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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4 Identificação da situação (1ª Etapa)

5.4.3 Rede de Apoio

Tema Geral, formado apenas pelo Tema específico: Possibilidades

Possibilidades

Tema específico formado por quatro códigos: [PAPEL DA ESCOLA]; [POSSIBILIDADES]; [POTENCIALIDADES DA ESCOLA] e [PROMOTOR DA AUTOESTIMA], com 78 citações, no qual os entrevistados colocam a necessidade do contato da criança com os livros, com a leitura e com o mundo lúdico para fortalecer suas potencialidades.

“Tem crianças que já conhecem as histórias, que já sabem, a gente percebe que as crianças têm, assim, uma historinha lida em casa, eles já melhoram, na interpretação do texto... Tem pais que já colocam a criança na escola com os livrinhos, os lápis para eles desenvolverem, colorir, criar. Essas crianças têm mais facilidade, pois isso ajuda” (E01).

“Estás vendo como estão concentrados ‘lendo’ (a professora mostra as fotos do celular, com as crianças do grupo IV deitadas no chão lendo). E aí eles pegam e ficam conversando mesmo, eles não sabem ler, mas sabem a história de tanto ouvir, aí fica, quem vai contar sou eu. Essa mesmo gosta de contar história (aponta para uma menina da foto). Aí eu incentivo, vão amassar o livro? Vão! Mas se você não der a oportunidade deles estarem folheando as coisas, eles nunca vão querer saber do livro, vai ficar lá só de beleza. Eu gosto, eu gosto de fazer arte, entendeu?” (E11).

“Eu tenho um projeto na minha sala, aí eu conto para eles todos os dias uma história, aí eu digo que no final do ano eu vou premiar o aluno que lembrar de mais histórias que eu contei, eu digo o título, quem é o autor, e eu tinha um avental, mas aí no dia-a-dia, a gente acaba não usando, mas a hora do conto eu faço com eles e vou improvisando” (E20).

“Apesar da falta de espaço, a escola está sempre preocupada com o brincar, com o resgate das brincadeiras de antigamente, brincadeira de roda, amarelinha. A criança chega na sala de aula sem saber brincar, se a gente soltar as crianças no recreio as crianças vão correr aleatoriamente, vão correr e gritar, como você viu” (E07).

“Ensinar a brincar também, ensinando que brincando também se aprende, que o lúdico é muito importante, que ele aprende sem saber que tá aprendendo, que ali está sendo uma aula. Aí elas perguntam, tia, que horas a senhora vai passar tarefa?” (E07).

“O brincar com certeza é uma forma de aprendizado. A gente percebe muitas vezes que o aluno se abre através da brincadeira. Começam a demonstrar realmente que eles desejariam ou queriam alcançar, então a brincadeira é importante, só que os espaços são pequenos” (E12). “Compro corda, eu compro dominó e deixo lá dentro do armário, e aí, às vezes na sexta feira eu digo que é dia de filme, de música, eu coloco música ambiente para fazer o alongamento, eu coloco cantigas de roda, aí eles adoram...Eu coloquei cortina, coloquei o alfabeto, coloquei

um relógio de parede para mostrar a hora a eles, e eu digo, olha, quando chegar no oito toca, e eles olham e dizem: tia, tá chegando no oito, aí eu digo: como é que eu vou ensinar a hora ao meu aluno, se ele não tem contato com relógio, em casa eu não vou adivinhar se eles têm, então na escola, como eu vou querer que eles saibam as letras do alfabeto se eles não visualizam, o visual é importante, e a gente vai aprendendo” (E20).

“Ofertar lazer, porque a gente sabe que lazer é importante para uma criança. Aí ele sai da escola e vai pra casa, aí moram ambiente que a casa é pequenininha” (S01)

O modelo de representação, segundo Sameroff (2009), possibilita que a criança modifique características pessoais a partir da sua relação com o mundo, e toda relação de troca pode funcionar para facilitar ou inibir os traços de personalidade. Dessa forma, o lúdico, o brincar, pode ser uma experiencia positiva para auto regulação do comportamento.

