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Entre 1977-1983 – Utilização das preferências do público

4. CAPÍTULO | METODOLOGIA

4.1. Evolução dos Estudos de Avaliação da Paisagem

4.1.3. Entre 1977-1983 – Utilização das preferências do público

A avaliação da paisagem no final dos anos 70 apresentou um significativo progresso, deixando de ser apenas uma área de estudo para iniciantes. Segundo Andresen (1992) passa a ser a uma importante área de estudo para Arquitetos Paisagistas e Psicólogos Ambientais que através de estudo ambiental investigavam “a relação dos seres humanos com a qualidade da paisagem tendo por objetivo definir as variais da paisagem associáveis com as preferências estéticas” (p.118). Através de publicações e conferências, a década de 70 transformou-se num período de movimento significativo, mas que termina ainda com diversas dúvidas. A questão assenta na ausência difusa de desenvolvimento “de uma corrente crítica e definidora de critérios de valorização da apreciação da natureza ou da paisagem” (p. 119- 121).

A principal alteração que se verifica durante este período é a integração da opinião do público nos estudos de avaliação da paisagem. A opinião do público visava obter um maior número de opiniões, não apenas de quem estuda a paisagem dos especialistas, mas do público que vive e usufrui da paisagem. Ao contrário dos métodos utilizados anteriormente, neste período a paisagem deixa de ser avaliada segundo os seus elementos e passa a ser avaliada como um conjunto (Silva, 1999).

P.Dearden no final da década de 1970 distinguiu dois métodos de estudo sobre a qualidade visual da paisagem. O primeiro método recorre a técnicas de medição, em vez da experiência visual do observador, são utilizadas caraterísticas físicas da paisagem. O segundo método recorre a técnicas de preferência, onde é considerado a paisagem como um todo (Almeida, 2013). Zube em 1977 utilizou escalas semânticas, através de fotografias que mostrava aos inquiridos, de forma a possibilitar obter conformidade entre os que as observavam e os valores estéticos das fotografias. Segundo Silva (1999) o objetivo era determinar quais as paisagens que suscitavam maior ou menor interesse por parte do público. Através deste método concluiu-se que muitos dos que estudavam a avaliação da paisagem o objetivo não passava por quantificar “o valor da paisagem” (p.126), mas sim o “grau de intervenção antrópica e a diversidade do uso do solo “ (p.126). Também em 1977, os autores Arthur, Daniel e Boster realizaram um estudo que resultou numa síntese e na revisão das técnicas de avaliação da qualidade da paisagem. Agregaram as técnicas nas seguintes categorias: inventários descritivos, modelos de avaliação pelo público e modelos baseados em análises económicas (Lothian, 2000 Dias, 2002).

Novamente em 1980, Philip Dearden num terceiro artigo designado “Landscape assessment the last decade” estuda o “ trabalho de campo, de substituição e por medição “ (Andresen, 1992, p.110), reconhecendo três métodos essenciais para a avaliação da

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Caracterização e Análise Histórica da Cidade qualidade da paisagem. O primeiro realizado através de conhecimentos técnicos acerca do local em estudo, tratava-se de um método bastante subjetivo. O segundo requeria um número elevado de observadores, desse modo era utilizado uma reprodução fotográfica em substituição da própria passagem, de modo a evitar trabalho de campo prolongado. O terceiro método procurava obter um grau de segurança e validade através da atribuição de valores aos componentes que potencialmente colaboram para a qualidade da paisagem (idem, 1992). Em 1981, Penning Rowsell nomeou três abordagens através de uma sequência cronológica. As abordagens iniciais intuitivas entre 1967 e 1971, onde a qualidade da paisagem era realizada com base em trabalhos de campo e entendida como um instrumento para sugerir estratégias de proteção e utilização da natureza. A “sofisticação” estatística das abordagens de previsão, entre 1971 e 1976 correspondeu ao período onde a qualidade da paisagem era antecipada a partir de técnicas estatísticas, e fundamentada nas relações entre variáveis de paisagem abusivas e interesses médios, segundo painéis de observadores. As abordagens preferenciais a partir de 1973 aconteceram ao mesmo tempo que o desenvolvimento de uma visão mais ampla, dos sentimentos ligados às paisagens relevantes que utilizavam estudos de preferências da paisagem, com recurso a fotografias para despertar sentimentos perante a visualização cénica (idem, 1992; Almeida, 2013).

