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4.3 Aspectos de Definição do “Eu”

4.3.1.3. Emergência Notória

A classe emergente assim como a tradição tem suas características próprias. O que mais foi observado foi a necessidade que têm de dizer e mostrar que são detentores de poderio econômico, conseqüentemente do consumo de todos os produtos que o dinheiro possa comprar e que isto lhes dá prestígio e privilégios em determinadas situações.

[Uma senhora veio fazer um vestido para o casamento do 1º filho e sonhava ter

uma bolsa de prata característica de famílias tradicionais. Perguntou-me se sabia onde poderia comprar, pois, disse enfaticamente: dinheiro não era problema. Ela queria a bolsa pra poder mostrar aos convidados (...)] (com.LV. 84/obs.4)

Do mesmo modo, num outro momento, uma senhora querendo mostrar seu poderio econômico comenta:

(...) De forma irônica, com um riso triste, quase desanimado e esfregando as mãos entre si, onde se viam muitos anéis, alguns de brilhante ou diamante, ela respondeu: se eu disser que comprei em qualquer Maison do mundo, coisa que posso (...) (com.LV132/obs.7)

[Em outras situações pudemos perceber que esta preocupação se faz presente em quase todas as situações de consumo, como vemos a seguir:]

(...) a maior preocupação era comprar para mostrar quanto estava gastando no cartão do marido. (...) (observação 12: com.LV219 e LV220).

(...) gastaram até se fazer necessária a autorização do marido para liberar mais limite para o cartão, fato que não foi difícil. (...) (com.LV222/obs.12)

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(...) Revista esta chamada “Acrópole Magazine”(...) A qualidade da publicação é de primeira linha (...) Com relação ao conteúdo equivalem à revista Caras, com viagens, festas infantis, casamentos, 15 anos, etc., de uma sociedade emergente que tem necessidade de mostrar o quanto tem, (...) (com.LV264/obs.15).

Interações como estas, seguindo o mesmo objetivo de “mostrar o que tem” podemos encontrar ainda nos comentários: LV96/obs.5, LV141/obs.8, LV221/obs.12, LV249/obs.14, LV261/obs.15, LV309/obs.17, LV322/obs.19, LV337/obs.20, LV365/obs.21, LV366/obs.21 e LV415/obs.24.

Um segundo ponto a ser abordado no que se refere às observações das classes emergentes é a constatação que apesar de poderem consumir o que quiserem, deixam claro que gostariam de pertencer às classes tradicionais. Em uma das primeiras observações já percebemos este desejo.

[Em um casamento, o comentário era sobre as jóias usadas pelas convidadas].

(...) mas, você não viu o tamanho do brilhante no dedo dela? E os brincos, só pode ser coisa de família, pois já fiz de tudo pra comprar um desse tipo e não acho! E olha que eu não procurei em qualquer shoppinzinho não, fui à Tiffany’s em São Paulo, que dizem que é uma das melhores joalherias do mundo!(...) (com.LV24/obs.2).

[No mesmo casamento, ainda falando de jóias de família...]

(...) que eu pedi, e ganhei do meu marido uma placa dessas de presente de Bodas de Prata. Ele disse que não conseguia encontrar em joalheria nenhuma e um colega dele da empresa disse que ele só conseguiria se comprasse de um rico falido. E não é que ele conseguiu!(...) (com.LV36/obs.2).

[Em outra interação, a senhora deixa claro o seu desejo de ter algo que a legitimasse como tradição...]

(...) Ela queria a bolsa pra poder mostrar aos convidados que tinha alguma coisa de família, ou seja, de tradição. (...) (com.LV85/obs.4).

74 Observamos também que os membros desta classe assumem que gostam de aparecer: sejam por meio de festas, roupas, jóias, etc. Muito embora estas “aparições” sejam consideradas exageradas e muitas vezes inadequadas paras as situações, eventos e horários.

[Quando da decisão do tecido que iria usar em um determinado casamento...]