Sabendo do ambiente de vulnerabilidade em que a escola está inserida, os entrevistados se preocupam também em valorizar o aluno, de forma que preservem e/ou promovam a autoestima, o que Sameroff (2009) chama de regulação pelo outro.

“O ambiente escolar demonstrar interesse pela criança, incentivar, valorizar o aprendizado da criança para a criança, faz com que ela se sinta melhor. A autoestima é um negócio tão falado, não é? Criar uma autoestima na criança, uma vontade de ir adiante” (E03).

“Eu digo pode, você pode ler, daí ele começou a querer juntar as sílabas e começar a ler, que ele percebeu que ganhava no jogo da velha pra todo mundo, porque ele só perdia na leitura. Aí ele começou a se interessar pela leitura, porque ele viu que ele podia se igualar aos outros, porque antes ele se sentia inferior” (E19).

Segundo Teixeira e colaboradores (2013), não se pode apontar um único responsável pelo fracasso escolar decorrente da baixa autoestima e desmotivação, pois há vários fatores que podem contribuir e estar inseridos em um contexto escolar emblemático. Assim, é importante que o professor reflita sobre como elevar a autoestima do aluno, tendo como objetivo fazê-lo compreender que todos possuem a capacidade de aprender.

Somado a isso, a necessidade de parceria com a família, e a necessidade de aproximar as famílias da escola, para que haja fortalecimento da rede de apoio das crianças, famílias e professores fica clara nas falas:

“Eu gostaria que tivesse melhor interação entre família e escola, que tivessem profissionais aqui dentro da escola que pudessem orientar melhor esses pais e montar projetos em que a família realmente estivesse mais presente na escola, mais presente na sua função que é orientar a criança. Ter uma conversa para orientar ‘sobre a função da família que é educar, proteger e cuidar da criança em todas as suas necessidades’... Uma ação pra ter retorno, tem que com certeza incluir a família, porém, por mais que a gente tente incluir a família na escola” (E07). “Fazer um cartaz, um painelzinho com fotos, pra quando eles chegarem ali, começar a ver, é estimular os pais, que também são pessoas leigas, do que é a função da escola, porque acho que eles deixam tanto porque não sabe o por que as crianças estão aqui... eles verem o que os meninos estão fazendo nas salas, qual esse desenvolvimento, como eles chegaram naquele cartaz pronto, o que eles fizeram no decorrer desse ano...tentar fazer palestras para atrair os pais aqui para a escola, em todos os sentidos, as obrigações de temas específicos para eles se cuidarem, porque vem para escola escutar alguma coisa, e ali, naquele espaço, ele está aprendendo....E essa parte, eu acho que é responsabilidade nossa” (E08).

“Eu acredito que é porque a escola não soube ainda fazer um momento que atraísse os pais, porque se fizessem momentos, quem é que não gosta de ser agradado, dia dos pais um café da manhã, não é? Uma pessoa para dar uma palestra, e que tenha comida mesmo, eles não gostam? Que tenha! Às vezes eu digo, vamos fazer um café da manhã, um lanche, aí cada professor traz alguma coisa, quem é que não gosta? Os alunos gostam, a gente gosta de ser agradado no ambiente de trabalho quando tem um lanche diferente, uma coisa e outra, os pais também” (E20).

