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A dinâmica da sociocomunicação no ciberespaço: o impulso alquímico

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Academic year: 2017

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A DINÂMICA DA SOCIOCOMUNICAÇÃO NO CIBERESPAÇO:

O IMPULSO ALQUÍMICO

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A DINÂMICA DA SOCIOCOMUNICAÇÃO NO CIBERESPAÇO: O IMPULSO ALQUÍMICO

Dissert ação de Mest rado apresent ada à banca de def esa como part e das exigências para obt enção do t ít ulo de Mest re em Ciência da Inf ormação; Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosof ia e Ciências – Universidade Est adual Paulist a.

Área de Concent ração: Inf ormação e Tecnologia.

Auxílio Financeiro: CAPES

Orient ador: Profa. Dra. Silvana Aparecida Borsetti Gregório Vidotti Co-Orient ador: Profa. Dra. Fátima Cabral

MARÍLIA

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O48d Oliveira, Walt er Clayt on.

A dinâmica da sociocomunicação no Ciberespaço: o impulso alquímico / Walt er Clayt on de Oliveira. – Marília, 2005.

132f .; 30 cm

Monograf ia (Dissert ação de Mest rado) – Faculdade de Filosof ia e Ciências – Universidade Est adual Paulist a, 2005

Orient adora(s): Silvana Aparecida Borset t i Gregório Vidot t i; Fát ima Cabral

1.Ciberespaço. 2.Sociocomunicação. 3.Sociabilidade. 4. Niklas Luhmann. I.Aut or. II. Tít ulo.

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A DINÂMICA DA SOCIOCOMUNICAÇÃO NO CIBERESPAÇO: O IMPULSO ALQUÍMICO

Banca Examinadora:

______________________________________________ Dra. Silvana Aparecida Borset t i Gregório Vidot t i

______________________________________________ Prof . Dr. José August o Chaves Guimarães

______________________________________________ Dr. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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Ao Meu Mais Subl ime Ideal

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RESUMO

O Ciberespaço é uma t eia colossal, um disposit ivo de comunicação que associa caract eríst icas múlt iplas e opost as. Ao desenvolver-se de f orma espont ânea, o Ciberespaço começa ent ão a orient ar-se para a comunicação. Não f alt am hoj e inúmeras comunidades de comunicação. Nest e sent ido, obj et ivamos com est a pesquisa, analisar a dinâmica da sociocomunicação, t ransf erência e f luxo de inf ormações de comunidades virt uais t omadas como sist emas sociais aut o-organizados, no Ciberespaço. At ravés de incursões na lit erat ura, f izemos uma análise t eórica-descrit iva do conceit o de sociocomunicação e discut imos em que medida ele pode ser aplicado diant e das int er-relações que emergem ent re os indivíduos pert encent es às comunidades virt uais. Concluímos que, o Ciberespaço, assim def inido, conf igura-se como um l ocus de ext rema complexidade e dif ícil compreensão. A sua het erogeneidade é not ória quando se percebe o grande número de ambient es de sociabilidade exist ent es, no int erior dos quais se est abelecem as mais diversas e variadas f ormas de int eração, t ant o ent re Homens, quant o ent re Homens e máquinas e, inclusive, ent re máquinas. Trat a-se de um novo t ipo de organização sociot écnica que f acilit a a mobilidade no e do conheciment o, as t rocas de saberes, a const rução colet iva do sent ido, em que a ident idade sof re uma expansão do eu baseada na diluição da corporeidade, ou sej a, o que se perde em corpo ganha-se em rapidez e capacidade de disseminar o eu no espaço-t empo. Assist e-se, assim, a uma aceleração do met abolismo social.

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mult iple and opposed charact erist ics. When developing in a spont aneous way, t he Cyberspace begins t hen t o guide f or t he communicat ion. Don't lack count less communicat ion communit ies t oday. In t his sense, we obj ect if ied wit h t his research, t o analyze t he dynamics of t he social communicat ion, t ransf er and f low of inf ormat ion in virt ual communit ies, t ook as self -organized social syst ems, in t he Cyberspace. Through incursions in t he lit erat ure, we made a t heoret ical-descript ive analysis of t he social communicat ion concept and we discussed in what measure could be applied t o t he int errelat ions t hat emerge among t he individuals belonging t o t he virt ual communit ies. We conclude t hat , t he Cyberspace, t hus def ined, is conf igured as one locus of ext reme complexit y and dif f icult underst anding. It s het erogeneous is well-known when t he great exist ing environment number is perceived of sociabilit y, in t he int erior of which if t hey est ablish most diverse and varied int eract ion f orms, as much bet ween Men, how much bet ween Men and machines and, also, bet ween machines. One is about a new t ype of social t echnique organizat ion t hat f acilit at es t he mobilit y in and of t he knowledge, t he exchanges t o know, t he collect ive const ruct ion of t he direct ion, where t he ident it y suf f ers an expansion f rom based self in t he dilut ion t he body, or eit her, what it is lost in body gains in rapidit y and capacit y t o spread self in t he space-t ime. It is at t ended, t hus, t o an accelerat ion of t he social met abolism.

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SUMÁRIO

1 INT RODUÇÃO _________________________________________________ 12 2 O IMPULSO ALQUÍMICO __________________________________________ 20

2. 1 PRINCIPIOS RIZOMÁT ICOS__________________________________________ 23 2. 2 O VERDADEIRO NÃO-LUGAR ________________________________________ 26 2. 3 DIALÉT ICA DOS FLUXOS DE INFORMAÇÃO______________________________ 26 2. 4 INT ERAT IVIDADE COMUNIT ÁRIA_____________________________________ 30

3 A T RANSMUT AÇÃO DOS VALORES__________________________________ 32

3. 1 SOCIABILIDADE __________________________________________________ 33 3. 2 ENT RET ENIMENT O_______________________________________________ 36 3. 3 CIBER-REBELDES_________________________________________________ 39 3. 4 OS PHREAKERS __________________________________________________ 39 3. 5 OS HACKERS____________________________________________________ 40 3. 6 OS CRACKERS ___________________________________________________ 41 3. 7 OS CYPHERPUNKS________________________________________________ 41 3. 8 OS RAVERS E ZIPPIES _____________________________________________ 42 3. 9 CYBER-REBELDES?________________________________________________ 43

4 COMUNIDADE E IDENT IDADE NO CIBERESPAÇO________________________ 44 5 VISÃO ECOLÓGICA DAS COMUNIDADES VIRT UAIS ______________________ 52

5. 1 PRINCÍPIOS ECOSSIST ÊMICOS NAS COMUNIDADES VIRT UAIS________________ 53

6 AUT O-ORGANIZAÇÃO, CIBERESPAÇO E ESPAÇO PEDAGÓGICO ____________ 57

6. 1 ESPAÇO PEDAGÓGICO _____________________________________________ 61

7 T EORIA DOS SIST EMAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO NA PERSPECT IVA DE NIKLAS LUHMANN______________________________________________________ 65

7. 1 O QUE HÁ DE NOVO NA T EORIA DOS SIST EMAS?_________________________ 66 7. 2 A AT UAL CONCEPÇÃO DE SIST EMA___________________________________ 67 7. 3 OS SIST EMAS PARA NIKLAS LUHMANN_________________________________ 70 7. 4 O “ IRRADIAR-SE CONCEIT UAL” NAS CIÊNCIAS SOCIAIS PELAS CIÊNCIAS COGNIT IVAS

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8 PLUS ULT RA! A INT ERAÇÃO SOCIOCOMUNICACIONAL NO CIBERESPAÇO_____ 90

8. 1 COMUNICAÇÃO: PROCESSO SÓCIO-BIOGENÉT ICO ________________________ 91 8. 2 CIBERESPAÇO: EMERGÊNCIA DE CONST RUÇÕES CULT URAIS E SOCIAIS________ 94 8. 3 GÊNESE E EVOLUÇÃO DE SIST EMAS SOCIOCOMUNICAT IVOS________________ 96 8. 4 CRIAT IVIDADE EST RUT URAL DA INFORMAÇÃO __________________________ 99 8. 5 ALÉM DO ACASO: SELEÇÃO DE INFORMAÇÕES COLET IVAS________________ 101

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1 INT RODUÇÃO

A int rodução de novas t ecnologias com base na digit alização, a comunicação em rede e o Ciberespaço t razem modif icações no espaço da mídia, caract erizado pela ut ilização de suport es t radicionais represent acionais e pela produção e t ransmissão de mensagens na f orma linear, i.e., de um emissor para um recept or, num processo de ret roaliment ação. As novas t ecnologias apresent am um quadro de t ransf ormações que explodem os modelos clássicos de comunicação, assim como os valores at ribuídos a eles. O novo modelo comunicacional privilegia a rede, nomeadament e o Ciberespaço, a int erat ividade e a virt ualidade como mot ores de um novo espaço público e de uma nova int eligência. Desde a ut ilização domést ica at é a empresarial, os sist emas inf ormát icos acompanham-nos em cada f acet a da nossa vida f ornecendo inf ormações ou ampliando as nossas capacidades de cálculo, memória, comunicação, et c.

