primeiro turno, 65% dos votos em Parelheiros, 63,5% no Grajaú, 57,5% na Cidade Tiradentes, mas o arco de Zonas Eleitorais centrais em que ela teve baixa votação aumentou. Em regiões com população de renda alta, como Jardim Paulista, Perdizes e Indianópolis, a candidata obteve, respectivamente, 10,5%, 15,3% e 11,7%. Assim como na década de 1980, a votação no PT acompanhou as clivagens socioeconômicas da cidade, obtendo mais votos em regiões mais pobres e desassistidas, nas periferias, do que nas regiões mais ricas e estruturadas, em um centro expandido.

No mapa da distribuição de domicílios segundo a faixa de renda (Mapa 3.7), em 2000, é possível perceber que lares com renda de até 3 salários mínimos estão distribuídos pelas periferias da cidade de São Paulo e que sua proporção aumenta quanto mais próximos das fronteiras da cidade, em especial nos extremos Sul e Leste. No sentido oposto, há concentração de domicílios de alta renda em uma região deslocada à sudoeste da cidade, mas bem central. Quanto mais distante desse núcleo, diminui o número de domicílios de alta renda. Os dois mapas parecem ser um o “negativo” do outro e deixam claro a relação centro/ periferia na cidade.