• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II Metodologia

7. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

7.1 Inquérito por questionário

Não obstante a sentença declarada por Bogdan e Biklen (1994, p. 17) ao afirmarem que “na investigação qualitativa não se recorre ao uso de questionários”, dado que esta técnica está, geralmente, associada à investigação quantitativa, fez-se uso de um inquérito por questionário aos docentes do Agrupamento ET (ver Anexo II). Esta opção metodológica prende-se com o facto de, num estudo acerca das representações dos professores, pretendermos obter a perspetiva da generalidade dos atores docentes da organização escolar acerca da liderança e da cultura do Agrupamento. Porém, o recurso à entrevista tornar-se-ia incomportável por ser extremamente moroso. Mas, suportando-nos em Carmo e Ferreira (1998), não é forçoso aderir de forma rígida e exclusiva a um dos paradigmas, pelo que assumimos, num estudo de natureza qualitativa, o recurso a uma técnica qualitativa, como opção para obviar ao constrangimento referido.

Os autores Quivy e Campenhoudt (2008) definem o inquérito por questionário do seguinte modo:

“consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou familiar, às suas opiniões, à sua atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expetativas, ao seu nível de conhecimento ou de consciência de um acontecimento ou de um problema, ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse”(p. 108).

Os questionários têm a vantagem de poderem ser aplicados a um grande grupo ao mesmo tempo, mas por serem auto administrados e à distância do investigador, são impessoais em

54 natureza (Coutinho, 2011), apesar de se conseguir obter um grande volume de informação num curto espaço de tempo. É que, como afirma Afonso (2005, p. 101), o objetivo na construção de questionários “consiste em converter a informação obtida dos respondentes em dados pré-formatados, facilitando o acesso a um número elevado de sujeitos e a contextos diferenciados”.

Contrariamente à entrevista semiestruturada, o questionário pressupõe a limitação dos aspetos sobre os quais se pretende inquirir, condicionados pela própria visão do investigador, não permitindo que os interlocutores deste método de recolha de dados se “desviem” da linha de questões, estando assim condicionado pelas questões formuladas, embora tal permita manter a objetividade do caminho traçado para a recolha de dados. Para Santos Guerra (2003, p. 96), este aspeto é uma fragilidade pois forçam “a encaixar a realidade nas paredes dos seus compartimentos” ou ainda porque não se considera a imprevisibilidade das situações, estando à partida tudo formatado. Neste sentido, concordamos com Afonso (2005, p. 103), quando refere que “a configuração do questionário constrói-se em função de escolhas para o formato das perguntas, e para o tipo de respostas que se pretende”. Na mesma linha de pensamento está Ferreira (1999), ao afirmar que no inquérito por questionário, os respondentes cingem-se às hipóteses previstas e raramente optarão por “outras” hipóteses, residuais para quem o elaborou.

O índice de retorno é outro aspeto a merecer preocupação por parte do investigador, sobretudo se for respondido à distância. De acordo com Mason e Bramble (cit. por Coutinho, 2011), um retorno de 70% é considerado bom. Na investigação que efetuámos, dos 118 professores a quem foi solicitada resposta ao questionário, responderam 100, o que perfaz uma taxa de retorno de 84,7%. De considerar que o mesmo foi respondido autonomamente e à distância do investigador, tendo sido colocados à disposição dos inquiridos cerca de 2 semanas antes da data limite para a sua recolha.

A recolha de dados por esta via, acerca das perceções dos professores, teve como objetivo a obtenção de respostas “de um grande número de indivíduos às mesmas perguntas, de modo a que o investigador possa escrevê-las, compará-las e relacioná-las e demonstrar que certos grupos possuem determinadas características” (Bell, 2003, p. 27). É necessário ter presente que, conforme sustenta Afonso (2005, p. 103), os dados recolhidos através do questionário consistem “não no que as pessoas pensam, mas sim no que elas dizem que pensam”. Ainda assim, de acordo com Santos Guerra (2003), o estudo prévio das respostas

55 ao questionário constitui um valioso manancial de dados que podem ser comentados na entrevista, a qual servirá para procurar esclarecimentos, contradições, explicações ou aprofundamentos. Como afirma o mesmo autor, “a circularidade e a complementaridade metodológica ajudam a tirar um maior partido de cada instrumento” (Santos Guerra, 2003, p. 99), contribuindo também para a validação dos dados obtidos.

Este instrumento foi elaborado após um apurado trabalho de leituras prévias possibilitando determinar os objetivos a alcançar, delimitando-se o âmbito dos temas a estudar, evitando- se imprecisões que levassem a erros de interpretação e trabalhos inúteis. Por ter sido construído pelo investigador, situa-se no grupo dos instrumentos não estandardizados, os quais permitem avaliar constructos que o investigador deverá operacionalizar para depois medir (Coutinho, 2011).