(...) se preciso for, eu vou a São Paulo comprar os tecidos, pois não quero estar igual a qualquer uma. (...). (com.LV101/obs.5).

[Em uma situação idêntica, na escolha do tecido e da cor do vestido a ser confeccionado...]

(...) que queria estar exclusiva, com uma cor que ninguém tivesse, com um tecido completamente “inusitado” e com um modelo que jamais alguém tivesse tido (...) (com.LV126/obs.7).

[Na festa de 15 anos da filha, uma vez que ela não tinha tido a sua festa, queria realizar seu sonho neste evento e para tanto...]

(...) A festa seria toda na cor branca com alguns poucos detalhes em rosa muito pálido, pois é um tom nobre e tradicional. Deste modo as roupas, a primeira e a segunda, seriam brancas. Poderia a primeira ter um pouco de rosa nos bordados, que deveria ser muito, com muitas pedras para brilhar sob o efeito da iluminação, que ela tinha contratado uma muito especial que dava um efeito de iluminação de “Oscar”. (...) (com.LV305/obs.17 e LV306/obs.17).

[Nesta mesma festa de 15 anos o exagero chegou ao cão da família... numa segunda visita ao atelier veio com a filha, o marido e o cão da família.]

(...) cão, do sexo feminino, porém cão. Segundo ela, cachorro é animal sem raça e o delas era de raça pura e com pedigree. (...) o cão era todo branco e tinha uma coleira rosa com algumas pedrinhas que brilhavam: cristais Swarovsky!(...) você disse na semana passada que esses cristais estavam na moda (...) eu encomendei uma rosa para o dia a dia num pet shop e uma prata com cristais

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rosa para a festa, afinal ela também é da família e tem que estar equiparada a nós. (...) (observação 18: com.LV317, LV318, LV320).

Nos comentários LV329 e LV330, da observação19, ainda constatamos a necessidade de ser o centro das atenções destes indivíduos.

Dando andamento às observações percebemos que estas pessoas buscam por meio da compra de antiguidades, a “pátina”, a história de família que lhes faltava. Seja por meio de jóias, como já vimos, seja por meio de móveis e objetos.

[Em um Bazar de Natal, no apartamento de um membro da classe tradicional, porém com o livre transito da classe emergente...]

(...) enquanto umas só compravam “lembrancinhas”, outras se esbaldavam nas antiguidades, que iam de broches e brincos, passando por lenços de grife, louças, pratarias e terminando em pequenos móveis, tipo criado-mudo, aparadores, mesinhas para telefone e oratórios (tinha um do século XXVIII) lindíssimos (...) (observação 20: com.LV341 e LV342).

Embora busquem uma história de passado ostentatório denotando cultura de berço, ainda existe o estranhamento de gosto e paladar.

[No aeroporto, um casal indo viajar aos Estados Unidos, estavam na lanchonete. O que me chamou a atenção...]

(...) o tamanho do salgado e a quantidade de comida para àquela hora e ainda porque iriam comer no avião, presumi eu, (...)(com.LV236/obs.13)

[... considerando que estes exageros são normais em classes mais baixas...]

(...) ela aproximou-se dele colocou a mão no seu braço e disse, em voz tão baixa, quase inaudível: agente tem que tá com a barriga cheia porque aquelas coisas que dão no avião não dá nem pro buraco do dente, sem contar que são meio esquisitas (...) (com.LV240/obs.13).

[Em um casamento no Buffet Blue Angel, observamos outro caso de estranhamento de paladar...]

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(...) uma delas falou, desta vez em tom tão baixo que quase não consigo ouvir: Viram que coisa estranha, aqueles doces com damasco? Só dizem que é gostoso porque foi feito por Lana. E aqueles com figo, um horror! (...) (observação 24: com.LV436 e LV437).

Diante destas evidencias percebemos que existe quase uma necessidade de imitar as classes tradicionais por meio do consumo dos mesmos produtos e profissionais.

[Ela conta que teve uma vida simples e pobre e sendo hoje bem sucedida profissionalmente e ganhando muito bem (com. LV309/obs.17) querem mostrar aos colegas...]

