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na área de português para estrangeiros

2.2 o português brasileiro como língua transnacional

2.2.2 entre a lusofonia e a integração latino-americana

Como vimos nas capas dos livros didáticos que compõem o córpus, o uso de “português” e “português língua estrangeira” refere-se exclusivamente, em determinados espaços, a “português brasileiro”; em outros espaços, pode referir-se a “português europeu”, ou, ainda, a “português língua internacional”, entendido como uma categoria que abrange todas as variedades nacionais do português que integram a “lusofonia”.

Na Linguística, são de uso comum os termos português brasileiro (PB) e português

europeu (PE), que se referem, para parte significativa dos acadêmicos, a sistemas linguísticos

cujas diferenças não podem ser reduzidas a questões de variação. O posicionamento de Bagno (2001b) sobre essa questão, que subscrevemos, é de amplo conhecimento entre linguistas:

E como ficam, nesse caso, o português do Brasil e o português de Portugal? Me parece que já chegamos num ponto das trajetórias desses dois conjuntos de variedades, passados quinhentos anos, em que as diferenças começam a suplantar as semelhanças. Boa parte da tradição filológica sempre negou essas diferenças porque se apoiava exclusivamente, para suas análises, em material escrito, sobretudo na produção literária,133 fazendo comparações entre

romancistas, poetas e dramaturgos dos dois países. Aí, sim, fica fácil achar mais semelhanças do que diferenças. Se partirmos, no entanto, para o estudo das variedades faladas, e se levarmos em conta também os problemas de natureza pragmática, as diferenças entre português do Brasil e português de Portugal se acentuarão muito (BAGNO, 2001b, p. 168-169).

internacionales, en muchos casos de libros de manuales y textos para la enseñanza de idiomas. […] La razón principal de las mayores importaciones industriales está dada por los altos costos argentinos, que en este informe damos por separado (ver pág 8, la comparación entre costos locales y extranjeros para el mismo tipo de libro, que llegan a ser el doble de los que se pueden obtener en otros países impresores de la región)” (CAP, 2017, p. 2).

133 Um exemplo de posicionamento contrário conhecido, mencionado e posteriormente refutado por Marcos Bagno

é o do gramático Evanildo Bechara, que afirmou, em reportagem da Superinteressante sobre a língua portuguesa recuperada pelo autor, que “não há nada no português brasileiro que não exista em Portugal” (BECHARA, 2000 apud BAGNO, 2001b, p. 167).

O preenchimento semântico-pragmático de “português” e “língua portuguesa” é, portanto, objeto de disputas em âmbitos institucionais nacionais e internacionais, que derivam de políticas linguísticas internas dos países, marcadas, como vimos, por distintos posicionamentos acerca de sua definição e ensino (por exemplo, no Brasil, posicionamentos descritivos e normativos do que seja “o” português [brasileiro], cujos conflitos por vezes são midiatizados no espaço público), e políticas linguísticas externas, marcadas por uma polarização entre Brasil e Portugal, em detrimento de outros países que declaram “português” como língua oficial (disputa que ficou evidente, por exemplo, quando do estabelecimento e da implementação do Acordo Ortográfico de 1990, recentemente reavivada pela defesa que algumas lideranças políticas fizeram da saída do Brasil do acordo).134

Essa espessura histórica do sintagma é bem explicada por Diniz (2010) por meio do recurso aos conceitos de metonímia e metáfora, que explicam seu funcionamento discursivo no PLE e na lusofonia:

Devido ao acontecimento da colonização, a gramatização brasileira do português como língua nacional se funda sobre a diferença em relação a Portugal, significando-a mesmo em sua instrumentalização como língua estrangeira – ainda que, neste último processo, a diferença não seja, em geral, explicitamente polemizada. Instaura-se, dessa forma, um processo contraditório na memória discursiva, na medida em que o Brasil, país marcado por políticas linguísticas portuguesas, passa a estabelecer com Portugal uma relação de litígio, disputando com ele espaços políticos, econômicos e simbólicos. Nesse sentido, a gramatização brasileira do PLE pode ser vista como uma nova forma de historicização da língua brasileira. Poderíamos pensar, desse modo, que, em sua construção discursiva como língua estrangeira, o português funciona como metonímia do Brasil, uma vez que uma “parte” dele é “exportada” no processo de gramatização. Tal processo se contrapõe à construção discursiva do português como língua nacional, em que a língua funciona como metáfora do território que estava se constituindo como Estado Nacional, ou, possivelmente, à gramatização portuguesa do PLE, em que – conjecturamos – o português tende a ser colocado como metáfora da comunidade dos países de língua portuguesa (DINIZ, 2010, p. 137).

