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3. As Escolas Populares Dinamarquesas

3.4. Perspectiva Internacional

Existem Escolas Populares de inspiração Grundtviguiana um pouco por todo o Mundo. A utilização da expressão “inspiração” tem como pressuposto que o ponto de partida é o pensamento educacional de Grundtvig – e, nalguns casos, a prática das primeiras escolas dinamarquesas – e que as metas são múltiplas. Aliás, como acontece na Dinamarca.

“Um dos pontos fundamentais no pensamento educacional de Grundtvig é que a Escola para a Vida seja virada para o povo (Folkelig). Noutras palavras, deverá sempre reflectir a identidade cultural de um determinado Povo. Para além disso, deverá responder aos desafios de uma situação política e histórica particular” (Bugge, 2000, p. 188).

Os restantes países nórdicos (Noruega, Suécia e Finlândia) são os países onde se pode encontrar a maior implantação deste tipo de escolas. De acordo com Stabler (1987), a primeira escola Norueguesa abre em 1864, por dois teólogos influenciados pelo trabalho de Grundtvig. O percurso histórico das Escolas na Noruega – e mesmo o presente – são muito semelhantes ao caso Dinamarquês. As Escolas “serviram de grande suporte ao movimento do campesinato e

tornaram-se parte da corrente nacional que quebrou o elo da Noruega com a Suécia72.”

(Stabler, 1987, p.41). Na actualidade, as Escolas Populares seguem essencialmente o modelo Dinamarquês, sendo que a maior diferença estrutural está na duração dos cursos: 1 ano.

“Há quem tenha dito que a razão das Escolas Dinamarquesas e Suecas serem tão diferentes deriva do facto do primeiro director de escola Dinamarquês ter sido um teólogo e o primeiro director na Suécia ter sido um Geólogo” (Stabler, 1987, p.42).

De facto, o percurso histórico sueco – tanto das Escolas como da própria nação – é distinto do dinamarquês. As escolas suecas têm uma forte componente académica e vocacional, atribuindo muito menos importância às questões, históricas, mitológicas e nacionais do que as suas congéneres Dinamarquesas. A paleta de cursos oferecidos é mais diversificada, tanto nos temas, quanto na forma: há um grande enfoque na vertente profissionalizante; as escolas não atribuem um grau académico mas um diploma próprio; a duração dos pode ir de alguns dias a 2/3 anos, e a grande maioria dos estudantes frequenta as escolas em regime aberto (não residencial).

A primeira Escola Popular Finlandesa é aberta em 1889 por uma estudante da Escola Popular de Askov. O contexto da ocupação violenta da Finlândia por parte da Rússia (que durará até 1917) acaba por ser fértil para a criação de novas escolas. Aliás, neste sentido, o movimento Finlandês acaba por descrever um trajecto muito parecido com o da Dinamarca e da Noruega. Na América do Norte – Canadá e sobretudo nos Estados Unidos – as primeiras escolas são fundadas no final do século XIX e princípios do século XX pelas comunidades imigrantes Dinamarquesas. Nesta primeira fase, o modelo seguido é muito próximo do “original”, sendo

que a base de recrutamento dos estudantes corresponde essencialmente aos filhos dos imigrantes. Com a progressiva aculturação das segundas e terceiras gerações, a procura baixa drasticamente e leva ao encerramento das diferentes escolas (Spicer, 2009).

A segunda vaga das Escolas Populares (de inspiração Grundtviguiana) é iniciada por activistas dos direitos civis e educadores populares que visitam a Dinamarca para conhecer a obra de Grundtvig e o Movimento das Escolas Populares. Inspirados por estas experiências, assim como pelo movimento cooperativo, tentam importar o modelo Dinamarquês, adaptando-o às particularidades da Sociedade Americana e das suas comunidades de origem.

O Movimento de Educação Popular Americano, responsável por um considerável corpo bibliográfico, tem a sua época dourada nas décadas de 70 e 80 (do século XX) com a fundação da Associação Americana de Educação Popular73. Esta associação ganha algum relevo principalmente através da seu trabalho editorial regular e da dinamização de uma série de encontros anuais dos Educadores Populares Americanos.

