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Nas comunidades virt uais, a t errit orialidade deixa de ser geográf ica e passa a ser simbólica. As relações sociais são mediadas pela t ecnologia e o encont ro f ísico passa a ser irrelevant e. O cont at o ent re os ut ilizadores dá-se sem pret ensões e de f orma lúdica. Surpreendent ement e, muit as vezes essas redes de amizade saem do Ciberespaço e são consolidadas na vida real. O sent iment o de pert ença ref orça o carát er cooperat ivo no int erior da comunidade a part ir de ações organizadas por

alguns membros. Além dos encont ros em bares e f est as, há sempre uma série de at ividades organizadas.

A quest ão das novas f ormas de sociabilidade, emergent es no f inal do século passado, insere-se num cont ext o onde a pluralidade de sit uações possibilit a a mult iplicidade do eu at ravés das diversas máscaras sociais que o ser humano adot a no quot idiano. O carát er lúdico e a t eat ralidade das relações sociais t ransport am-se para as redes de comunicação at ravés da criação dos inúmeros personagens que povoam o espaço virt ual, encarnados nos pseudônimos.

A relação com o out ro est á f undada no êxt ase, no sent ido et imológico do t ermo (ex-st ase): sair de si. Esse êxt ase é muit o mais ef icaz no que diz respeit o às t ribos, reais ou virt uais. Cada um desses grupos é para si mesmo seu próprio absolut o. Tal coisa supõe que exist a uma mult iplicidade de est ilos de vida, um mult icult uralismo. O cert o é que a sat uração de uma at it ude proj et iva, de uma inst it ucionalidade volt ada para o f ut uro, dá lugar a um increment o nas relações pont uais, que passam a ser vividas mais int ensament e no present e, nas int erf aces quot idianas.

As máscaras assumem, ent ão, um papel cent ral nest as relações pont uais. As int erações nas redes comunicacionais não se dão diret ament e ent re indivíduos, mas ent re imagens. Evident ement e, na vida real, t ambém proj et amos imagens, mas elas est ão acopladas no nosso corpo f ísico, responsável por proj et á-las. Nas redes, t rat a-se de imagens desencarnadas, que só exist em enquant o "puras proj eções" no Ciberespaço.

Os ut ilizadores podem opt ar por proj et ar imagens mais próximas ou mais dist ant es da sua personalidade na "vida real". Alguns chegam mesmo a se ident if icar. Dizem o seu nome, f alam sobre o seu t rabalho, sobre os seus int eresses, hobbys, et c. - t alvez, haj a aqui uma crença segundo a qual a compart ilha de inf ormações pessoais est abeleça um clima de conf iança ent re as pessoas, a possibilidade de uma "t roca verdadeira". Out ros pref erem se esconder at rás dos seus pseudônimos, encarnando uma personagem que se pode dif erenciar muit o da pessoa que o proj et a e que pode adquirir novas máscaras em cada sessão. A mult iplicidade do eu nas diversas per sonas, dá a possibilidade ao ut ilizador de realizar f ant asias e concret izar o desej o de assumir uma personalidade dif erent e da sua.

A quest ão da permanência é uma das caract eríst icas mais f ugazes nas comunidades virt uais. Ela é marcada pelo carát er ef êmero e não permanent e na inscrição dos seus membros nessa comunidade. Além disso, permanecer não signif ica, necessariament e, que alguém vai conquist ar o st at us de popularidade na comunidade. Em qualquer alt ura é possível mudar o nome. Ist o permit e uma múlt ipla inserção de uma mesma pessoa.

Um out ro aspect o int eressant e das comunidades virt uais t rat a-se da apropriação quot idiana da t écnica e a apropriação t écnica do quot idiano. A oposição moderna ent re a cult ura e a t écnica não se sust ent a mais. Est a dicot omia levou a uma cisão polarizada da t écnica, vist a, por um lado, como a esperança ut ópica na realização da vida social, no progresso e na hist ória e, de out ro lado, como o inimigo público número um, como a encarnação mais f iel do racionalismo inst rument al e desumanizant e.

Um out ro pont o a ser dest acado na análise das comunidades virt uais é a inversão do processo de f ormação do laço de af inidade social. Nas relações sociais t radicionais, quando conhecemos uma pessoa pela primeira vez, o encont ro dá-se f isicament e, no "mundo real". A part ir dest e cont at o inicial e à medida que vamos aprof undando est e conheciment o, t rocamos inf ormações, ident if icamos pont os em comum, enf im, criamos laços de af inidade. Nas comunidades virt uais, o processo é inverso. Int eragimos inicialment e a part ir de int eresses comuns, previament e det erminados e, só ent ão, quando possível, encont ramos f isicament e as pessoas. Ist o é evident e nas list as de discussão da Int ernet , quando essas pessoas se reúnem para discut ir vinhos, f ilosof ia ou pornograf ia na rede, sem nunca se t erem vist o.

Indo além das comunidades virt uais f ormadas pelos newsgr oups do Ciberespaço e list as de discussão, podemos observar que os canais de conversação const it uem o lugar onde se f azem amizades. Qual a f inalidade, se não a não ser a de possibilit ar que as pessoas se encont rem, conversem despreocupadament e sobre qualquer coisa, se conheçam e se t ornem amigas? Às vezes as conversas são vazias ou superf iciais, não result ando em nada mais do que uma simples t roca de opiniões sobre banalidades. Ent ret ant o, em alguns casos, laços de af inidade vão-se f ormando ent re pessoas que se encont ram periodicament e, culminando em relações mais sólidas. Quando essas pessoas se encont ram In Real Li f e, j á exist e um repert ório comum que f oi const ruído ant es delas se conhecerem f isicament e.

Assim, os namoros que t êm origem at ravés das redes de comput adores parecem at ualizar as hist órias românt icas dos relacionament os que nasceram a part ir da t roca de cart as ent re pessoas que nunca se t inham vist o.

O surgiment o dest as comunidades é part e dest e processo de apropriação quot idiana da t écnica que ganha dimensões mundiais com o desenvolviment o da t ecnologia e o cresciment o vert iginoso das redes t elemát icas. O advent o desses novos meios est á a redimensionar a esf era do social a part ir da inst auração de âmbit os de int eração nunca ant es possíveis. As t ribos elet rônicas, que se f ormam no coração do ciberespaço, são expoent es dest a era t ecnológica que est á a promover o casament o ent re a inf ormát ica e as novas f ormas de sociabilidade pós- modernas. A Cibercult ura é um f enômeno em expansão e como t al sem cont ornos ainda def inidos.