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II. ANÁLISE MORFO-SINTÁTICA

2.3 Encadeamento de Palavras e Frases

Uma vez feito o estudo lexical e morfológico do texto, analisaremos de seguida a disposição, a combinação e a função que as diferentes palavras assumem nas diversas orações, procurando perceber o modo como elas se relacionam entre si, com vista a tecerem o conjunto sintático-semântico a que atribuímos o nome de texto. Na realização desta análise tomaremos cada um dos versículos individualmente, apresentando primeiramente um esquema ilustrativo ao qual se segue uma breve explicação.

173 Cf. NOLLI, Gianfranco – Evangelo secondo Giovanni, p. 342.

174 Cf. LAGRANGE, M-.J. – Évangile selon Saint Jean. 7ªed. Paris: J. Gabalda et Cie Editeurs, 1948, p.

259.

175 Cf. Ibidem, p. 343.

176 Cf. HENDRIKSEN, William – Comentario al Nuevo Testamento, p. 51. 177Cf. NOLLI, Gianfranco – Evangelo secondo Giovanni, p. 343-344. 178 Cf. Ibidem, p. 346.

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Na concreção deste esquema ilustrativo, discriminaremos cada um dos elementos tomando o seguinte modelo de distinção:

A. Cada período é inserido nos retângulos arredondados; as orações

subordinantes ou coordenadas são assinaladas com retângulos retos; as orações subordinadas são colocadas nos retângulos picotados.

B. Os predicados vêm colocados a negrito. C. O sujeito é identificado com a sigla S.

D. Os concordantes com o sujeito são assinalados com o número 1. E. O complemento direto é identificado com a sigla CD.

F. Os concordantes com o complemento direto são assinalados com o número 2. G. Ao complemento indireto é atribuída a sigla CI.

H. Os complementos determinativos vêm sublinhados e ligados por uma seta à palavra que determinam.

I. Os vocativos vêm identificados com a sigla V.

J. Os complementos circunstanciais são colocados dentro de um círculo. K. Os elementos subentendidos são colocados dentro de parêntesis retos.

Versículo 1

O v. 1 é constituído por um único período, onde encontramos uma oração subordinada participial (Καὶ παράγων) e uma oração subordinante (εἶδεν ἄνθρωπον

τυφλὸν ἐκ γενετῆς). Na primeira, παράγων trata-se de um particípio adverbial

circunstancial, que indica o tempo em que se realizou a ação: quando Ele passava. Este particípio predica-se de Jesus (ὁ Ἰησοῦς). Este é o sujeito subentendido das duas orações, já que a nossa passagem de estudo se encontra intimamente ligada, pela conjunção καὶ , ao final do capítulo 8, onde Jesus se subtrai às mãos daqueles que O querem apedrejar e sai do templo.

Καὶ [ὁἸησοῦς] παράγων [ὁἸησοῦς] εἶδεν ἄνθρωπον τυφλὸν ἐκ γενετῆς.

1

S

CDD

D

2

S

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O complemento direto da oração subordinada é ἄνθρωπον, com o qual concorda o atributo qualificativo τυφλὸν, caraterizando a condição do homem. Por fim, temos um complemento circunstancial de tempo, ἐκ γενετῆς, que indica a duração da sua condição de cegueira179.

Versículo 2

O segundo versículo é constituído por dois períodos, sendo que o primeiro, que se encontra em discurso indireto, introduz o segundo, que vem em discurso direto. O primeiro período é composto por duas orações: uma oração subordinante (καὶ

ἠρώτησαν αὐτὸν οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ) e uma oração subordinada participial (λέγοντες). O

sujeito de ambas é os discípulos (οἱ μαθηταὶ). O particípio λέγοντες pode ser considerado um particípio descritivo ou gráfico, já que é supérfluo e pode ser omitido, ainda que a sua utilização resulte numa melhor descrição da ação180.

179 Cf. Ibidem, p. 342.

180Cf. CARDOSO, António de Brito – Gramática Grega do Novo Testamento. Coimbra: [s.n.], 1961,

p.111. Ῥαββί, τίς ἥμαρτεν, [ἥμαρτεν] οὗτος ἢ [ἥμαρτεον]οἱ γονεῖς αὐτοῦ, ἵνα τυφλὸς γεννηθῇ [οὗτος];

V

S

S

1

S

καὶ ἠρώτησαν αὐτὸν οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ λέγοντες [οἱ μαθηταὶ] ·

1

S

CD

D

D

S

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O segundo período é composto por várias orações coordenadas interrogativas. As duas primeiras são orações coordenas copulativas assindéticas, enquanto a terceira é coordenada disjuntiva. Por fim, temos uma oração subordinada com valor consecutivo181.

