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1. CAPÍTULO | INTRODUÇÃO

2.5. Elementos da morfologia urbana

2.5.1. Solo

O solo é o plano a partir do qual se desenvolve uma cidade ou outros aglomerados. Este plano consegue indicar três factos diferentes, designadamente a configuração física geral de um aglomerado, o plano geral do aglomerado considerando um conjunto com diversas composições e o plano de um área mais restrita (Allain, 2005).

O solo é constituído por elementos como a modelação e topografia, mas também por pavimentos e outros elementos que se encontrem sob o solo. Trata-se assim de um elemento relevante, uma vez que é a partir deste patamar que todo o espaço urbano se desenvolve, mas também onde se verificam as maiores alterações. Sendo este um elemento de suporte de outros elementos, também tem a função de assegurar diversas atividades como a circulação automóvel e pedonal (Lamas, 2011).

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2.5.2. Rua

A rua é o elemento que mais rapidamente se deteta no espaço urbano, surge sob o elemento anteriormente definido, delimita e compõem o espaço, desenha a organização dos restantes elementos como os edifícios e quarteirões (idem, 2011).

O conceito de rua teve a sua origem no latim e designa o termo caminho, que consequentemente define-se como uma via de comunicação por terra, normalmente destinada ao trânsito local, uma passagem ou uma via acompanhada de árvores, ou casas dentro de um determinado aglomerado populacional (Dicionário Língua Portuguesa, 2017).

A existência de ruas remete à época romana e medieval, desde cedo a rua teve um papel fundamental entre o espaço urbano e o restante território, ainda é possível testemunhar diversos exemplos de traçados romanos. Algumas das ruas existentes foram antigos caminhos de passagem pedonais ou animal, ou antigos traçados romanos que com a evolução do espaço urbano adjacente tiveram também necessidade de evoluir, tornando-se em vias principais (Lamas, 2011; Ribeiro, 2008).

As ruas evoluem tal como as cidades, a hierarquização das vias, a sua forma, o seu tamanho, é alterado de acordo com a função atribuída e com o espaço onde se insere. Segundo Ribeiro (2008) existem ruas principais e secundárias, de circulação pedonal, de circulação automóvel e mistas.

Como em grande parte dos aglomerados urbanos da época medieval, a evolução das cidades foi espontânea e demorada, as ruas caraterizam-se por ser irregulares, onde predominam as vias limitadas e curvas. Existis uma principal que ligava a zona religiosa, as restantes eram um conjunto de ruas pequenas, que podiam ser públicas ou privadas. As atuais ruas irregulares onde predomina as vias limitadas e curvas, tiveram a sua origem devido a fatores como: coincidência com antigas passagens e devido à topografia ou proveniente do estado normal do terreno. Deste modo considera-se que a forma das ruas, em alguns casos dependeu não de uma técnica desorganizada da cidade, mas sim de um evolução de acordo com a população e as suas necessidades.

A rua simboliza um elemento estruturante numa cidade que pode ser analisado em diversas componentes e parâmetros que lhe estão associados, tais como: a largura, a altura, a sinuosidade, a pendente, o tráfego, a função, os materiais e a edificação como limite, entre outros, trata-se de um elemento que integra um sistema único que gerem a complexidade deste que é a cidade, desse modo, o estudo da rua deve compreender a sua função dentro do sistema. O início, o desenvolvimento, a permanência e a conservação marcam também alguns dos aspetos a analisar no estudo da rua, uma vez que as cidades estão em constante transformação (idem, 2008).

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2.5.3. Praça

As praças tratam-se de um elemento existente nas cidades ocidentais, ao contrário das cidades islâmicas onde este elemento é inexistente, o equivalente tem origem existe um cruzamento entre ruas e assim surge uma área de maior dimensão (Lamas, 2011).

Durante várias épocas, a praça tal como a rua desempenhou um papel presente e fundamental na cidade. É um elemento morfológico que se diferencia pelo seu planeamento no espaço e pelo desenho propositado, pela sua integração na estrutura da malha urbana assim como pelos elementos que lhe são adjacentes, como os edifícios. A praça define-se por ser uma área ampla e pública, normalmente envolvida por edifícios de caráter religioso, politico, comercial, militar e habitacional, entre outros. É a partir da praça que surgem ramificações que dão origem as ruas (idem, 2011; Dicionário Língua Portuguesa, 2017).

