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Quando, na vida, encontramos um indivíduo que tem as nossas mesmas ideias e sentimentos e vemos que passou pelas mesmas vicissitudes que pas- samos, sentimo-nos irresistivelmente atraídos para ele, movidos pelo senti- mento de simpatia fraterna. Por este motivo, falo de Teilhard de Chardin.

Os pontos de contato são três: 1) As teorias defendidas; 2) Os sofrimentos morais causados pela dolorosa posição de incompreensão e condenação por parte das autoridades religiosas; 3) A paixão pelo Cristo, concebido racional- mente como ponto de convergência da evolução da vida. Observemos os três pontos, para compreender o pensamento e a nobre figura moral deste cientista, filósofo e crente, assim como o significado da sua obra perante a renovação atual do mundo. Este exame poderá nos levar mais além do caso particular, para observações de caráter e interesse geral.

1) As teorias defendidas por Teilhard de Chardin e pelo autor.

Em Teilhard encontramos os seguintes conceitos: transformismo, evolucio- nismo, estrutura orgânica do universo e tendência do ser a alcançar um estado cada vez mais orgânico, de unificação. O homem é um elemento consciente, que, existindo em função de um todo organizado, é destinado a se tornar sem- pre mais consciente desse todo e dessa organicidade. A evolução é orientada por um íntimo impulso telefinalístico, em direção a um ponto conclusivo: Deus. O fim supremo da existência é a convergência das diversas consciências individuais na consciência única e total do centro Ômega, último momento e fim da evolução: Deus. Teilhard nada mais acrescenta. Mas tudo isto implica e deixa entrever a possibilidade lógica de que este ponto possa ser também o Alfa de todo o processo, que, para ser completo, deve conter ainda a sua con- trapartida involutiva precedente, como demonstramos claramente no volume O

Sistema .

Continuemos, escutando o que nos diz Teilhard. O universo está completa- mente impregnado de pensamento, que se torna cada vez mais evidente com a evolução da vida, através da crescente complexidade estrutural alcançada des- se modo pela matéria. Eis um panpsiquismo que é um pan-espiritualismo e um

monismo, mas que, apesar de poder parecê-lo, não é materialista, pois, aqui, o materialismo é impulsionado até se tornar espiritualismo. O condenadíssimo evolucionismo darwiniano não é expulso, mas sim adotado, resultando implí- cito e logicamente enquadrado neste muito mais vasto evolucionismo, que compreende também o espírito. A função da vida consiste em fazer surgir este espírito, avançando em direção a ele através de um transformismo biológico (o darwiniano), cuja função não é senão servir de veste exterior, como um ins- trumento de expressão, experimentação e laboração de um outro transformis- mo mais substancial, de tipo psíquico, escondido na profundidade, que anima a forma.

Teilhard intuiu nódoas de consciência incipiente mesmo nos mais ínfimos graus da existência, no plano físico do universo. Para ele, a matéria inorgânica é, antes, uma matéria pré-vivente e, num sentido lato, pré-consciente. A evolu- ção levou esta consciência a se revelar imensamente mais avançada e potente no homem. Ora, dado que a organicidade do todo implica uma lógica, seria absurdo que a evolução se detivesse neste ponto do caminho, sem continuá-lo. Teríamos um processo partido ao meio, que de repente para, sem completar toda a sua trajetória, deixando de alcançar a necessária conclusão, ambas im- plícitas na lógica do desenvolvimento do próprio fenômeno. E que imensos horizontes nos abre para o futuro o conceito – imprescindível – de um prolon- gamento do processo evolutivo!

Hoje, portanto, um cientista nos confirma que a matéria está cheia de vida e a vida cheia de inteligência. Nós acrescentamos, então, que Cristo pode ser proposto à ciência positiva como superbiótipo do futuro, supremo modelo que a raça humana poderá atingir com a evolução, e o Evangelho, como a lei social da unidade coletiva representada pela super-humanidade do futuro.

