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SUMÁRIO

REDE SOCIAL  SOCIEDADE EM REDE

2.2.2 Rede InovarH e Sistema Local de Inovação

2.2.2.1 Elementos Estruturantes de um SL

Durante a World Order Models Conference, em 1968, na Itália, dois pesquisadores argentinos, Jorge Sábato e Natalio Botana, defenderam a proposta de substituição de importações antes apresentada por Celso Furtado, destacando a necessidade de impulsionar o desenvolvimento tecnológico para garantir a sustentabilidade do crescimento econômico. Na defesa deste argumento, os pesquisadores afirmaram que, para garantir a sustentabilidade da proposta com base no desenvolvimento tecnológico, é recomendável que o setor produtivo implemente uma dinâmica de melhoria de produtos e processos, o que não seria viável sem uma articulação com as instituições científico-tecnológicas e o governo. Assim, surgiu o modelo conhecido como "Triângulo de Sábato", no qual o vértice superior seria ocupado pelo governo, ligado por um lado ao setor produtivo – empresas e indústrias –, e, por outro, às instituições científico-tecnológicas – a Academia. A estabilidade

do Triângulo, sua base, estaria assentada na interação entre o setor produtivo e as instituições científico-tecnológicas.

A proposta do Triângulo de Sábado surgiu dos estudos de política latino-americana para a ciência e tecnologia voltadas para a substituição de importações, mas uma generalização foi proposta por Loet Leydesdorff e Henry Etzkowitz, e é conhecida como modelo da Hélice Tripla (ETZKOWITZ; LEYDSDORFF, 2000). Os modelos mais simples de sistema de inovação baseiam-se nestas concepções do Triângulo de Sábato e na Hélice Tripla (Figura 1).

Figura 1 - Representação do Triângulo de Sábato

Fonte: Adaptação de Cunha e Ribeiro (2009), fundamentado em Etzkowitz e Leydsdorff (2000).

Como registro histórico, no final dos anos 80, Chris Freeman foi o primeiro a usar a expressão “Sistema de Inovação”, quando realizava um estudo sobre o desenvolvimento econômico japonês. Um pouco mais tarde, Lundvall adicionou o termo “Nacional”, quando tratou de Sistema Nacional de Inovação, baseando-se na teoria shumpteriana de inovação e no aprendizado interativo. Freemam definiu sistema de inovação como a rede de instituições públicas e privadas cujas atividades e interações iniciam, modificam e difundem novas tecnologias (FREEMAN; SOETE, 2000).

Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os sistemas nacionais de inovação (SNI) podem ser entendidos como

[...] conjunto de instituições distintas que conjuntamente e individualmente contribuem para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias, e que fornecem a base segunda a qual os governos formulam e implementam políticas para influenciar o processo de inovação (OCDE, 1999, p. 24, tradução nossa).17

17 “National innovation systems are defined as the set of distinct institutions which jointly and individually

contribute to the development and diffusion of new technologies and which provide the framework within which governments form and implement policies to influence the innovation process”.

Os sistemas de inovação são caracterizados por sua capacidade de interação, mediante a articulação dessas instituições, com a finalidade da produção de conhecimento, a difusão deste conhecimento e a utilização dele. Os atores principais de um SNI são: Empresas, Instituições de Ensino Superior e Governo (OCDE, 1999).

Segundo a OCDE (1999), os sistemas nacionais de inovação expressam o complexo arranjo institucional que, impulsionando o progresso tecnológico, determina a riqueza das nações. A compreensão dos Sistemas de Inovação, presumindo contribuições de conhecimento acadêmico para a economia (science/technology push, estimulado pela ciência/tecnologia) ou vice-versa (demand/market pull, demandado pelo mercado), deu lugar a um modelo de inovação em que universidade, empresa e governo formam um habitat de inovação no seio da sociedade.

