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3. CAPÍTULO | CASO DE ESTUDO

3.2. Evolução histórica e urbana

O Peso da Régua trata-se de um aglomerado relativamente recente, pois não contem ruínas de monumentos nem vestígios que provem a sua longevidade. Nas imediações da atual cidade do Peso da Régua, no início do séc. XX foram encontrados vestígios da ocupação romana nestas terras, como moedas numa quinta à margem direita da foz do Varosa, uma abóbada de tijolos em Godim, no sítio da Lousada, e mesmo na cidade numa quinta outrora designada por Quinta de Vila Pouca, apareceram lastros, alicerces de tijolos romanos e pedras de cantaria. Deste modo a fundação do Peso da Régua remonta a época Romana, no período do domínio de Lusitânia, a criação de um presidium teve como consequência a transformação do território numa área comunicável através de vias (Soares, 1936).

O conde D. Henrique e sua mulher D. Teresa, aquando da sua chegada a Portugal, em 1093, elegeram para bispo do Porto, D. Hugo, a quem fizeram por doação a ele e aos seus sucessores, os dízimos e as terras da Régua. Os bispos do Porto transformaram em 1135 este território em couto para a jurisdição civil, confirmada por D. Pedro I ao bispo D. Afonso Peres Pinto com um juiz ordinário e um escrivão. No ano de 1492 foi criado um arcediago pelo bispo para a Régua com metade dos dízimos (idem, 1936).

O primeiro foral foi atribuído a Régua em 26 de dezembro de 1513, por D. Manuel. É incerto se este foi ou não o primeiro foral, uma vez que existe por parte de muitos historiadores a dúvida se anteriormente não terá sido atribuído um foral a estas terras, ou por D. Afonso Henriques ou integradas no foral concedido a Santa Marta de Penaguião por D. Hugo. A incerteza de quando foi a povoação das terras da Régua também é incerta sabe-se apenas que entre 1202 e 1207 começaram a povoar-se algumas terras no concelho vizinho de Santa Marta de Penaguião, durante o reinado de D. Sancho I. Desse modo, muitos autores consideraram que também as terras do Peso da Régua tivessem sido povoadas nessa época

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Caracterização e Análise Histórica da Cidade (CMPR, 2017; Soares, 1936).

A Régua terá sido paróquia desde os inícios da monarquia, os seus limites estendiam- se desde a margem direita do Rio Corgo cercando todo o lugar do Peso até a Igreja de Mártir S. Prisco localizado junto ao rio Douro, no Vale de Godim. Esta terra com foral atribuído por D. Sancho I em 1210 julga-se ter sido ocupada nesta zona ribeirinha onde atualmente se localiza a cidade e que tenha sido a partir dessa Carta de Foro. Até então era apenas uma barca de passagem designada por “Barca da Regoa”, mas que terá sido a principal razão da seleção do lugar para a fundação de uma povoação. O lugar do “Peso” e o lugar da “Regoa”, eram locais separados, o primeiro a sua ocupação terá sido por volta de 1144, com o foral do Bispo D. Pedro Rabaldes e o segundo com o de D. Sancho, aproximadamente 70 anos depois (Amaral, Pinto, Programa Leader & Câmara Municipal de Peso da Régua, 2007).

Apesar de as datas não serem precisas, as primeiras referências à Régua como vila datam de 1687 transcritas de um alvará atribuído por D. Pedro II para a concretização de uma feira: "El-rei Faço saber que havendo respeito ao que por sua petição me representarão os Moradores da villa do Peso da Régua, e os do Concelho de Penaguião para effeito de lhes conceder licença para na dita Villa do Peso fazerem bua feira todos os mezes no ultimo Domingo de cada bu delles..." (cit. in Soares, 1936, p.28)

No início do séc. XVIII pensa-se que ao contrário do lugar do Peso que já era habitado, a Régua tenha começado a ser habitada por pescadores que viviam em choupanas. No foral Manuelino de Penaguião, já existia referência ao lugar da Régua que era independente do lugar do Peso, onde os bispos do Porto executavam a sua jurisdição temporal. Sendo duas freguesias distintas, também teriam dois ou mais padroeiros. É conhecido que o orago da igreja do Peso seria S. Faustino, enquanto da igreja da Régua, destruída por uma cheia em 1734, teria sido S. Prisco (Amaral et al, 2007).

