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3. As Escolas Populares Dinamarquesas

3.2. Enquadramento Institucional: O sistema Educativo Dinamarquês e as Escolas Populares

3.2.1. O Sistema Educativo Dinamarquês

A estrutura do ramo principal do sistema Educativo Dinamarquês (Ensino Básico, Ensino Secundário, Formação Profissional Inicial e Ensino Superior), tal como pode ser facilmente observado na figura seguidamente apresentada, é muito semelhante ao Português.

Existem, contudo, algumas particularidades que merecem referência, tendo em conta a temática desta dissertação.

Figura 1 - Sistema Educativo Dinamarquês

A primeira dessas particularidades está relacionada com a existência das Escolas Básicas Livres. Trata-se de Escolas Privadas, apoiadas financeiramente pelo Estado (85% dos custos operacionais por estudante no sistema de Ensino Público). Estas escolas reclamam a herança de Grundtvig, no sentido em que são elas que definem os seus objectivos e métodos de ensino. Há Escolas Livres baseadas em questões filosóficas (existem escolas que se auto intitulam de Grundtviguianas) ideológicas (Escolas Marxistas, por exemplo), em modelos Pedagógicos (Waldorf, por exemplo) ou crenças religiosas. O sistema Dinamarquês permite ainda que a Educação Básica seja realizada na modalidade de ensino doméstico.

A regulação é feita através de exames nacionais, no fim do período de Educação Obrigatória: 9 anos48.

Outra das particularidades49 tem como nome Escolas de Continuação. Estas escolas reclamam igualmente a influência de Grundtvig, tendo derivado das primeiras Escolas Populares. São escolas residenciais para jovens entre o oitavo e o décimo ano de Escolaridade, centradas na

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Para ser mais correcto é importante clarificar que na Dinamarca não existe uma obrigatoriedade legal de ir à Escola, mas a obrigação de ter alguma forma de Educação.

aprendizagem social e em temáticas como deporto, música ou ecologia. Tal como as Escolas Livres, as Escolas de Continuação são de gestão privada e apoiadas financeiramente pelo Estado (de acordo com os rendimentos das famílias).

Em relação ao sistema de Ensino regular pós obrigatório, a grande diferença está no facto de todas as instituições – à excepção das escolas relacionadas com o sector marítimo – serem de gestão privada, sendo que, em todos os casos, o financiamento é público. Aliás, em todo o ramo principal do sistema educativo, não são cobradas qualquer tipo de propinas, com a excepção das instituições destacadas anteriormente (as Escolas Livres e as de Continuação). A grande diferença entre os Sistemas Dinamarquês e Português encontra-se no subsistema de Educação de Adultos. Não sendo um objectivo desta tese fazer essa comparação, vou apenas tentar apresentar o sistema Dinamarquês de uma forma sucinta.

Como é apresentado na figura 1, a oferta Educativa para os Adultos assenta sobre três eixos diferentes: Vocacional, Geral e Não-formal. Antes porém, parece-me importante referir que, de acordo com dados oficiais50, em 2008 cerca de um terço da população entre os 25 e os 64 anos de idade, participou em actividades educativas.

A oferta Vocacional tem como público-alvo preferencial os adultos inseridos no mercado de trabalho e abarca a participação em cursos de formação profissional contínua, o processo de valorização profissional (verificação e reconhecimento das competências, participação em cursos e posterior certificação) e a frequência de cursos conducentes à atribuição de graus académicos.

O eixo intitulado por “Educação de Adultos Geral” engloba cursos de qualificação na área das competências básicas, das competências escolares do ensino secundário e de preparação para o ingresso em cursos conducentes à atribuição de graus académicos. Este eixo inclui ainda os cursos de Dinamarquês (como segunda língua) para estrangeiros e de Educação Especial para Adultos.

A marca distintiva do Sistema Educativo Dinamarquês encontra-se, sobretudo, na importância dedicada à Educação Não-Formal e Liberal de Adultos (Folkeoplysning), sendo que as suas principais referências são a forte tradição de Instituições Sociais de Base (Associações, Clubes, Cooperativas) e o pensamento de Grundtvig.