134 A esse respeito, cf. notícias veiculadas à época da implementação, como a narrativa feita pelo El País na

reportagem “Portugal resiste à nova ortografia” (disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/ 2015/05/07/cultura/1431024107_637253.html), e do debate havido em setembro de 2019 na Câmara dos Deputados do Brasil, divulgado na notícia “Debatedores criticam acordo ortográfico; ministério destaca unidade

da língua portuguesa” disponibilizada em seu site institucional oficial (disponível em

https://www.camara.leg.br/noticias/580134-debatedores-criticam-acordo-ortografico-ministerio-destaca-unidade- da-lingua-portuguesa/). Últimos acesso em: 10 out. 2019.

A tensão indicada por Diniz (2010), constitutiva das condições de produção de mídiuns de ensino de PLE, é inescapavelmente vetorializada, também, nos materiais didáticos. No que diz respeito à política linguística externa, ou seja, fora da circunscrição do Estado-nação, a inserção do português brasileiro em uma comunidade internacional abriga contradições constitutivas relativas a dois projetos de língua distintos levados a cabo pelo Estado brasileiro:

1) a construção do Brasil como partícipe do projeto da Lusofonia, que prevê uma gestão compartilhada da língua portuguesa tomada como língua internacional. Esse projeto abriga uma tensão entre Brasil e Portugal na ocupação de uma posição central de autoridade sobre a língua, relegando outros países integrantes da CPLP à periferia do espaço lusófono, como “um vértice” do triângulo “Brasil, Portugal, PALOPs”, como afirma Faraco (2012a) em menção ao escritor moçambicano Mia Couto – o que se pode verificar na hegemonia brasileira nos quadros gestores do PPPLE e na ausência de unidades didáticas digitais de alguns países africanos na plataforma do Portal;

2) a construção do Brasil como potência regional na América Latina, da qual decorre uma restrição do sentido de “português” a “português brasileiro” nos materiais coletados em Buenos Aires, com raras referências a “língua portuguesa” como língua internacional compartilhada. Esse “discurso de brasilidade” destinado aos países latino-americanos vincula-se, paradoxalmente, a uma apresentação do país isolado do continente (e do mundo), cenografado como ilha em atividades diversas, como discutiremos mais adiante, produzindo o efeito de “um real sem relações”.

A seguir, nos deteremos em alguns aspectos dessas contradições a partir do modo como se materializam nos materiais didáticos que compõem o córpus.

PPPLE: uma gestão compartilhada?

Como enfatizado por Faraco (2012a), o termo lusofonia é bastante opaco. A depender do lugar enunciativo que o mobiliza, pode se referir, por exemplo: 1) à comunidade de “falantes de português mundo afora” (ênfase nas aspas), em termos quantitativos. Embora Faraco mencione que seria um uso que, “[...] aparentemente, não carrega maiores implicações políticas ou valorativas”, a quantificação exige a categorização da língua que se analisa, o que é

crucialmente político; 2) a “uma idealizada irmandade de sentimentos e tradições”, de caráter transnacional e intercontinental, “unida pelo imaginário da mesma língua e de tudo que a acompanha”; ou 3) a “lusofonia” como “nome de diferentes projetos políticos, de diferentes planos estratégicos de geopolítica – convergentes em certos momentos, mas, em geral, silenciosamente concorrentes e até divergentes” (FARACO, 2012a, p. 32).

