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CAPÍTULO 1. O CENÁRIO INTERNACIONAL GLOBALIZADO

1.1 A GLOBALIZAÇÃO

1.1.5 A globalização tributária

1.1.5.3 Elementos da globalização tributária

A globalização tributária, como as demais proposições de partições da

globalização, comporta a identificação dos seus elementos caracterizadores. Castro propõe a

seguinte:

a) a tendência de redução das cargas tributárias nacionais; b) os paraísos fiscais73; c) os preços de transferência74; d) o planejamento tributário internacional; e) o papel dos tratados internacionais em matéria tributária; f) a tributação da renda em bases universais; g) a aproximação tributária (blocos econômicos); h) a tributação das transações financeiras; e i) o nomadismo fiscal75.

De forma sintética, os principais elementos da globalização tributária, retro

mencionados, estão contidos no comentário de Pinheiro acerca das mudanças no padrão de

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73 TORRES, Heleno. Direito Tributário Internacional: planejamento tributário e operações transnacionais.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 76-77.

74 Ibidem, p. 164.

75 a) a tendência de redução das cargas tributárias nacionais: o autor menciona um texto de Vito Tanzi,

disponível no endereço eletrônico do FMI, o qual relata que o crescimento da arrecadação tributária verificado nas últimas três décadas, em muitos países estabilizou ou retrocedeu, bem como alterou o seu perfil, passando a arrecadar mais em tributos sobre o consumo e contribuições para seguridade social75; b) os paraísos fiscais –

invoca os ensinamentos de Torres acerca das principais motivações para o surgimento dos países de tributação favorecida75: i) imposto sobre a renda, marcado com regimes de pressão tributária elevada; ii) adoção do

princípio da tributação renda em bases mundiais; iii) combate à dupla tributação internacional; c) os preços de transferência – corresponde a mensuração, para fins tributários, do preço de um produto ou serviço alterado propositalmente para mais ou para menos em operações internacionais de compra e venda por um agente econômico capaz de controlar os dois lados da operação75; d) o planejamento tributário internacional – a escolha de um caminho que implique o não pagamento de tributos, o pagamento menor ou o pagamento diferido no tempo. Seria sinônimo de elisão tributária, justamente por manusear instrumentos lícitos, consonantes com o direito75; e) o papel dos tratados internacionais em matéria tributária – destaca como principais objetivos

inseridos nestes tratados75: i) evitar a dupla tributação; ii) combater o planejamento tributário internacional

(preços de transferência); iii) viabilizar troca de informações entre autoridades fiscais; iv) instrumentalizar os movimentos de aproximação tributária em relação aos blocos econômicos; v) evitar a utilização dos paraísos fiscais; f) a tributação da renda em bases universais – “worldwide income taxation” - tendência maior nos Estados exportadores de capital. Pressupõe a realização da escolha de um dos elementos de conexão pessoal de residência, domicílio ou nacionalidade para tributar toda a renda produzida independentemente de avaliações de ordem territorial. Tem como motivos principais75: i) movimentação de capitais no mercado financeiro

internacional; ii) progressividade de tributos que recaem sobre as categorias redituais; iii) controle do planejamento tributário (paraísos fiscais); iv) manutenção das receitas fiscais do Estado; iv) realização do princípio da igualdade ou da isonomia; g) a aproximação tributária (blocos econômicos) – Outrora, fatores como a busca da paz e a colaboração técnica em inúmeras áreas sociais e científicas aproximavam as nações. Atualmente, a otimização da participação no comércio internacional é o objetivo, por excelência, dos movimentos de integração75; h) a tributação das transações financeiras (taxa Tobin); i) o nomadismo fiscal –

fenômeno entendido como a mobilidade dos fatores de produção, notadamente o capital e o trabalho, em busca de ambientes tributários mais favorecidos. Cita os seguintes acontecimentos como evidência75: i) pressões para a

redução seletiva da carga tributária; ii) utilização crescente dos “paraísos fiscais”; iii) utilização crescente dos preços de transferência; iv) deslocamento físico de unidades produtivas; v) deslocamento físico de contingentes de mão-de-obra especializados. CASTRO, Aldemário Araújo. As Repercussões da Globalização na Economia

produção econômica internacional e na alteração da concentração das imposições tributárias

sobre empresas isoladas ou desconectadas das corporações transnacionais:

As implicações recíprocas entre essas duas faces da vida econômica acaba[sic] repercutindo na moldura dos sistemas tributários nacionais. É que a concentração de capitais em grandes grupos, com descentralização da produção por empresas “independentes” e aceleração dos processos de financeirização global, redunda quase sempre em perdas de bases tributárias sobre lucros consolidados dos grandes grupos, as quais acabam sendo compensadas pelo aumento líquido de tributos, tanto sobre as empresas isoladas e sem conexão internacionais, quanto sobre as pessoas formalmente empregadas ou sobre o consumo. 76

Nesse capítulo se pôde visualizar a transmutação sofrida no Estado-fiscal no

curso do processo de globalização, onde ocorre: a) a alteração do perfil do sistema tributário,

por necessidade e factibilidade, com concentração das imposições fiscais sobre os fatores de

produção não globalizados, em especial sobre o consumo e sobre a renda do trabalho; b) o

esvaziamento da soberania fiscal, ou seja, parcela dos fatores econômicos assumiram

autonomia e preponderância sem precedentes anteriores frente ao Estado. Não mais se

limitam apenas ao planejamento tributário internacional, mas sim, passaram a atuar direta ou

indiretamente na formação dos sistemas tributários nacionais por intermédio de mecanismos

de pressão econômica

77

.

Sensíveis a esses mecanismos de pressão, os Estados, ao adotarem

providências para atraírem os fluxos financeiros e de investimentos diretos, protagonizam

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76 PINHEIRO, Jurandi Borges. Direito Tributário e Globalização. Ensaio crítico sobre preços de transferência. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 28.

77 “Globalization and the consequent international integration, together with rapid technological progress, is

likely to affect both the ability of countries to collect taxes and the distribution of the tax burden. Moreover, as time passes, globalization's impact on tax revenues appears likely to increase and to become evident in countries' revenue statistics. The total tax burden of the member countries of the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) has increased substantially over the past three decades, from 26 percent of GDP on average in 1965 to 37 percent of GDP in 1997. This growth, which has slowed or even stopped in several countries in recent years, has been accompanied by some changes in the composition of tax revenue. While the share of personal income tax has fallen and that of corporate income tax has remained relatively stable, social security contributions have increased substantially. At the same time, there has been a distinct shift from specific taxes to general sales taxes. In the 1990s, the impact of globalization began to be felt more intensely as capital markets were liberalized and economies became more integrated”. TANZI, Vito. Globalization and the Work

of Fiscal Térmites. Disponível em: < www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2001/03/tanzi.htm>. Acesso em: 09

uma concorrência fiscal que culmina em erosão das bases tributárias que será objeto do

próximo capítulo.