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Estou alojado na casa de um colega da agência nacional Dinamarquesa – Frederik - o que alivia bastante os custos desta experiência. Decido fazer a viagem “casa” – Biblioteca a pé: são menos de 30 minutos e permite-me sentir um pouco mais o pulso da cidade.

A casa do meu colega situa-se no bairro de Christianhaus e para chegar ao centro da cidade tenho de atravessar um dos canais que rodeiam a cidade … estou numa ilha diferente. A primeira grande diferença que um estranho sente – principalmente se o estranho for Lisboeta – é o trânsito. É óbvio que há carros, muitos carros … mas praticamente não se sentem porque existem muito mais bicicletas. É incrível a quantidade e variedade de bicicletas que vemos a circular nas ruas ou “estacionadas” em todo o tipo de pátios, passeios ou zonas especialmente dedicadas para esse efeito. O pátio interior do Centro Vartov não é excepção, não sendo fácil vislumbrar lugar para mais bicicletas.

Destaque: Vartov e o Grundtvigsk Forum

Vartov foi a última, e talvez a principal, paróquia dirigida pelo pastor Nikolai Frederik Severin Grundtvig (desde 1837 até à sua morte em 1872).

Actualmente, Vartov faz parte do Grundtvisk Forum, uma sociedade Grundtviguiana fundada em 1898, com o objectivo de estudar e reinterpretar as ideias de Grundtvig e torná-las conhecidas na Dinamarca e no exterior.

O Forum é reponsável pela gestão da Bibioteca e da Academia Grundtvig sediadas em Vartov, onde ainda se podem encontrar três outras instituições de acolhimento e educação de crianças (incluindo uma creche a funcionar em regime nocturno) e ONG’s como O Instituto Cultural Dinamarquês e a Associação de Museus Dinamarqueses. Vartov alberga ainda dois centros de estudo universitários: O centro de Investigação sobre Søren Kierkegaard e o Centro de Estudos de Grundtvig (gerido pela Faculdade de Teologia da Universidade de Aarhus).

Ilustração 1 - Estátua de NFS Grundtvig em Vartov

N. F. S. Grundtvig e as Escolas Populares Dinamarquesas: Contributos para a Educação de Adultos

O pátio é dominado pela estátua de Grundtvig – a minha única recordação deste local, pelo qual passei em 2010, a quando da conferência do X aniversário do Programa Grundtvig. Um dos momentos mais marcantes desta conferência foi o discurso de um Director de uma Escola popular Dinamarquesa, que se refere da seguinte forma a Vartov:

“(...)This building is tightly connected with the name of Grundtvig, who has given name to the Grundtvig programme. The English proverb “My house is my castle” is very recognized also here in Denmark – like it probably is at most places. You might say that Vartov was the castle of Grundtvig. Not in a military sense, of course, but in a more spiritual sense. This is the castle of the most influential cultural movement in Danish history in the last two centuries.”3

Chego um pouco depois das 9:00 da manhã e procuro a pessoa com quem troquei e-mails previamente. Liselotte Larsen é a bibliotecária. Explico-lhe um pouco mais detalhadamente qual o meu objectivo. Assim que terminamos a conversa, mostra-me as várias zonas da biblioteca onde poderei encontrar livros sobre Grundtvig e sobre as Escolas por ele idealizadas. A maioria dos livros desta biblioteca são, como seria de esperar, em Dinamarquês e focados na dimensão teológica do trabalho de Grundtvig – no fundo, a sua linha principal de trabalho. A pequena dimensão da produção educacional é, pelo descrito, natural e previsível mas confesso que estava à espera de encontrar uma maior quantidade de obras. No entanto, não há sequer tempo para sentir qualquer tipo de decepção. Liselotte vai-me mostrando as várias áreas e destacando algumas obras. Falo-lhe num artigo de um autor americano que procuro há algum tempo e traz-me um dossier com uma série de artigos isolados, trabalhos fotocopiados … mas não conseguimos encontrar o tal artigo. A meio da manhã, consegue descobri-lo numa das edições anuais de “Grundtvig Studier4”. Perfeito, e ainda por cima, vem acompanhado de um pequeno texto do autor datado de 2009.

A manhã é passada a explorar as várias prateleiras e a encher a secretária com diferentes volumes que poderão a vir muito interessantes.

A bibliotecária pergunta-me se quero almoçar com o pessoal de Vartov. Num dos outros edifícios há uma pequena cozinha e sala de refeições onde almoçam alguns dos funcionários. A refeição é preparada por uma das trabalhadoras: é simples (um prato quente, saladas, carnes frias, queijo, pão e todos os dias somos brindados com um bolo fresco – vamo-nos servindo à nossa vontade, de forma muito caseira) mas saudável e saborosa (mais um preconceito desfeito). Outra das vantagens é que é relativamente barata: 25 coras … e hoje nem me deixaram pagar!

Os trabalhadores vão chegando progressivamente, reforçando a informalidade da refeição. Todos vão à cozinha buscar pratos e talheres, cada um arruma a sua loiça depois da refeição. A conversa passa por todos, e infelizmente há muito poucas coisas que consigo perceber – falam

3

Carlsen, Jørgen (2010) How to know why? Discurso na Conferência do décimo aniversário do Programa Grundtvig, Copenhaga, 23 de Setembro de 2010.

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Grundtvig Studier é uma publicação anual do Centro de Estudos de Grundtvig (Faculdade de Teologia da Universidade de Aarhus) em cooperação com o Grundtvigsk Forum. Esta revista reúne artigos em Dinamarquês (na sua maioria), Alemão e Inglês de membros da Grundtvig Society sobre os mais diversos aspectos da obra de Grundtvig.

N. F. S. Grundtvig e as Escolas Populares Dinamarquesas: Contributos para a Educação de Adultos

em Dinamarquês. Entretanto, chega Hans Grishauge – o director. Dá-me as boas vindas e pergunta o que venho fazer. Sempre numa atitude muito informal.

Como já referi não percebo o que dizem, mas não se percebe qualquer tipo de diferenciação no trato entre os diferentes trabalhadores e o director. Este participa muito activamente na conversa – tem ar de bom conversador.

A parte da tarde é passada a explorar os livros seleccionados e a tentar organizar a consulta e a estabelecer prioridades.

Inicio as leituras com alguns dos artigos do referido dossier.

O grande desafio hoje é mesmo o horário da biblioteca: Terça e quarta-feira a hora de encerramento é às 15:00. O meu tempo fica reduzido, até porque sexta-feira é feriado nacional. Mas Liselotte diz-me que posso chegar às 9:00 em vez das 10:00 indicadas no horário normal.

Dizem os estudos que os trabalhadores portugueses são dos que trabalham mais tempo na Europa. O horário da biblioteca assim como o das lojas – fecham na maioria dos dias por volta das 17:005 - vem reforçar esta ideia. No entanto, o horário do meu colega na agência Dinamarquesa é muito semelhante ao meu … e tal como cá, muita das vezes, é necessário ficar até mais tarde.

Curiosamente, Frederik passou a segunda-feira no IPC. A escola está a organizar uma Visita de Estudo (uma actividade financiada pelo Programa Aprendizagem ao Longo da Vida)6 e ele foi destacado para estar presente no primeiro dia da visita. Destaco esta questão porque Frederik acaba por me dizer que a Visita terá uma sessão na Associação das Folk High Schools, sessão esta em que poderei participar. Ainda em Lisboa, tinha conseguido um encontro na associação – marcado para quinta-feira – pelo que pondero se valerá a pena participar na sessão.