Nesse texto, Faraco (2012a) resgata a origem das palavras compostas por fonia, atribuindo sua origem ao termo francofonia, usado no século XIX, no auge da colonização europeia do continente africano, para designar o que hoje se pode chamar de soft power – à época, entendido pelos colonizadores como uma ferramenta civilizatória. Mostra como, sob uma prerrogativa internacionalizante e consignas que valorizam os ditos “valores universais” (a democracia, a paz, os direitos humanos, o diálogo intercultural, a promoção da educação, da cooperação econômica e do direito sustentável...), a Commonwealth of Nations [Comunidade das Nações] e a Organization Internationale de la Francophonie (OIF) [Organização Internacional da Francofonia] seguem exercendo esse soft power da Inglaterra e da França sobre os demais países membros dessas organizações.

Hoje circulam discursos que defendem uma “gestão compartilhada” de línguas faladas em territórios diversos – caso das fonias mencionadas anteriormente135 e também da

hispanofonia. No entanto, como mostra Lagares (2013), a democracia linguística programática nos estatutos das instituições fundadas com o propósito de gerir essas políticas muitas vezes apaga fatos importantes, como, por exemplo, a contribuição econômica de cada país dentro dos blocos linguísticos, os detentores dos polos das indústrias culturais relacionadas à língua e, consequentemente, quem mais se beneficia das relações intrabloco.

No caso do português, Oliveira (2013b) aponta que interesses nacionais divergentes de Brasil e Portugal produziram “uma normatização divergente da língua ao longo do século XX”, que

baseia-se no estabelecimento de duas instâncias de gestão da língua: Portugal e Brasil, cada uma delas autônoma em relação à outra, num modelo que não inclui os novos Estados Nacionais lusofalantes da África nem Timor-Leste, que continuam tributários da norma europeia do português (OLIVEIRA, 2013b, p. 54).

135 No caso da anglofonia, Oliveira identifica uma “norma descentralizada apoiada no uso ou nos usos, ações

descentralizadas de promoção via mercado, com certa especialização entre os países, sem protagonismo da ex- potência colonial [...]” e a “manutenção do papel e funções de língua hipercentral do sistema mundial, com ganho de importância sobre as funções acroletais de línguas centrais e periféricas” (OLIVEIRA, 2013b, p. 65-66), dando como exemplo desse funcionamento o uso mundializado do inglês como “língua da ciência”.

Essa normatização divergente produziu uma situação de “norma descentralizada e dual [...] com protagonismo cindido da ex-potência colonial, válido só para a parte menor do mercado linguístico (PALOPs e Timor-Leste), mas não para o Brasil” (OLIVEIRA, 2013a, p. 67), que difere da “francofonia” e da “hispanofonia” em termos de gestão socioeconômica do mercado linguístico associado às línguas, uma vez que nesses dois casos as ex-potências coloniais atuam como suas principais protagonistas.

O funcionamento dos exames de proficiência português e brasileiro, que não se reconhecem reciprocamente, é elucidativo dessa disputa. Conforme consta no Portal do Celpe- Bras, mantido pelo Inep,136

o Celpe-Bras é um Exame que possibilita a Certificação de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros. Desenvolvido e outorgado pelo Ministério da Educação (MEC), aplicado no Brasil e em outros países com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE) é o único certificado de proficiência em português como língua estrangeira reconhecido oficialmente pelo governo do Brasil (INEP, 2017).

No site oficial do Centro de Avaliação e Certificação de Português Língua Estrangeira (CAPLE) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, responsável pela produção de exames de PLE, também não há nenhuma menção ao Celpe-Bras nem a outros países lusófonos:137 a

heterogeneidade abrigada no termo “português” é silenciada para que se possa promover, tacitamente, a língua nacional de cada país.

A produção do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira (PPPLE) se inscreve nessa conjuntura glotopolítica. A decisão de sua criação foi tomada no âmbito dos “Planos de Ação de Brasília (PAB)”, um documento resultante da Primeira Conferência

Internacional sobre o Futuro do Português no Sistema Mundial, organizada pelo IILP e pela

CPLP e realizada em Brasília em março de 2010,138 no qual se aponta a necessidade de implementação de um instrumento de ensino compartilhado. Na área das “Estratégias de Promoção e Difusão do Ensino da Língua Portuguesa”, há uma seção dedicada aos instrumentos, onde se postula a necessidade de

136 Conforme página disponível em http://celpebras.inep.gov.br/inscricao/. Última consulta em: 15 set. 2017. 137 Disponível em: https://caple.letras.ulisboa.pt/. Última consulta em: 15 set. 2017.

