• Nenhum resultado encontrado

4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.5 Operacionalização da Pesquisa-Ação

4.5.1 Entrada no Campo

Em outubro de 2014, antes de definir a escola da Rede Municipal de Recife/PE que faria parte do estudo, realizei um contato por telefone para conversar com a coordenadora pedagógica, e fui informada que no momento ninguém ocupava a função. Então, conversei com uma das professoras do AEE para discutir os objetivos da tese e a necessidade de uma parceria para que o trabalho pudesse acontecer, inclusive com a saúde, por meio do PSE.

A professora colocou a insatisfação em relação às atividades descontinuadas do PSE e que a presença dos profissionais de saúde na escola estava levando a uma sobrecarga de trabalho e emocional, pois a escola se programa, comunica aos pais, e muitas vezes as ações pactuadas não acontecem. Falou ainda do compromisso e envolvimento dos professores e pontuou a necessidade de ouvir e conversar com esses professores. Nesse momento, fui convidada a apresentar o meu projeto na reunião pedagógica.

Ainda em outubro, fui à escola para conhecer o ambiente escolar. Fui muito bem recebida por todos. Apesar da escola ser pequena, e não parecer de educação infantil e ensino fundamental (senti falta dos números, das cores e das letras nas paredes), as pessoas trazem sorrisos, deixando o local leve. Apresentei meu projeto para a futura diretora da escola, pois a diretora que estava no momento, iria se aposentar, e preferiu que a diretora que iria assumir ficasse ciente da situação, e que decidisse aprovar ou não a minha entrada no campo. Vários professores perguntaram se eu estava a mando da secretaria de educação, e perguntaram algumas vezes como seria a fiscalização das atividades.

Pergunto se posso olhar as fichas de preenchimento do PSE, e visualizo a informação dada durante a disciplina de seminários de pesquisa (várias crianças apontadas como tendo dificuldade de aprendizagem na ficha de avaliação global, e nenhuma ação realizada, apesar do registro da escola de que a criança apresentava dificuldade de aprendizagem).

A vice-diretora da escola (assumiu como diretora em 2016) ficou com o projeto para melhor apreciação e solicitou que eu voltasse à escola em 2015, pois não havia atividades do PSE pactuadas para o final do ano; colocou também que em janeiro teria algumas reuniões de planejamento, e que eu poderia participar.

Como combinado, voltei à escola em janeiro de 2015. Nesse momento, os professores estavam de férias, mas tive oportunidade de explicar com mais detalhes a proposta de pesquisa à direção, e há um bom acolhimento. Foi feito um acordo com a direção de que ficaria participando das atividades na escola até que o projeto fosse qualificado e aprovado pelo Comitê de Ética, para poder iniciar a coleta de dados.

Conheci todos os funcionários da escola, o que possibilitou que a minha presença não causasse estranheza durante a coleta de dados e implementação das ações, assim como facilitou a circulação nas salas de aula e ser conhecida também por pais e alunos fora do ambiente escolar. Fiquei conhecida como a “professora de apoio voluntário”, sendo delegada a realizar algumas funções, e me dispus para outras, visto que o número de professores e funcionários é insuficiente para a demanda da escola.

Em março, chegou a nova coordenadora pedagógica na escola, com muita dificuldade de adaptação e aceitação pelos professores. Aos poucos, ela foi conseguindo conquistar os professores e executar algumas atividades planejadas, agradecendo o meu apoio, principalmente na realização das atividades junto aos professores.

Durante o ano de 2015, participei de todas as atividades realizadas na escola, momento em que pude observar a complexidade do ambiente escolar: a solicitação de um material para educação infantil que não é autorizado (pois a escola é cadastrada como de ensino fundamental, não recebendo insumos destinados a atender as necessidades da educação infantil), a dificuldade para realizar confraternizações e festas comemorativas, as repercussões quando algum professor está de licença médica, a violência constante na comunidade (tendo sido assaltada por 2 vezes), passar logo após um tiroteio na rua da escola, levar as crianças que não estavam “sentindo-se bem” em casa, ouvir e ver desrespeitos com as crianças e professores dentro da comunidade, buscar alguém da família em casa e acompanhar a um serviço de saúde, pois os responsáveis não atendiam e a criança necessitava de assistência médica.

Ao observar a dinâmica da escola, percebi a dificuldade que teria para realizar as entrevistas da 1ª etapa do projeto, bem como para montar os grupos operativos, e discuti possibilidades com os professores, direção e coordenação pedagógica.

Em novembro de 2015, projeto já qualificado e encaminhado para o Comitê de Ética, participei junto aos professores (manhã e tarde) do planejamento de 2016; mais uma vez, tive abertura na reunião para falar do projeto, e alguns professores já se colocam como participantes para uma construção coletiva que abarque as dificuldades pela escola e pela saúde, sendo o projeto inserido no plano de ação anual da escola (ANEXO A).

Os professores falaram da dificuldade de diálogo e de realizar as ações que são pactuadas com a equipe de saúde, no entanto destacaram a participação da dentista, visto que ela sempre realizou ações na escola, mesmo antes da implementação do PSE. Colocaram ainda que ela faz uma pactuação com a escola no começo do semestre e cumpre, dentro das possibilidades, as atividades, avisando com antecedência quando existe alguma impossibilidade, o que diverge do que acontece com as ações pactuadas com o PSE.

Novamente foi colocado pelo grupo a falta de tempo dos professores, que dificultaria qualquer ação em grupo, pois os alunos não têm intervalo, já que a escola não tem espaço para recreio, nem alguém que possa olhar as turmas para que estes fiquem dando entrevistas, porém outros professores apontaram a importância da pesquisa e ressaltaram que, como eu sou “professora colaboradora da escola”, daria um jeito.

Com o projeto ainda no Comitê de Ética, discuti com a coordenadora pedagógica, a diretora e a vice-diretora sobre as possibilidades de conversar com os professores em grupo, e se seria possível levar comigo uma pedagoga, para ficar em sala (em planejamento prévio com o professor regente) no momento das entrevistas. Elas colocam que acreditam não haver problema, mas que falariam primeiro com a supervisão, que liberou. Falam sobre a dificuldade devido à demanda de trabalho e à sobrecarga imposta, além dos temas, muitas vezes impostos pela secretaria de educação, que devem ser trabalhados.

Em janeiro de 2016, com trabalho já aprovado pelo Comitê de Ética, levei a autorização para a escola, e sou apresentada oficialmente à nova diretora (pessoa já envolvida com o projeto). A coordenadora pedagógica me apresenta o tema que deveria ser trabalhado durante o ano “o aluno como protagonista”, e fui convidada a pensar junto com os professores, em como poderíamos trabalhar.

Após o retorno das aulas, voltei a conversar com a coordenadora pedagógica, e ficou acordado que só abordarei os professores após o carnaval e, ao se discutir a temática enviada pela prefeitura com os professores, fui convidada a trabalhar junto aos alunos do 5º ano. Logo conversei com a pedagoga que está auxiliando na pesquisa e com os professores das turmas, e ficou decidido fazer uma conversa com os alunos, para levantar as temáticas que eles queriam trabalhar, pois o principal objetivo seria favorecer o protagonismo dos alunos.

A turma da manhã decide trabalhar com os temas “Zika, Chikungunya e Dengue”, e a turma da tarde com o tema “Poluição”. Dessa forma, é realizadei um planejamento para discussão dos temas e apresentei aos professores regentes, sendo posteriormente trabalhado com os alunos.

Em todo processo da minha coleta de dados estive apoiando as atividades propostas pela escola e tentando favorecer a dinâmica do ambiente escolar.