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6.Junho.05

Escola Secundária Manuel Cargaleiro

1. Quando vocês fizeram as fichas de leitura, que ideia é que tinham de desti-

natário?

As fichas para a … escolher depois as obras?

Hum, hum.

Nós pensámos nos jovens, principalmente entre os quinze, dezassete anos… penso que foi nessa base.

Alguma ideia em concreto? Nos vossos alunos, em alunos que já…

Não, não, seria no geral e era para abrir-lhes outras leituras… leituras diferentes daquelas que eles estavam habituados a fazer. Portanto era mais nesse sentido.

2. Nas metodologias propostas aos alunos para abordarem as obras escolhi-

das, quais resultaram e quais não…

Portanto isso tem a ver com aquelas reuniões que tivemos com… com o Joel.

… e porquê.

Sim. Sim e fora também.

Hã… Bem é assim. Realmente, eu comecei a trabalhar com eles, aqui na análise da obra. Um des- montar… meter-me não só nas personagens e naquelas coisas da narrativa, mas desmontar em termos de simbolismos que apareciam pelo meio, valores semânticos das palavras e depois como é que aquilo se relacionava até ao fim da obra… Comecei a fazer esse tipo de trabalho. Depois, che- guei à conclusão que quando eles estavam a trabalhar com o Joel não era a mesma coisa. Portanto, ele trabalhou com eles o texto, também de uma forma que eu achei interessante… foi pena depois o último… para já ele pô-los a trabalhar na perspectiva da leitura. Do género: o estarmos a ler, estar- mos a ler… e acaba ali, a palavra fica a meio e termos a ideia, a percepção do que é que vai apare- cer do outro lado… para não haver interrupção de leituras. Portanto, ele deu muito valor à leitura… oral, portanto à oralidade e … expressivi… e à leitura expressiva também. Foi muito isso. Inclusiva- mente com o Mia Couto, ele tentou pô-los a falar, a ler como se fossem moçambicanos. Portanto ele deu muito valor à oralidade. Em relação à escrita… hee… eu acho que se calhar depois começou a ser um bocadinho repetitivo, mas também foram coisas engraçadas, foram textos, ou propostas engraçadas, que era eles escreverem… uma história, sem usar a letra A, ou sem usarem a letra P. Não sei como é que eles depois fizeram isso, porque depois eu nunca tive acesso aos textos… isso agora é assim…

Essa é a questão…

…eles mandaram para o Joel, …percebes? E nesse caso… pronto. E então, tirando isso, foi, foi, foi interessante, eles fizeram coisas engraçadas. Um da Catarina está na Net. Pelo menos um dela está lá. Mas eu achei interessante e os miúdos aderiram muito bem.

3. De que forma é que isto poderá ter influência nos hábitos e práticas de leitu-

ra dos participantes?

É assim: estes alunos, concretamente, se calhar não são alunos tipo. Porque eles não precisavam de motivação para a leitura. Só um, que é o Paulo e já não está nesta turma… e que leu “O navegador solitário” de um dia para o outro… quase. Portanto esse foi o fenómeno. Era o único que não lia… lia revistas de informática e… e passou a ler, pelo menos estes livros ele leu. Os outros não. Os outros são miúdos que lêem normalmente. Por exemplo, a Catarina lê imenso. Lê tudo. Desde o Sarama- go… tudo. Falei agora do Saramago porque… também costuma ser um escritor difícil para a idade deles… ela lê tudo. O Pedro… o Pedro, eu já… eu acho que ele vai ser, se ele continuar assim, vai ser um escritor. Mais um médico escritor. Portanto, são miúdos que não precisavam do grande empurrão para ler, percebes? Portanto se calhar não são tipo. Portanto, continuaram a gostar de ler.

4. E na parte da Ana, como é que influenciou nas práticas pedagógicas?

É muito feio se disser que não?

Não. Porque é que seria? Não influenciou nada.

Porque não aconteceu nada.

Já trabalhava assim?

Pois. Sempre, isso sempre, sempre apostei na parte do trabalho criativo do texto. E portanto não influenciou muito. Mas achei curioso a maneira de trabalhar e aquelas sugestões. Achei que real- mente eram interessantes. Mas não veio assim influenciar muito, muito.

5. Por fim, como é que avalia os efeitos deste projecto?

Olha, é assim, eu estava à espera de mais. Ou que tivesse mais efeitos. Mas também sei que isto às vezes é um bocado complicado. Ou os professores têm muita coisa a fazer e não vão, não é?... à Internet… ver os projectos da escola. Por exemplo, muitas das vezes está assim sozinho na bibliote- ca… percebe, percebes? E eu pensava que isto fosse mais visível, ou que as pessoas, por exemplo, nós pusemos os cartazes lá em baixo, tivemos os livros sempre aqui em exposição e ninguém veio ver. Isto é… não… não é pelo projecto em si, porque eu acho que a ideia do projecto é muito boa, e se calhar noutras escolas até funcionou melhor, ou teve mais visibilidade… hee, aqui não sei. Eu ainda fui duas ou três vezes ao Passa a Palavra, também lá deixei umas mensagens, mas via que aquilo tinha pouca resposta, porque eu acho que ainda há muita inércia nesse sentido, não é? Não sei depois em relação aos outros… como é que decorreram…

Hum, hum, não sei. Mais ou menos.

Mais ou menos. Também isto é um projecto, o arrancar, não é? O princípio. Se calhar também era expectável para vocês, que a partir do momento, mentalizaram-se que teriam um projecto assim… Nós quando temos as coisas no papel, é sempre de uma forma, às vezes a concretização é outra, não é? Nós por exemplo, este ano, também fizemos aqui projectos que não apareceu ninguém para ver. Quando foi do dia da mulher… mas, pronto, isto é assim. É assim, agora, que eu acho que é preciso continuar a apostar na promoção da leitura, a partir dos miúdos mais pequenos, logo, que é para eles virem com o hábito… aliás eu acho que os miúdos do sétimo, neste momento, já lêem mais do que os do décimo primeiro, por exemplo. Eu acho que neste momento não temos aqui nenhum miúdo do sétimo que chegue aqui a dizer assim: -Ah, dê-me o livro mais pequenino possível para ler. E os outros, do décimo primeiro, têm uma coisa que se chama contrato de leitura, que eu sou contra, acho que não é por contrato que a gente lá vai… mas isso, se calhar é outra conversa:

-Ah, eu quero o livro mais pequenino, mais fininho, não sei quê, para apresentar na aula do contrato da leitura. E os do sétimo não chegam aqui a pedir isso assim. Portanto, é capaz de já haver uma

mudança de mentalidade, e que já estejam habituados. Agora não sei… como é que isto vai resultar.

Mais algum comentário?

Não. Portanto, eu acho que vocês devem continuara apostar nestas, nestas actividades. Se calhar escolher melhor… os dinamizadores. Não é que… eu gostei do Joel e o Joel pôs os miúdos muito à

vontade. Isso aí não tenho nada a dizer. O que foi, foi aquela questão do final…que ele depois começou a não ter tempo, desmarcava, não sei quê… depois os miúdos entraram em férias, disper- saram-se… isso é que foi aborrecido. Mas tirando isso os miúdos gostaram dele. Ele depois às vezes é que se cort… pronto. Mas pronto. Não sei.

Obrigada.

Ajudou alguma coisa?

ANEXO 2 b

ENTREVISTA