Essa simbiose de homem e sist ema de inf ormação at ravés de perif éricos denominados int erf aces ampliam as capacidades humanas a pont o de det erminadas t aref as poderem ser int egralment e ent regues aos sist emas inf ormát icos. Assist imos, pois, a uma diluição da f ront eira homem-máquina. “ Em out ras palavras, o lado t ecnológico da equação homem-t ecnologia est á em cont ínua expansão” (SARACEVIC, 1996, p.56). Sobret udo nas últ imas décadas do século XX e início dest e século, as relações do homem com seu ambient e vêm sendo realizadas, em grande part e, no Ciberespaço, na arquit et ura de comput adores e redes.

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sist emas e dout rinas: um permanent e est ado de debat e virt ual das quest ões do ser, do homem e do mundo. Como argument a Mizrach (2002):

[ …] t oday humans ar e busy er ect i ng a new ki nd of l andscape whi ch i s t ot al l y ar t i f i ci al : what many, f ol l owi ng sci ence f i ct i on wr i t er Wi l l i am Gi bson, have cal l ed cyber space. Though i t can be used t o si mul at e and model 'nat ur e, ' i t al so can exhi bi t pr oper t i es never f ound i n t hi s or any ot her wor l d. Thi s new ki nd of space t hat peopl e ar e comi ng t o i nhabi t i s cur i ous i n many ways. For one t hi ng, i t i s a "no-space" because i t i s nowher e: a "consensual hal l uci nat i on" i n whi ch peopl e i nt er act wi t h wi del y di st r i but ed dat a t hr ough t ext ual and vi sual r epr esent at i ons. The l aws of physi cs do not appl y i n cyber space, and t hus nei t her do st andar d l i mi t at i ons on human modes of l ocomot i on, sel f -r epr esent at i on, or capabi l i t i es. Cyber space i s a cul t ur al l andscape wher e r i ver s can f l ow uphi l l and f or est s can be made of cr yst al t r ees - or t hi ngs i nf i ni t el y f ar mor e bi zar r e.

O Ciberespaço represent a um meio de comunicação t écnico universal, de f ácil acessibilidade, usabilidade, baixo cust o e disponibilidade global. A rede j á t ranspôs suas primeiras f ases de experiment ação e se t ornou peça f undament al para sociedade pós-moderna, podendo ser caract erizada como mass-medi a. Segundo Vidot t i (2001, p.44):

Podemos pensar na Int ernet como uma grande bibliot eca, ou como um ambient e hipermídia colet ivo, no qual os usuários são agent es at ivos do processo de armazenament o, indexação, recuperação e disseminação de document os elet rônicos hipert ext uais, um ambient e aut o-organizado em permanent e mut ação.

O Ciberespaço f unda uma ecologia comunicacional: t odos dividem um col ossal hipert ext o, f ormado por int erconexões generalizadas, que se aut o-organiza e se ret roaliment a cont inuament e. Trat a-se de um conj unt o vivo de signif icações, no qual t udo est á em cont at o com t udo: os hiperdocument os ent re si, os indivíduos ent re si e os hiperdocument os com os indivíduos. A part ir da hipert ext ualidade, a Int ernet põe a memória de t udo dent ro da memória de t odos. Nesse quadro de deslocament os e rupt uras, o f enômeno Ciberespaço precipit a mudanças em sua mat riz empreendedora, a comunicação.

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Trat amos, aqui, o Ciberespaço pela t eoria dos sist emas sociais, t eoria da inf ormação e comunicação, t eoria geral dos sist emas, t eoria de aut o-organização e t eoria sist êmica, uma vez que:

O Ciberespaço baseia-se em t ecnologias, mas sua dif usão e import ância social se baseiam em comunicação;

A sociedade é um f enômeno de comunicação;

O Ciberespaço, enquant o meio t écnico acelera e aument a o processo sociocomunicacional e o condensa: uma grande part e das comunicações via Int ernet conect a-se com comunicações que j á f aziam part e da rede, e criam novos rizomas;

O aprof undament o da condensação leva à f orma de sist emas sociais, aut o-organizados, que concat enam comunicações.

Empregamos, nest e t rabalho, proposições medulares da Ciência da Inf ormação e a abordagem dos sist emas sociais como part e int egrant e da t eoria geral dos sist emas, baseando-se numa concepção part icular de comunicação enquant o processo f undament al que const it ui sist emas sociais e f orma, em últ ima inst ância, os f undament os para uma sociedade da inf ormação1. Logo, nos concent ramos num dos aspect os mais proveit osos que est á f ornecendo uma nova dinâmica à comunicação e à sociabilidade cont emporânea: a sociocomunicação, ut ilizando para t al empresa, uma prof ícua e ext ensiva incursão na lit erat ura além de uma observação t eórica das peculiaridades do Ciberespaço.

Cert ament e não f oi por acaso que a rede desenvolveu-se de maneira exponencial e as necessidades de se comunicar aument aram ver t i gi nosament e nos últ imos anos. Consideramos aqui o Ciberespaço holist icament e e a sociocomunicação em especial como meio de dif usão, cat alisação e propagação do conheciment o. A dinâmica da comunicação humana concret iza-se por meio de ações expressivas que f uncionam como sinais, signos e símbolos, que comunicamos uns com os out ros de modos e por canais muit o dif erent es e muit o complexos. Talvez não passe, no ent ant o, de um equívoco unanimizant e e homogeneizador, t ant o sobre a nat ureza do conheciment o, como sobre a nat ureza da comunicação, a idéia de um conheciment o universal, comunicado universalment e at ravés das novas

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t ecnologias inf ormat ivas. Mas é o que acont ece quando a razão comunicat iva se esgot a na lógica da razão inf ormat iva: o imperat ivo t ecnológico da t eoria da inf ormação dispensa o imperat ivo ét ico da racionalidade comunicat iva, dispensa a razão do "out ro", que preside a part icipação e a comunicação do conheciment o que é preciso dar à comunidade.

E há mais, j á que at ualment e a mi xór di a da t ransmissão do conheciment o para aqueles que dele necessit am é uma responsabilidade social, essa responsabilidade social pode ser vist a como o real backgr ound do prof issional da inf ormação e da Ciência da Inf ormação.

A sociedade pós-moderna com suas caract eríst icas, ent re elas a mundialização do capit al e as novas t ecnologias (Ciberespaço), t êm propiciado novas oport unidades para o prof issional da inf ormação pois apesar das mudanças, dos desaf ios, das possibilidades prof issionais, e das grandes t ransf ormações t ecnológicas e espaciais, a essência das ciências que sust ent am a prof issão do bibliot ecário, a Bibliot economia e a Ciência da Inf ormação e o seu obj et o de t rabalho – o ciclo inf ormacional, não f oram mudados. Embora a t eoria sej a a mesma, a prát ica do bibliot ecário, especialment e aquela que se baseia em t odas as f acilidades of erecidas pelas novas t ecnologias e a mundialização do capit al, bem como no mét odo cient íf ico da invenção, lhe abre muit os caminhos, muit as out ras possibilidades de prest ar serviços inf ormacionais e sugere uma nova f orma de administ rá-los. Ent rement es, a Ciência da Inf ormação se preocupa com os princípios e prát icas da produção (geração), organização e dist ribuição da inf ormação. Assim como, com o est udo dos f luxos da inf ormação desde sua criação at é a sua ut ilização, e a sua t ransmissão ao recept or em uma variedade de f ormas, at ravés de uma variedade de canais. Est a t ransmut ação de idéias, mét odos, do pensar em si t em que respeit ar as caract eríst icas exist ent es e manif est as da área de Ciência da Inf ormação, do obj et o inf ormação em si, com t oda as suas condições, caract eríst icas e singularidades. Conf orme Capurro (2003):

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Assim, t oda uma argument ação deve ser const ruída para most rar as qualidades e a viabilidade dest a t ransf erência de t eorias, conceit os e met odologias, que precisa est ar clara e convincent e; deve est ar det alhadament e explicit o e explicado como est e pensar ou a met odologia se insere no mundo da Ciência da Inf ormação. Est a é uma área de est udo muit o especial, pois t em f ort e dimensão prát ica e operacional, que est á muit as vezes, conceit ualment e, dependent e de uma t ecnologia int ensa, com elevado t eor de inovação e em cont ínua mut ação.