Versículo 3

Tal como o versículo antecedente, o v. 3 também é composto por duas frases, encontrando-se a primeira delas em discurso indireto e a segunda em discurso direto. A primeira é uma frase simples, ao passo que a segunda é uma frase composta, onde podemos encontrar duas orações coordenadas copulativas, introduzidas pela conjunção

οὔτε, e uma oração coordenada adversativa, iniciada pela conjunção ἀλλά, e onde, para

um melhor entendimento do sentido do texto, se pode subentender o pretérito perfeito do verbo γίγνομαι e o sujeito indefinido τοῦτο. Por último, temos uma oração subordinada final, introduzida pela conjunção ἵνα, que procura exprimir o motivo, o

181 Cf. NOLLI, Gianfranco – Evangelo secondo Giovanni, p. 342-343. ἀπεκρίθη Ἰησοῦς·

S

Οὔτε οὗτος ἥμαρτεν οὔτε οἱ γονεῖς αὐτοῦ [ἥμαρτον], ἀλλ’ [τοῦτο γεγένηται] ἵνα φανερωθῇ τὰ ἔργα τοῦ Θεοῦ ἐν αὐτῷ.

S

S

S

S

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propósito da cegueira daquele homem. Nesta oração, encontramos um complemento circunstancial de lugar onde, expresso em sentido figurado e cuja utilização aponta para o cego como o “lugar” onde se manifestarão as obras de Deus (τὰ ἔργα τοῦ Θεοῦ)182.

Versículo 4

O quarto versículo continua com o discurso directo de Jesus, iniciado no versículo anterior, sendo constituído por dois períodos. O primeiro compreende uma oração subordinante (ἡμᾶς δεῖ ἐργάζεσθαι τὰ ἔργα) e duas orações subordinadas: uma subordinada participial (τοῦ πέμψαντός με) e uma subordinada temporal (ἕως ἡμέρα

ἐστίν). Na oração subordinante, temos um predicado composto, formado por um verbo

impessoal (δεῖ) e um infinitivo completivo (ἐργάζεσθαι). O particípio substantivado

πέμψαντός predica-se de τὰ ἔργα, funcionando como seu complemento determinativo.

O segundo período é composto por duas orações: uma oração subordinante (ἔρχεται νὺξ) e uma oração subordinada temporal (ὅτε οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι). Esta última é constituída por um sujeito impessoal (οὐδεὶς) e por um verbo composto (δύναται ἐργάζεσθαι)183. 182 Cf. Ibidem, p. 343. 183 Cf. Ibidem, p. 343-344. ἡμᾶς δεῖ ἐργάζεσθαι τὰ ἔργα τοῦ πέμψαντός με ἕως ἡμέρα ἐστίν·

S

CD

D

D

S

CD

D

D

ἔρχεται νὺξ ὅτε οὐδεὶς δύναται ἐργάζεσθαι.

S

S

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Versículo 5

O v. 5 é constituído por um único período, o qual tem na sua composição duas orações: uma oração subordinada temporal (ὅταν ἐν τῷ κόσμῳ ὦ) e uma oração subordinante (φῶς εἰμι τοῦ κόσμου). O sujeito subentendido de ambas as orações é

ἐγώ, pedido pelos verbos conjugados na primeira pessoa do singular. A oração temporal

possui um complemento circunstancial de lugar onde (ἐν τῷ κόσμῳ), enquanto na oração subordinante φῶς τοῦ κόσμου funciona como nome predicativo do sujeito, sendo τοῦ κόσμου complemento determinativo de φῶς184.

