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4. O International People’s College

4.2. Características do International People’s College

4.2.1. Uma Escola Internacional

“O International People’s College *Escola Popular Internacional+ trabalha no âmbito da tradição Grundtviguiana/Kold (educação de adultos não-formal residencial) para o avanço do diálogo e compreensão entre os povos. O trabalho da Escola é baseado nos princípios da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas e visa capacitar os seus estudantes para contribuírem activamente para o desenvolvimento pacífico e democrático do Mundo e para trabalharem para a justiça económica e Social” (IPC - Conceptual Framework, p. 1).

Por motivos históricos, desenvolvidos anteriormente, o International People’s College (IPC) constitui a única excepção à regra do mínimo de 50% de estudantes Dinamarqueses, assim como da utilização do Dinamarquês. Principalmente, nos últimos anos, a participação de estudantes Dinamarqueses tem decrescido bastante – durante a minha semana no IPC, registei apenas a presença de 2. Um dos objectivos expressos no documento de planeamento a curto/médio prazo da Escola – IPC Three Year Plan (2010-2012) - é precisamente recuperar a participação nacional para os 15 %.

No curso de Primavera de 2011, o número de estudantes do IPC chegou aos 75 estudantes, estando representados 25 países diferentes e todos os continentes85. A maior delegação é, sem dúvida a Japonesa, ainda que a soma dos estudantes provenientes do anterior bloco de Leste (Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria, principalmente) constitua cerca de um terço do número total de estudantes. Estes níveis de participação estão relacionados com as bolsas atribuídas no âmbito do “fundo da Democracia” referido anteriormente.

“Normalmente, temos aproximadamente entre 50 a 70 estudantes nos cursos longos, representando entre 25 a 30 países diferentes. Durante este curso, temos tido estudantes de todos os continentes (…)! Estamos muito satisfeitos com isso, é muito importante para nós que tenhamos aqui o Mundo, … a toda a hora. Uma vez que isso nos dá uma vantagem pedagógica especial quando estudamos o mundo: Quando estamos a estudar os conflitos à volta do mundo, por exemplo, [é importante] que tenhamos estudantes que representem os diferentes países envolvidos … porque, eu penso que estudar e aprender sobre o terramoto no Japão torna-se muito mais presente porque temos cá tantos estudantes japoneses. Ou se aprendes alguma coisa sobre os conflitos no Médio-Oriente, é algo completamente diferente se temos estudantes Israelitas ou Palestinianos que trazem as suas histórias pessoais” (Laundbjerg,

Anexo 3, p.2).

Durante a minha estadia no IPC, pude constatar esta vantagem pedagógica decorrente da “confrontação” entre perspectivas pessoais “vividas”. Em conversa informal com um estudante Norte-americano, este “contou-me uma das experiências que mais o marcou (na

frequência do Curso): quando abordaram a guerra fria numa das aulas, viu-se confrontado com um lado da História que não conhecia ou que não imaginava. O ponto de vista, ou o conhecimento, dele é o da história contada pelos americanos, mas veio encontrar aqui pessoas que aprenderam (ou que viveram – há colegas que ainda passaram directamente por isso) no outro lado da barricada”, e que necessariamente contavam outra história (Anexo, p. 27).

Para além de ser encarada como uma ferramenta fundamental para a compreensão e concretização dos vários temas trabalhados ao longo do curso, a composição internacional do corpo estudantil, assim como da equipa da Escola, constitui-se igualmente como o fundo e como prática da aprendizagem.

“Com certeza que enfrentamos uma série de desafios. Ao trazermos tantas pessoas juntas, tanto entre os estudantes, como entre os funcionários (…) Assim, por vezes, encontramos problemas com pessoas que vêem as coisas de maneira diferente, porque cresceram em culturas diferentes. Isso pode ser um desafio, mas também é enriquecedor … Portanto, continuar a tentar ver as diferenças como algo positivo e como uma força motriz, é muito importante” (Laundbjerg, Anexo 3, p. 5).

A dimensão internacional desta Escola, em contrate com a vertente nacionalista tanto do pensamento de Grundtvig como na prática das Escolas Populares, sobretudo até à II Guerra Mundial, pode suscitar algum debate sobre a relação entre o IPC e o ideal Grundtviguiano, ou como colocou o professor Kristof, numa conversa à hora de almoço, “penso que se Grundtvig

viesse agora a esta escola não ia gostar do que ia ver” (Anexo 1, p. 41)

Tanto Søren como o referido Kristof, referem a característica subjectiva de algumas opiniões manifestadas por Grundtvig, que serão abertas a todo o tipo de interpretações tal como, e o exemplo foi dado por ambos, a Bíblia. Não é, de todo, a minha intenção entrar neste tipo de registo, mas penso ser importante referir que, na minha opinião, a dimensão internacional não põe em causa a influência de Grundtvig e Kold86. Baseio esta opinião em três ideias avançadas e abordadas com maior relevo ao longo desta tese.

A obra e o pensamento do fundador do IPC, Peter Manniche, bebem tanto de Grundtvig como do ideal pacifista. Aliás, esta influência é ainda hoje reconhecida pelos documentos oficiais da Escola87.

Por outro lado, a dimensão nacionalista do pensamento de Grundtvig deriva da necessidade de maior autonomia do Povo Dinamarquês em relação ao jugo do Latim e do Alemão. Tal como refere Borish (1991), a dimensão nacionalista de Grundtvig nunca passou pela ideia da nação Dinamarquesa ser de alguma forma superior às restantes.

Finalmente, devemos ter em consideração que a passagem de testemunho de Grundtvig isentou aqueles que se viessem a envolver na construção das Escolas de regras e directivas, assegurando assim a liberdade e a autonomia necessárias para a apropriação do projecto. Como sintetiza o actual director do IPC:

“Eu penso que se Grundtvig ainda estivesse vivo, iria gostar da ideia de uma Escola Popular se tornar internacional. Vivemos num mundo globalizado. Os problemas que são enfrentados na Índia ou no Médio Oriente, por exemplo, … são também os nossos problemas. O Mundo mudou desde o tempo de Grundtvig, e eu penso que ele iria gostar” (Laundbjerg, Anexo 3, p.3).

4.2.2. Uma Escola para (Jovens) Adultos

Ainda que não tenha procurado realizar uma abordagem sistemática que devolvesse dados mais exactos, a minha semana no IPC permitiu-me constatar que, para além de uma grande parte dos estudantes se encontrar na faixa dos 18-24 (por excelência o público alvo das Escolas Populares Dinamarquesas, como abordado anteriormente), havia ainda um grande “contingente” de estudantes entre os 25-30 anos. A presença de adultos com mais de 30 anos era bem mais limitada.

4.2.3. Um Curriculum assente na síntese entre a internacionalização e o