Nesse sent ido, inserindo um dos obj et os de est udo da Ciência da Inf ormação - f luxo e t ransf erência de inf ormação - no cont ext o do Ciberespaço e da sociocomunicação como algo capaz de mudar est rut uras, est a dissert ação de mest rado j ust if ica-se para observamos os f luxos de inf ormação, compreendermos a comunicação e as const ruções sociais e simbólicas das comunidades virt uais. Além disso, ao est udarmos a inf ormação/ comunicação at ravés da sociocomunicação, consideramos as relações de poder que advêm de uma organização não-hierárquica e espont ânea e procuramos ent ender at é que pont o a dinâmica da comunicação, do conheciment o e da inf ormação int erf erem nesse processo. Em out ras palavras, os ef eit os produzidos no mundo do t rabalho, os dif erent es mecanismos criados para a persuasão das massas, as dist int as f ormas assumidas pelo poder para conf ront ar int eresses, desej os e f rust rações suscit ados no imaginário pela ilusão do consumo e as novas realidades de sent ido produzidas no e pelo Ciberespaço, são alguns aspect os que f azem da pós-modernidade, da civilização at ual, um paradigma que é – t omando aqui uma máxima de Niet zsche (1968)- “ a negação do homem pelo próprio homem” .

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E, diant e dessa nova relação ent re homem e máquina as necessidades humanas precisam at ravessar a linha que as t ransf ormará em bi t s. Não queremos, de modo algum, inscrever a nossa voz no coro que se levant a em al ar i do crescent e cont ra a dissolução dos f undament os do mundo moderno, di abol i zando a t écnica e dando mecha às cruzadas ant i-t ecnológicas, t ecnóf obas, avessas a comput adores, ent endemos, no ent ant o, que a racionalidade t ecnológica é um proj et o da pós-modernidade, que racionaliza o espaço e o t empo, e nos normaliza. Por um lado, anula e compensa ruídos, aj ust ando o homem à máquina, de maneira a evit ar perdas de mensagem. Por out ro, globaliza o t empo, impondo-nos a ilusão de uma vizinhança global: banaliza t odas as misérias dest e mundo, of usca-nos com o brilho de sonhos que nos vampi r i zam a alma e produz o conf ormismo. Pois, a sociedade é t ambém um f enômeno de comunicação.

Nest e t rabalho, enf ocamos o Ciberespaço enquant o aparat o t écnico que ot i mi za e condensa uma grande parcela das comunicações. Nest e sent ido, com est a pesquisa pret endemos romper a membrana que separa o universo paralelo virt ual – Ciberespaço – do universo concret o que habit amos. Ou sej a, t ent amos desmist if icar a Int ernet e suas propriedades como um complicado oceano de disposit ivos int eligent es, em que a dist inção ent re har dwar e e sof t war e era dif usa e poucos indivíduos sabiam navegar. E, cont emporaneament e, não há limit es que possamos erguer cont ra a capacidade de f azer: o imperat ivo t ecnológico legit ima-se pela pot ência. E não é excessivo dizermos, nest e cont ext o, que a racionalidade inf ormat iva t ecnológica aliment a um desígnio de homogeneização universal, impondo ao planet a uma r azão macr océf al a e t ot al.

A present e dissert ação de mest rado f oi ent ão elaborada da seguint e f orma:

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Capít ul o 3 – A t r ansmut ação dos val or es – Apresent a uma nova idéia de sociabilidade e subj et ividade que se inst ala: “ eu sou na medida das minhas conexões” . Quer dizer, a sociabilidade e a subj et ividade const roem o seu t errit ório exist encial a part ir de out ros t errit órios dos quais se apropriam, mist urando-os. Agencia humano e não humano, carne e met al, cérebro e silício incluindo t ambém grupos humanos, máquinas socioeconômicas, inf ormacionais, et c.

Capít ul o 4 – Comuni dade e Ident i dade no Ci ber espaço – Apresent a as relações sociais ent re as pessoas, e relações ent re os humanos e suas f errament as. O Ciberespaço engendra f enômenos que vão bem além da comunicação no sent ido est rit o do t ermo. Mais do que um meio de comunicação, elas of erecem suport e à um espaço simbólico que abriga um leque muit o vast o de at ividades de carát er societ ário, e que é palco das prát icas e represent ações dos dif erent es grupos que o habit am.

Capít ul o 5 – Vi são ecol ógi ca das Comuni dades Vi r t uai s – Aborda a ecologia das Comunidades Virt uais, onde o conceit o de rede t em vindo a t ornar-se o conceit o dominant e de múlt iplas f ormas de experiência. De uma f orma que é t alvez hist oricament e única, crist alizam-se em t orno dest e conceit o result ados t eóricos f undament ais, t ecnologias que se desenvolvem imprevisivelment e e experiências sociocult urais que t ambém surgiram espont aneament e.

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Capít ul o 7 – Teor i a dos si st emas soci ai s e comuni cação na per spect i va de Ni kl as

Luhmann – Apresent a a visão de Niklas Luhmann de sist ema que será, por conseguint e, o conceit o-chave de uma t eoria complexa, na medida em que só uma leit ura sist êmica da sociedade est ará em condições de responder aos seus propósit os, que são a análise e explicação da complexidade do obj et o sociológico, comunicacional e inf ormacional.

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2 O IMPULSO ALQUÍMICO

Pensar nest e milênio as relações que se est abelecem ent re sist emas sociais2 e a t ecnologia é um dado f undament al para mapear algumas possibilidades mais est imulant es para a prát ica inf ormacional mas t ambém, paradoxalment e, alguns dos mais perigosos desaf ios com que ela se depara. De f at o, das recent es relações que se t êm est abelecido ent re sist emas sociais e t ecnologia emerge um cert o carát er pernicioso que est á int imament e ligado a um f enômeno t axionômico da prát ica inf ormacional. Por um lado, as novas perspect ivas de ação of erecidas pela ut ilização de t oda a panóplia t ecnológica dest e f inal e início de século af irmam-se providenciais, por out ro est abelecem uma nova padronização do campo de ação inf ormação. Segundo Robredo (2003, p.19): “ Sent imos j á o princípio de que a inf ormação é, sim, em t odos os campos do saber e em t odos os domínios de aplicação, inf ormação e simplesment e inf ormação.”

Fundament ados em algumas concepções de Allan Kaprow (1996), é possível dizer que os novos prof issionais da inf ormação de hoj e j á não precisam se af irmar, eu sou um arquivist a ou eu sou um bibliot ecário ou um museólogo. Eles são simplesment e prof issionais da inf ormação. E seu principal obj et ivo, enquant o prof issionais, é t ransmut ar os recursos inf ormacionais do Ciberespaço e aprender e adapt ar-se às mudanças ambient ais. A criação da inf ormação, aquisição, armazenament o, análise e uso, provêm da est rut ura int elect ual que dá suport e ao cresciment o e desenvolviment o de uma dinâmica int eligent e adapt ada às exigências e novidades da ambiência. Ao compreender isso, t udo na vida se abrirá para ele, melhor dizendo para nós. Est as, est amos cert os, serão as alquimias dest e século. Não poderemos agora f alar, em cert a medida, de uma inversão do problema? Com as novas denominações surgidas – gest or da inf ormação, gest or do conheciment o, cibert ecário, analist a de inf ormação dent re out ros – não est aremos perant e um ret orno a “ t axionomia” da prát ica inf ormacional em f unção dos meios ut ilizados?

2 Ent endemos por sist emas sociais “ [ . . . ] f orças que t endem a mant er a f orma ou a conf iguração

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Todo t rabalho de libert ação da inf ormação relat ivament e a esse t ipo de enquadrament o, numa procura incessant e de um comport ament o conceit ual mais elást ico, parece assim “ cair por t erra” por um novo discurso que permit e ao prof issional da inf ormação encont rar-se nova e t emporariament e num lugar de ident if icação com os t errit órios reclamados pelo poder, em seu sent ido l at o. Essa inserção no mesmo ambient e em que nidif icam as propost as t ecnológicas do poder é a evidência com que se depara o prof issional da inf ormação que ut iliza, de algum modo, das t ecnologias cont emporâneas no seu t rabalho. Caberá ent ão pergunt armos: pode o crescent e desenvolviment o t ecnológico da inf ormação e dos prof issionais da inf ormação ser ent endido como um sinal acrescido da inequívoca e cont inuada t eia de cumplicidades (inconscient ement e, ou t alvez não), t ant as vezes negada em um passado ainda recent e, est abelecida com a chamada globalização ou como pref erimos ut ilizar, mundialização do capit al?