Ribeiro (2008) determina que para além de caraterizada por ser um espaço público com uma área generosa, a praça também se carateriza segundo a função que lhe é atribuída. Pode tratar-se de uma área com função comercial, de diversão, de lazer, de passagem ou englobar um conjunto de funções, deste modo a sua origem, a sua estrutura, o seu desenvolvimento e a sua função são fatores que influenciam o estudo deste elemento.

Ao longo dos tempos a praça teve várias designações consoante a função e a cultura onde eram construídas, nas cidades gregas a praça era designada por agora e a sua função era o convívio e reunião entre a população. Nas cidades romanas passou a ser designada por fórum, tratava-se de um espaço para fins comerciais que constituía um elemento fundamental no planeamento urbano. Com o surgimento de mercados e lojas esta função comercial passou a ser desenvolvida nestes espaços, o fórum passou a ser um espaço da vida politica e social da cidade, constituindo um centro monumental, administrativo e religioso da cidade (idem, 2008).

Na Idade Média, a morfologia das praças é irregular na maior parte das vezes, devido a sua origem ser a partir de um espaço amplo e não a partir de um planeamento desenvolvido. Apesar da função principal ser comercial, social e cultural, as praças medievais eram definidas como praças de mercado ou de igreja, normalmente ocupavam um local central na cidade que era acompanhado por uma igreja ou a entrada desta (Lamas, 2011). A partir do Renascimento insere-se definitivamente as praças na estrutura urbana, passando a ser um elemento de mudança na cidade com valor político-social, simbólico e artístico. Este elemento vai conseguindo o seu estatuto até que no séc. XVIII e XIX passa a ser um elemento obrigatório no desenho urbano (idem, 2011; Ribeiro 2008).

Segundo Lamas (2011), a praça é ainda um elemento permanente em muitas cidades, embora o seu desenho seja por vezes completamente diferente uma vez que já não há uma descrição nem um limite que a definam.

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2.5.4. Parcelas

A construção de uma cidade exigiu desde sempre uma divisão, quer dividir o que era de domínio público e privado, quer uma divisão cadastral.

As parcelas ou o ato de divisão de parcelas denominado por parcelamento, representa à divisão de um espaço em parcelas ou lotes de acordo com a sua propriedade e utilização. A parcela é um princípio de ligação entre o edifício e o terreno, são os elementos básicos de construção da cidade, considerando a edificação e a urbanização (idem, 2011; Ribeiro, 2008). Tal como nos elementos referidos anteriormente também as parcelas tem caraterísticas diferenciadoras entre si tal como o uso, a forma, o tamanho e a orientação. Quando se trata do processo de divisão, este cumpre princípios que permite agregar em modelos estruturais. Nas cidades mais antigas, a divisão em parcelas era normalmente realizada na perpendicular a rua, as parcelas mais pequenas, estreitas e prolongadas tinham normalmente origem natural e pretendiam a potencialização linear das fachadas. O tamanho e a forma estão relacionados com a utilização das parcelas, as mais pequenas quando a os edifícios são habitacionais, e as maiores quando se trata de edifícios religiosos, políticos ou comerciais. Para o estudo do desenvolvimento urbano, percebe-se através do estudo da relação entre as estruturas rurais preexistentes e a evolução das formas urbanas, que o parcelamento e a propriedade são elementos de influência no crescimento. O parcelamento um importante elemento de análise, uma vez que se encontra relacionado não só com a evolução da cidade, mas também com o desenvolvimento da sociedade. Desse modo é possível através deste elemento perceber não só a atual malha urbana da cidade, mas também as diferentes de evolução. Ao longo dos tempos, o parcelamento passou por diversas alterações devido a imposições económicas, produtivas ou sociais.

Segundo Ribeiro (2008), no nosso país para estudar o parcelamento e consequentemente a malha urbana e a sua evolução, é fundamental perceber as fases do antigo parcelamento. Para o estudo é necessário consultar cartografias, iconografia histórica, as plantas topográficas, a fotografia aérea, as fontes fiscais e cadastrais e os documentos relativos ao registo da propriedade. O estudo do desenvolvimento do parcelamento tem início num processo analítico, começa pela compreensão da divisão das parcelas de modo a refazer a história da propriedade e a estrutura da cidade. Quando se trata de cidades antigas há consciência que pode tratar-se de um espaço que foi substituído por diversas vezes, sendo nesse caso o estudo do parcelamento mais complexo.

