• Nenhum resultado encontrado

6.Junho.05

Escola Secundária José Afonso

1. Bem, em relação ao Projecto Passa a Palavra, quando foram feitas as pro-

postas das fichas de leitura, que ideia de destinatário é que tinham?

Bem, eu tinha a minha ideia que o destinatário seria um público juvenil, …pensando nos alunos do secundário, portanto com uma certa idade, com quinze anos ou mais… não é, sei lá dos quinze aos dezoito, que é na verdade o público que nós temos nessa área. Para o tipo de actividade como a que era proposta, não me parece que para os alunos mais novos tivesse eficácia.

Claro. Mas houve assim, alguma imagem mental?

Ah… eu tinha uma imagem e a minha imagem era que esta actividade se destinava a um público leitor. A ideia é a de que se destinava a um público juvenil, mas que já seriam leitores. Não seria bem uma motivação para a leitura, nem seria bem para um miúdo que não está habituado a ler e que tem que se ganhar para a leitura… ah… a minha imagem deste público era essencialmente o miúdo que já lê e que pode dar um saltinho qualitativo nas suas leituras.

2. Nas metodologias para abordagem das obras escolhidas, quais resultaram

ou não e porquê?

Eu ah… só sei falar daquilo que ouvi dizer, não é? Portanto, da partilha que fizemos com os outros colegas, com os colegas que tiveram os primeiros grupos, pareceu-me que houve pessoas ah… que dinamizaram as outras sessões do Passa a Palavra que tiveram uma preocupação de planificar acti- vidades que fossem ao encontro do tipo de público que tinham. Concretamente no que diz respeito aos meus alunos, portanto ao grupo que foi aqui da escola, eh… julgo que isso não aconteceu. Pelo menos é esse o feedback que eu tive dos miúdos. Eles acham que aquilo foi uma coisa muito aca- démica, ehh… inclusive fizeram uma comparação com as aulas de português. É curioso. E disseram que aquilo parecia as aulas de português de antigamente… Porque… pronto, iam para ali, e depois iam falar da obra. Era lido um poemazinho ou outro que tivesse a ver com a obra… Não lhes era pedido um …pá… um trabalho… pronto, era apenas de intervenção espontânea e sem… sem que houvesse um apelo à criatividade dos miúdos, percebes? Eu senti muito a falta disso. Até porque tinha feedback do outro… do jornalista… sabia que o grupo dele fez trabalhos muito giros, de escrita criativa com os miúdos e as minhas levavam também daqui essa expectativa. Porque quando foram convidados, dissemos o tipo de coisa que era e eu fui-lhes dizendo. Depois, parece-me que ficou tudo um bocadinho aquém das expectativas. Mas isto depois também podes confrontar com a ava- liação que eles fizeram.

3. E, na tua perspectiva, de que forma é que este projecto influiu nos hábitos

de leitura dos participantes?

Só posso falar dos meus. Mas obviamente, aos meus, julgo que não lhes alterou grande… grande coisa, não é. Mas é um bocado porque eles já eram leitores, tinham… tinham alguma apetência pela leitura… e eu julgo que isto não contribuiu, quanto a mim, para eles darem assim, o saltinho, diga- mos assim, relativamente às obras que lêem.

4. E nas práticas pedagógicas, concretamente aqui na escola, alterou alguma

coisa?

5. Então, para concluir, como é que avalias os efeitos deste projecto?

Se eu avaliasse só a minha escola, o balanço é negativo. Tanto que é negativo que eu disse à Paula Fonte, quando ela me solicitou a participação para uma nova sessão, disse à Paula: Olha, os miúdos aqui da escola não ficaram nada motivados e portanto não… nem sequer vou mexer uma palha para isso. Agora, das experiências que eu ouvi contar das escolas que tiveram intervenção antes da nos- sa, eu julgo que pode ser globalmente uma, uma… algo que a avaliação pode ser positiva. Porque eles têm, têm outra, fazem outra abordagem ao livro, não é, não ao acto de leitura solitário, como estamos habituados a fazê-lo, mas é o acto de leitura partilhado, é o acto criativo a partir do livro. E isso é importante. É importante até para o relacionamento deles com, com a leitura, não é? Até pode ser motivador, pode ser desencadeador, por exemplo de produção escrita. Julgo que esse poderia ser, poderia ser o passo importante para, por exemplo, na relação pedagógica. Agora assim como foi, relativamente à minha, à minha escola, o balanço é… é bastante negativo. Aquilo que sei do glo- bal, acho que poderia ter sido muito positivo, se tivessem sido todas as sessões mais ou menos do mesmo tipo. Eu julgo que isto acaba por estar, no fundo, um bocadinho dependente da pessoa que coordena, que dinamiza. A ideia de ateliê que consegue criar com os miúdos e depois as ideias que partilha.