A concepção de Sistema de Inovação evoluiu e hoje os sistemas nacionais de inovação caracterizam-se por englobar um grande número de instituições, órgãos e empresas, além de apresentarem diversas leis e normas, pautando-se em um marco regulatório complexo. De acordo com Silva, Suassuna e Maciel (2009), um Sistema de

Inovação é uma rede de organizações governamentais, empresas e outros agentes

econômicos, com políticas que influenciam o comportamento inovador e introduzem novos produtos, processos e formas de produção.

A noção de sistema de inovação coloca ênfase na interação entre governo, empresas e instituições de ensino e pesquisa para a utilização de fluxos estratégicos de informação e criação de conhecimento. Porém na implantação de um sistema de inovação, seus atores deparam-se com a necessidade de mudanças na cultura organizacional, empresarial ou institucional e essas mudanças, por sua vez, dependem de reformas institucionais e transformações nas concepções de missões e valores. Raramente ocorrem as mudanças radicais nos esquemas e procedimentos institucionais criados ao longo de gerações. Portanto, a participação dos atores nos sistemas de inovação não é independente da herança histórica e da trajetória institucional, e, do ponto de vista intrainstitucional, a mudança de cultura é o passo que exige maior e mais prolongado esforço.

Em relação ao modelo de estruturação de sistemas locais de inovação, Silva, Suassuna e Maciel, (2009, p. 29) afirmam que

[...] este modelo possui diversas aplicações, podendo ser utilizado para explicar e modelar ambientes locais, analisar suas potencialidades e fragilidades, entender os requisitos para o desenvolvimento de programas de promoção do desenvolvimento local, guiar o estabelecimento de políticas locais de desenvolvimento, entre outros usos. Além disso, permite que o papel dos parques tecnológicos e das incubadoras de empresas possam ser mais claramente definidos no contexto das políticas, instituições, organizações e da governança do processo de desenvolvimento local.

No Sudoeste do Estado do Paraná, Brasil, durante o processo de criação de um sistema regional de inovação, foram identificados atores que poderiam fazer parte do esforço de estímulo à inovação. Foi assim estabelecida uma classificação simplificada desses atores em cinco categorias (SRI, 2010), desdobrando as três categorias preliminarmente apresentadas no Triângulo de Sábato:

a) Setor governamental: entidades dos diversos níveis de governo que definem e implementam políticas, induzem e viabilizam projetos estratégicos e criam infraestrutura e mecanismos de estímulo para implantação de empresas;

b) Setor empresarial: empresas e suas entidades representativas, cujo papel é transformar o conhecimento e a inovação em riqueza, através da produção de bens e serviços de alto valor agregado demandados pelo mercado;

c) Setor tecnológico: centros e institutos cujo papel é desenvolver ou apoiar o desenvolvimento de tecnologia e transferi-la às empresas;

d) Setor acadêmico: entidades de ensino cujo papel é formar recursos humanos na área tecnológica e em outros setores necessários para o desenvolvimento sustentado na sociedade do conhecimento;

e) Setor institucional: entidades públicas e privadas cujo papel é facilitar o processo de desenvolvimento e inovação tecnológica no seu conjunto, através de atividades de intermediação ou de prestação de serviços específicos às entidades dos demais setores.

A abordagem para a estruturação deste Sistema de Inovação foi posta, não em uma organização institucional específica, mas sim, na rede de relações entre as entidades integrantes dos setores tecnológico, acadêmico, empresarial, governamental e institucional. Tal configuração coloca ênfase na interação entre governo, empresas ou organizações produtivas e instituições de ensino e pesquisa para a utilização de fluxos estratégicos de informação e criação de conhecimento (OCDE/FINEP, 2004 e 2005). O

objetivo desta interação tem sido promovido e discutido por teóricos, pesquisadores da saúde pública e gestores do SUS (GADELHA, 2003; BRASIL, 2007b, p. 93, grifo nosso).