Não obstante as tentativas humanas de conciliação, o Evangelho nos apre- senta Cristo e o mundo como dois inimigos inconciliáveis, que, no entanto, devem coexistir na Terra. Mas é necessário compreender o que Cristo entendia por mundo. Isto não quer dizer que Ele seja contrário à vida. Ele se referia a um estado de fato, dado pelo que o mundo – imerso ainda num estado primiti- vo animal, pleno de egoísmos e lutas ferozes – era e ainda é. Cristo condenava somente esta forma de vida inferior. A inconciliabilidade não se refere a um mundo de evoluídos e civilizados, porquanto Ele quer transformar a forma de vida da humanidade atual justamente num tipo mais avançado, que o Evange- lho chama de Reino dos Céus. Com um mundo assim evoluído, Cristo está

plenamente de acordo, o que se confirma justamente pelo fato de, nesta condi- ção, a lei do Evangelho se realizar plenamente. Ele veio para nos ensinar qual é este novo modo de viver, dando-nos as normas para isso no Evangelho.

Voltando a Teilhard, vemos que ele, orientando-se assim, resolve o dualis- mo espírito-matéria, segundo o qual a obra de Deus parece encontrar-se divi- dida num antagonismo entre bem e mal, Deus e Satanás, cisão na qual o cristi- anismo se debateu durante milênios. Teilhard resolve o conflito em favor do espírito, ao qual ele chega através do materialismo científico, levando-o até às suas mais audazes consequências. Assim, partindo da teoria da evolução, ele a desenvolve até levá-la aos seus mais elevados resultados. Ele não nega a maté- ria como a ciência a vê, mas acrescenta-lhe o que a ciência ainda não viu: a alma, mostrando o sopro espiritual que explica as suas funções e que, mos- trando-nos as suas razões, justifica a sua existência. Assim, a matéria se torna transparente e luminosa de conceito, sendo que, ao invés de significar a nega- ção, é elevada a expressão do pensamento de Deus. Tudo é e continua sendo feito por este pensamento. Isto representa a afirmação racional e a descoberta científica da sua presença em tudo o que existe, demonstrando a imanência de Deus.

Fica assim esclarecido o sentido de todo o processo da evolução, numa sín- tese lógica e harmônica, na qual as verdades provadas pela ciência concordam com os princípios finalísticos da concepção religiosa. Chega-se a uma concili- ação dos extremos opostos, a uma fusão orgânica, a uma unificação. Tudo isto pode parecer um materialismo místico, mas também pode constituir as bases científicas do cristianismo, o qual se aproveitaria delas, pois atualmente não as possui, fato que o mantém fora do terreno positivo da ciência. É assim que Teilhard foi julgado por alguns um novo São Tomás, como cristianizador não mais de Aristóteles, e sim de Marx e de Darwin. Poderia deste modo ser sana- da a cisão entre ciência e fé, para elas passarem da inimizade à colaboração. Muito teriam elas para dizer uma à outra. Então a fé teria finalmente bases positivas e a ciência poderia ser iluminada e vivificada pelo espírito.

O evolucionismo darwiniano permaneceria, mas apenas exteriormente, li- mitado à forma. Intimamente, ele seria constituído pela evolução de um pen- samento nele imanente, estando assim impregnado e orientado para um cor- respondente e exato telefinalismo. Naquele evolucionismo, até agora entendi- do materialmente, há lugar de sobra e inclusive existe a necessidade da pre- sença de um centro de pensamento continuamente criador, ou seja, de Deus.

Assim, a matéria, de inimiga inerte do espírito, vincula-se, logo nos primeiros graus, ao processo universal da revelação do espírito, verdadeira e fundamen- tal realidade do universo. O homem, no seu nível, faz parte deste processo. Num plano de existência muito mais alto, a evolução se realiza no homem, que não só exprime uma fase do fenômeno, mas é também arrastado pelo movi- mento de todo o processo em direção a planos de existência cada vez mais altos. O progresso social revela então a sua mais profunda natureza, que se constitui num processo biológico cuja direção, sobretudo agora, o homem deve assumir, guiando com sua inteligência a evolução. Até hoje, ela se realizou apenas mediante um jogo de determinismos, estabelecidos e impostos pelas leis da natureza. Trata-se, agora, não mais de aceitar passivamente a evolução, mas sim de conduzi-la, tornando-nos conscientes dos seus fins, como operá- rios de Deus, para colaborarmos na obra de construção do nosso setor de exis- tência. Então o homem não viverá mais à mercê das leis da natureza, mas sim consciente e responsável, dirigindo o seu próprio destino.