Myles Horton (1905 – 1990) é provavelmente a principal figura associada ao Movimento de Educação popular Americano. Depois de visitar a Dinamarca durante o ano de 1930, inspirado pelas ideias do Esclarecimento para a Vida e pelo movimento Cooperativo, funda a Escola Popular Highlander no Tensessee74 (Himmelstrup, 1989). O exemplo de Horton e da Highlander Folk School são algo paradigmáticos da relação entre a realidade da Educação Popular Americana e Dinamarquesa. Apesar das práticas serem muito diferentes (Himmelstrup refere mesmo que Horton voltou muito desiludido com o que viu nas Escolas Dinamarquesas), há uma grande identificação ao nível dos ideais defendidos por Grundtvig.

Actualmente, continuam a ser dinamizados cursos de curta duração nos Estados Unidos e no Canadá.

A presença de Escolas de inspiração Grundtviguiana no Báltico, na Polónia e na Hungria é anterior à ocupação Soviética, que perseguiu e proibiu este tipo de práticas. Os últimos anos têm sido caracterizados pelas tentativas de recuperar a tradição das Escolas Populares nesses países, ainda que seja importante voltar a frisar que as práticas não são exactamente iguais.

“Numa altura em que a confiança nos partidos e movimentos políticos é tão baixa, há uma óbvia necessidade de uma instituição que não está ligada a nenhum poder político e que possa ensinar as pessoas a lutarem pelos seus direitos e a moldar o carácter dos jovens para que uma nova geração de líderes políticos possam surgir” (Björkstrand, 2000, p.169)

A bibliografia consultada não permitiu fazer um mapeamento completo da presença das Escolas Populares pelo globo, mas deixo de seguida as que consegui identificar (sempre que possível com notas sobre a sua orientação): Israel (não residenciais); Índia (na maioria destinadas a crianças); Nigéria (Instituto Grundtvig com uma forte componente vocacional); Japão (Universidade); Filipinas, Bangladesh e Rússia.

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Mais tarde Instituto de Educação e Acção Popular – através do qual, e mais exactamente do seu ex- presidente Christopher Spicer, consegui obter os meus primeiros livros sobre Grundtvig (incluindo os seus textos traduzidos) e sobre as Escolas Populares.

No âmbito de um trabalho encomendado pelo Museu de Grundtvig de Udby, Bugge (1995) identificou os principais “padrões de disseminação” das ideias de Grundtvig:

- Diáspora Dinamarquesa na tentativa de preservar a sua herança cultural: especialmente no continente americano;

- Educadores não dinamarqueses que se interessaram pela obra de Grundtvig e pelas Escolas Populares, e que após visitarem a Dinamarca, tentaram implementarem as suas ideias nos países de origem. Erica Simon em França é talvez o exemplo mais forte;

- Pessoas ligadas ao Movimento das Escolas Populares, como Peter Maniche, assumiram o papel de embaixadores das ideias de Grundtvig no estrangeiro;

- Recuperação de tradições entretanto adormecidas (por motivos políticos), como o referido exemplo dos países do Báltico;

- Por influência indirecta ou “reacção em cadeia”, como o Instituto para a Educação de Adultos fundado na Etiópia por representantes do Movimento sueco.

Bugge debruçou-se ainda sobre as regiões onde as ideias de Grundtvig têm encontrado mais dificuldades em penetrar.

“Ainda que algumas excepções possam ser encontradas, parece ser regra geral que o Sul da Europa, a anterior União Soviética e o Mundo Islâmico constituem grandes áreas geográficas que no passado se mostraram mais resistentes em relação à influência das ideias de Grundtvig. Nestes casos, estamos a falar de países dominados por ideologias muito fortes, como o Catolicismo Romano, o Comunismo Russo e o Islão” (Bugge, 1995, p. 192).

A disseminação do pensamento de Grundtvig e das práticas das Escolas Populares aparenta ter condições e espaço para continuar, sobretudo no que respeita à intervenção nos países do chamado “Terceiro Mundo”. A reflexão sobre as experiências entretanto realizadas tem conduzido a ideias muito próximas das aventadas por Grundtvig sobre o futuro das Escolas Populares:

“Os Dinamarqueses foram bem claros na defesa de que a Escola Popular não é algo que se possa transportar para uma cultura e terra diferente. Em vez disso, a Escola – em conjugação com as ideias de Grundtvig – podem ser usadas como inspiração. O que se desenvolve, fica plantado em novo solo, deve adaptar-se e tomar forma de acordo com aquele lugar num determinado tempo com determinadas pessoas” (Spicer, 2009, p.23).

“Seria uma expressão de imperialismo cultural esperar que todas as pessoas à volta do Mundo interpretassem as ideias de Grundtvig exactamente da mesma forma do que nós” (Bugge,