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Princípio da Igualdade, da Capacidade Contributiva e da Não-discriminação no Direito Brasileiro

CAPÍTULO 3. OS PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS

3.3 P RINCÍPIOS T RIBUTÁRIOS NO D IREITO B RASILEIRO

3.3.1 Princípio da Igualdade, da Capacidade Contributiva e da Não-discriminação no Direito Brasileiro

Analisaremos conjuntamente esses três princípios por guardarem entre si

relação de complementaridade e que trazem importância relevante para a formação do

entendimento sobre a legitimidade das práticas adotadas quanto ao combate dos países

classificados como de concorrência fiscal prejudicial.

3.3.1.1 Da igualdade

Okuma

376

ao analisar o art. 5º da CF/88, com suporte em Alcides Jorge Costa,

mencionada anteriormente, diz que o princípio da igualdade nele contido não protege os

estrangeiros não residentes no Brasil e que por conseguinte não nasce daí o direito à não

discriminação, ou seja, havendo justificativa pode a lei estabelecer tratamento diverso a

pessoas que, aparentemente, estariam em idêntica situação jurídica, desde que o fator de

discriminação guarde relação com os valores primordiais constitucionais. Vejamos a

transcrição do mencionado artigo da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade ___________________

376 OKUMA, Alessandra. Princípio da Não-Discriminação e a Tributação das Rendas de Não-Residentes no

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:377

Merece referência o comentário de Ferraz acerca dos procedimentos de

exceção não justificados, ao menos formalmente, pelo legislador brasileiro quanto ao

princípio da igualdade:

Apesar do reiterado e detalhado princípio da igualdade em matéria tributária, explicitado com eloqüência na Constituição de 1988, o sistema tributário brasileiro vem adotando fortíssima tendência a tratar diferentemente os contribuintes, gerando regimes específicos, alíquotas diferenciadas, reduções de bases de cálculo, diferimentos, isenções e incentivos, sem que haja explicitação de critérios constitucionalmente eleitos para tais distinções378.

Assim é que em nome de interesses diversos, até mesmo de relevância

questionável, se tem flexibilizado o princípio da igualdade.

3.3.1.2 Da Capacidade Contributiva

O art. 150, II, da Constituição estaria, em matéria tributária, vedando a

instituição de tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação

equivalente, ou seja, contribuintes em igualdade jurídica, senão pela avaliação da capacidade

contributiva

379

, eis em sua literalidade o texto da Constituição Federal de que se fala:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

...

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em

situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação

___________________

377 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/>. Acesso em: 05 out. 2006.

378 FERRAZ, Roberto. Igualdade na Tributação – Qual o Critério que Legitima Discriminações em Matéria

Fiscal? In: Princípios e Limites da Tributação. (coord.) Paulo Ferraz, São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 473.

379 OKUMA, Alessandra. Princípio da Não-Discriminação e a Tributação das Rendas de Não-Residentes no

profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;380 (G.n.)

Entretanto, Alcides Jorge Costa

381

nos apresenta uma interpretação mais

restritiva, para o insigne professor inexiste proibição no texto constitucional mencionado que

vede qualquer instituição de tratamento diferenciado em função da residência no País ou fora

dele, somente haveria limitação em razão da ocupação ou função exercida. Dessa opinião nos

permitimos divergir dado ser o mandamento voltado para estabelecer a proibição de

instituição de tratamentos desiguais à contribuintes em igualdade entre si, asseverando, ainda

mais, a vedação aos privilégios que existiam em períodos anteriores decorrentes dos cargos e

funções exercidas por algumas categorias profissionais brasileiras, como exemplo, os juízes,

os militares, etc.

3.3.1.3 Da Não-Discriminação

No direito pátrio a não-discriminação encontrou acolhida no texto

Constitucional para espelhar no âmbito doméstico aquilo que vige internacionalmente.

Carrazza comenta os art. 151 e 152 da Constituição Federal de 1988 e destaca a proibição de

instituição de graduação dos tributos, pelos Estados, Município e Distrito Federal, em razão

da procedência ou destino dos bens e serviços, o que veda o estabelecimento de barreiras

alfandegárias internas, com o objetivo da livre-circulação dos mesmos e concorrência em

regime de igualdade

382

. Os textos constitucionais sob comento são os seguintes:

Art. 151. É vedado à União: ___________________

380 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/>. Acesso em: 05 out 2006.

381 COSTA, Alcides Jorge. Acordos para Evitar a Bitributação e a Cláusula de Não-Discriminação apud

OKUMA, Op. Cit., p. 269.

382 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 17 ed. rev. ampl. e atual. São

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;

...

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.383

Entendemos que, de modo semelhante, o princípio da não-discriminação ocorre

no concerto dos Estados no plano internacional e para isso concorrem os princípios da

igualdade, da capacidade contributiva, da proporcionalidade e, com especial ligação ao

princípio da não-discriminação, o princípio da neutralidade da tributação.

___________________

383 BRASIL, Constituição Federal de 1988. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/>.

CAPÍTULO 4. O MODELO BRASILEIRO DE COMBATE À