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3. As Escolas Populares Dinamarquesas

3.2. Enquadramento Institucional: O sistema Educativo Dinamarquês e as Escolas Populares

3.2.2. Enquadramento legal das Escolas Populares

Como anteriormente referido, as regras de funcionamento das Escolas Populares estão inseridas na Lei sobre as Escolas Públicas, Escolas de Continuação, Escolas Residenciais e Escolas de Ofícios (cuja última versão data de 2006).

O objectivo desta parte do capítulo não é fazer uma descrição exaustiva de todos os artigos da lei, mas seleccionar os aspectos mais relevantes para uma melhor compreensão do funcionamento das Escolas Populares e do seu enquadramento no Sistema Educativo Dinamarquês.

O papel do Estado

Uma das questões principais da legislação das Escolas Populares é que o Estado poderá apenas regulamentar os aspectos relativos à atribuição de financiamento, sem poder fazer qualquer tipo de interferência sobre o currículo ou sobre os métodos de ensino. Este princípio remonta à primeira lei das Escolas (de 1892):

“ O princípio foi estabelecido sobre as bases em que as escolas populares trabalharam até agora, nomeadamente que o estado se confinava ao papel de se assegurar que as escolas tinham o número de estudantes estipulado e que eram geridas de uma forma responsável. Assim, o Estado não poderia exercer qualquer tipo de influência na ideologia e nos métodos pedagógicos, mas apenas em assuntos relativos à legislação geral e económica” (Lundgaard,

1991, p.7).

As subvenções para o funcionamento das Escolas Populares são aprovadas e atribuídas pelo Ministério dos Assuntos Culturais.

Requisitos para o Funcionamento

Estatuto legal: As Escolas devem ser Fundações Privadas sem fins lucrativos.

O sistema actual reduz bastante o poder do Director, sobretudo se se tiver em consideração de que os Directores das Escolas foram, durante um longo tempo, os seus donos.

Duração: A duração mínima para os cursos serem elegíveis para financiamento é de 12 semanas para os cursos longos e 5 dias para os cursos de curta duração. A escola deve garantir a realização de um curso de 20 semanas por ano ou dois cursos de 12 semanas (números

mínimos). As bolsas máximas são atribuídas apenas às Escolas que garantam o mínimo de 32 semanas de cursos elegíveis.

Número de Estudantes: Os cursos devem assegurar a participação de, no mínimo, 10 estudantes e as escolas necessitam de ter 18 “estudantes anuais”;

“Há Escolas Populares Dinamarquesas que apenas conseguem atingir o mínimo de 18 «estudantes anuais», e há escolas que ultrapassam os 180. A média das 99 escolas Populares é de 64 (números de 1990)” (Lundgaard, 1991, p. 71).

Origem dos Estudantes: Os estudantes deverão ser preferencialmente Dinamarqueses – o número de estudantes estrangeiros não pode ultrapassar o número de nacionais.

Idioma de “instrução”: Dinamarquês.

Número de aulas: As escolas devem assegurar que os estudantes perfaçam no mínimo 24 aulas por semana (aulas, palestras, debates, excursões)

Componente Residencial: A lei das Escolas Populares requer que os estudantes deverão dormir, tomar as suas refeições e integrar a vida da Escola

“Pedra angular da tradição das Escolas Populares Dinamarquesas é que o ambiente da escola residencial apele ao espírito comunitário entre os estudantes, à sua atenção para com os sentimentos dos outros, ao seu comportamento e à sua tolerância.” (Lundgaard, 1991, p. 71)

Os professores devem, à imagem dos estudantes, fazer parte integrante da vida comunitária na escola, sendo responsáveis pela facilitação e dinamização de projectos, resolução de conflitos, aconselhamento pessoal. O número de horas/actividades mínimas em que devem participar também está regulamentado, dependendo do estatuto do professor.

Subvenções atribuídas às Escolas

O esquema de financiamento das Escolas, apelidado de “sistema taxímetro” é algo complexo, ultrapassando o âmbito desta tese. Existem, no entanto, alguns aspectos que podem ser interessantes:

As contribuições do Estado para as Escolas têm registado um aumento crescente desde o princípio do século XX até ao presente.

“Em 1990, o estado alocou 467 milhões de coroas [aproximadamente 62 milhões de Euros] às Escolas Populares Dinamarquesas, o que dá uma média de 73.300 coroas por «estudante anual»”(Lundgaard, 1991, p. 70).

Carlsen e Borgå (2010, p.28) indicam que em 2010, o Estado Dinamarquês transferiu 500 milhões de coroas (aproximadamente 67 milhões de Euros). “Os subsídios do Estado cobrem

apenas metade do orçamento médio das Escolas (…). O resto tem origem nas propinas e nas receitas próprias, obtidas pelo aluguer das instalações.”

De acordo com o Director do International People’s College, “Sempre que, nos cursos longos,

um estudante paga 1 coroa para frequentar a escola, o Estado Dinamarquês subsidia com 2 coroas. Nesse sentido o sistema das escolas – e é assim com todas as escolas – é fortemente subsidiado pelo estado. O que é um luxo e, penso eu, é igualmente muito generoso da parte da Sociedade Dinamarquesa, especialmente numa escola como esta, onde 95% dos estudantes são estrangeiros” (entrevista com Søren Launbjerg, p.2)

Preços dos Cursos e Bolsas para estudantes

As propinas variam entre as 750 e as 1400 coroas por semana (cerca de 100 a 190 euros), sendo que o valor médio se situa nas 1.200 coroas.

O Estado Dinamarquês atribui bolsas a estudantes dinamarqueses e a Estudantes provenientes dos novos Estados membros da União Europeia: Bulgária, Chipre, República Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Roménia, Eslováquia e Eslovénia. Neste caso, a bolsa pode ir até às 600 coroas. Este apoio insere-se no âmbito da medida “Fundo da Democracia” que terminará em 2012.

Existem ainda hipóteses de Bolsas para estudantes oriundos dos restantes países da Escandinávia.

Na última década, aliás como assinalado no citado Relatório de 2005, as autoridades Dinamarquesas não apresentaram qualquer sistema de bolsas para os estudantes nacionais. Existem algumas hipóteses para situações “extremas” – jovens desempregados sem qualificações ou com problemas criminais. No entanto, este tipo de financiamento é da inteira responsabilidade das autoridades locais. De acordo com alguns documentos, sobretudo o anteriormente citado relatório coordenado por Holst (2005), só uma pequena parte das autarquias o fazem.

Carreira de Professor

Todos os aspectos relativos à carreira docente estão regulamentados, sendo que as escolas detêm alguma margem de manobra para a elaboração dos contratos.

Não existem requisitos especiais para o recrutamento – “as escolas podem contratar os

professores de onde quiserem … não há exigência de exames ou de qualquer espécie” (West,

Anexo 2, p.3). Existe sim uma diferenciação de estatutos: os académicos (qualificados para formação formal) e os não académicos, com consequências no nível salarial. De qualquer forma, um professor não académico pode ascender de estatuto (a nível do ordenado) depois de 6 anos de trabalho.