Hum, hum. Queres acrescentar mais alguma coisa?

Olha, o que eu também, também reflecti um bocadinho… aliás até conversei com a Isabel Tavares sobre isso, julgo que às vezes não foram feitas as melhores escolhas, relativamente aos livros pro- postos. Percebes, ou que havia um autor um bocadinho, percebes, ‘tava um pouco complexo demais para os miúdos, ou um bocadinho até afastado da sua realidade. Ah… Sei que havia hipótese de escolha, mas talvez pudéssemos ter adequado melhor os livros que propusemos ao público-alvo. Isso foi um erro dos professores. Havia muitos livros bons e adequados aos miúdos, mas acho que a lista podia ser… podia ter mais qualidade. Se tivéssemos tido tempo para reflectir, pronto, essas coisas todas. Não me ocorre mais nada. Mas acho que iniciativas deste género são, são interessan- tes. Agora, tem que se fazer este balanço e tem que se pegar depois nos resultados da avaliação para eventualmente fazer isto de outra forma, não é? De outra forma… houve alguns que foram mui- to bem feitos, não é? Que tiveram resultados muito bons, muito positivos… Mas é assim, os grupos foram organizados, não é? Organizavam-se lá com… e portanto eu à partida tentei não interferir, só que eles vinham contar coisas. Ah, porque não se faz nada, não sei quê. Então mas proponham vocês coisas, proponham vocês coisas, proponham convidar a Lídia Jorge. Por exemplo, a segunda parte, digamos assim, deste programa, não é, portanto a actividade chamava-se Passa a Palavra: grupos de leitura, leitura em antena. E cadê as leituras em antena? Isto lembrou-me agora a propósi- to da Lídia Jorge. Como os miúdos se queixavam que aquilo era um bocadinho monótono, eu disse- lhes assim: É suposto os professores não interferirem, a não ser depois, naquilo que seja para fazer na escola, mas sugiram uma coisa que até era giro ser a Biblioteca Municipal a fazer e é uma coisa simples, sugiram por exemplo um convite à Lídia Jorge, que até podia ser a Biblioteca Municipal a fazer, não precisa de ser a senhora… e se ela vier ali vocês podem fazer uma entrevista, levam daqui o material da escola e depois nós trabalhamos isso e como não tínhamos a nossa rádio a fun- cionar aqui na escola, trabalhamos isso e mandamos para a rádio… para aquela… com quem é que vocês estavam a trabalhar?

Baía.

Para a rádio Baía, para o programa do… do… ai que agora não me lembro do nome do homem…pronto a gente sabe. Eu sei quem é. E ele se quiser aproveita os prints, fazemos aqui o tratamento da entrevista e pronto. Olha, os miúdos propuseram aquilo… e pronto… e a senhora dis- se que não porque tinha sido paga para vir aqui este bocadinho, portanto não valia a pena o resto. Chegou a propor que escrevessem um mail à Lídia Jorge a dizer o que é que pensavam da… do conto, mas nem passava por ela. Nem era um trabalho conjunto, era assim… faziam um mail e man- davam à Lídia Jorge. Por isso… eu acho que ficou um bocadinho aquém. Em termos de produção dos miúdos, eu tenho um texto. Que é de uma miúda que é, pronto, é uma grande leitora, gosta de ler, adere bastante às novidades e achou que devia escrever uma coisa a propósito d’A Instrumenta- lina. E eu achei piada. E tenho esse texto e disse à Paula Fonte, eu tenho isto, não tenho mais nada, não lhes foi proposta mais nenhuma actividade. Aquilo era nós não tínhamos intervenção, portanto

quando fossem pedidas de lá as coisas e depois aqui nós trabalharíamos com os miúdos aquilo que fosse proposto por lá, agora não era ao contrário, não é? Mas pronto…

ANEXO 2 f

ENTREVISTA