Selecionaram-se os factos mais significativos para os objetivos da pesquisa, sendo que se circunscreveram às questões da liderança e da cultura organizacional. Para tal foi fundamental proceder à conceptualização e construção das variáveis, isto é, das perguntas. A partir da revisão da literatura, utilizamos várias dimensões para cada um dos conceitos (liderança e cultura organizacional). Por exemplo, para as questões sobre cultura organizacional, foram consideradas as seguintes dimensões: motivações e expetativas; eficácia; coerência e imagem; valores centrais; tradições, histórias e rituais; comunicação; trabalho de equipa; orientação estratégica; orientação para a mudança; competências profissionais e colegialidade.

O questionário foi então estruturado em duas partes: uma para caracterização do perfil do respondente, tendo havido o cuidado de não solicitar respostas que permitissem a identificação, respeitando o compromisso de anonimato; outra parte, relativa à liderança e à cultura organizacional.

Para o perfil dos inquiridos, consideramos apenas as seguintes variáveis: idade, nº de anos de experiência em escolas do Agrupamento, nº de anos de experiência com a atual Diretora do Agrupamento ET e nível de ensino em que leciona. Para cada variável, optou-se por um formato do tipo resposta em escala de intervalo (ex. 0 a 2 anos; 3 a 10 anos; 11 a 20 anos; mais de 20 anos).

Na componente do questionário dedicada ao fulcro da investigação, foram criadas 62 proposições, às quais os respondentes tinham que responder segundo uma escala de

56 apreciação, às quais se solicitava o grau de conformidade em relação às mesmas. Assim, de acordo com Tuckman (2000), todas as respostas deste tipo, medem o grau de frequência relativa ao acordo, e assentam na ideia de que uma resposta numa escala é uma medida quantitativa de um juízo de apreciação.

Optámos por utilizar a escala de Likert estandardizada para cada uma das 62 afirmações, incluindo o ponto médio que representa a indiferença:

Algumas das proposições foram escritas em sentido contrário, de modo a contrariar o risco dos dados não serem fiáveis. Tomemos como exemplo a afirmação “48. Há flexibilidade no modo de fazer as coisas, sendo fácil mudar os procedimentos necessários ao funcionamento do Agrupamento” e a afirmação “54. Quando alguém procura mudar alguma coisa, a resposta “Sempre se fez assim” é utilizada com frequência para travar essa mudança”. A razão de se escreverem duas afirmações em sentidos contrários tem a ver com “a necessidade de se neutralizar a tendência dos sujeitos para dar, automática e irrefletidamente, a mesma resposta a todas as questões” (Tuckman, 2000, p. 282).

Optou-se por não fazer qualquer tipo de distinção entre os dois conceitos em investigação na disposição das afirmações ao longo do questionário. Assim, as proposições sobre cultura e sobre liderança surgem misturadas no inquérito. Procurou-se assim ir de encontro aos conselhos de (Tuckman, 2000), quando refere que

“quanto mais transparente e óbvio for o objetivo do questionário, mais provavelmente os sujeitos darão as respostas que pretendem que os outros tenham sobre eles próprios e não as verdadeiras. Este tipo de tendência designa-se por “distorção de resposta por expetativa social” (p. 333).

O questionário dispunha ainda, no final, de uma pergunta não estruturada ou aberta que pedia aos inquiridos para definirem numa frase ou slogan, o Agrupamento ET.

No formato final do questionário, houve ainda a preocupação com o aspeto gráfico, de modo a que fosse de leitura clara e agradável para os inquiridos.

Após a redação provisória do questionário fizemos um pré- teste numa pequena amostra constituída por 10 inquiridos docentes, visando a sua validação. Constatámos algumas dificuldades no seu preenchimento, não só na fase de resposta, mas também num breve

Discordo totalmente 1 Discordo parcialmente 2 Indiferente 3 Concordo parcialmente 4 Concordo totalmente 5

57 diálogo final com os inquiridos. Daí resultaram alguns reajustamentos nas questões em termos de linguagem, com o objetivo de facilitar a interpretação das questões pelos respondentes do Agrupamento ET.

A aplicação do questionário foi feita por “administração direta” (Quivy e Campenhoudt, 2008, p. 188), em papel, uma vez que a amostra era relativamente numerosa e o questionário suscitaria à partida o interesse dos inquiridos.

No cabeçalho, salientou-se ainda a necessidade de informar o seguinte: quem investiga, quem patrocina a investigação, a garantia do anonimato e confidencialidade no tratamento, a valorização das respostas, o agradecimento do preenchimento e o pedido de sinceridade nas respostas.