Versículo 6

No v. 6 encontramos um só período, com quatro orações: uma oração subordinada participial (ταῦτα εἰπὼν), uma oração subordinante (ἔπτυσεν χαμαὶ) e duas orações coordenadas copulativas sindéticas (καὶ ἐποίησεν πηλὸν ἐκ τοῦ πτύσματος e

καὶ ἐπέχρισεν αὐτοῦ τὸν πηλὸν ἐπὶ τοὺς ὀφθαλμούς). Todas as orações possuem como

sujeito subentendido ὁ Ἰησοῦς. O particípio aoristo (εἰπὼν), utilizado na primeira

184 Cf. Ibidem, p. 344. ὅταν ἐν τῷ κόσμῳ [ἐγώ] ὦ, φῶς [ἐγώ] εἰμι τοῦ κόσμου.

S

1

S

[ὁἸησοῦς] ταῦτα εἰπὼν [ὁἸησοῦς] ἔπτυσεν χαμαὶ καὶ [ὁἸησοῦς] ἐποίησεν πηλὸν ἐκ τοῦ πτύσματος, καὶ [ὁἸησοῦς] ἐπέχρισεν αὐτοῦ τὸν πηλὸν ἐπὶ τοὺς ὀφθαλμούς,

CD

D

D CD

D

D

CD

D

D

S

S

S

S

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oração, não pela sua natureza, mas pelo seu uso, indica prioridade em relação à ação do verbo principal185.

Na oração subordinante, temos um complemento circunstancial de lugar para onde, indicado através do advérbio indeclinável χαμαὶ, que exprime o movimento da saliva para a terra, de modo a fazer barro.

Na primeira oração coordenada, encontramos um complemento circunstancial de matéria (ἐκ τοῦ πτύσματος), já que exprime o “material” a partir do qual se produziu o barro, indicando de onde este procede.

Na última oração, deparamo-nos com um complemento circunstancial de lugar onde (ἐπὶ τοὺς ὀφθαλμούς), sendo que αὐτοῦ funciona como complemento determinativo de τοὺς ὀφθαλμούς.

Versículo 7

No sétimo versículo, deparamo-nos com uma alternância entre o discurso indireto e o discurso direto. Neste sentido, podemos dividir o mesmo em três períodos,

185 Cf. Ibidem, p. 345. καὶ [ὁἸησοῦς] εἶπεν αὐτῷ·

CI

D

D

S

νίψαι [ὁ ἄνθρωπος τυφλὸς] Ὕπαγε εἰς τὴν κολυμβήθραν τοῦ Σιλωάμ ὃ ἑρμηνεύεται Ἀπεσταλμένος.

S

S

[ ὁ ἄνθρωπος τυφλὸς] ἀπῆλθεν οὖν καὶ ἐνίψατο, καὶ ἦλθεν βλέπων.

S

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onde o primeiro e o último se encontram em discurso indireto, enquanto o segundo vem em discurso direto.

O primeiro período (καὶ εἶπεν αὐτῷ) introduz o mandato de Jesus, ao passo que o terceiro (ἀπῆλθεν οὖν καὶ ἐνίψατο, καὶ ἦλθεν βλέπων) exprime a conclusão do mesmo, acentuada pela utilização da conjunção coordenada conclusiva οὖν, que faz a narração avançar e progredir para uma conclusão.

O sujeito subentendido do segundo e terceiro períodos é o homem cego (ὁ

ἄνθρωπος τυφλὸς), que Jesus envia e que responde afirmativamente ao seu mandato.

No segundo período, encontramos duas orações coordenadas copulativas assindéticas (νίψαι e Ὕπαγε εἰς τὴν κολυμβήθραν τοῦ Σιλωάμ), onde εἰς τὴν

κολυμβήθραν desempenha a função de complemento circunstancial de lugar para onde,

decorrente da utilização da preposição εἰς com acusativo. Embora Σιλωάμ seja indeclinável, sabemos que este funciona como complemento determinativo de τὴν

κολυμβήθραν, já que é antecedido de τοῦ, a forma em genitivo do artigo ὁ, ἡ, τό.

Subordinada à oração Ὕπαγε εἰς τὴν κολυμβήθραν τοῦ Σιλωάμ, segue-se uma oração relativa simples com valor explicativo (ὃ ἑρμηνεύεται Ἀπεσταλμένος), onde o antecedente de ὃ é Σιλωάμ.

Por fim, no terceiro período, podemos encontrar três orações coordenadas sindéticas: uma conclusiva (ἀπῆλθεν οὖν) e duas copulativas (καὶ ἐνίψατο e καὶ ἦλθεν

βλέπων)186.