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Toda atividade profissional voltada para a investigação e solução de patologias construtivas, entre as quais as dos sistemas prediais hidráulicos e sanitários, tem sido referida mais recentemente como Engenharia Diagnóstica, em analogia à área de especialização designada Medicina Diagnóstica.

Segundo Gomide e Fagundes Neto (2008), Engenharia Diagnóstica é a área da Engenharia Legal (adiante explicitada) que trata de criar medidas corretivas, preventivas e recomendações mediante diagnósticos, prognósticos e tratamentos, visando a qualidade predial total. Para estes autores, mais do que uma finalidade reabilitatória ou de recuperação do nível de desempenho adequado ao edifício ou a suas partes, a Engenharia Diagnóstica se volta para o restabelecimento das suas características funcionais embasada no conceito de qualidade. Para tanto, pode interagir no ciclo da construção nas fases de planejamento, projeto, execução e uso dentro de uma visão sistêmica, buscando a melhoria contínua. Sob o enfoque da prevenção à ocorrência de patologias construtivas, a “Engenharia Diagnóstica se vale da aplicação de um conjunto de ferramentas, desde a criação do edifício até a sua utilização, para evitar anomalias, falhas construtivas e obter a melhoria contínua” (GOMIDE e FAGUNDES NETO, 2008, p.13).

Apesar de não haver consenso a respeito, os profissionais que atuam na área da Engenharia Diagnóstica fazem distinção conceitual entre vistorias e inspeções.

Inspeção é definida pela NBR 5674 (ABNT, 1999; p. 2) como “avaliação do estado da edificação ou de suas partes constituintes, realizada para orientar as atividades de manutenção”. Esta conceituação, portanto, vincula a inspeção à atividade de manutenção predial. Na definição da NBR 13752 (ABNT, 1996a), exame é a inspeção realizada por um perito sobre pessoa, coisas móveis e semoventes, para verificação de fatos ou circunstâncias que interessem à causa.

O IBAPE-SP (2002) traz a mesma definição desta norma técnica para o termo “exame”, acrescentando que, quando feito em um bem, denomina-se vistoria. Para os especialistas deste Instituto, inspeção predial é entendida como uma vistoria da edificação para determinar suas condições técnicas, funcionais e de conservação que visa direcionar o plano de manutenção. Portanto, também associa inspeção à atividade de manutenção, conceituando vistoria como uma inspeção feita por técnico capacitado (exame) num bem imóvel. Mais precisamente, define vistoria como “constatação de um fato em imóvel, mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, objetivando sua avaliação ou parecer sobre o mesmo” (IBAPE-SP, 2007; p. 32)

Com este mesmo sentido, a NBR 14653-1 (ABNT, 2001; p. 5) traz a seguinte definição para vistoria; “Constatação local de fatos, mediante observações criteriosas em um bem e nos elementos e condições que o constituem ou o influenciam”.

Na atuação prática em edificações existentes, Gomide e Fagundes Neto (2008) propõem que os profissionais da Engenharia Diagnóstica tratem das incidências patológicas em cinco níveis progressivos de abrangência ou de aprofundamento: vistoria, inspeção, auditoria, perícia e consultoria, a seguir detalhados.

a) Vistoria

Para estes autores, vistoria é a constatação de um fato mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, sem a indagação das causas que o motivaram, enquanto inspeção é a análise de determinadas condições de produtos ou serviços de engenharia. Como exemplo, segundo eles, a vistoria pode resumir- se a um simples registro fotográfico de um problema para efeito de uma ação judicial de caráter preventivo (a exemplo da medida cautelar de produção antecipada de provas, antiga ação ad perpetuam rei memoriam).

Este também é o caso da chamada “vistoria de vizinhança”, em que as fotos no laudo de vistoria se destinam a descrever as características do imóvel tal como se apresentava no momento da visita técnica. Isto, para resguardar o proprietário contra possíveis efeitos adversos (trincas, recalques, etc.) de uma futura construção vizinha, causados, por exemplo, por rebaixamento de lençol freático, remoção de terra, estaqueamento, etc. Portanto, para Gomide e Fagundes Neto (2008), vistoria resume-se a um simples registro para reportar num laudo de vistoria predial aquilo que foi visto no local, sem qualquer informação adicional quanto a causas, origens, conseqüências, etc. relativas a manifestações patológicas verificadas.

b) Inspeção

Num segundo nível de abrangência do trabalho investigativo de patologias construtivas, os autores citados propõem a inspeção. Neste caso, ela compreende a vistoria, tal como descrita em a), acompanhada de uma análise sumária de cada um dos problemas constatados e registrados na visita técnica. O produto final desta atividade é um laudo de inspeção predial. Como exemplo, uma trinca constatada numa parede interna do edifício, além do registro fotográfico e descrição de qual parede, pavimento, etc. pertence, recebe uma análise descritiva mais detalhada, compreendendo a espessura média medida com um fissurômetro, sua direção predominante (vertical, horizontal, a 45°, etc.), entre outras. Entretanto, este nível de abordagem não trata da causa do fenômeno.

c) Auditoria

Os autores citados conceituam auditoria como consultoria ou análise de determinadas conformidades de produtos ou serviços de engenharia É a inspeção (vistoria + análise sumária) acrescida de comparação com um padrão. Este pode ser um texto legal, regulamento ou norma técnica. Portanto, a abordagem da manifestação patológica ao nível de auditoria já entra no mérito da constatação de não conformidades. Neste caso deve ser citado ou mesmo parcialmente reproduzido o texto legal, regulatório ou normativo infringido no correspondente laudo de auditoria predial.

d) Perícia

É a realização da atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento.

Na escala progressiva de abrangência da atividade de investigação patológica, a perícia é a auditoria acrescida da indicação da causa do problema ou diagnose.

e) Consultoria

É a atividade de perícia abarcando ainda o prognóstico e a indicação do tratamento para a solução do problema, ou seja, a recomendação das medidas corretivas num laudo pericial que, em âmbito judicial, é designado parecer técnico, conforme adiante explicado.

Os cinco níveis de abordagem ou aprofundamento da investigação patológica propostos por Gomide e Fagundes Neto (2008) estão sintetizados na Figura 3.1.

CONSULTORIA  Recomendações de  medidas corretivas  Indicação das causas      (diagnóstico) Comparação com um  padrão (norma, lei)   Análise descritiva sumária Simples registro do  problema PERÍCIA  AUDITORIA  INSPEÇÃO  VISTORIA 

Figura 3.1 – Níveis sucessivos de abrangência da investigação patológica (Fonte: Adaptado de GOMIDE e FAGUNDES NETO, 2008)

Esta concepção de progressão cumulativa na contratação e elaboração de serviços de Engenharia Diagnóstica evidentemente só se dá mediante aplicação de metodologia apropriada. Como o nível de consultoria, conforme designado pelos autores citados, é o de maior profundidade e abrangência, o método requerido para a realização desse trabalho deve considerar todos os seus subníveis constituintes. Qualquer trabalho com nível de abrangência inferior a este requererá a aplicação de apenas partes ou etapas anteriores do método a empregar.

Assim sendo, por questão de generalidade, o método hierarquizado, cujas diretrizes são adiante propostas, versa sobre o mais elevado nível de abrangência de trabalho, englobando desde a vistoria de campo até as prescrições corretivas e preventivas e sua priorização. Havendo redução no escopo do trabalho em que for aplicado, as etapas supérfluas correspondentes deverão ser simplesmente desconsideradas. O mesmo se

aplica aos métodos correntes para avaliação de patologias construtivas em geral, como o Método de Lichtenstein, descrito a seguir.