Observando o problema por um out ro ângulo, reencont ramo-nos aqui com a noção vanguardist a da experiment ação e com a recuperação de uma acent uada import ância dos meios. Est e ret orno a conceit os de essência kant iana (f inalidade sem f ins) relocaliza a discussão em t orno de uma carga laborial t radicionalment e valorizada pelo f azer associado aos mat eriais/ suport es. E se por um lado é int eressant e analisar a premência de um pendor experiment al no labor at ual, que o dist ancia clarament e da cat egorização burocrát ica em que t ant as vezes se enredou, será t ambém urgent e um cert o dist anciament o crít ico perant e essa mesma t ecnologia que pode por vezes at uar não como pot enciadora de um campo abert o de possibilidades mas ant es como um mero espart ilho. Não obst ant e, conf orme Robredo (2003, p.91):

[ . . . ] a inseparável associação da inf ormação a algum t ipo de sist ema, a nova visão do processo de comunicação associado a um enf oque sociológico de t ransmissão da inf ormação e da geração do conheciment o e, enf im, a sit uar as at ividades relacionadas com a bibliot eca, a document ação, os arquivos, a armazenagem, a dif usão e a recuperação da inf ormação, dent ro desse conceit o expandido da ciência da inf ormação, os quais, ao t empo que se benef iciam dos avanços de out ros domínios, t ambém aport am a est es, element os para sua evolução e se desenvolviment o.

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realidade como sist ema racional de causas e ef eit os, numa perspect iva linear e segundo um modelo de obj et ividade “ cient if ica” , é reduzir as inf indáveis possibilidades que nos abre quest ionament o da visão unívoca do mundo que muit as vezes nos é of erecida e que af irma a maior part e das vezes uma at it ude colonialist a e poderosa de t axionomia e manipulação. Ora, a velocidade dos acont eciment os do mundo, pelo menos na sua aparência, nega t oda est a unicidade. Perdem-se assim as noções clássicas capazes de cont ribuírem para uma def inição da realidade. Por out ro lado, est a mult iplicação dos ref erent es pode-nos remet er para uma experiência da liberdade (se é que podemos ut ilizar est e t ermo) que oscila ent re a idéia de pert enciment o e desenraizament o, i.e., a sobreabundância de acont eciment os pode igualment e represent ar o caldo ideal para uma reavaliação cont emporânea da deriva Baudelairiana. Torna-se dif ícil de perceber-se, at ravés do processo levado a cabo pela t ecnociência de t ransf ormação de uma realidade est ável numa out ra f ant asmagórica, perderemos as ref erências ou nos limit aremos a reconst ruí-las a part ir de novas coordenadas.

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2. 1 PRINCIPIOS RIZOMÁT ICOS

O Ciberespaço implica um complet o est ilhaçar das noções básicas de localização e de desenraizament o. Mais do que como um lugar, ou ant es um não-lugar, af irma-se como meio, i.e., um espaço operat ivo onde nos movemos. O Ciberespaço ult rapassa assim t odos os paradigmas de represent ação do real. Ao cont rário dos clássicos modelos de represent ação, não se def ine por uma relação mimét ica com a realidade mas ant es at ravés de um processo de replicação de sua est rut ura e modo de f uncionament o. De f at o, esses modelos f uncionam como sist emas arborescent es enquant o que o Ciberespaço é um sist ema rizomát ico, bem mais complexo e pleno de mult iplicidades, opondo à re-present ação uma apresent ação. Est a oposição ent re uma est rut ura em árvore, que imit a o mundo pela sua epiderme, e o rizoma, capaz de const ruir uma nova realidade parece-nos f undament al para a def inição do meio part icular da Int ernet , especif icament e as list as de discussões.

Gilles Deleuze e Félix Guat t ari (1995) est abeleceram com precisão os princípios de f uncionament o do rizoma. A sua simples enumeração poderá ser suf icient e para ent endermos as dif erenças em j ogo. Vej amos:

1° e 2° - princípios de conexão e de het erogeneidade: qualquer pont o do rizoma pode ser conect ado com qualquer out ro, e deve sê-lo. Isso não sucede com a árvore nem com a raiz, que sempre f ixam um pont o, uma ordem. Enquant o a árvore f unciona por dicot omias, no rizoma, pelo cont rário, cada quebra não remet e necessariament e para uma quebra lingüíst ica: elos semiót icos de qualquer nat ureza ligam-se nele com f ormas de codif icação muit o diversas, elos biológicos, polít icos, econômicos et c., pondo em j ogo não apenas regimes de signos muit o dist int os, mas t ambém os est at ut os das coisas.

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que ela mude de nat ureza – as leis de combinação aument am, pois, com a mult iplicidade.

4° - princípio da rupt ura asignif icant e: que aparece por oposição aos cort es excessivament e signif icant es que separam as est rut uras ou as at ravessam. Um rizoma pode ser rompido, int errompido em qualquer part e, mas sempre recomeça segundo est a ou aquelas das suas linhas e ainda segundo out ras. É por isso que os aut ores af irmam que é impossível acabar com as f ormigas, post o que f ormam um rizoma animal que mesmo dest ruído na sua maior part e, não cessa de se reconst it uir.

5° e 6° - princípio da cart ograf ia e da decalcomania: um rizoma não responde a nenhum modelo est rut ural ou generat ivo. É alheio a t oda a idéia de eixo genét ico, como t ambém de est rut ura prof unda. Os sist emas em árvore f uncionam por decalque da realidade, limit am-se a descrever algo que se dá por f eit o. De f orma dist int a f unciona o rizoma, como um mapa. Se o mapa se opõe ao decalque é precisament e porque est á t ot alment e orient ado para uma experiment ação que at ua sobre o real. O mapa não reproduz um inconscient e f echado sobre si mesmo, const rói-o. O mapa é abert o, conect ável em t odas as suas dimensões, desmont ável, alt erável, suscept ível de receber const ant ement e modif icações. Pode ser rompido, alt erado, adapt ar-se a mont agens dist int as, iniciadas por um indivíduo, um grupo, uma f ormação social. Uma das caract eríst icas mais import ant e do rizoma t alvez sej a a de t er sempre múlt iplas ent radas.

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t oca à circulação da inf ormação, capaz de mut ações const ant es que lhe garant issem a sobrevivência operat iva em condições adversas. Tal como as f ormigas que Deleuze e Guat t ari (1995) usavam como exemplo, a ARPANET, e agora sua descendent e diret a – a Int ernet , f oi concebida para sobreviver como um t odo independent ement e do dest ino de cada um dos seus nódulos. Falt ará ainda saber a capacidade de reação dest a est rut ura a sobrevinda de um acident e inf ormát ico global.

Mas qual ent ão a nat ureza do f ascínio, para lá da dimensão operat iva elást ica que parece ser óbvia, que o Ciberespaço exerce sobre est e início de século, sobre os indivíduos que o escolhem habit ar, ainda que t emporariament e?

Ballard (1996) observa que, no passado part íamos sempre do princípio que o mundo ext erior represent ava a realidade, por muit o conf usa ou ambígua que est a se apresent asse, ao passo que o nosso universo ment al, com seus sonhos, esperanças ambições, era o reino da f ant asia e imaginação. Est es papéis, ao que me parece, invert eram-se. O mét odo mais prudent e e ef icaz de lidar com o mundo consist e em part ir do princípio que se t rat a de uma complet a f icção – e que, reciprocament e, o pequeno nódulo de realidade de que ainda dispomos se sit ua dent ro das nossas cabeças. A dist inção clássica est abelecida por Freud (1999) ent re o cont eúdo lat ent e e manif est o dos sonhos, ent re o aparent e real, deverá ser agora at ribuída à pret ensa realidade do mundo ext erior.

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2. 2 O VERDADEIRO NÃO-LUGAR

Com o Ciberespaço encont ramos, pois uma revolução prof unda na concepção dos t errit órios em que nos movemos – dando-nos uma noção de espaço excessivo, superabundant e, que mais uma vez se relaciona com a perda de ref erência. Ora, se est e espaço não se pode caract erizar pela sua ident idade, pela sua hist oria, não pode ser cat alogado, nem circunscrit o, est amos ent ão a f alar de um não-lugar. Podemos pensar t ambém nas aut o-est radas, nos hipermecados e t ambém nos sist emas bancários, espaços que não criam nenhuma ident idade singular, nenhuma relação, soment e indif erenciação. Mas est es são não-lugares f ísicos, muit as vezes est rut urados como uma árvore (embora o uso se encarregue f reqüent ement e de subvert er essa est rut ura). O rizoma da Int ernet coloca out ro t ipo de quest ões e apresent a-se como um t errit ório bem mais rico de possibilidades e experiências. Cont udo, t ambém podemos pergunt ar como é possível at uar de modo relacional no seio dest a nova realidade de um mundo volt ado à individualidade solit ária, como diz Marc Augé (1994). O paradoxo do f uncionament o do rizoma int ernét ico est á int imanent e ligado ao f at o dest e ser const it uído por uma enorme quant idade de nódulos que, apesar de conect ados ent re si at ravés de uma complexa rede de relações, podem f uncionar igualment e como inst rument os de alheament o e alienação do indivíduo, do grupo, da sociedade.