138 A segunda e a terceira edição da conferência foram realizadas em Lisboa, em 2013, e em Timor-Leste, em

2. atribuir ao IILP a tarefa de criar uma plataforma comum na Internet relativa ao ensino do português, contendo, entre outros recursos:

- Rede virtual de professores de português para a partilha de experiências pedagógicas e recursos didáticos;

- Acesso a recursos didáticos baseados nas tecnologias da informação e comunicação (IILP, 2011 [2010], p. 4).

Como se vê, o objetivo da plataforma seria oferecer “recursos didáticos” para o ensino de português como língua estrangeira e português língua não materna. Diretor-executivo do IILP à época da construção do Portal, Oliveira afirma que

o PPPLE (http://www.ppple.org/) é uma plataforma digital comum a todos os países de língua portuguesa, e na qual cada um, através do trabalho das suas equipes técnicas, disponibiliza Unidades Didáticas para o ensino do português como língua não materna, a partir de uma metodologia consensuada. Hoje estão já no PPPLE quase 400 unidades didáticas de Angola, Brasil, Moçambique, Portugal e Timor-Leste [...]. Entre as novidades do Portal está a da superação da ideia de que o aluno de português como língua estrangeira tem que optar entre o português do Brasil e o português de Portugal apenas, porque o Portal permite, por exemplo, que um professor chinês de português ensine português pelas unidades didáticas de Moçambique, sem passar por Brasil ou Portugal, mas permite também que o professor ensine o português desde um percurso mais cosmopolita e internacional, usando unidades didáticas provenientes dos vários países, e fazendo o aluno deslocar-se entre a América, a Europa, a África e a Ásia, continentes onde a língua portuguesa é falada (OLIVEIRA, 2016, p. 393-394, negritos nossos).

Em termos programáticos, portanto, a plataforma seria uma ferramenta de gestão compartilhada da língua que representa “todos os países de língua portuguesa”, com a função de

promove[r] a cooperação entre os países membros da CPLP, abrindo uma frente de trabalho e de negociação permanente que pode incrementar o número e a qualidade de ações comuns na área, bem como para o reforço da participação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste na produção de recursos didáticos e outras iniciativas de ensino de PLE (PPPLE, 2013). 139

Embora o português seja projetado como língua internacional nos paratextos informativos (que, como veremos no CAPÍTULO 4, atuam fortemente na produção de um ethos dito), com o andamento da pesquisa notamos, entretanto, que o PPPLE do IILP parece não ter

139 Segundo informa o texto da página “O que é o Portal”, disponível em: http://www.ppple.org/o-portal. Último

conseguido atingir plenamente esse objetivo explícito de integração e interatividade na gestão da língua, o que se pode verificar no modo como pressupostos programáticos se desdobram nos quadros gestores e na distribuição digital de projetos políticos de língua.

Por exemplo, segundo o texto da seção “Quem somos?”, a principal instituição responsável por manter o portal é o IILP. A composição da equipe responsável pela plataforma era assim detalhada no momento da coleta do córpus (2017):

Gestão: outubro de 2014-atual

Diretora Executiva: Marisa Guião de Mendonça

Presidente do Conselho Científico: Raul Calane da Silva

Equipe Assessora Central

Profa. Dra. Edleise Mendes – (ObsPLE-PL2/SIPLE/UFBA - Brasil) Profa. Dra. Viviane Bagio Furtoso (SIPLE/UEL - Brasil)

Gestão: Outubro de 2010 a setembro de 2014 Diretor Executivo: Gilvan Müller de Oliveira Presidente do Conselho Científico: Amália Lopes