A relação harmônica entre a escola e a família é fundamental para o desenvolvimento intelectual e afetivo do aluno, e, apesar de se constituírem de entidades distintas é necessário o diálogo para promoção da aprendizagem (LOPES et. al.,2016). Sameroff (2009) também aponta a influência das entidades família e escola, bem como a necessidade de pontos de intercessão para o bom desenvolvimento humano. Pois, quando os pais entendem a importância da educação, o resultado pode ser outro na vida da escola, como relatado pelo professor: “Os pais dela não sabiam ler, minha primeira turma e eles não sabiam ler, e a menina se desenvolveu de uma maneira, porque a mãe dizia (eu ficava impressionada), ela dizia que a tarde, os meninos daqui largavam e ela dizia ‘fulano, vem cá, lê aqui pra minha filha, qual é a

tarefinha?’, passava um tio, uma prima e ela dizia ‘lê aqui’, e essa menina saiu da sala lendo, então teve um incentivo familiar, teve uma ajuda e muito importante na vida dessa menina” (E14).

“Tem que ter essa ajuda da família, é o fator principal é a família, é ‘pegar no pé do professor’, como é que tá a minha filha? Porque não é pra chamar só quando o aluno está comportado, mas sim para receber um elogio. Eu acho que o que falta realmente é essa questão da família” (E14).

Além desse encontro (família – escola) poder favorecer o desenvolvimento da criança, possibilita também o crescimento da escola e família como entidades sociais.

Em relação ao conformismo social, principalmente pela violência presente no dia-a-dia, os entrevistados enfatizam a necessidade de uma mudança nesse contexto e de uma parceria com a saúde para que isso aconteça, além de que se conheça melhor o contexto das famílias.

“Em relação às violências que eu falei, ajudaria com palestras de conscientização, só trazendo informações para eles verem que não é normal, que viver mal não é normal. Acho que tem essa impressão de achar que ‘minha vida é essa, vou viver sempre assim, eu escolhi isso para mim, vou aguentando’...eu casei com ele, eu vou ter que aguentar... a escola tem que conscientizar a população de melhor de vida, e não aceitar aquilo que ‘impõem’ para vida dela” (E04). “Uma assistente social e sua equipe, que fosse realmente ao local da família, pra entender melhor toda realidade dela, acompanhar o que realmente ela está passando, socialmente falando isso pesa muito pra gente saber” (E08).

No entanto, a complexidade na produção das desigualdades escolares em grandes cidades do Brasil mostra que aspectos tais como moradia, representações sociais, contornos de políticas educacionais, falta de investimento público e de segurança, fragilidade na formação continuada dos professores e dificuldades relativas ao ensino e gestão da sala de aula podem gerar práticas desvantajosas para as populações mais pobres e distantes do universo escolar. Assim, o enfrentamento da desigualdade escolar que se produz em contextos de vulnerabilidade social nos territórios exigiria mudanças profundas e amplos esforços na implementação das políticas educacionais, necessitando reflexões sobre a amplitude dos desafios para o aumento da equidade e qualidade da educação brasileira (RIBEIRO; VÓVIO, 2017).

Considerando os vários aspectos que podem estar atrelados ao fracasso escolar, os participantes do estudo, sobretudo os profissionais de saúde, apontam a necessidade de uma equipe específica, voltada para as necessidades das escolas/famílias/crianças, e não uma sobreposição de atribuições das equipes de saúde da família.

“Eu penso que a equipe que tivesse PSE teria que ter uma população menor pra que ela se volte mais” (S01).

“Eu acho que deveria ter uma equipe, e acho que não é uma fala só minha, deveria ter uma equipe, porque as equipes têm uma demanda grande, o NASF mesmo cobre 5 equipes e, assim, se todas as equipes cobrassem mais como uma ou outra equipe cobra, talvez a gente não desse conta” (S04).

“A educação, as secretarias de educação podem estar mais próximos das escolas pra esses casos, é, eu não sei como se dão os fluxos desses casos dentro da educação, mas a minha percepção é de que eles não chegam muito pra ajudar, então a escola fica dependendo, pelo menos recentemente, do que o PSE pode dar, no que a saúde pode ajudar...talvez até criação de equipes voltadas exclusivamente para o PSE” (S08).

5.5 Projetação de soluções – Aplicação das soluções – 1ª fase da Avaliação do