A evolução do parcelamento foi marcada de acordo com os ciclos económicos e de construção das cidades, onde existiu períodos de procura em massa por terrenos, e outros períodos de declínio económico, havia períodos em que as parcelas tinham de ser subdivididas em mais pequenas e períodos em que tinha que se agregar parcelas para formar

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grandes lotes. Principalmente nos centros históricos das cidades, hoje em dia as parcelas são adquiridas para a criação de espaços comerciais, eliminando por vezes marcas que permitiriam reconstituir o passado morfológico da cidade (idem, 2008).

2.5.5. Quarteirão

O quarteirão trata-se de um conjunto contínuo de edifícios que entre si formam um anel, ou um conjunto fechado separado dos restantes, normalmente delimitado por ruas diferentes que se unem num dos limites (idem, 2008; Lamas, 2011). Pode também ser entendido como uma técnica de distribuição do território pelos proprietários maioritários, ou ainda num espaço limitado por ruas de forma a reunir edifícios (idem, 2011).

É um elemento criado a partir do “processo geométrico elementar, que é visto como uma “massa volumétrica e arquitetónica complexa e global” (idem, 2011, p. 88), que origina o desenho volumétrico distinto na malha urbana. Pode albergar mais do que uma função, podendo ser comercial, habitacional ou ambos (Ribeiro, 2008).

Há muito tempo que o sistema de quarteirão está presente nas cidades, mas nem em todas, como é o caso das cidades islâmicas em que a organização do sistema viária não permite a criação do quarteirão. Existem diferentes tipos de quarteirões, os que se originam no processo de urbanização natural da cidade, em que as ruas são o limite e a estrutura e na divisão e formação do território em parcelas semelhante. Existem também os que são construídos segundo planeamento urbano, com objetivo de uma organização urbana continua na cidade, os que surgem da criação de novos espaços para desenvolver a circulação ou para gerar perspetivas numa malha natural, e os quarteirões onde as parcelas não estão presentes, que são formados por conjuntos de edifícios onde no centro há um espaço verde (Allain, 2005). Há diversos modelos de quarteirões, segundo as suas caraterísticas morfológicas, a sua forma geométrica, as acessibilidades, o tamanho e o uso do solo, mas também a sua origem. As formas e os tamanhos são as características que mais diversificam os quarteirões, desde sempre encontram-se quarteirões com tamanhos diferentes. Os maiores normalmente existem nas cidades maiores ou nas que possuem um planeamento urbano organizado, os mais pequenos normalmente presentes nas cidades mais pequenas, onde o espaço tem que ser aproveitado. O quarteirão durante a sua evolução sofreu diversas alterações consoante os modos de utilização social nas cidades em que eram construídos.

Nas cidades romanas por vezes a insulae não era uniforme, assim como nas cidades medievais as dimensões não eram sempre iguais. Atualmente ainda hoje se encontra quarteirões dentro da mesma cidade que não são todos iguais, uns são abertos outros fechados, no interior podem ser abertos e dar passagem de uma das ruas até ao interior, incluir

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Caracterização e Análise Histórica da Cidade ou não um espaço verde ou um espaço de lazer, desse modo o interior de um quarteirão depende da função que lhe é atribuído. Quando existe uniformidade na construção, a forma e tamanho dos quarteirões, pode relacionar-se com as classes sociais que habitam nestes, tal como aconteceu nas cidades helenísticas, romanas e do Novo Mundo ou nas cidades industriais. Quando acontece o contrário, em que na mesma cidade existe uma diferença na construção de quarteirões, pode estar relacionado com as classes sociais, as construções maiores são normalmente da classe mais alta, e as mais pequenas da classe mais baixa (Ribeiro, 2008).

Assim no estudo da cidade percebe-se a existência de diversos tipos de quarteirões. De acordo com a sua origem, o seu desenvolvimento e função. É um elemento urbanístico presente na evolução de uma cidade, onde a localização e o tipo de arquitetura permite analisar a sua relação com a estrutura urbana.