(...) que são muito bem sucedidos e, ainda, que sabem fazer uma festa fina. (...) (observação 17: com.LV310 e LV311).

[Enquanto outros buscam os profissionais tidos como “da moda”].

(...) O Arranjo da cabeça feito por Teresa Rios, que há décadas faz a “cabeça” das noivas finas e tradicionais. (...) os doces eram servidos em mesas de vidro (...) em embalagens elegantes feitos por Lana Bandeira de Melo, uma das mais famosas e caras da cidade. (...) no meu casamento, que vai ser em agosto, vou encomendar a ela também, pois dizem que é a mais cara e todas as “filhinhas de mamãe e de papai” encomendam a ela. (...) (observação 24: com.LV419 e 427).

Porém apesar de todos os esforços, em determinados momentos “a máscara cai” ou, como diriam os antigos: ”o verniz sai”.

(...) Ela mesma assume que fez vários cursos de etiqueta social (...) (com.LV79/obs.4).

[No já citado Bazar de Natal no apartamento de uma senhora da classe tradicional, o vestuário estava, por parte das senhoras emergentes...]

(...) As convidadas, prováveis compradoras, muito bem vestidas como quem vai aos chás beneficentes nos buffets da cidade. Algumas delas estavam vestidas com peças até inadequadas para o ambiente e horário (16 horas) que não permitiria brilhos e bordados, porém estavam com trajes tidos como última

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moda, comprados em lojas tidas como luxo. (...) (observação 20: com.LV337, LV338, LV339).

[Em um casamento em que uma senhora da tradição se faz acompanhar de uma amiga emergente, em alguns momentos a repreende por ter atitudes inadequadas, mesmo diante da constatação da facilidade que as classes tradicionais têm facilidade de comprar produtos nas viagens ao exterior.]

(...) Observem na simplicidade do modelo do vestido de..., dizia uma delas. Quase não tem modelo, mas em compensação, viram o tecido? Deve ter trazido daquela viagem que fizeram, no Natal, para a Itália. E, muito entusiasmada, com a voz bastante excitada e mais alta que não deveria, pelo local e circunstância: e o trabalho que tem na frente da blusa, parece que é o mesmo tecido em alto relevo! Está fantástico!(...) (com. LV466/obs.26).

[Neste momento a amiga tradicional sugere que ela tenha atitudes mais comedidas para aquele momento e ambiente...]

(...) A outra, visivelmente aborrecida pela repreensão, respira fundo, olha para o teto, como quem busca autocontrole e olha para amiga dizendo: você esta insinuando que estou dando uma de “Lady Kate”3? Que não sei me comportar

em ambientes finos e elegantes? (...) (com.LV476/obs.26).

Constatamos também o quanto elas “sofrem” pelos rótulos negativos e/ou pejorativos recebidos e com a insegurança que este fato gera.

(...) se eu disser que comprei em qualquer Maison do mundo, coisa que posso, ninguém acreditaria, pois sou tida, pela família da minha nora como brega e emergente!(...) (observação 7: com.LV133 e LV134).

[Esta mesma senhora justificava sua presença no atelier...]

(...) a família da noiva tinha encomendado as roupas no meu atelier e ela sabia que ali não tinha medo de ser alvo de comentários (...). (com.LV135/obs.7).

3 Com aquela postura ela deixa claro qual é sua classe social de origem e é associada a uma personagem da

TV que é assumidamente uma nova rica e que não tem preocupação com o que dizem pois, segundo a mesma, tem muito dinheiro e pode comprar tudo.

78 E finalmente, para surpresa nossa, percebemos que já existem alguns membros desta classe emergente que se preocupa com o futuro dos filhos, com os estudos, acultura e o refinamento de gosto e modos.

[Quando assumem que para poder “subir” socialmente precisa colocar os filhos para estudar em escolas onde estudam os filhos de famílias tradicionais.]

