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“Patologias construtivas” e “qualidade na construção” estão diretamente associadas e são inversamente proporcionais, a ponto de poder se afirmar que, em termos absolutos, onde existe uma não está presente a outra.

Thomaz (2001) registra que um grande número de instituições técnicas nacionais e estrangeiras há muito vêm concentrando esforços nos temas “patologias” e “qualidade” das construções, assuntos diretamente relacionados com “levantamentos pós-ocupação”, “normalização técnica”, “avaliação de desempenho”, “sistemas de aprovação técnica”, “processos de certificação” e “gestão da qualidade”.

Para Amorim, Vidotti e Cass (1993), a pesquisa de problemas patológicos tem como objetivo a melhoria da manutenção, da execução, do projeto, do planejamento e do ensino dos SPHS; em síntese, visa a melhoria da qualidade do ambiente construído.

O conceito de qualidade está genericamente associado à satisfação do cliente com um determinado bem (produto ou serviço) e se aproxima do conceito de desempenho na medida em que se vincula à adequação ao uso desse bem, passo essencial na definição das necessidades dos usuários dos SPHS segundo Ilha (1993). Esta autora cita que a satisfação do cliente tem origem nas próprias características do produto ou serviço.

A qualidade dos SPHS está relacionada ao emprego de um processo que contempla a melhoria contínua. Inicia-se na clara identificação dos clientes e fornecedores em todas as etapas: geração, uso, operação e manutenção, com o objetivo de determinar as exigências de cada qual, relativas ao fluxo de produtos, serviços e informações. Isto permite destacar os pontos potenciais de problemas que posteriormente poderão constituir falhas nos SPHS. Em seguida passa pela identificação e caracterização do fluxo de produtos, serviços e informações entre os intervenientes no processo de produção do projeto, a começar pela fase de concepção do produto. Esta consiste no levantamento de dados, elaboração do programa de necessidades e no estudo de viabilidade (PIMENTA et

al, sd). Segue-se a definição do produto, ao longo das etapas tradicionais de estudo

preliminar, anteprojeto ou projeto pré-executivo e projetos legais para aprovação em órgãos públicos e companhias concessionárias de serviços públicos. A fase subsequente compreende a identificação e solução de interfaces entre as várias áreas técnicas envolvidas, resultando num projeto básico que dá origem um projeto de detalhamento de especialidades ou executivo. Integram esse processo a pós-entrega do projeto e da obra.

A propósito, Figueiredo (2009) ressalva que a nomenclatura convencional para essas etapas leva a uma percepção distorcida de que o projeto corresponde ao produto final do processo.

Esta posição fica evidenciada pelos termos estudo preliminar, anteprojeto ou projeto

pré-executivo, indicando a produção preliminar ao projeto de execução, este sugerindo o

produto acabado ou “definitivo”. Amorim (1997a) contrapõe o conceito “serviço” a “produto”, considerando não importar simplesmente a entrega de um projeto como produto acabado e sim que ele seja auxiliar durante todo o processo de produção da edificação, até a sua entrega final ao usuário. Depois da entrega, ele passa a auxiliar durante todo o período de assistência técnica e embasa análises pós-ocupação.

Figueiredo (2009) aponta que, na referida nomenclatura tradicional, os termos não fornecem indícios da natureza das atividades em cada etapa. Em seu lugar ele propõe uma designação que, no seu entendimento, melhor reflete a compreensão do projeto como um processo. Os termos se associam às atividades dentro de cada etapa, mostrada no Quadro 2.1 comparativamente à nomenclatura padronizada pela NBR 13531:1995 (ABNT, 1995b) e às terminologias referidas pela ABRASIP (PIMENTA et al., não datado) e pela International

Energy Agency (IEA) (2000).

Quadro 2.1 - Terminologias adotadas para as etapas do empreendimento

ABNT (1995b) (PIMENTA et al, nd. ) ABRASIP International Energy

Agency (2000) Terminologia proposta por Figueiredo (2009) levantamento (LV)  programa de necessidades (PN)  estudo de viabilidade (EV) 

concepção do produto  pre-design  pré-projeto 

estudo preliminar (EP)  concept design  conceituação do projeto 

anteprojeto (AP) ou pré-execução (PR)  projeto legal (PL) 

definição do produto 

projeto básico (PB)  identificação e solução de interfaces de projeto 

design development  desenvolvimento do projeto 

projeto executivo (PE)  projeto de detalhamento das especialidades  construction

documents 

documentos de construção  (não contempla)  pós-entrega de projetos  building construction  construção 

(não contempla)  pós-entrega da obra  building operation  uso e operação 

Entretanto, deve-se levar em conta todo o ciclo de vida do empreendimento, o que implica considerar todas as etapas do empreendimento, desde o planejamento inicial até a adaptação para reuso e/ou desmontagem e reciclagem ao final da etapa de uso e operação, (FIGUEIREDO, 2009) e não apenas a etapa do projeto.

A aplicação das ferramentas da qualidade aos SPHS dentro um de processo de melhoria contínua pressupõe, portanto, não só a identificação dos intervenientes no processo e a identificação do fluxo de informações, mas também o seu adequado registro e acompanhamento em todas as etapas. São exemplos de informações relevantes as exigências dos clientes, o método construtivo adotado, fluxos para a compatibilização dos projetos, especificações dos componentes, modificações na fase de execução, etc.

Segundo Ilha (1993), esse procedimento facilita a elaboração de desenhos cadastrais, do manual de operação, uso e manutenção dos SPHS, as tarefas com manutenção, entre outros, destacando a montagem de um banco de dados que possibilita a retroalimentação do processo, servindo como subsídio para o desenvolvimento de novos projetos. Isto é particularmente válido quando o próprio empreendedor gerencia ou realiza as atividades de manutenção pós-ocupação e comunica as patologias constadas aos intervenientes no processo. O encaminhamento para a solução dos problemas deve ser sistemático e documentado, para promover a eliminação da causa que o gerou. Para este fim, com vistas à redução ou supressão de patologias nos SPHS originárias em alguma(s) etapa(s) desse processo, Ilha (1993) indica o método de melhorias conhecido como MASP - Método de Análise e Solução de Problemas. Este método é atualmente muito empregado como recurso na gestão da qualidade, especialmente quando associado ao ciclo PDCA, a seguir sintetizado (ANDRADE, 2003).