2.5.6. Edifício

Por definição um edifício é uma construção de caráter permanente, normalmente constituído por um teto e paredes de diferentes dimensões (Dicionário Língua Portuguesa, 2017).

Como todos os elementos referidos anteriormente, também os edifícios são providos de características como a forma, o tamanho, os materiais, entre outros. São as características da sua arquitetura que permitem diferenciá-los entre si, e é através dos edifícios que há criação de espaços urbanos como as ruas, as praças, as avenidas, entre outros.

Os edifícios são construídos para albergar determinadas funções, a sua construção pode depender ou não da sua utilização. O principal objetivo da sua construção é o alojamento do Homem, seja para fins de habitação, comércio, serviços, religião, politica, entre outros. É possível agregar os edifícios consoante a sua forma ou função, criando uma relação entre a malha urbana e o edificado, uma vez que a cidade depende da relação de tipologia-morfologia e da forma como se aglomeram estes elementos. Os edifícios criam e determinam a malha urbana, a dependência entre o edifício e a forma urbana “ é um dos campos mais sólidos em que se colocam as relações entre a cidade e a arquitetura. Pode ser observada ao longo da História, onde a forma urbana é o resultado, produto, e simultaneamente geradora da tipologia edificada, numa relação eminentemente dialética entre cidade e arquitetura, entre forma urbana e edifícios” (Lamas, 2011, p.86).

2.5.7. Logradouro

O logradouro é um terreno mais ou menos extenso junto a habitação, normalmente para proveito dos proprietários da mesma, ou ainda um terreno público para a pastagem do gado,

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terreno inculto ou um espaço de usufruto público (Dicionário Língua Portuguesa, 2017). Na cidade tradicional, o logradouro era ainda o espaço resultante dos ajustes dos loteamentos e de geometrias de ocupação de lotes. A sua função foi diversa segundo as épocas, inicialmente a sua utilização era de horta ou quintal, depois passou a ter função de oficina, garagem ou anexo, recentemente acaba por ser de uso coletivo. Trata-se de um espaço que desde a sua origem foi alterado consoante as necessidades da sociedade, onde era possível albergar as atividades que o Homem tinha de realizar.

O desenho do logradouro muitas das vezes irregular tinha origem na sua utilização. Foi um dos elementos-base que deu origem à evolução do quarteirão. O logradouro não pode ser considerado um elemento independente pois juntamente com a habitação formam um conjunto (Lamas, 2000).

2.5.8. Monumento

O monumento por definição é uma construção, uma escultura ou uma obra de arquitetura. O objetivo da sua construção é invocar a memória de alguém ou de algo, para a prosperidade (Dicionário Língua Portuguesa, 2017).

O monumento é um elemento distinto por ser único, tanto na sua individualidade assim como pela sua figura presente. As cidades são conhecidas pelos seus monumentos e pela história destes, a sua presença é determinante. Além de caraterizar a cidade ou pelo menos a área onde está enquadrado, tem um papel fundamental no desenho urbano. A inexistência de monumentos na cidade pode estar ligado a ausência de história ou do reconhecimento da mesma.

A definição principal de monumento começou por ser um elemento arquitetónico ou uma escultura, atualmente o conceito evoluiu e define também aglomerados urbanos, núcleos históricos e até mesmo cidades (Lamas, 2011).

2.5.9. Vegetação

A vegetação na cidade define “a imagem da cidade; tem individualidade própria; desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho urbano; servem para organizar, definir e conter espaços “ (idem, 2011, p.106).

A estrutura verde na cidade vai desde a árvore, ao quintal, ao jardim, até ao parque urbano da cidade. Também são elementos integrantes da cidade, ao contrário dos outros referidos anteriormente estes são elementos vivos. A malha urbana depende da vegetação, o alinhamento de árvores numa rua, não é igual a uma rua despedida de vegetação, as arvores originam um traçado tal como um alinhamento de edifícios.

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Caracterização e Análise Histórica da Cidade análise destas duas disciplinas deve ser diferenciada na compreensão do desenho urbano. Deve perceber-se que ambos são elementos integrantes, apesar da natureza destes ser diferente, a complementação entre os dois, origina o desenho urbano de uma cidade.

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