(...) colocaram os filhos no Colégio Santa Maria, para que tivessem bons amigos. (...) (com.LV75/obs.4).

[Assume que para pode “subir” socialmente precisa colocar os filhos para estudar idiomas.]

(...) Colocou-os para estudar inglês na Cultura Inglesa (...) (com.LV76/obs.4).

[Assumem que para viajar para o exterior deve-se saber falar o idioma local. Sabem também da importância de mandar os filhos estudar fora para ter mais preparo para o mundo.]

(...) pra poder viajar para o exterior sem fazer vergonha e, quem sabe, estudar fora. (...) (com. LV77/obs.4).

A seguir veremos por meio do footing um outro tipo de alinhamento assumido pelas classes pesquisadas

4.3.2. Footing

Para Goffman (2002, p.113), footing representa um alinhamento, uma mudança de postura, comportamento que “assumimos para nós mesmos e para os outros presentes, (...) uma mudança no nosso enquadre4 dos eventos”.

4 Enquadre: Em nota, os organizadores da obra Sociolingüística Interacional (Branca Telles Ribeiro e Pedro

M. Garcez, 2002, p.107), comentam que acataram a tradução da obra de Goffman, Frame analysis, por José Roberto Maluf, como Análises de esquemas de referência. Nesta obra foi utilizado o termo enquadre para a

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4.3.2.1 Tradição Decadente

Nas classes tradicionais decadente observamos resquícios de autoridade (perdida) e quase intimidação sendo usados na tentativa de obtenção de seus objetivos, como vemos nos comentários LV8 e LV11,da observação1:

[Na tentativa de conseguir um atendimento para uma amiga da classe tradicional, porém sem sucesso, ela passa a ter uma postura de exigência como que intimidando].

(...) Você sabe quem é ela?(...)

[Diante de uma negação, ela quase ameaça, para ter seu favor atendido, ou seja, que a amiga seja atendida].

(...) você deve estar ciente que pode não ter uma próxima vez!

Os membros desta classe ainda utilizam palavras em outro idioma, como se ainda fizessem parte do seu dia-a-dia, assim como expressões típicas de famílias tradicionais denotando saudosismo.

(...) Lembra daquele natal em Paris quando fomos assistir “La Cage au Folie”? (...) (com. LV57/obs.3)

(...) Tínhamos um chauffeur a nossa disposição!(...) (com.LV58/obs.3)

Ainda foi observada uma atitude de auto-preservação numa tentativa de disfarçar ou encobrir a situação perdida.

[Uma das amigas sugere reformar roupas antigas, de grife, em uma determinada costureira, que noutros tempos teve uma boa situação financeira, ao que ela responde:]

(...) Com ar e tom de voz de desdém: como vou levar minhas roupas francesas e italianas pra qualquer costureirinha? E sem contar que posso encontrar alguém conhecido num lugar destes!(...) (com.LV65/obs.3).

tradução de frame. De acordo com os organizadores, “Goffman optou pelo termo frame e não schema, de modo a salientar os aspectos sociais descritos no seu estudo (em vez de marcar a natureza cognitiva, presente na noção de esquema de referencia”

80 [E ainda a preocupação da preservação das marcas usadas e do anonimato em público:]

(...) ela não soube cuidar do patrimônio que o sogro tinha deixado para o filho e, para se curar da morte do marido passou anos viajando pelo mundo e o dinheiro foi com ela. Acabou tudo e, pra sobreviver, hoje, ela reforma roupas antigas, compradas normalmente na Europa, e ainda mantém a etiqueta original da

Maison que compramos. O melhor é que ela só atende com hora marcada e

mantém sigilo sobre o nome das clientes. (...) (com. LV72/obs.3)

Ainda encontramos as que diante das amigas assume sua nova posição, porém com revolta, como vemos nos comentários LV447, LV448 e LV449, da observação25, respectivamente:

(...) com entonação de voz entre excitada e revoltada: você tem noção de quem eu era? Você tem noção de quem era minha família? (...)