2. 3 DIALÉT ICA DOS FLUXOS DE INFORMAÇÃO

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Para além do correio elet rônico, do ent ret eniment o e das pesquisas, o Ciberespaço af igura-se como f órum on-line capaz de revit alizar moviment os civis, na at mosf era de permut as da cult ura de redes. Organizações não-governament ais, sindicat os, associações prof issionais e part idos polít icos procuram est reit ar vínculos e increment ar campanhas reivindicat órias valendo-se dos ef eit os de amplif icação da Web. São indivíduos e inst it uições ident if icadas com causas e compromet iment os semelhant es, que se int errelacionam, por ligações de dif erent es lugares do mundo, em grupos e list as de discussão, ou conf erências elet rônicas. Elas ainda aliment am a circularidade de cont eúdos ent re suas home pages, at ravés de links que se remet em e se ref erenciam uns aos out ros, por t emát icas correlat as. Conf orme Ullman (2001, p.24):

[ . . . ] as necessidades humanas precisam at ravessar a linha que as t ransf ormará em código. Precisam passar pela membrana semipermeável em que a urgência, a esperança, e o medo são f ilt rados, e soment e a razão segue adiant e. Não t em out ro j eit o. Vírus reais que levam a mort e não chegam aqui. Conf usões humanas de verdade não vivem aqui. Tudo que se quer alcançar, t udo que o sist ema pode of erecer, deve ser desnat urado ao passar para o comput ador. Caso cont rário, o sist ema morre.

Eis aí out ra dimensão da ét ica por int erações: est imula processos t ecnocomunicacionais de inserção polít ico-social de f orças cont ra-hegemônicas, sobrepuj ando os f ilt ros ideológicos e as polít icas edit oriais dos complexos de mídia. É o que acont ece quando um leit or desconf ia da credibilidade do not iciário de um j ornal ou revist a sobre det erminado acont eciment o. Ele pode consult ar dezenas de publicações on-line sobre o assunt o. E se ainda assim não se convencer, rest a-lhe ref inar a pesquisa nos mecanismos de buscas. A garimpagem concorrerá para a f ormação de j uízos sem o cont ágio de manipulações sut is ou grosseiras.

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É indispensável ressalt ar que não concebemos o Ciberespaço como uma esf era aut ônoma, divorciada dos embat es sociais concret os. Ao cont rário, a práxis virt ual guarda uma relação de complement aridade com o real, e não de subst it uição de ant igos disposit ivos de comunicação. O virt ual é uma exist ência pot encial, que t ende a at ualizar-se. A at ualização envolve criação, o que implica produção inovadora de uma idéia ou de uma f orma. O real, por sua vez, corresponde à realização de possíveis j á est abelecidos e que em nada mudarão na sua det erminação ou em sua nat ureza. Já a virt ualização deve ser ent endida como uma mut ação de ident idade, um deslocament o do cent ro de gravidade ont ológico. O indivíduo passa da sit uação at ual, correspondent e a uma solução, para um campo de int errogação que o obriga a propor coordenadas como respost a a uma quest ão part icular. “ Hoj e est amos t odos presos à rede global, digo a mim mesma [sic], presos e ligados a ela. A nova droga: o inst ant e, o agora, o universal” (ULLMAN, 2001, p.35).

Pont o nodal da simbiose real-virt ual, o Ciberespaço sit ua-se na base de criação de uma f ront eira a um só t empo f ísica e abst rat a. Física e t angível, porque sua inf ra-est rut ura operacional é f eit a de int erf aces gráf icas, de modems e de discos rígidos. Abst rat a e int angível, pois os cont eúdos remet em à ordem da represent ação, da cognição e da emoção. Sem at ribut os f ísicos e exist indo independent ement e deles, o Ciberespaço t em f orça simbólica para ampliar as percepções da realidade. O mundo on-line, conf orme Derrick Kerckhove (1997, p.80), herdeiro de Marshall McLuhan, def ine-se como "uma realidade que se pode t ocar e sent ir, ouvir e ver at ravés dos sent idos reais -- não só com ouvidos ou olhos imaginários". O virt ual est ende e expande suj eit os, por meio de t ecnologias que não apenas prolongam as propriedades de envio e recepção de mensagens, como penet ram e modif icam a consciência de seus ut ilizadores, t ransf ormando-se em ext ensões quase orgânicas do nosso ser mais ínt imo.

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O rádio não subst it uiu o j ornal, a TV não acabou com o rádio e a Int ernet não vai ocupar o lugar de ninguém. O que sobressai na Web é a sua ref ormulação permanent e, capaz de impedir a subsist ência de monopólios de dif usão. Os f luxos inf ormacionais inint errupt os, pot encializados pelos recursos da hipermídia, f uncionam como ímãs elet rônicos: mult iplicam-se ciberrádios, os ciberj ornais, as ciberagências publicit árias, os cibervídeos e as cibert elevisões. Os veículos mant êm t raços dist int ivos originais (o som radiof ônico, o audiovisual t elevisivo) e imbricam-se com as f ormas f lexíveis e mult isimbricam-sensoriais inerent es ao ecossist ema digit al. Uma emissora de rádio no ciberespaço não soment e t oca música, int ercalada por not ícias, anúncios e gags dos DJs; promove f aixas de CDs e f it as-demo, exibe videoclipes e shows, compila ent revist as, est oca clippings, seleciona hot links, segment a-se por gêneros (rock, pop, música popular brasileira, música clássica, j azz). Bast a clicar o mouse para deslocar-se no espaço e no t empo sem sair de seu lugar nem de sua hora e viver as mais ousadas avent uras do corpo, da ment e e das paixões, sem perder o j uízo ou t rair o coração.

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2. 4 INT ERAT IVIDADE COMUNIT ÁRIA

O vínculo humano com o Ciberespaço remet e a um espaço virt ual comum, no qual a exist ência prescinde de cadeias de comando. O cresciment o exponencial da Int ernet est á ligado j ust ament e à peculiaridade de const it uir uma esf era pública não-suj eit a a regulament ações exógenas. Com isso, ref orça-se a evidência de que os est at ut os ét icos das comunidades virt uais se const roem no int erior de seus cosmos produt ivos, por mot ivações cooperat ivas e coordenações de qualidades e vocações individuais.

A ét ica por int erações prospera nos grupos, list as de discussão, conf erências elet rônicas ou newsgroups – const elações de células independent es ou int erdependent es, em que se agrupam dist int os idiomas, nacionalidades, níveis de escolaridade e credos. Sem j amais t erem se vist o, os indivíduos conversam, t rocam experiências, inf ormam-se, f azem amizades, namoram, ou simplesment e passam o t empo. Surgem parcerias, aj udas mút uas e laços de solidariedade – inclusive no sof riment o. Famílias de crianças com Síndrome de Down ou de j ovens viciados em drogas repart em esperanças e af lições. Port adores do vírus HIV e aidét icos cont am com inúmeras list as de discussão para debat er seus problemas.

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prat icam-se excessos. Mas por que t ant o espant o? A sociedade est á at ravessada de abusos insuport áveis por met ro quadrado. (Os moralist as calam-se diant e do desemprego est rut ural, da brut al concent ração de renda e das desigualdades sociais, depriment es subprodut os do neoliberalismo.) Por que a Int ernet , sendo uma proj eção da int eligência humana, com int erf aces cada vez mais próximas ent re as ment es e as t ecnologias, haveria de ser exceção?

O grande dif erencial do Ciberespaço consist e no f at o de que as comunidades virt uais, enquant o rizomas, def inem e obj et ivam valores ét icos e códigos inf ormais de condut a. Tais regras não provêm de f ora, das est rut uras de poder, e em nada se conf undem com uma espada de Dâmocles sobre as cabeças dos cibernaut as. “ Achamos que est amos criando o sist ema, mas o sist ema t ambém est á nos criando. Const ruímos o sist ema, vivemos em meio a ele, e somos t ransf ormados” (ULLMAN, 2001, p.88). Devem ser aceit as por consenso e adapt adas às singularidades, prát icas e t radições dos grupos. Paul Mat hias (1997) ref ere-se à "criação ascendent e de valores" em colet ivos virt uais, na medida em que elaboram coexist ências regidas não mais por princípios vert icais e genéricos, e sim pela harmonização de perspect ivas individuais no seio de grupos af ins. As relações humanas t ornam-se int ercambiant es, o que f avorece a t ransmut ação, a reelaboração sist emát ica de valores e raios de compet ência.