Equipe Assessora Central

Profa. Dra. Edleise Mendes – (ObsPLE-PL2/SIPLE/UFBA - Brasil) Prof. Dr. Gilvan Müller de Oliveira (IILP/UFSC- Cabo Verde)

Profa. Dra. Maria José Grosso (Universidade de Lisboa - Portugal, Universidade de Macau, China)

Profa. Dra. Marisa Mendonça (Universidade Pedagógica - Moçambique) Profa. Dra. Matilde Scaramucci (Unicamp - Brasil)

Profa. Dra. Viviane Bagio Furtoso (SIPLE/UEL - Brasil)

(PPPLE – seção “Quem somos?”, 2017c, negritos nossos).140

Como se pode verificar na atual equipe que compõe a gestão do Portal, a presença brasileira é predominante; há uma baixa participação de Portugal e estão ausentes muitos membros da CPLP – nomeadamente, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe.141

Já a gestão do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) é rotativa: atualmente, a direção é ocupada por membros de nacionalidade moçambicana: a diretora-executiva, Marisa Guião de Mendonça (doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, membra da Comissão Nacional do IILP e diretora da Faculdade de Línguas da Universidade Pedagógica de Moçambique), e o diretor do comitê científico, Raul Calane da Silva (escritor e jornalista de nacionalidade moçambicana, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela Universidade do Porto, Lisboa). Anteriormente, a direção executiva havia sido ocupada por

140 Último acesso em: 17 jun. 2019.

141 No período de coleta das unidades didáticas digitais em 2017, Angola e Timor-Leste ainda não tinham os

membros do Brasil (Gilvan Müller de Oliveira, 2010-2014), de Angola (Amélia Arlete Dias Rodrigues Mingas, 2006-2010) e de Cabo Verde (Manuel da Cruz Brito-Semedo, 2004-2006; Ondina Maria Duarte Fonseca Rodrigues Ferreira, 2001-2004,; e Mário Alberto de Almeida Fonseca, 1999-2001).

Os consultores do Portal, majoritariamente brasileiros, são apresentados na parte final da aba “Quem somos?”, referidos conforme mostra a Figura a seguir.

figura 33 lista de consultores do PPPLE disponível na aba “Quem somos?”.

fonte: IILP (2017c). Último acesso em: 07 ago. 2017.

Note-se que todos os pesquisadores, excetuando-se os que estão no Brasil, têm um país indicado ou, em alguns casos, uma instituição que não deixa dúvidas sobre sua localização indicada entre parênteses (Universidade de Cabo Verde, University of London, Universidade Pedagógica de Moçambique). As instituições brasileiras às quais pertencem os consultores, por sua vez, estão majoritariamente referidas unicamente pelas suas siglas – o que, ao mesmo tempo que as naturaliza, indica sua proximidade com o lugar de enunciação (a única exceção é a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ao lado da qual se escreveu “Brasil”).

A partir das informações fornecidas no site do PPPLE e de dados encontrados nos currículos dos pesquisadores – tomando como base tanto seu país de origem quanto seu lugar de formação –, elaboramos um gráfico, ilustrado a seguir, para tentar estabelecer uma geografia linguística da gestão do Portal. O contraste visual estabelecido evidencia a desigualdade da gestão em termos de representatividade dos países de língua oficial portuguesa que compõem a CPLP.

figura 34 gráfico da composição dos consultores do PPPLE.

fonte: elaboração própria a partir da lista de consultores disponibilizada no portal (IILP, 2017c) e de dados sobre os países de origem e a formação dos pesquisadores disponibilizados em currículos em plataformas acadêmicas diversas.142

Ainda segundo o PPPLE, as unidades didáticas disponibilizadas “são desenvolvidas e propostas pelas equipes de especialistas dos países que integram o PPPLE, em três níveis de proficiência (1, 2 e 3)” (IILP, seção “Unidades Didáticas”, 2017d). Como se pode notar no Quadro a seguir, sua disponibilização é expressivamente desigual em termos de quantidade produzida por país, corroborando o que apontamos como uma hegemonia brasileira na gestão do Portal.

142 Utilizamos deliberadamente os tons de verde para indicar pesquisadores brasileiros ou formados no Brasil.