Segundo Andresen (1992), Douglas Porteous em 1982 fundamenta-se em duas correntes filosóficas inseridas nas ciências sociais: rigor e relevância. O rigor estava ligado á construção da teoria científica dos testes, e a relevância ligada ao instituto de lidar com os problemas ambientais. Estas correntes associam-se a quatro abordagens simultaneamente ligadas a quatro grupos distintos de indivíduos com atenções de natureza ambiental: “humanistas, ativistas, experimentalistas e planeadores” (p.128). Os contactos entre as abordagens são escassos, devido a ausência de colaboração que possibilite a comprovação de conceitos e o desenvolvimento de teorias e técnicas adaptáveis ao processo de planeamento.

Daniel e Vinningn também em 1982 diferenciaram abordagens com princípios em: definição da qualidade de paisagem; determinação de atributos da paisagem esteticamente relevantes; envolvimento do observador da paisagem; importância das perceções, sentimentos e interpretações dos observadores; e relação entre a qualidade da paisagem e outros valores e necessidades humanas e sociais. Daniel e Vinningn reconhecem cinco abordagens: ecológica, estético-formal, psicofísica, psicológica e fenomenológica. As abordagens têm que ter base “nos quatro critérios habituais dos sistemas de quantificação: validade, credibilidade, sensibilidade e utilidade” (idem, 1992, p.128).

Em 1983, Punter realizava uma interpretação bastante diferenciada fundamentada no caráter interdisciplinar da avaliação da qualidade estética da paisagem. E interpretação

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reconhecia três abordagens distintas: perceção da paisagem, interpretação da paisagem e qualidade de paisagem (qualidade visual). A primeira criava a ligação entre a visão e a perceção, o entendimento da preferência e a atividade; a segunda abordagem evidenciava os significados atribuídos a paisagem; a terceira incidia na qualidade visual, e nas qualidades do padrão que a paisagem sugeria. Desse modo, a avaliação da natureza filosófica de cada uma das abordagens sugere que cada uma das abordagens em particular não favoreceu de modo algum o futuro da investigação. Em contrapartida sugerem a importância da concordância do conhecimento de diversos campos. O autor “defende uma abordagem materialista da qualidade da paisagem como forma para repensar e compreender a natureza e o significado da estética” (idem, 1992; Almeida, 2013).

Andresen (1992) indica que Zube de maneira a sintetizar as distintas abordagens, recolheu conclusões convergentes entre algumas das diversas interpretações por parte de alguns autores e concluiu “a existência de um consenso considerável na conceptualização das abordagens (paradigmas/modelos), mas que em termos de nomenclatura existem grandes disparidades” (p.132).

O autor reúne as abordagens distintas em três categorias: profissional, comportamental e humanística, apresentadas no quadro que se segue:

Tabela 2 - Abordagens por Zube (Fonte: Andresen (1992) – adaptado)

PROFISSIONAL COMPORTAMENTAL HUMANISTA

ZUBE et al. (1982)

Pericial Psicofísica Cognitiva Experiencial DANIEL VINNING (1982)

Ecológica Formal Psicofísica Psicológica Fenomenológica PORTEOUS (1982)

Planeadores Experimentalistas Humanistas PUNTER (1982)

Qualidade Perceção Interpretação

PENNING ROWSELL

(1981) - - -

Neste período, existe uma relação direta entre a perceção e a avaliação da paisagem, o que não significa que seja um método mais credível e concreto, mas sim um método Bastante mais subjetivo. Desta forma, verifica-se que as especificidades dos inquiridos assim como as suas áreas influenciam sempre os estudos, mas que igualmente também possuem um papel determinante (Silva, 1999).

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