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Capítulo II Emoção Na Vida para a Vida

2.4. Emoções Função e Exibição

Uma vez definida a emoção, como conceito, neste ponto será abordada a sua aplicabilidade nos contextos de vida e a sua expressão, no sujeito, principalmente no que diz respeito a cada uma das categorias.

Ekman, (2003) partindo da mais valia do seu passado evolucionista, considera as emoções como «os nossos mecanismos avaliadores automáticos (...) rápidos e

inconscientes», mas realça que «a grande vantagem das emoções é que são funcionais».

(p.51). Esta noção é essencial, porque identifica como estes processos podem ser

desencadeados, "obrigando" o sujeito a focalizar "activamente" a sua atenção (em si ou no ambiente), e como este facto pode por si desencadear (não só, mas também) uma emoção. Além desta forma, Ekman (2003) também considera que as emoções podem ser desencadeadas por outras situações: os momentos de avaliação reflexiva, através do que chama "auto avaliadores"; pela recordação de situações em memória; pela imaginação; pelo "falar" de episódios emocionais passados; pela empatia; pela educação recebida nomeadamente acerca dos "pressupostos"comportamentos e gestões emocionais que devemos assumir; pela violação de normas sociais, e por último, e usando as palavras de

Ekman, «consiste em assumir voluntariamente a aparência de uma emoção» (2004:51- 59). Em suma, a emoção pode ter desencadeadores vários.

Mas, porque importa de sobremaneira ao acesso ao conhecimento dos aspectos valorativos da emoção de professores, para aceder ao estudo dos contextos educativos, é essencial reconhecer aqui que as emoções não ocorrem de forma gratuita, ou porque as

«circunstâncias [do nosso contexto nos] sejam familiares ou desfavoráveis» (Marques-

Teixeira, 2003). De facto, não é assim. As emoções não dependem do tipo de circunstâncias que se vivem, mas sim «da avaliação dessas circunstâncias, como

envolvendo uma modificação substancial». Como acentua o autor: «as emoções ocorrem quando nos apercebemos de alterações muito significativas na nossa situação» (2003:49),

e a emergência de uma emoção, é o exemplo de um tipo de resposta primária, mas de forma muito económica e com utilização de recursos limitados, no sentido de focalizar a atenção no ambiente, e lhe ser atribuído um significado, e portanto uma avaliação.

E é precisamente a partir desta «função de avaliação das emoções que é legítimo

inscrevê-las na esfera das funções reguladoras do comportamento» (Marques-Teixeira,

2003:50). Tal como este autor acentua:

«as emoções reflectem, sob a forma de experiência directa, o significado dos diversos fenómenos e situações e serve como um dos mecanismos principais da regulação interna da actividade psicológica e do comportamento dirigido para a satisfação de necessidades actuais. Dito de outro modo, a função essencial da emoção é a organização» (2003: 50).

Assim, fica claro que as formas como os sujeitos expressam e gerem estes fenómenos, evidenciam também as "estratégias" pessoais de interacção com o meio contextual em que se encontram, no sentido da sua organização, como sistema, num sistema mais vasto, para atingir o seu bem-estar.

Poder-se-á investigar a sua percepção, ou seja, são fenómenos que podemos perceber em nós (a níveis diferentes da consciência, como à frente será abordado) e nos

outros, através de uma gramática expressiva, específica da exibição de cada emoção. Mas

de facto, podem ser identificáveis.

Por um lado, diferentemente, porque há que ter em conta as experiências de vida e a cultura (Mesquita e Karasawa, 2002; Kitayama, Markus, Kurokava, 2000; Scherer, 1997), a religião, os contextos e seu significado atribuído. Mas por outro lado, igualmente,

Por exemplo, o contexto cultural, é uma variável determinante nestes estudos da emoção. Em abordagens transculturais, Markus, Mullally e Kitayama, (1997) verificaram que as atitudes ou "modos próprios" (selfways, no original), ou seja, as formas como o indivíduo participa na cultura, assumem diferenças importantes conforme a cultura de onde provêm os indivíduos, ou naquela onde se inserem, remetendo para a "integração" cultural um valor determinante. Ainda a este propósito, Mesquita e Karasawa (2002) também verificaram que as diferenças culturais nas questões mais fortemente associadas a agradabilidade, estão relacionadas com as diferenças de ideal, normas e práticas "do que significa ser pessoa". As autoras concluíram que as diferenças culturais desencadeiam diferenças significativas, na natureza da experiência emocional dos sujeitos. Tudo o que foi fazendo parte da vida do sujeito lhe diz respeito, dependendo dos factos, fenómenos e relações às quais ele, através da sua experiência emocional lhe atribuiu mais valor, e a forma como os percepcionou, bem como os sentimentos que a partir daí se originaram.

E nesta perspectiva é também essencial, não só a forma como o sujeito se relaciona agora com essas experiências emocionais, através dos «marcadores somáticos» respectivos, como também, a forma como «sente os sentimentos» acerca delas. Em cada um destes pontos de relação, estiveram e estão em causa fenómenos de natureza emocional, que condicionam o meio interno da pessoa, originando estados, com tonalidades próprias, que podem ou não ser percepcionados pelo sujeito.

O sentimento emergente de uma emoção, é uma referência íntima e única a um estado emocional e ou cognitivo com representação somática, com importância para o indivíduo, a partir do qual ele poderá seleccionar o comportamento mais adequado, como por exemplo, descansar, privar-se de excessos, ou simplesmente dedicar mais atenção à observação dos sinais do corpo.

Na Introdução do seu primeiro trabalho, Damásio (1995: 17) foi peremptório ao afirmar que «os sentimentos, juntamente com as emoções que os originam, não são um

luxo. Servem de guias internos (...) constituem a base daquilo a que os seres humanos têm descrito como a alma ou espírito... », mas há muito mais a saber.

Para tanto serão usados, entre outros, os trabalhos de Marques Teixeira (2003), Damásio (1995, 2000, 2003) de Goleman (1995, 1999) e os trabalhos empíricos apresentados em publicações respectivas à temática (Cognition and Emotion).