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Neste capítulo pretende-se descrever, sucintamente, a evolução da contabilidade pública em Portugal a partir do 25 de abril de 1974 até aos dias de hoje, sendo de seguida estudado o Plano Oficial da Contabilidade no setor Educação. O objetivo é entender as normas legais que suportam as práticas e procedimentos desenvolvidos pelas entidades públicas portuguesas.

3.1 Contabilidade Púbica Portuguesa

A Administração Pública após o 25 de abril tem vindo a ser alvo de profundas alterações, sendo marcada em especial pelo acontecimento de dois eventos importantes para a nossa sociedade, com grande impacto na nossa economia: a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (atualmente designada por União Europeia) e o surgimento do New Public Management.

Face às profundas mudanças verificadas, em consequência destes dois momentos marcantes, sentiu-se a necessidade de criar um diploma que estabelecesse as bases contabilísticas para o setor público. Deste modo, foi publicada a Lei de Bases da Contabilidade Pública em 1990, através da aprovação da Lei n.º 8/90, de 20 de fevereiro, introduzindo várias alterações, entre elas:

• A realização e o pagamento das despesas deixam de necessitar de autorização prévia pela Direção-Geral da Contabilidade Pública (atualmente designado por Direção-Geral do

• O regime financeiro divide-se em duas configurações: o regime geral – autonomia administrativa8, e o regime excecional – autonomia administrativa e financeira9;

• A introdução de dois sistemas de contabilidade: o sistema Unigráfico e o sistema Diagráfico;

• Um sistema de pagamentos de despesas públicas com ligação ao Tesouro, através de transferência bancária, crédito em conta ou emissão de cheques (Caiado & Pinto, 1997).

Não obstante, com a publicação da Lei n.º 6/91, de 20 de fevereiro (atualmente revogada pela Lei n.º 91/2001, de 20 de agosto) procedeu-se à alteração do sistema de execução orçamental, através da criação de uma Conta Geral do Estado, muito semelhante ao Orçamento de Estado (OE). Por outro lado, este diploma prevê ainda os princípios e as normas para a elaboração, alteração e execução do orçamento, bem como as regras para a responsabilidade e controlo orçamental.

Com a Reforma Administrativa e Financeira do Estado (RAFE) através da publicação do Decreto- -Lei n.º 155/92, de 28 de julho, foram estabelecidas as bases da Contabilidade Pública e as novas linhas orientadoras da reforma. Entre outros aspetos, o diploma prevê:

• A criação de dois sistemas de contabilidade: contabilidade de compromissos, assente no registo dos encargos assumidos; e uma contabilidade de caixa, baseada no registo das saídas e entradas de dinheiro;

• Todos os contratos celebrados são objeto de registo e cabimento anual;

• Criação de um sistema de contabilidade analítica, como instrumento de gestão;

• A realização de um duplo cabimento para as despesas oriundas de receitas consignadas;

• A autorização da despesa deverá obedecer a três requisitos: conformidade legal, com fundamento prévio; regularidade financeira, correta classificação da despesa e inscrição no orçamento; e economia, eficiência e eficácia;

• A aplicação do sistema diagráfico pelo regime excecional;

8 - O regime de autonomia administrativa aplica-se às entidades que não dispõem de receitas próprias suficientes para cobrir uma parte significativa da despesa, no entanto possuem uma administração financeira própria e distinta da administração financeira do Estado.

9 - O regime de autonomia administrativa e financeira pode ser atribuído de duas formas: por atribuição legal ou dispor de pelo menos dois terços das receitas. Estes organismos são dotados de personalidade jurídica e de autonomia administrativa, financeira e patrimonial.

• A realização de controlo a três níveis: autocontrolo pelos órgãos competentes da organização, controlo interno sucessivo e sistemático pelas auditorias internas e controlo externo exercido pelo Tribunal de Contas (TC) e outros organismos definidos por lei (Caiado & Pinto, 1997).

A reforma da contabilidade na Administração Pública atinge o seu auge em 1997 com a aprovação Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP), publicado através do Decreto-Lei n.º 232/97, de 3 de setembro, e nos anos subsequentes com a aprovação de planos setoriais, como o Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL) em 1999; o Plano Oficial de Contabilidade Pública para o setor da Educação (POC – Educação) e o Plano Oficial de Contabilidade do Ministério da Saúde (POCMS) em 2000; e, finalmente, o Plano Oficial de Contabilidade das Instituições do Sistema de Solidariedade e de Segurança Social (POCISSSS) em 2002.

Atualmente, perspetiva-se uma nova reforma na Administração Pública, em consequência da reforma efetuada no setor privado em 2010, com a entrada em vigor do Sistema de Normalização Contabilística (SNC), revogando o Plano Oficial de Contabilidade (POC). No setor público, tudo aponta que nos próximos anos a contabilidade pública sofra profundas alterações com a entrada em vigor do Sistema de Normalização Contabilística para o setor Público (SNC- AP) (SNC, 2013).

O setor da Educação é caraterizado pela presença de inúmeras particularidades e especificidades, primeiro pela grande dimensão que ocupa na Administração Central, conforme representado na Figura 3 e Figura 4, e depois pela existência de diversos modelos organizacionais e estatutários adotados pelos vários organismos existentes. Face a esta diversidade, reconhece-se a necessidade de harmonizar os procedimentos contabilísticos em três dimensões: patrimonial, orçamental e analítica, culminando com a publicação da Portaria n.º 794/2000, de 20 de setembro (POC- Educação).

No próximo capítulo faz-se a caraterização da entidade acolhedora do estágio curricular, os Serviços de Acção Social da Universidade do Minho.

Figura 3 – Despesas do Estado com a Educação em % do PIB (INE– BP, DGO/MF,

PORDATA; 2014)

Figura 4 – Despesas do Estado por funções em % do PIB (INE– BP, DGO/MF, PORDATA, 2014)

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