“O conceito de Educação Não-Formal de Adultos está associado ao filósofo, poeta, pensador educacional e homem do clero Dinamarquês, N.F.S. Grundtvig, e aos seus pensamentos sobre Oportunidades Educativas Livres” (Brochura do Ministério dos Assuntos Culturais dedicado à

Educação Não-Formal de Adultos, s/d, p.1).

As actividades de Educação Não-Formal são enquadradas51 em quatro categorias principais:

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Brochura da Agência Dinamarquesa para a Educação Internacional de 2010.

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Existem duas leis principais: uma para as Actividades de Educação Não-Formal independentes, Departamento Universitário “Extramuros” e Escolas Populares Diurnas e outra para as Escolas residenciais privadas.

- Actividades de Educação Não-Formal independentes, levadas a cabo por Associações (ou Organizações Não-Governamentais) dedicadas à Educação Não-Formal de Adultos ou ao Voluntariado. Estas actividades são financiadas pelas autoridades locais52 e envolvem anualmente 700.000 participantes por ano.

Ainda de acordo com a referida brochura do Ministério dos Assuntos Culturais (s/d, p.2), “o

objectivo da Educação não-formal de Adultos é (…) aumentar o esclarecimento geral e académico e as competências dos indivíduos e promover as suas capacidades e desejo de assumirem a responsabilidade pela sua própria vida, assim como de assumirem um papel activo e empenhado na sociedade”.

Nesta categoria estão inseridas as seguintes actividades: participação em aulas (sobretudo em escolas nocturnas com autonomia para definir conteúdos e metodologias), study circles, palestras e dinamização de debates, por exemplo. Participação voluntária em actividades desportivas, filosóficas e sociais no âmbito de acção do trabalho Associativo dedicado a crianças e Jovens. E finalmente, trabalho associativo relativo a uma panóplia de temáticas como, por exemplo, desporto, política ou religião.

- Departamento Universitário “Extramuros”. O objectivo desta iniciativa é “disseminar

conhecimento sobre métodos e resultados da Investigação científica através de actividades de Educação Não-Formal e de Palestras.” (Ministério dos Assuntos Culturais, s/d, p.2).

Estas actividades são financiadas pelo Estado, de acordo com a lei, sendo que a supra-citada brochura do Ministério da Educação indica que em 2010 foram atribuídas 14,5 milhões de coroas (cerca de 2 milhões de Euros).

- Escolas Populares Diurnas. Estes estabelecimentos têm como objectivo organizar e dinamizar actividades de Educação Não-Formal ou actividades promotoras de criação de auto-emprego. Há uma relação de proximidade com o eixo da Educação de Adultos Geral, uma vez que este tipo de Escolas Populares pode oferecer aulas de preparação para Adultos.

- Escolas Residenciais Privadas, onde para além das Escolas Populares, constam igualmente as Escolas de Economia Caseira, Escolas de Artes e Ofícios e as já mencionadas Escolas de Continuação53).

“Os objectivos principais dos cursos ministrados nas Escolas Residenciais Privadas são a interpretação do sentido da vida, a educação dos adultos e uma educação democrática geral. O Ensino deve seguir uma natureza geral e alargada. Ainda que possa haver predomínio de algumas disciplinas ou grupos de disciplinas, tal não pode ser conseguido sacrificando o carácter generalista. As escolas organizam as suas actividades de acordo com os seus Valores de Base” (Ministério dos Assuntos Culturais, s/d, p.2).

O carácter residencial destas práticas implica, de acordo com as directivas do Ministério dos Assuntos Culturais, princípios Grundtviguianos como a interacção entre professores e

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Igualmente responsáveis pelo financiamento do Ensino Básico.

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As Escolas de Continuação são estruturas atípicas. Como já abordado, podem oferecer cursos para jovens entre o oitavo e o décimo anos (sendo que o décimo não está inserido no Ensino Obrigatório). Os estudantes destas escolas têm entre 14 e 18 anos de idade.

estudantes dentro e fora da sala de aula ou a participação dos estudantes em actividades práticas de apoio ao funcionamento da Escola.

Tanto as Escolas de Economia Caseira e de Artes e Ofícios, como as de Continuação podem conduzir à atribuição de certificações académicas (após a realização de um exame). Existem, segundo os dados estatais, 14 Escolas de Economia Caseira e de Artes e Ofícios e cerca de 265 Escolas de Continuação.