Também no séc. XVIII, a cultura da vinha nas encostas do Douro alcançava um novo estímulo. Verificava-se na paisagem próxima da Régua a existência de abruptas encostas nas margens do rio, que se transformaram em socalcos de vinhas, alterando radicalmente a paisagem. A Régua alterou-se, o cais criado pelos pescadores que se sediaram junto ao rio, transformou-se num centro comercial de embarque da região. O crescimento das plantações e a necessidade de escoamento do produto pelo rio desde o Cachão da Valeira criou locais para essa finalidade. É o exemplo do Pinhão e das Régua, que foram locais transformados para comercialização do vinho, para que este passasse a ser um produto de desenvolvimento e crescimento, assim como a região, tanto a nível nacional como mundial. A 31 de Agosto de 1756 foi institucionalizada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com o objetivo de demarcar e fiscalizar a região, embora só em 1790 é que foram construídos na Régua os armazéns, mas que fez sentir-se um crescimento notável de população tanto na

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vila, como nas proximidades (idem, 2007).

Figura 4 - Casa da Real Companhia Velha (Fonte: Cunha (2015)

A Régua passou a ser uma praça comercial devido principalmente a anual Feira dos Vinhos que era realizada, a região passou a ter maior movimentação e afluência de pessoas A 21 de março de 1835 foi decretado o julgado judicial da Régua e a 1 de fevereiro de 1837 é constituída a Câmara Municipal, com o presidente Manuel Joaquim Moreira Coutinho. A 3 de fevereiro desse ano, a vila do Peso da Régua foi elevada a cabeça de comarca, onde foi incluído o antigo concelho de Godim com as freguesias de S. José de Godim, de Sedielos, Mouramorta, Loureiro e Fontelas (Tóro, 1946).

Em 19 de março de 1837, numa exposição dirigida a D. Maria II, a sua municipalidade memorou à constitucional suprema “Villa desde o principio da Monarchia, e ter n’aquelle tempo Casa de Câmara, e cadeia, e que era tão insignificante, que, pelo decurso doa lempos, cahiu parte d’ella, sendo por isso imprasado o seu chao, que agora de nada serve à Camara” (cit. in Soares, 1936, p.29).

No ano de 1853, a 31 de dezembro foram incluídas as freguesias de Poiares, Covelinhas, Vilarinho de Freires e Galafura devido a extinção do concelho de Canelas (Tóro, 1946).

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Figura 5 - Representação da cidade da Régua em 1817 (?) (Fonte: Jaime (2012))

Com o aumento da população e do comércio na vila, a população desejava melhoramentos na vila, em 1855 foram conseguidos através de impostos com a disposição e a prestação dos munícipes, e com a nomeação de uma comissão.

A vila sofreu melhoramentos como o alinhamento de ruas e a aplicação de passeios, a construção de aquedutos em todas as ruas e a sua pavimentação, sob ordem da Câmara. A 11 de janeiro de 1856 foi arrematado o valor dos impostos propostos, que “aplicado à construção de um cais: 100 réis por cada pipa de vinho, jeropiga e aguardente: 10 réis por cada arroba dos géneros que era uso vender-se a pêso, no acto do embarque e desembarque, dentro deste concelho” (Soares, 1936, p.143). Ainda segundo Soares (1936), para a construção foi necessário expropriar o bairro do Parreiral, onde habitavam pescadores e carrejões, o bairro localizava-se desde a Rua Direita, atual Rua Custódio José Vieira até ao início da Rua da Alegria, em 1936 a obra do cais ainda não se encontraria terminada.

A ligação entre o Minho e Douro para Trás-os-Montes em 1858 ainda se encontrava parada na freguesia de Godim, foi inaugurada no final desse ano a ligação entre a Régua e o Salgueiral, mas só em 1863 se deram por terminadas as obras. Nesse mesmo ano, foi inaugurada a ligação entre a Régua a Vila Real, continuação da estrada que fazia a ligação Lisboa a Vila Real por Lamego. No ano seguinte, em 1864 iniciou-se a construção da estrada que ligava a Rua da Bandeira até à barca da Junqueira, o atual Cais da Régua. A 18 de Agosto de 1877, realizou-se a inauguração da construção da ligação entre o Olival Basto e a fonte da

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Soalheira em Godim. O concurso estavam projetos e orçamentos para um edifício destinado a albergar os Paços do Concelho, para a canalização das águas do Rio Corgo para posterior abastecimento da vila, para a criação de uma praça, alameda, largos e ruas (idem, 1936).

A construção de uma ponte metálica permitiu a ligação entre as duas margens do Rio Douro passando a existir uma da Régua a Lamego, mandada construir por D. Luiz I e inaugurada a 1 de Dezembro de 1872. Também por D. Luiz I nessa visita de inauguração foi mandado construir um hospital, o Hospital D. Luiz I que foi inaugurado a 16 de Novembro de 1873. Foi inaugurado na Rua dos Medreiros onde funcionou até 1886, depois o seu funcionamento passou para a rua Quebra Costas (idem, 1936).