Teilhard trata assim de chegar a uma “Nova Teologia”, em que tudo se san- tifica por meio da universal presença do pensamento de Deus imanente. Che- ga-se a uma “Santa Evolução”, que corrige o velho criacionismo pueril antro- pomórfico, não mais adaptado à mente moderna. É um novo evolucionismo, consagrado no altar de Deus. O mundo se move, e mesmo aqueles que não queiram isso têm, forçosamente, de mover-se. O transformismo substitui a velha imobilidade. Podemos ver assim o que há de verdade no panteísmo evo- lucionista, tão indiscriminadamente condenado. Pode haver algo mais vital do que ver Deus por toda a parte e, através de uma visão evolucionista do univer- so, não poder concluir senão com a sua espiritualização? Não poderá tudo isto nos conduzir a um cristianismo racionalmente mais aceitável para quem pense, com base num Evangelho mais demonstrado e convincente, levando-nos ao mesmo tempo a uma ciência espiritualizada, mais nobre e santa?

Eis a vida levada à sua verdadeira essência. A substância da existência, da- da pela estrutura mais íntima do ser, é de natureza psíquica. A vida é pensa- mento coberto de morfismo. A espiritualidade, base das religiões, é colocada no ápice da evolução. Cristo, então, é um superego que, hoje, é transcendente, mas que, amanhã, será para a raça humana o ponto de chegada, no qual o ego- ísmo separatista, vigente na luta pela sobrevivência, será substituído pela soli- dariedade coletiva unitária do amor evangélico universal. Assim, Teilhard nos apresenta uma maravilhosa espiritualização do universo, elevada sobre bases

científicas. O Evangelho representa uma transformação das leis biológicas, na qual se dá uma imensa revolução, representada pela passagem da vida de um nível de evolução a outro superior.

Quisemos reproduzir em traços genéricos o pensamento fundamental de Teilhard, com a alegria de ver que ele corresponde plenamente ao pensamento exposto em nossa Obra, que atinge agora o seu 21o volume, em mais de 8000 páginas. Uma tal concordância de conceitos com as ideias de um cientista de tão grande valor, na pessoa de um cristão honesto e convicto, cheio de bonda- de e cultura, significa que as ideias sustentadas por nós não podem estar cienti- ficamente erradas e muito menos podem, ainda, ser moral e teologicamente condenáveis, como já se pretendeu. Os escritos das duas partes são contempo- râneos (Teilhard 1881–1955)2, período no qual ambos apareceram em ambien- tes e países completamente diferentes, sem que tivesse havido conhecimento recíproco. O mundo começa a compreendê-los somente agora, e isto parece nos mostrar que, na primeira metade de nosso século, o pensamento humano quis, através destes dois caminhos, exprimir os mesmos conceitos em forma diversa, porque a humanidade está chegando a uma nova maturação e tem ne- cessidade deles. Tanto é assim que, devido a Teilhard, a religião mais conser- vadora se prepara para examiná-los, pois tem necessidade de se atualizar. Por isso o caso deste cientista é importante e desperta interesse, uma vez que pode ser útil para as religiões alcançarem o nível das últimas descobertas científicas, perante as quais elas ficaram atrasadas.