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3 A T RANSMUT AÇÃO DOS VALORES

O surgiment o das comunidades virt uais est á at relado a uma ef ervescência social vindo a "cont aminar" t odas as esf eras da cult ura cont emporânea. Est amos a viver uma espécie de "reencant ament o do mundo", no qual os ideais da modernidade est ão a dar lugar a valores alt ernat ivos, de cont ornos ainda imprecisos, mas cuj a disseminação não se pode negar. A f é inabalável na razão, a crença na idéia de progresso e o olhar volt ado para o f ut uro j á não são os grandes ref erent es da época at ual. Progressivament e, aquilo que era considerado f rívolo pelo proj et o moderno, vai cont aminando t odos os domínios da vida social. Na pós-modernidade, a ênf ase recai agora no imaginário, na cult ura do sent iment o, na sensibilidade e na solidariedade, na religiosidade (reliance) e no ideal comunit ário.

Segundo Michel Maf f esoli (1988), essa t ransmut ação de valores corresponde a um moviment o cíclico, onde aquilo que se acredit ava superado ret orna com f orça t ot al. No ent ant o, ele chama a at enção para o f at o de que os element os da modernidade não são "ult rapassados", no sent ido dialét ico do t ermo, ou "acabados" como se cost uma dizer. Eles cont inuam a represent ar um papel na vida social, mas, impercept ivelment e, vão adquirindo out ros cont ornos.

Nest e sent ido, podemos dizer que, na pós-modernidade, exist e uma convivência ent re os element os arcaicos e o desenvolviment o t ecnológico. Comunidades como os "zippies" (uma versão cyber dos hippies da década de 60), por exemplo, mist uram esot erismo e novas t ecnologias. Surge daí uma nova expressão da Cibercult ura, o t ecno-paganismo, colaborando para por f im à cisão moderna exist ent e ent re a cult ura e a t ecnologia e à dicot omia ent re o sagrado e o prof ano. Para os t ecno-pagões, o Ciberespaço est á embut ido numa aura mágica, pot encializador das dimensões lúdicas, erót icas, hedonist as e espirit uais. Ent rar nest e mundo imat erial é como um rit ual, onde a t ranscendência da mat éria e a busca da espirit ualidade são met as a serem at ingidas.

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A quest ão do espaço em que as relações são vividas t ambém passa a ser f undament al nas discussões que envolvem as comunidades virt uais. O monit or do comput ador passa a ser um t ipo de t errit ório de ação. É aqui que as idéias se mat erializam enquant o signos, que os valores ét icos e est ét icos passam a ser compart ilhados por t odos os membros. At ravés do monit or desenvolvemos t odo um rit ual de passagem para o espaço virt ual. A sociabilidade t orna-se present e no monit or do comput ador. É nest e pequeno espaço que a vida ganha corpo, que o out ro se f az present e. Ao mesmo t empo, dividimos um espaço que não é de ninguém. Uma espécie de t errit ório simbólico compart ilhado por t odos os ut ilizadores. O monit or possibilit a desenvolver um rit ual de passagem para est e t errit ório. Um rit ual que se caract eriza pela repet it ividade: o ut ilizador liga o comput ador, conect a-se, acede ao sist ema e passa a int eragir com out ras pessoas. Est a idéia de repet ição, ao cont rário de promover um est ado de monot onia, colabora no sent ido de reaf irmar o sent iment o que um dado grupo t em de si mesmo.

3. 1 SOCIABILIDADE

Tudo começou com os primeiros BBSs (Bullet in Board Syst em) no f inal dos anos 60. O BBS é uma mini-rede que of erece serviços, t ais como consult a a bancos de dados, t ransf erências de arquivos e, claro, t roca de mensagens via correio elet rônico ou em "t empo real". Quando surgiram, não t inham out ros obj et ivos senão servir de bases de consult a e acesso a inf ormações de domínio público. Ent ret ant o, f oram logo incorporados na vida quot idiana e t ornaram-se um meio at ravés do qual a sociabilidade se desenvolveu (O Minit el f rancês é exemplar nest e sent ido. Foi criado nos anos 70 para servir aos f ranceses como um banco de dados e hoj e reúne canais de conversação, grupos t emát icos, cybersex, et c).

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consigo uma ampliação das f ormas de relações sociais. É a possibilidade de uma comunicação mult i-direcional que permit e que os indivíduos possam est ar ligados colet ivament e.

O cont ext o onde ocorre est a sociabilização passa a ser uma int erf ace de comput ador onde os pseudônimos dos ut ilizadores que est ão conect ados num det erminado moment o aparecem no monit or em f orma de list a. Bast a escolher um número associado ao pseudônimo da pessoa com quem se quer conversar e a conexão é est abelecida. A t roca de inf ormações, no ent ant o, só é possível se houver uma af inidade ou int eresse comum ent re as pessoas que est ão conect adas. Caso alguém se sint a "invadido" no seu espaço, pode aut omat icament e não permit ir que est a pessoa aceda mais a sua int erf ace. Para ist o, bast a não responder à primeira ou a qualquer int ervenção que sej a do seu desagrado. Diant e da f alt a de respost a a qualquer pergunt a, t orna-se impossível aceder a sua int erf ace. As conversas com assunt os indesej áveis são f acilment e descart adas.

Para que est e espaço de sociabilidade ganhe vida é necessário que as part es envolvidas no processo de comunicação se t ornem "cúmplices". A priori, est a "cumplicidade" manif est a-se na maneira com que os ut ilizadores se apresent am. Em cada pseudônimo exist e uma dica sobre o que est á por t rás daquele nome. Quando opt amos por conversar com alguém que at ende por “ cineast a” ou ent ão, por “ bisex” , podemos deduzir, sem no ent ant o t er cert eza, quais as mot ivações e os int eresses de cada um. Est a não é uma regra geral, mas aparece como um f ort e indício da f ormação de microgrupos. Assim, redes de amizades são const it uídas ent re os ut ilizadores que t êm af inidades ent re si e que f reqüent am periodicament e o espaço.

Nest a perspect iva a sociabilidade nas comunidades virt uais ganha novos cont ornos. Segundo alguns sociólogos o conceit o de sociabilidade t em como alvo não as relações f ormais, mas as relações espont âneas que marcam nosso dia-a-dia, que cruzam, ref orçam, invert em as relações est abelecidas. Conf orme Parsons (1969, p.20):

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É nest e espaço de sociabilidade que dif erent es pessoas impulsionadas por int eresses diversos se f undem numa mesma unidade onde est es int eresses se realizam. O que une est as pessoas é a busca de uma relação descompromet ida, ef êmera e que preserve um carát er lúdico diant e da variedade de t emas e assunt os abordados.

Poder-se-ia argument ar que as list as de discussão não f ormam uma comunidade porque não há um sent iment o de pert ença no grupo e muit o menos uma ident idade comum ent re os seus membros. Est a visão, no ent ant o, est á ancorada na compreensão de comunidade como um l ócus específ ico, dent ro da sociedade, onde as relações seriam aut ênt icas e verdadeiras, em cont raposição ao domínio das relações abst rat as e vazias da cidade cosmopolit a. Est a noção de comunidade (clássica) é oriunda da modernidade e t em algumas caract eríst icas específ icas como o sent iment o de pert ença, a permanência (em oposição à ef emeridade), a t errit orialidade, a crença nas relações genuínas e aut ênt icas, o ideal do proj et o comum e a exist ência de uma f orma própria de comunicação ent re seus membros (como as rádios e t vs comunit árias, o j ornal de bairro, et c). Dada est a caract erização, est e t ipo de comunidade t enderia a est abilizar-se e inst it ucionalizar-se, consolidando-se numa organização com uma hierarquia def inida, delegação de responsabilidades, papéis inst it uídos ent re os membros e uma represent ação polít ica.

É necessário ent ender que o conceit o de comunidade sof reu algumas t ransf ormações na passagem da modernidade para a pós-modernidade. Por isso, precisamos modif icar as maneiras de se avaliar os reagrupament os sociais. O conceit o de comunidade emocional de Max Weber (1989) pode explicar a f ormação desses grupos que explodem na cont emporaneidade. As caract eríst icas dessa comunidade emocional são o aspect o ef êmero, a "composição cambiant e", a ausência de uma organização, a inscrição local (ent enda-se local aqui como um espaço de proximidade, sej a ele real ou virt ual) e a est rut ura quot idiana.

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pós-modernidade, o sent iment o de pert ença est á present e, independent ement e do f at o dessa comunidade se organizar esporadicament e, de f orma inst ável e ef êmera. O mesmo comport ament o pode ser at ribuído a essas t ribos elet rônicas que muit as vezes saem do ciberespaço e se encont ram In Real Li f e, nos bares, nos clubes ou em f est as. As pessoas, de f at o, sent em-se int egradas no grupo.

As prát icas comunicat ivas ligadas às novas t ecnologias de comunicação deram uma nova dinâmica ao ressurgiment o dos ideais comunit ários. Hoj e, as comunidades virt uais t êm um papel f undament al na int egração da sociedade de massa, resgat ando uma sociabilidade perdida em f unção do pouco t empo disponível para as pessoas f reqüent arem os espaços de sociabilidade t radicionais. As pessoas resgat am nest as comunidades virt uais sent iment os que se haviam perdido diant e dest a complexidade social na qual est ão absorvidas.

