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Capítulo I – Enquadramento teórico

2. A liderança nas organizações educativas

2.1 Em torno do conceito de liderança

A definição de liderança é subjetiva e arbitrária, conforme refere Yukl (cit. por Bush e Middlewood, 2011), e, apesar de existirem definições para cada contexto em que se utiliza, não se pode afirmar que existe “a” definição correta.

24 Mais do que estabelecer uma definição de liderança, Bush e Middlewood (2011) consideram três dimensões que estão subjacentes à ideia de liderança: um processo de influência sobre um grupo, um conjunto sólido de valores pessoais e profissionais, e o desenvolvimento e a articulação de uma visão para a organização.

Segundo Alves (1995), o conceito de liderança está relacionado com a noção de autoridade carismática e com poder pessoal, legítimo e aceite por aqueles sobre os quais se exerce. O fundamento da liderança decorre assim da capacidade de influência de uma pessoa sobre as outras, do líder sobre os subordinados, pelo que se assiste com frequência à identificação positiva dos subordinados sobre o líder, bem como a relações de confiança recíproca. Jesuíno (cit. por Alves, 1995, p.38) refere que a liderança corresponde ao “exercício do poder por parte de um ator sobre um grupo”, com a “intenção explícita de promover a eficácia da ação coletiva, constituindo esta a condição da sua legitimação”, tendo em vista a “realização de objetivos comuns tanto de líderes, como dos seguidores”. Yukl (cit. por Bush e Middlewood, 2011) é mais preciso quando refere que a liderança pode ser exercida por um líder individual ou por um grupo, salientando assim que “o líder” pode não ser necessariamente um indivíduo.

No caso das organizações educativas, Sergiovanni (2004a) define a liderança como

“o processo de levar um grupo a agir de acordo com propósitos partilhados” e socialmente

atribuídos aos estabelecimentos de ensino, sendo que o autor designa por “propósitos partilhados” ao que nas empresas se atribui por “objetivos do líder” (p. 124).

O líder é o portador da filosofia da organização e a sua liderança sustenta-se na sua competência e na capacidade de explicitar as suas decisões.

Pelletier (cit. por Pina, 2003, p.49) define liderança como a “capacidade de suscitar a participação voluntária de pessoas ou grupos face aos objetivos que se prosseguem”, salientando o caráter relacional da liderança, isto é, para que haja influência tem que haver uma dependência relativa do influenciado em relação ao líder.

Em qualquer das definições atrás referidas, importa salientar a intencionalidade pois a liderança assenta em resultados ou em metas para os quais o processo de liderança deve guiar.

Segundo Southworth (cit. por Pina, 2003, p.48), a liderança é diferente da gestão porquanto gerir é “fazer com que a Escola caminhe”, isto é, garantir o funcionamento diário da

25 organização dentro de critérios de razoabilidade funcional. A liderança assume-se num plano mais ligado à orientação e ao sentido da organização, procurando que “a Escola caminhe para algum lado”. Este autor acrescenta ainda a ideia de liderança como: ato moral, ao considerar que “a forma como o líder se comporta é tão importante como o que ele tenta concretizar”; ato social, ao transmitir mensagens sociais; e, ato político, pois a liderança implica o exercício de poder no seio da organização escolar.

Bush e Glover (2003) associam a liderança aos valores e às metas de uma organização, enquanto a gestão se refere à implementação e aos aspetos técnicos.

Para Greenfield (cit. por Bolívar, 2003), a liderança é um fenómeno organizativo, do qual fazem parte processos, atividades e dinâmicas, que torna possível a melhoria permanente da organização e a resolução autónoma dos seus mais variados problemas, através da emergência de líderes formais ou informais. Scurati (cit. por Ghilardi e Spallarossa, 1991, p.103) distingue o líder do administrador pois enquanto o primeiro “aspira a planear e encontrar novas metas e novos meios, conjuntamente com os outros membros da organização (garante a inovação)”, o administrador, visto na perspetiva do gestor, tem como objetivo “assegurar o funcionamento regular da organização mediante o emprego dos meios previstos e consentidos (garante a correta execução)”. Trata-se pois de uma distinção assente em aspetos de natureza administrativa, por um lado, e por outro, no exercício efetivo da capacidade de liderança. Porém, Ghilardi e Spallarossa (1991), contrariando as perspetivas da teoria dos traços, nomeadamente dos “traços mágicos de personalidade” (Fiedler, cit. por Costa, 2000, p.18), defendem que parecem não existir indícios de relação entre os traços de personalidade do líder e o desempenho das funções de liderança.

Uma outra distinção é proposta por Whitaker (1999, p. 90), ao considerar que a gestão está relacionada com “estruturas bem ordenadas, manutenção das funções diárias, certificação da realização do trabalho, monitorização de produtos e resultados, eficiência”, enquanto a liderança se baseia no “comportamento pessoal e interpessoal, enfoque no futuro, mudança e desenvolvimento, qualidade, eficácia”. O autor não pretende valorizar um dos conceitos em relação ao outro mas tão só reforçar a importância crescente dos fatores humanos e interativos nas organizações, os quais implicam a criação de um ambiente ou clima de bom funcionamento de modo a que os seus membros se empenhem e deem o seu melhor. Ambas as funções são necessárias no seio de cada organização pelo que importa

26 determinar em que grau e medida, um bom gestor consegue ser também um bom líder, já que se “a gestão permite o funcionamento de uma organização, a liderança ajuda ao seu melhor funcionamento” (Withaker, 1999, p. 91).

Já Dimmock (cit. por Pont et al, 2009) apresenta una distinção entre liderança, administração e gestão escolares, ao mesmo tempo que reconhece que os líderes escolares têm, com bastante frequência, responsabilidades nos três domínios:

“Independentemente de como se definam estes termos, os líderes escolares experimentam dificuldades para estabelecer um equilíbrio entre as tarefas de ordem mais elevada dirigidas à melhoria do rendimento dos recursos humanos, dos alunos e da escola (liderança), as operações rotineiras da organização (administração) e os deveres de ordem menor (gestão)” (p. 18).

Dada a distinção amplamente aceite entre liderança, enquanto processo de influência baseado nos valores e numa visão articulada para a mudança, e gestão, como a implementação das decisões baseada principalmente em noções técnicas, é pois fundamental que a ambas as dimensões seja dado igual destaque, como referimos anteriormente. Embora uma visão clara seja essencial para estabelecer a natureza e o sentido da mudança na organização, é igualmente importante garantir que as inovações e as mudanças são aplicadas e executadas de forma eficaz.