(...) Você tem noção do que é ter tudo quando se é adolescente e não ter “quase” (ênfase dada por ela) nada quando adulto? Eu não me conformo com isto!(...)

[E quando a amiga insiste dizendo que, uma vez que ela não tem tanto quanto antes, como comprou um equipamento caro, “quase” (ênfase dada por ela) inútil ou desnecessário pra seu momento de vida?]

(...) Você ainda pergunta por quê? Como vou mostrar as fotos que tiro com vocês, por exemplo, aqui quando vou encontrar com minhas amigas de infância? Como vou falar no Skype com minhas amigas que estão viajando para o exterior?(...)

Percebemos também em outras interações este rancor e revolta, quando uma vendedora de uma loja,de onde antes era cliente, assume um ar de quem já teve e ainda menospreza e ridiculariza as clientes que compram pra mostrar que tem.

[Ao comentar o mau uso dos cosméticos comprados pelas clientes emergentes, que demonstram não saberem avaliar a qualidade e eficácia dos produtos.]

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(...) ela disse que as mesmas dizem que levam para as clínicas de estética que freqüentam (ou elas têm preguiça de usar em casa ou levam para as clinicas pra mostrar que tem). (...) (com.LV375/obs.21).

Uma característica ainda forte encontrada nas classes decadentes é que a perda dos bens e posses não as fez perder a pose.

[Numa determinada loja de produtos de altos preços, duas amigas da classe tradicional decadente levam outra, da classe emergência notória, para uma remarcação. Porém ao perceber que a emergente havia gostada de uma blusa que estava com um preço tão baixo, que até elas poderiam adquirir, tentam dissuadi-la da escolha com comentários nada elegantes (com. LV109/obs.6) assumindo uma postura conveniente a si mesma sem importar-se com a educação].

(...) que não combinava com o tipo dela, dizia uma, e que, por ser muito sofisticada e “chic”, talvez ela não tivesse oportunidade de usá-la.(...) (com. LV106/obs.6)

[Quando a amiga emergente perde a paciência de tantos comentários maldosos, reclama e diz: “desta vez quem vai levar a vantagem sou eu”! Ao que a outra retruca:]

(...) Não achando pouco, as “amigas” retrucaram que ela era uma nova rica (...) (com.LV115/obs.6).

[E continuam... assumindo uma postura de ricas de berço, embora seus modos não denotassem isto]

(...) se estava ali era por ter sido levada por elas, que sabiam onde tinha o que era bom e caro por preço de banana. (...) (com.LV116/obs.6)

(...) E que se ela, pra variar, continuasse com aquele “barraco”, que ficasse sozinha, pois elas eram muito finas pra estar se passando para isto. (...) (com.LV119/obs.6)

Em outra interação pudemos perceber que uma determinada senhora, que um dia foi detentora de bens e tradição, assume uma nova postura, de ironia e ao mesmo de quem sabe das coisas e tira vantagem das mesmas, quando diz:

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(...) Você pensa que as jóias que uso são de verdade? È lóoooogico que não!(...) (com.LV455/obs.25)

[E continua ironizando ou mesmo se auto-valorizando pela “esperteza”.]

(...) Pela minha pose, que morro, mas não perco, todos pensam que ainda tenho muito e eu tiro proveito disto!(...) (com.LV459/obs.25).

Considerando que a classe tradição decadente ainda busca suas raízes para tentar manter-se, ao menos socialmente, inserida nela, veremos a seguir como se dá o comportamento da classe tradição cristalizada.

4.3.2.2 Tradição Cristalizada

Neste aspecto, footing, observamos que a classe tradição cristalizada utiliza-se do seu nome de família, seus relacionamentos e prestígio para conduzir sua escolhas.

[Quando uma senhora solicitou uma encomenda de um vestido no atelier e a funcionária, que sabia que não podiam mais receber encomendas, lhe disse ser impossível, esta senhora diz:]

(...) Tenho certeza que quando ela souber quem sou eu, ela aceitará minha encomenda!(...) (com.LV5/obs.1).