Pode-se dizer que est amos a presenciar o "desencaixe dos sist emas sociais". Est a noção f oi criada pelo sociólogo Ant hony Giddens para se ref erir a um processo social moderno. Por "desencaixe", Giddens (1991) ref ere-se ao "deslocament o das relações sociais de cont ext os locais de int eração e da sua reest rut uração at ravés de ext ensões indef inidas de t empo-espaço" (GIDDENS, 1991, p.29). Element o f undament al da f ormação de uma comunidade, o sent iment o de pert ença, "desencaixa-se" da localização e ref orça a idéia de que as pessoas podem t er t odo o t ipo de experiência comunit ária, independent ement e de est arem a viver próximas umas das out ras. O que não implica na subst it uição de um t ipo de relação (de proximidade), por out ro (à dist ância), mas possibilit a a co-exist ência de ambas as f ormas, sendo o sent ido de ligação comum às duas.

3. 2 ENT RET ENIMENT O

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alguns membros. Além dos encont ros em bares e f est as, há sempre uma série de at ividades organizadas.

A quest ão das novas f ormas de sociabilidade, emergent es no f inal do século passado, insere-se num cont ext o onde a pluralidade de sit uações possibilit a a mult iplicidade do eu at ravés das diversas máscaras sociais que o ser humano adot a no quot idiano. O carát er lúdico e a t eat ralidade das relações sociais t ransport am-se para as redes de comunicação at ravés da criação dos inúmeros personagens que povoam o espaço virt ual, encarnados nos pseudônimos.

A relação com o out ro est á f undada no êxt ase, no sent ido et imológico do t ermo (ex-st ase): sair de si. Esse êxt ase é muit o mais ef icaz no que diz respeit o às t ribos, reais ou virt uais. Cada um desses grupos é para si mesmo seu próprio absolut o. Tal coisa supõe que exist a uma mult iplicidade de est ilos de vida, um mult icult uralismo. O cert o é que a sat uração de uma at it ude proj et iva, de uma inst it ucionalidade volt ada para o f ut uro, dá lugar a um increment o nas relações pont uais, que passam a ser vividas mais int ensament e no present e, nas int erf aces quot idianas.

As máscaras assumem, ent ão, um papel cent ral nest as relações pont uais. As int erações nas redes comunicacionais não se dão diret ament e ent re indivíduos, mas ent re imagens. Evident ement e, na vida real, t ambém proj et amos imagens, mas elas est ão acopladas no nosso corpo f ísico, responsável por proj et á-las. Nas redes, t rat a-se de imagens desencarnadas, que só exist em enquant o "puras proj eções" no Ciberespaço.

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A quest ão da permanência é uma das caract eríst icas mais f ugazes nas comunidades virt uais. Ela é marcada pelo carát er ef êmero e não permanent e na inscrição dos seus membros nessa comunidade. Além disso, permanecer não signif ica, necessariament e, que alguém vai conquist ar o st at us de popularidade na comunidade. Em qualquer alt ura é possível mudar o nome. Ist o permit e uma múlt ipla inserção de uma mesma pessoa.

Um out ro aspect o int eressant e das comunidades virt uais t rat a-se da apropriação quot idiana da t écnica e a apropriação t écnica do quot idiano. A oposição moderna ent re a cult ura e a t écnica não se sust ent a mais. Est a dicot omia levou a uma cisão polarizada da t écnica, vist a, por um lado, como a esperança ut ópica na realização da vida social, no progresso e na hist ória e, de out ro lado, como o inimigo público número um, como a encarnação mais f iel do racionalismo inst rument al e desumanizant e.

Um out ro pont o a ser dest acado na análise das comunidades virt uais é a inversão do processo de f ormação do laço de af inidade social. Nas relações sociais t radicionais, quando conhecemos uma pessoa pela primeira vez, o encont ro dá-se f isicament e, no "mundo real". A part ir dest e cont at o inicial e à medida que vamos aprof undando est e conheciment o, t rocamos inf ormações, ident if icamos pont os em comum, enf im, criamos laços de af inidade. Nas comunidades virt uais, o processo é inverso. Int eragimos inicialment e a part ir de int eresses comuns, previament e det erminados e, só ent ão, quando possível, encont ramos f isicament e as pessoas. Ist o é evident e nas list as de discussão da Int ernet , quando essas pessoas se reúnem para discut ir vinhos, f ilosof ia ou pornograf ia na rede, sem nunca se t erem vist o.

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Assim, os namoros que t êm origem at ravés das redes de comput adores parecem at ualizar as hist órias românt icas dos relacionament os que nasceram a part ir da t roca de cart as ent re pessoas que nunca se t inham vist o.

O surgiment o dest as comunidades é part e dest e processo de apropriação quot idiana da t écnica que ganha dimensões mundiais com o desenvolviment o da t ecnologia e o cresciment o vert iginoso das redes t elemát icas. O advent o desses novos meios est á a redimensionar a esf era do social a part ir da inst auração de âmbit os de int eração nunca ant es possíveis. As t ribos elet rônicas, que se f ormam no coração do ciberespaço, são expoent es dest a era t ecnológica que est á a promover o casament o ent re a inf ormát ica e as novas f ormas de sociabilidade pós-modernas. A Cibercult ura é um f enômeno em expansão e como t al sem cont ornos ainda def inidos.

3. 3 CIBER-REBELDES

Todas as t ecnologias criam novos rebeldes. Os "luddit es" ingleses, que no começo da revolução indust rial do século XVIII dest ruíram as máquinas com medo de serem subst it uídos por elas, f oram os primeiros "t ecno-rebeldes". Desde ent ão muit a coisa mudou. O cinema popularizou os "rebeldes sem causa" da geração "baby-boom". Hoj e, novos rebeldes ut ilizam as t ecnologias micro-elet rônicas. Se a revolução indust rial viu a emergência dos luddit es, a Cibercult ura vai ver a dos rebeldes do "f ront e" cibernét ico: os "ciber-rebeldes". As f iguras mais import ant es são os "phreakers", os "hackers", os "crackers", os "cypherpunks", os "ravers" e os "zippies". São esses os novos cowboys da f ront eira elet rônica (LEMOS, 2001).

3. 4 OS PHREAKERS

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Engressia é considerado o pai dos phreakers. Cego de nascença, ele queria encont rar out ros cegos pelas linhas mundiais de t elef one. Um out ro phreaker, John Draper, descobriu por acaso numa caixa de cereais, um apit o que produzia a f reqüência de 2600 hz, t onalidade essa que permit ia realizar chamadas int ernacionais grat uit as. A part ir disso Draper f icou conhecido como Capt ain Crunch (o nome do cereal). A descobert a de Draper incit ou out ros phreakers a produzirem equipament os clandest inos (as "blue boxes") que reproduziam os 2600 ciclos e assim permit iam a viagem grat uit a pelas redes de t elef one mundiais.

Hoj e o "phreaking" é at ualizado com a pirat aria de t elef ones celulares, esses, pelo t ipo de f uncionament o, mais próximos de um comput ador que de um t elef one. A f ront eira ent re os phreakers e os hackers desaparece (LEMOS, 2001).

3. 5 OS HACKERS

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devolver e most rar as f alhas do sist ema. Por isso os hackers t ornaram-se conhecidos como os "Robin Wood" da Cibercult ura. O que import a aqui é vermos que, pela t ecnologia, os hackers denunciam a própria racionalidade t ecnológica e o poder const it uído por grandes empresas e inst it uições governament ais. Ent ret ant o, nem t udo são boas int enções (most rar as f alhas, democrat izar a inf ormação): surgem os crackers (LEMOS, 2001).

3. 6 OS CRACKERS

Os crackers são os verdadeiros "cyberpunks", ou punks da cibernét ica. Eles são a versão obscura dos hackers. Aqui a at it ude punk penet ra no reino assépt ico da t ecnologia. Os crackers pirat eiam programas, penet ram em sist emas com o int uit o de dest ruir t udo (dai o nome "cracker"), int roduzem poderosos e dest rut ivos vírus de comput ador. A idéia é acabar com a sociedade assépt ica da inf ormát ica e dest ruir ao máximo os grandes sist emas de comput adores. Nesse sent ido, os crackers são o pesadelo da modernidade t ecnológica. O f enômeno é planet ário. Com hackers e crackers as redes parecem vulneráveis. Pela prot eção individual no Ciberespaço, aparecem assim os punks da cript ograf ia ou cypherpunks (LEMOS, 2001).

3. 7 OS CYPHERPUNKS

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míst ica da cabala e do pensament o hermét ico encont ra ressonância com a cript ograf ia de dados elet rônicos. Dent ro desse mesmo espírit o esot érico organizam-se os t ecno-pagãos: os ravers e os zippies (LEMOS, 2001).