É possível demarcar claramente um conjunto particular de setores e segmentos econômicos que estão inseridos no contexto da saúde. Apesar de sua dispersão em termos tecnológicos, a produção industrial em saúde conflui para mercados fortemente articulados que caracterizam a prestação de serviços de saúde (hospitalares, ambulatoriais e de saúde pública), condicionando à dinâmica competitiva e tecnológica que permeia as indústrias da área. Há, de fato, um ambiente econômico, político e institucional em saúde que permite caracterizar mercados fortemente interligados e interdependentes. Como contrapartida, é possível pensar políticas industriais, tecnológicas e sociais que apresentem um

grande potencial de articulação, permitindo a concepção de intervenções, sistêmicas e de alta relevância para o ritmo e o direcionamento das inovações do

país e para a competitividade empresarial nos setores da Saúde.

Assim, na proposta da Rede InovarH-BA estão incluídas ações que resultam em intervenções direcionadas a inovações gerenciais hospitalares. As inovações gerenciais conjugam vantagens políticas, sociais e técnicas e agregam valores nos processos assistenciais e administrativos; por conseguinte, promovem crescimento, desenvolvimento e efetividade da competitividade nos processos de produção. Compreende-se esta natureza de inovação como a proposição de novas estratégias organizacionais, a implementação de novas estruturas organizacionais e a introdução de novos meios e técnicas capazes de reestruturar serviços, processos de trabalho e trocas de bens tangíveis e intangíveis.

Competitividade, nas instâncias dos serviços de saúde, pode ser entendida como a capacidade de esses serviços formularem e implementarem estratégias gerenciais, permitindo-lhes ampliar ou conservar uma posição sustentável na atenção à saúde. Esse termo é utilizado na orientação de políticas industriais desde os anos 1980 nos países periféricos da América Latina. No entanto, seu conceito posicionava-se de forma míope e superficial, uma vez que os articuladores políticos a consideravam decorrente “da especialização na produção de bens e serviços intensivos em recursos naturais e com baixo valor agregado; da diminuição dos salários; da informalidade e da precarização das condições de trabalho” (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1995; LASTRES; CASSIOLATO, 2005, p. 8). Tal concepção caracterizava a competitividade no sentido espúrio.

Em uma economia voltada à inovação, considerando as organizações que aprendem, a competitividade é sustentada e dinamizada a partir da capacidade das instituições e organizações aprenderem e criarem competências. Essas competências são subjacentes às

especificidades das pessoas e à qualificação dessas em criar e aperfeiçoar o processo de produzir e inovar, fatores que se ampliam quando as pessoas têm o habitus da interação.

Para Lastres e Cassiolato (2003, p. 4), sistemas de inovação contêm forte capacidade endógena de gerar inovações. Esses autores afirmam que

[...] sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em integração, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento.

Nesse contexto, a construção de identidades e a formação de vínculos territoriais contribuem para efetivar os arranjos inovativos, tais como os SLI, dado que eles exigem uma base local, cultural, política e econômica comum (LASTRES; CASSIOLATO, 2005, p. 2). Não descartando, assim, a semântica da palavra território, o significado de terroir. Essa palavra focaliza atributos que distinguem e agregam valor a bens e serviços de uma região ou localidade (ALBAGLI, 2006).

Há, portanto, um processo histórico de construção de vínculos territoriais, no qual a condição sistêmica é necessária. Tal condição favorece a interação, cooperação e confiança entre atores, a fim de se munirem de características como: dimensão territorial; diversidade de atividade e atores econômicos, políticos e sociais; conhecimento tácito; inovação e aprendizagem interativas; governança; e grau de enraizamento (CASSIOLATO; LASTRES; SZAFIRO, 2000; LASTRES; CASSIOLATO, 2005).

A dimensão territorial representa a análise e a ação política, definindo o espaço dos processos produtivos, inovativos e cooperativos do local. A diversidade reúne a participação e a interação das organizações produtivas de bens e serviços finais e intermediários (concorrentes e fornecedores), além das diversas instituições públicas e privadas, que formam e qualificam pessoas, realizam pesquisa, promovem desenvolvimento de engenharia, programas de promoção e financiamento (universidades, instituições de pesquisa, empresas de consultoria e de assistência técnica, organizações públicas e privadas).

Neste contexto, é relevante compreender a elocidade entre o SUS e o complexo industrial da saúde.18