Se é certo que as conclusões coincidem no conjunto, há, no entanto, uma diferença entre os dois casos, pelo fato de se desenvolverem em posições e com métodos diversos. Como religioso, Teilhard estava, desde o início, preso às afirmações categóricas da sua fé, em favor das quais, pelo fato de não poder afastar-se delas, tinha de concluir a todo o custo, sem possibilidade de escolha. Isto podia pesar sobre a interpretação dos fatos, levando-o a torcê-la num de- terminado sentido, em prejuízo da verdade objetiva. Ora, a investigação do cientista deve ser livre. A este trabalho não se pode antepor ou impor premis- sas axiomáticas, pois assim, mais do que à descoberta, tende-se à conciliação, ficando a objetividade comprometida pelo preconceito, o que leva a realidade a ser vista através de uma particular forma mental, já pré-estabelecida. O re- cinto dentro do qual o pensamento é permitido mover-se, para investigar e

concluir, fica limitado por barreiras. Tudo isto paralisa a investigação e não é científico. Em nosso caso, pelo contrário, desde que os fatos nos indicassem e exigissem de uma forma positiva, tínhamos a liberdade de chegar a qualquer conclusão. A nossa finalidade era apenas descobrir a verdade, e não concordar com uma religião. Foi possível, assim, chegar a conclusões mais vastas, acei- táveis mesmo fora das religiões, inclusive pelo materialismo ateu, apesar de serem elas de natureza ideal e espiritual.

Nos dois casos, não só as condições de trabalho mas também os métodos foram diferentes. Normalmente parte-se da constatação positiva dos fatos, al- cançada com a observação e a experiência, para poder depois, construindo e verificando as hipóteses com as quais tratamos de explicá-los, obter e fixar então uma teoria provada por eles como verdadeira, ou seja, os princípios ge- rais segundo os quais os fenômenos observados funcionam. O pensador vai, assim, sempre subindo do particular ao universal, tratando de se elevar para conseguir a visão de conjunto mais vasta possível e, portanto, mais apta para orientação.

Em nosso caso, o método seguido, pelo menos no princípio, foi o oposto. Aplicou-se o processo dedutivo, e não indutivo. Procedeu-se do universal para o particular, em vez do particular para o universal, partindo-se do princípio diretivo, e não buscando orientação. Os mesmos fatos, no entanto, que consti- tuem para a ciência um ponto de partida, são também examinados por nós num segundo momento, com o mesmo método científico da experiência e observa- ção, mas somente com a finalidade de verificar se eles confirmam a corres- pondência da visão geral com a realidade. Portanto ela está primeiramente orientada da teoria em direção aos fatos e, posteriormente, dos fatos em dire- ção à teoria. Assim eles são utilizados para o controle da teoria, de modo que esta, em vez de permanecer visão destituída de provas racionais, demonstra, através dos fatos, ser verdadeira e corresponder à realidade.

Somente com este segundo método, que chamamos intuitivo, pode-se che- gar a uma visão universal do todo, penetrando com mentalidade positiva um terreno no qual a ciência, com o seu método, não pode chegar. Este é o modo pelo qual se pode chegar ao terreno das maiores visões teológicas, que apenas são obtidas com o único método possível: a intuição. É certo que se trata de um voo. Mas, sem alçar voo, não se pode alcançar os princípios universais da existência. Trata-se de um voo longo, após o qual se desce à Terra, trazendo a fotografia da visão obtida, para colocá-la em contato com os fatos e, assim,

verificar se ela é verdadeira. Havendo procedido dessa maneira, temos verifi- cado que os fatos confirmam a visão, razão pela qual podemos dizer que ela corresponde à realidade. Não havia outra maneira para obter a síntese univer- sal, algo de que a ciência ainda está muito longe.

Teilhard deu a orientação, de modo que já é possível começar não somente a raciocinar cientificamente sobre problemas espirituais, mas também a intuir religiosamente sobre problemas científicos. Pode-se chegar ao ponto de admi- tir que o produto da revelação contida no cristianismo poderia ser tomado seri- amente em consideração pela ciência, como hipótese de trabalho, para explicar a parte que os fatos demonstraram corresponder à realidade. Assim uma reve- lação positivamente controlada poderia ser aceita pela ciência. A última con- firmação de qualquer verdade somente pode ser confiada a uma verificação capaz de demonstrar que os fatos realmente funcionam como essa verdade afirma. Este é o único modo através do qual as intuições ou revelações podem dar garantias de segurança.