Figura 6 - Postal da Ponte metálica sobre o Rio Douro (Fonte: Prof2000 (2011))

Segundo Soares (1936), a linha do Douro tal como outras no país foi construída entre 1873 e 1887. À Régua o comboio chegou em Julho de 1879, representado assim mais uma mudança na vila, uma revolução social, económica e humana. O local da implantação da Estacão Ferroviária da Régua transformou o local e a envolvente numa área distinta, tornando- se em mais uma referência para a vila, assim como as pessoas trabalhavam lá, passaram a integrar uma classe estimada e respeitada.

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Figura 7 - Postal da Estacão e Cais do Caminho de Ferro (Fonte: Prof2000 (2011))

A 26 de Setembro de 1895, com a extinção do concelho de Santa Marta de Penaguião, foram anexadas ao Peso da Régua as freguesias de Alvações do Corgo, Sever, Fontes, S.João Batista, S. Miguel de Lobrigos, Medrões e Sanhoane (Tóro, 1946).

A 30 de Abril de 1927 foi inaugurado o monumento de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no Largo dos Aviadores. O mercado da vila era na rua Nova, atual Rua Marquês de Pombal, este estendia-se desde a porta da Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto-Douro por toda a rua. Com a ampliação da avenida do cais, a realização do mercado passou a ser na avenida, rapidamente concluíram que teria sido má ideia, uma vez que se tratava de um local exposto e próximo do rio, o dava origem em que em dias de temporal tudo era dispersado (Soares, 1936).

A Casa do Douro foi criada a 19 de Novembro de 1932 e a ponte de ferro para Vila Franca das Naves foi concluída cinco anos depois, em 1937.O objetivo era a ligação ferroviária entre Lamego e a Régua, embora nunca se tenha vindo a verificar, pois os caminhos-de-ferro nunca foram construídos (Tóro,1946).

O Peso da Régua passou a 14 de Agosto de 1985 à categoria de cidade, passados três anos foi reconhecida pelo Office Internacional de la Vigne et du Vin como Cidade Internacional da Vinha e do Vinho, em 1988 (CMPR, 2017). Com a entrada de Portugal na União Europeia foi necessário a criação de mais ligações, sendo que em 1997 foi inaugurada mais uma ponte, a Ponte Miguel Torga atualmente incluída na ligação A24, que liga Chaves a Viseu (Amaral et al, 2007).

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A origem do nome Peso da Régua, tal como a sua origem e a história desta cidade, é uma incerteza. Existe várias teorias para justificar a etimologia de Peso da Régua, a primeira é que Régua deriva da palavra reguengo, que era a designação dada as terras do património antigo dos reis. Caso as terras de São Faustino da Régua tenham sido integradas num reguendo eram habitadas por reguengueiros ou colonos. A segunda defende que Régua deriva da palavra récua, que designava um conjunto de animais de carga em fila, dado esse nome pelas réguas que os almocreves agregavam devido a demora na passagem, no cais junto ao Rio Douro (Soares, 1936).

Figura 8 - Postal ilustrativo da cidade do Peso da Régua (Fonte: Delcampe (2010))

Existe uma outra justificação, antes do séc. XI, “ uma aprazível Villa Rústica atravessada pelo Ribeiro do Carneiro – Villa Gontini – a actual Godim” (cit in Amaral et al, (2007), p. s.i) no vale onde terá existido durante a ocupação romana uma vila “Villa Regula” que poderá ter sido a origem da atual Régua, segundo o povo e alguns historiadores.

Soares (1936) afirma que nenhuma das designações fazem sentido, defende que Régua deriva da palavra regra, que significa “manter direito, disposição de lei. Direito herdado de ascendentes, ou conferido a descendentes, por foral, etc.” (p.31). O autor considera que o direito terá resultado de D. Hugo, pois foi a este que o Conde D. Henrique doou, e depois conferido a D. Egas Moniz uma vez que estas terras estavam incluídas na área delineada por

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Caracterização e Análise Histórica da Cidade Afonso Henriques no foral de Godim, que incluía “o pego de Godim, o monte Argemundanes e o Corgo até o Palácio Francisco” (p.31). O primeiro acontecimento refere- se à confirmação de um direito por sucessão (D. Hugo) e o segundo a um direito oferecido a alguém que era merecedor, D. Egas Moniz (CMPR, 2017).

A Régua segundo Soares (1936), talvez estivesse incluída nos limites de Godim, mas poderia estar exclusa dos foros dessa área por normas e decisões utilizadas na época. Em relação ao termo Peso antes designado por Pêso, esta palavra tem como simbologia os “pêso dos géneros e se cobravam os direitos impostos a várias mercadorias” (p.34). O Peso era a designação dada a parte da vila localizada na encosta, no foral que D. Sancho I atribuído a Godim é mencionado “ porque lhe deu a sua herdade do monte Argemundais com os seus termos declarados”(cit in Soares, 1936, p.34), documento do ano de 1248.

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