Do mesmo modo observamos esta segurança que a tradição cristalizada possui lhe dá prerrogativas, quase inacreditáveis.

[Mesmo sabendo que tinha a venda de um apartamento, à vista, garantida ele recusa-se a vender ao saber que o possível morador não tinha “educação de berço”. Ele assume a postura de quem pode escolher seus vizinhos, ou seja, assume que esta pode ser sua última moradia. E ainda, de que quem não nasceu com educação e cultura não pode adquiri-la ao longo da vida, como verificamos nos comentários LV146 e LV147,da observação8:

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(...) Não vendo pra ele porque não vou morar o resto da vida que me sobra com gente sem educação, sem modos e sem cultura. Pra um desses, eu prefiro não vender!(...)

Além da segurança e firmeza de atitudes e palavras, pudemos constatar que a idade, aliada a tudo isto tem todo o poder. No caso desta senhora, que nos encomendou os vestidos (para a missa e outro para a festa em um Buffet), o tecido tinha sido comprado em Paris, pois todos os seus vestidos de grandes ocasiões tinham vindo de lá, trazido por ela mesma. Tinha sido assim desde sua festa de 15 anos, seu baile de debutantes, no Clube Internacional do Recife, seu baile de formatura, também no Clube Internacional, seu casamento nos salões da usina dos pais, nas bodas de prata e do ouro e nos casamentos de todos os filhos. Na sua festa de 80 anos o fato também se repetiu e agora na sua penúltima festa, pois, ela garante que iremos fazer seu vestido na festa de 100 anos.

Esta visita foi feita acompanhada da sua filha, que, dito pela senhora, teria perdido todos os bens, que insistia para economizar a renda para “sobrar” para fazer uma roupa para ela. A esta altura dos acontecimentos, ela já estava aborrecida e passa a ter uma postura de quem tem direito, por idade e por postura de vida a dizer e ter o que quiser:

(...) disse, com a segurança que a idade dá: use toda a renda, não tenha pena de gastá-la, pois não tive pena de comprá-la. (...) (observação28: com.LV505 e LV506).

[Ela continua a comentar o porquê da decadência da filha:]

(...) Você teve tudo, tudo que o dinheiro pôde comprar; teve tudo e jogou tudo fora; você e aquele seu marido preguiçoso que só soube gastar o rendimento de uma usina inteira para um único filho, sem nunca dar um dia de trabalho por ninguém. Vocês pensam que dinheiro é eterno? Não foi isto que eu e seu pai lhe ensinamos! Aquele seu marido lhe ensinou que tradição de família é eterna, assim como o dinheiro. Hoje, quem são vocês? Dois herdeiros decadentes que vivem da tradição e do dinheiro da nossa família. (...) (observação 28: com.LV511, LV512, LV513 e LV514).

84 E, finalmente percebemos que os membros da classe tradição assumem que, apesar das amigas não terem mais dinheiro gosta de viajar com elas.

(...) consegui que minhas amigas vendessem suas “quinquilharias”, disse isso rindo, e juntem dinheiro pra me acompanhar nas viagens. (...) (com.LV352/obs.20).

Denotando simplicidade e valorizando sua história e seu passado, inclusive não esquecendo suas amizades, passamos a verificar o comportamento, ou alinhamento da classe emergência notória.

4.3.2.3 Emergência Notória

Neste aspecto (de definição do “eu”), percebemos que esta classe social tem prazer em assumir que tem muito dinheiro e que sabe que tem mais condição financeira que muitas das famílias tradicionais.

(...) Ela mesma assume que fez vários cursos de etiqueta social pra não ser diferente das esposas dos colegas do marido, embora tenham uma situação financeira melhor que todos eles. (...) (com.LV80/obs.4).

(...) se sabia onde poderia comprar, pois, disse enfaticamente: dinheiro não era problema. (...) (com.LV83/obs.4).

Estas pessoas assumem a postura de quem é acostumado a fazer transações de alto

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