Apesar de tudo, o mundo caminha, e ninguém tem o poder de pará-lo. Até há poucos anos, a teoria da evolução foi combatida nos ambientes religiosos. Hoje, porém, para a quase totalidade dos biólogos, a evolução é um fato esta- belecido, universalmente aceito, e não mais uma hipótese. A maior parte dos cientistas já não põe em dúvida que, biologicamente, o homem provém do mundo animal superior. Mas a evolução não é fenômeno que possa ser limita- do à vida, porque, numa visão universal, tudo – portanto todas as formas de existência – deve estar incluído nela, se não quisermos ficar fechados somente num setor do fenômeno da evolução, limitados a apenas um trecho do seu de- senvolvimento.

Teilhard nos apresenta uma evolução universal, dividida em três grandes etapas: matéria, vida e espírito. No mesmo sentido, o Prof. Marco Todeschini (Bérgamo-Itália) também nos falou de psicobiofísica. O universo astronômico nos oferece, com a matéria dos planetas, a base física, que constitui a geoesfe-

ra. Esta, por sua vez, é coberta de revestimento vivente, que representa a bio- esfera, cuja função consiste em revelar, através da vida, a consciência. Surge

assim o elemento que constitui a nooesfera, formando um novo revestimento, feito de pensamento e consciência. Trata-se, portanto, de três fases sucessivas, sendo que cada uma, depois de alcançada e vivida, eleva-se sobre as preceden- tes.

Este conceito de um crescente psiquismo e cerebralização do ser reproduz em palavras científicas o conceito da progressiva espiritualização cristã, dado pela ascese da alma em direção a Deus. Neste caminho que conduz ao espírito, encontramos o fio condutor de toda a evolução. A cosmogênese inicia o pro- cesso. Este continua e se prolonga na biogênese, que desemboca por sua vez na noogênese. Pode-se assim, finalmente, compreender o significado do pro- cesso evolutivo, observando-o alinhado ao longo do seu eixo principal, que nos mostra o início, o desenvolvimento e a meta, desde o princípio até ao fim. O Ômega, ponto de chegada, está hoje presente entre nós em forma de ideal, que está esperando a nossa evolução, para se realizar no futuro, apresentando no seu resultado a compensação de tantas das nossas fadigas, dores e perigos. A escalada evolutiva, descoberta e provada pela ciência, vai em direção a Deus, tal como as religiões já ensinaram com outras palavras. Agora, não mais vivemos nem ascendemos como cegos. Por tudo isto e pelo fato de ter a ciên- cia conseguido conhecer o caminho que o homem percorreu para chegar até aqui, podemos deduzir qual será este caminho amanhã e até onde ele nos leva- rá. No terreno das nossas conquistas espirituais, a fé das religiões é substituída agora pela certeza científica.

Voltando à comparação com a nossa obra e suas concepções, constatamos que a cosmo-bio-noogênese de Teilhard corresponde ao físio-dínamo-

psiquismo de A Grande Síntese. Ele também tentou uma síntese da fenomeno-

logia universal até ao campo filosófico e teológico, ou pelo menos transparece dos seus escritos uma tentativa de orientação universal neste sentido. No en- tanto ele concebeu os três momentos ao longo dos quais se desenvolve o eixo central da evolução como sendo: matéria, vida e espírito, e não como matéria, energia e espírito. Isto se explica pelo fato de que ele, sendo sobretudo geólo- go e paleontólogo, não valorizou adequadamente, na economia do universo, a importância da física nuclear e do fenômeno da desintegração atômica, coisas que então acabavam de aparecer. Passando diretamente da matéria à vida, Tei- lhard não viu seu termo intermediário, a energia, sem a qual não se explica a origem da vida por evolução. Ele não explica a passagem da química inorgâni- ca à química orgânica, que representam apenas formas exteriores, e não a substância do fenômeno. Escapou-lhe a continuidade do processo evolutivo, que, através da desintegração atômica (base da gênese dinâmica), vai da maté- ria à eletricidade (a forma de energia mais evoluída) e, a partir desta, passa então à substância da vida, constituída não pela forma orgânica, mas sim pelo

psiquismo que a constrói e a dirige, cuja origem é elétrica, como fica demons- trado pela natureza nervosa e cerebral de sua base de apoio.

Quando se escreveu A Grande Síntese, por volta de 1933, com uma física

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