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ENTRE EDIFICAÇÕES E EQUIPAMENTOS URBANOS: A ACESSIBILIDADE E OS ESTUDANTES CEGOS

PERFIL SOCIOECONÔMICO ESTUDANTE/

5.4 ENTRE EDIFICAÇÕES E EQUIPAMENTOS URBANOS: A ACESSIBILIDADE E OS ESTUDANTES CEGOS

Nas entrevistas com os estudantes cegos, várias falas apontaram para a necessidade premente de melhorias nas condições de acessibilidade no Campus da UFRN. Um dos entrevistados colocou, inclusive, da necessidade de haver uma pessoa responsável na própria CAENE para dirimir estes problemas envolvendo a acessibilidade e que emergem no dia a dia da instituição, assim como o remover os obstáculos oriundos após a construção das obras, os quais são apresentados na rota de passeio dos entrevistados, assim como ter celeridade no que diz respeito às resoluções das questões de acessibilidade de um modo geral, para que não interfiram na permanência desses estudantes e nem tampouco sejam fatores para uma possível evasão acadêmica. Algumas destas solicitações foram efetuadas na própria CAENE no início do ano de 2012, como a implantação de piso tátil em algumas rotas passeios. Algumas delas foram atendidas no ano de 2016. A respeito disso, nos disseram:

Tem árvores nas rotas de passeio, pedregulhos de reformas de construções, em andamento ou já de obras realizadas, que não foram removidas e sim deixadas nos percursos das instalações das salas de aula, nos pontos de transportes coletivos até a via que dá acesso as instalações da sala de aula (Stevie Wonder).

Tem coisas que não precisam demorar tanto. Coisas que a gente solicitou no início do curso e só vieram resolver agora, mas, essa demora, eu já estou praticamente saindo do curso, sei que vai ficar para outros, mas poderiam ter feito antes, entendemos a burocracia do sistema (Stevie Wonder).

Somos muito bem atendidos no RU (Restaurante Universitário), sou bem atendido, mas na questão do acesso, você tem um passeio todo pavimento, calçado... Mas tem as árvores que ficam no passeio e atrapalham o percurso (Stevie Wonder).

O cara vai fazer a ciclovia e não conserta depois. Ciclovia nova, calçada velha danificada pela obra (Stevie Wonder).

Tem um bloco de concreto no meio do meu caminho que está lá há dois meses. Estava na calçada, tentei remover, mas é muito pesado e não consegui.

Eu desço na calçada do setor II, venho numa calçada bem estreitinha (Stevie Wonder).

Já no túnel, quando vou entrar pela praça cívica, o caminho é bem estreitinho (Stevie Wonder).

Faz tempo que não vou à CAENE, por isso não informei lá. Acho que teria que ter alguém que resolvesse, uma pessoa que resolva os problemas do dia a dia (Stevie Wonder).

Ora, Vizioli e Peres (2004) apontam que a acessibilidade se revela como uma condição para obter a utilização das edificações, espaço mobiliário e equipamentos urbanos, por intermédio da necessidade de adequações para garantir que ela se consolide nos diversos locais, bem como possibilite a utilização de equipamentos de tecnologia para auxílio nas atividades cotidianas. Desta feita, a acessibilidade é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), pela norma NBR 9050/2004, como: “[...] Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004, p.2).

Ainda de acordo com o Manual de Acessibilidade da ABNT (2006) obstáculos são: escadas sem corrimão e sem contraste de cor nos degraus; ausência de corrimão e/ou guardacorpos normatizados; ausência de banheiros adaptados; pouca iluminação; ausência de rampas de acesso para cadeirante; ausência de telefones públicos, extintores de incêndio e caixas de correio adaptados à altura de usuários de cadeira de rodas; ausência de sinalização tátil no chão; salas de aula, teatros, ginásios sem vagas ou espaços para cadeiras de rodas nos corredores entre as poltronas, carteiras e arquibancadas; desníveis nas portas que sejam maiores do que 5 metros; portas e corredores estreitos; catracas sem porta alternativa; portas emperradas e com maçanetas roliças ao invés do tipo alavanca, principalmente em banheiros adaptados; banheiros sem identificação escrita, ao invés de símbolo que desenhem o gênero e em relevo; falta de manutenção de ruas e calçadas, bueiros sem tampa ou grades de proteção; e falta de abrigos para sol e chuva nos pontos de ônibus. Acerca das estratégias de acessibilidade, Sassaki (2005) elenca:

Acessibilidade arquitetônica, sem barreiras ambientais físicas em todos os recintos internos e externos e nos transportes públicos;

Acessibilidade comunicacional, sem barreiras na comunicação interpessoal (face-a-face, língua de sinais, linguagem corporal, linguagem gestual e etc.), na comunicação escrita e na comunicação virtual;

Acessibilidade metodológica, sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo;

Acessibilidade instrumental, sem barreiras nos instrumentos e utensílios de estudo, de atividades da vida diária e de lazer, esporte e recreação;

Acessibilidade programática, sem barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas, em regulamentos e em normas em geral;

Acessibilidade atitudinal, por meio de programas e práticas de sensibilização e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na diversidade humana resultando em quebra de preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações (SASSAKI, 2005, p.23).

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2006), acessível é o espaço, edificação, mobiliário ou elemento que possa ser alcançado, visitado e utilizado por qualquer pessoa, inclusive aquelas com deficiência. Dessa forma, o termo acessível implica tanto em acessibilidade física como de comunicação. Representa para o usuário não só o direito de acessar a rede de informações, mas, também, o direito de que sejam eliminadas as barreiras arquitetônicas, que haja disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de equipamentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos alternativos. A promoção da acessibilidade, assim, é um dos meios que pode dar oportunidades às pessoas com deficiência de participarem plenamente na sociedade, em condições próximas às dos demais.