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Das entrevistas exploratórias à construção do inquérito por questionário Se o jornal Público, ao divulgar os rankings escolares, poderá ter dado origem e

4. CAPÍTULO – OS PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

4.3. Das entrevistas exploratórias à construção do inquérito por questionário Se o jornal Público, ao divulgar os rankings escolares, poderá ter dado origem e

visibilidade a um processo de reflexividade social (que procurámos apreender através da análise de conteúdo), outros efeitos - invisíveis porque não captados pela imprensa – terão também ocorrido desde que o primeiro ranking de escolas foi divulgado. O quotidiano escolar poderá ter sido justamente um domínio no qual ter-se-ão desenvolvido (novos) processos reflexivos devido à existência mediática dos rankings. Partindo desta hipótese central, pretendíamos analisar as opiniões e atitudes desenvolvidas pelos docentes que leccionam no 12º ano de escolaridade disciplinas sujeitas a exame nacional, com o intuito de verificarmos se a divulgação do ranking de escolas teria provocado um efeito de reflexividade social acrescida naqueles professores e motivado alterações nas suas práticas organizacionais e pedagógicas.

O recurso ao depoimento dos actores sociais, tendo em vista o apuramento dos motivos da sua acção, de acordo com a abordagem weberiana da acção social (Madureira Pinto, 1984 b, p.118) foi a via técnico-metodológica que se nos afigurou como mais pertinente começar por explorar nesta fase da pesquisa empírica.

Realizámos, assim, seis entrevistas exploratórias a docentes que leccionam o 12º ano de escolaridade, em seis estabelecimentos de ensino secundário público, situados em diferentes regiões do País: Mafra, Carnaxide, Tomar, Corroios, Lisboa e Tavira. Apenas dois dos professores entrevistados desenvolviam a sua actividade num contexto espacial onde a sua escola é a única. Os restantes confrontavam-se com a crescente «concorrência» de outros estabelecimentos de ensino secundário, devido ao decréscimo anual do número de alunos.

Dado que as entrevistas exploratórias “servem para encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho e não para verificar hipóteses preestabelecidas” (Quivy e Campenhoudt, 1992, p.68) o seu carácter foi pouco directivo, de maneira a possibilitar aos inquiridos um elevado grau de liberdade para expressarem as suas opiniões. Estes manifestaram-se a respeito dos quatro tópicos que compunham o nosso guião: “opinião dos professores sobre a divulgação dos rankings escolares”; “opinião dos professores sobre os efeitos da publicação dos rankings nas suas práticas lectivas; “opinião dos professores sobre os efeitos da publicação dos rankings nas práticas lectivas dos outros docentes do seu estabelecimento de ensino” e “opinião dos professores sobre os efeitos da publicação dos rankings nas práticas organizacionais desenvolvidas no seu estabelecimento de ensino”.

Nesta etapa do trabalho de terreno procurámos, em síntese, combinar os processos lógico-dedutivos com os processos indutivos, de modo a obter, por via dos dados empíricos, elementos que nos permitissem seleccionar as teorias de médio alcance mais adequadas ao nosso objecto de estudo e accionar as teorias auxiliares de pesquisa (Ferreira de Almeida e Madureira Pinto, 1987, p.63) que orientariam o decorrer desta investigação. As informações recolhidas nas entrevistas exploratórias revelaram-se, com efeito, de uma enorme utilidade para construirmos os pressupostos teóricos orientadores da investigação e consolidarmos o nosso quadro teórico. Só então foi possível passarmos à construção da outra técnica de pesquisa utilizada, o inquérito por questionário, incluído no Anexo 2.

O inquérito por questionário é um procedimento que visa a recolha sistemática e estandardizada de depoimentos dos actores sociais (Madureira Pinto, 1984 b, p.118). A opção por este instrumento de pesquisa prendeu-se, assim, com o facto de este possibilitar a inquirição de populações relativamente vastas, permitir a uniformização da informação e garantir a comparabilidade dos resultados (Giglione e Matalon, 1993, p.121; Ferreira, 1987, p.169).

À semelhança dos anteriores procedimentos metodológicos adoptados, todas as questões do inquérito por questionário foram construídas com o intuito de atingirmos os objectivos orientadores da investigação e testarmos as hipóteses teóricas do nosso trabalho. Por isso mesmo, a organização interna do questionário - estruturada em quatro grupos de perguntas - obedeceu às diversas dimensões teóricas que procurámos analisar. No entanto, como este instrumento foi concebido para ser preenchido pelos próprios inquiridos sem intervenção do entrevistador – isto é, através da “administração directa” (Quivy e Campenhoudt, 1992, p.190) ou “auto-administração” (Ghiglione e Matalon, 1993, p. 182), a sequência das questões foi elaborada no sentido de se procurar estabelecer um fio condutor que tornasse o questionário coerente e de fácil preenchimento para os respondentes. Por esse motivo, muitas questões que respeitam às mesmas hipóteses teóricas foram incluídas nos grupos II, III e IV, em vez de aparecerem agregadas no mesmo grupo de perguntas.

As perguntas destes grupos do inquérito por questionário foram, em suma, construídas com o intuito de obtermos dados que nos possibilitassem confirmar se a divulgação dos rankings escolares provocou efeitos reflexivos nas práticas lectivas e organizacionais dos professores que leccionam no 12º ano de escolaridade disciplinas sujeitas a exame nacional. As questões do grupo I do inquérito por questionário, respeitantes à condição sócio- económica e profissional dos inquiridos foram, por sua vez, redigidas com o propósito de efectuarmos uma caracterização socioprofissional da amostra e apreendermos em que medida

se verificaria uma alteração de opiniões e atitudes dos respondentes em função de algumas destas variáveis objectivas.

A fase de construção do inquérito por questionário decorreu no final do ano de 2004, período em que o ranking de escolas de 2004 já havia sido publicado. Por isso, incluímos também este ano no questionário, apesar de não o termos contemplado na análise de conteúdo do jornal Público. Os distintos tempos em que ocorreram as fases da pesquisa empírica justificam, assim, o facto de o ano 2004 ter sido excluído de uma parte da nossa análise e incluído na outra.

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