3. 8 OS RAVERS E ZIPPIES

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3. 9 CYBER-REBELDES?

Esses rebeldes da Cibercult ura most ram-nos como a "rua", na sua dimensão quot idiana, encont ra f ormas de descarregar t odo o seu vit alismo (para o melhor ou o pior) a part ir da ut ilização das t ecnologias micro-elet rônicas. A t ecnologia que sempre f oi vist a como um f at or de separação, de homogeneização e de racionalização vê-se invest ida pelas f orças (simbólicas, imaginárias, sócio-cult urais) inibidas durant e dois séculos de modernidade indust rial. A mensagem é simples: se um ret orno a uma época pré-t ecnológica é impossível, o melhor a f azer é t omar as t ecnologias nas mãos. No ent ant o, se o f ut uro não exist e mais e se as ideologias se esgot aram, se não exist e mais uma rebelião possível, mas rebeliões ef êmeras, est ét icas e lúdicas, presas no "aqui e agora". Assim, os cyber-rebeldes não podem procurar a revolução, mas revoluções pont uais. A esquiva, o descaso e a maleabilidade são aqui mais import ant es que um at aque f ront al. Como disse muit o bem um zippie inglês: "ao invés de lut ar cont ra o sist ema, nós est amos a ignorá-lo. E essa é a últ ima revolução". Af inal se não exist em mais ideologias, cert ezas ou esperanças, cont ra quem, e com que obj et ivo, poderia haver uma revolução? (LEMOS, 2002)

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4 COMUNIDADE E IDENT IDADE NO CIBERESPAÇO

O Ciberespaço é clarament e o principal ent re as novas t ecnologias de inf ormação a promet er impact ar signif icat ivament e as circunst âncias quot idianas de t odas as relações sociais. O Ciberespaço é um exemplo real de uma rede de comput adores ampla e ext ensa, que permit e a cada indivíduo t er igual voz ou, pelo menos, a mesma chance de f alar. Descobrindo-a, um número crescent e de pessoas se encant a com sua capacidade t ecnológica de divulgar legit imament e suas próprias expressões individuais, t ant o quant o pela liberdade que ela f ornece em relação às t radicionais barreiras de t empo e espaço. Quest ão cent ral a seu respeit o é se, como se cost uma af irmar, esse poder e a capacidade de ent rar cada vez mais f acilment e em cont at o com um número sempre crescent e de pessoas com af inidade de pensament o f ort alecem o sent iment o de comunidade.

Obviament e, comunicação e comunidade são expressões que possuem uma linhagem comum. Comunicação vem do lat im communi s (comum) ou communi car e (est abelecer uma comunidade ou uma 'comunalidade'). Apesar de a comunicação servir de base ao conceit o de comunidade, t odavia não deve ser equiparada a ele. Um indivíduo pode se comunicar com out ro sem considerá-lo um membro de sua própria comunidade. Com isso at é que pont o pode-se dizer que o Ciberespaço f acilit a a f ormação de "comunidades"?

O Ciberespaço, para nossos propósit os, é o que f ornece uma inf ra-est rut ura t ecnológica para comunicações mediadas por comput adores (CMC) at ravés do t empo e espaço. At ravés dele, porém, surge uma f orma de co-presença virt ual, result ant e das int erações elet rônicas ent re os indivíduos, que não se rest ringe aos t radicionais limit es de t empo e espaço: est a é a base do que é geralment e ref erido como "comunidade virt ual".

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sent ido social aos encont ros ciberespaciais e nos most ra como uma dialét ica individual f lui sem problemas a part ir do colet ivo. Quest ionamos o grau em que a idéia t radicional de comunidade est á de f at o present e nas "comunidades virt uais". Quant o mais pessoas f orem at raídas para os novos meios de comunicação, mudanças concomit ant es no conceit o de comunidade e ident idade vão emergir inevit avelment e.

A nat ureza "virt ual" das comunidades virt uais deveria nos prevenir em relação a f azer qualquer caract erização simples de suas exist ências. Os observadores dessa f orma de comunicação cost umam associar o t ermo com os próprios t it ulares de at os comunicat ivos. Dest art e, f reqüent ement e ouve-se f alar de uma f orma part icular de comunidades e associada aos MUDs (mul t i -user dungeons) ou mesmo as list as de discussão. Out ros, porém, escolheram uma abordagem dif erent e. Kumiko Aoki (1994), por exemplo, dividiu o est udo de comunidades virt uais em t rês agrupament os: 1) aqueles que coincidem t ot alment e com as comunidades f ísicas; 2) aqueles que coincidem com comunidades reais em algum grau; e 3) aqueles que são t ot alment e separadas das comunidades f ísicas (AOKI, 1994). Cada uma dest as abordagens t em seus mérit os. Para nossos propósit os, ent ret ant o, as comunidades virt uais não são necessariament e produt os de um meio part icular de est rut urar a comunicação, nem mesmo aquelas explicit ament e organizadas em relação com um espaço f ísico. Pelo cont rário, enquant o "corpos" ou "ocupant es" do espaço conceit ual as "comunidades virt uais" devem ser reconhecidas como const rut os ideais.

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(1996) em perspect iva e pergunt ar em que grau est as podem ser vist as como expressões públicas ou privadas.

"Comunidade é t ermo amplament e ut ilizado para se ref erir a um t ipo ideal de relações sociais conhecido como Gemei nschaf t e cuj o embrião se acha nas relações individuais de parent esco". (TÖNNIES, 1947, p.37). Def inido sucint ament e, o t ermo engloba um conj unt o de relações volunt árias, sociais e recíprocas, que est ão unidas por um imut ável "sent iment o de ser um nós". Gemeinschaf t cont rast a t ipicament e com a Gesel l schaf t, ou associção impessoal. A Gesel l schaf t é geralment e ref erida em relação ao sent iment o ut ilit arist a que caract eriza a vida moderna, indust rial e urbana. A comunidade, ao invés, pressupõe a solidariedade ent re t odos aqueles que a int egram: é uma ent idade que é vist a como result ado do compromisso, envolviment o, responsabilidade e respeit o mút uos ent re a sociedade e seus membros.

Ent rement es, a comunidade é const ruída por um f luxo de inf ormação suf icient e e signif icat ivo de "nós". Est e "nós", ou a ident idade colet iva dele result ant e, est rut ura-se em volt a de "eus" que se vêem como semelhant es. Nest e sent ido, a comunidade, como qualquer f orma de comunicação, não é int eirament e compreendida sem a idéia de "eu". Essencialment e, isso implica que o que é necessário para a f ormação do indivíduo é uma organização de at it udes comum própria a um grupo. Um indivíduo é uma personalidade porque ele pert ence a uma comunidade. Ref let e-se nest a perspect iva a t radição agost iniana de int erioridade, segundo a qual "a ident idade mais prof unda de uma pessoa é aquela que une a pessoa a seus companheiros humanos: há algo comum em t odos os homens, e t er cont at o com est e element o comum é t er cont at o com o seu verdadeiro eu" (RORTY, 1991, p.196).

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t ornamos mais sensíveis para com a sit uação alheia. A procura de comunidade t orna mais dif ícil marginalizar as pessoas dif erent es de nós.

Em cont rapart ida, a comunicação por comput ador pode libert ar os indivíduos do j ugo das coações t radicionais devido ao acesso à inf ormação; proj et os individuais e campos específ icos de int eresse podem ser obj et ivos de maneira mais f ácil at ravés de f ocalizações cada vez mais est reit as. Nest e cont ext o, busca-se o eu, mas não, como se pensa, na complet a ignorância a respeit o do out ro. Apenas o out ro é relegado à condição de subst rat o do eu, do si-mesmo. Ent ão, o suj eit o empenhado ent ra em conversação apenas com a f inalidade de f irmar a si mesmo de f orma verdadeira. A pessoa se relaciona consigo mesma, mesmo quando parece est ar se relacionando com os out ros.

Parece-nos que est e é um perigo part icular da comunicação via comput adores. O solipsismo, a preocupação ext remada e t olerant e de um indivíduo com as suas próprias inclinações, é pot encialment e engendrado nessa t ecnologia. Ocorre uma reif icação do espaço privado, quando a visão a respeit o do mundo própria de uma pessoa age como uma redoma prot et ora cont ra a violent a ação do admirável mundo novo da inf ormação. Trat a-se de uma noção na qual o out ro ainda exist e. A import ância de nossas relações com out ros para a af irmação de nossa aut o-ident idade j amais cessa, porque a aut oconsciência pressupõe o reconheciment o de si próprio na pessoa do out ro. Cont udo, quando o privado se t orna mais abrangent e e a imagem de mundo própria de uma pessoa se t orna mais f ort alecida, pode-se perder a visão do out ro.

Referências

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