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CAPÍTULO VII – PROPOSTA DE ITINERÁRIO TURÍSTICO COMO PROJETO DE

7.3 Fatores para o sucesso do itinerário turístico

7.3.2 Envolvimento da comunidade

Na nossa opinião, um itinerário só se poderá tornar num produto turístico de sucesso e rentável a longo prazo se, obrigatoriamente, começar por sensibilizar a população local e a envolver na preservação e promoção do itinerário.

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Com base no que foi apresentando anteriormente, o desenvolvimento local é um processo de transformação da realidade assente na capacitação das pessoas para o exercício de uma cidadania ativa e transformadora da vida individual e em comunidade (Pérez, 2009). É, por isso, fundamental que os grupos sejam mais que utentes de serviços e participem nas práticas de desenvolvimento local através da utilização de recursos comunitários e consequente valorização dos recursos humanos, materiais, das populações locais e instituições do território. O desenvolvimento turístico do território em estudo, se feito de forma sustentável, poderá trazer inúmeras vantagens para a comunidade. Alguma revolta por parte da população que não recebe o turista e tem uma ideia negativa do mesmo, pode ainda ser alterada se esta estiver envolvida em todo o processo.

Segundo Batista (2003: 72), o envolvimento comunitário da população permite:  “Estabilização da população;

 Aumento do emprego;  Aumentos de rendimento;

 Reforço da viabilidade comunitária;

 Melhoria do bem-estar e da integração social;  Desenvolvimento cultural;

 Melhoria da conservação.”

Porém, ter um produto turístico de qualidade não chega para alcançar o desenvolvimento e evitar as consequências negativas dos impactos do turismo. É necessário que haja um desenvolvimento mediado pelo relacionamento dos turistas com a comunidade e com o seu património cultural material e imaterial.

O itinerário, para além de promover parcerias locais, deve também criar um projeto pedagógico que dê particular atenção à necessidade de trabalhar o orgulho que a comunidade deve ter em si-própria para que, no contacto inicial com o turista, a população receba com qualidade e saiba divulgar de forma positiva o produto turístico. Deverá também incidir na necessidade de uma maior sensibilização já que, por todo o território em estudo, existem casos de património vandalizado.

Há que referir também que tem existido, desde o início, um sentimento de pertença e recetividade por parte das populações, acolhendo bem o estudo, quando perceberam que o património, que sempre os caracterizou, estava a ser alvo de interesse e investigação. De referir, mais uma vez, que as atividades dinamizadas pelas associações têm tido adesão por parte do público, criando-se

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também momentos de convívio e de partilha, sendo este um bom indício para a recetividade de um possível itinerário.

7.3.3 Diferenciação da oferta

O sector do turismo apresenta-se cada vez mais competitivo e explorado, devendo cada município ou região encontrar um motor impulsionador do seu desenvolvimento. Para isso, deverá recorrer a várias estratégias.

A criação do itinerário a propor no estudo pode ser considerada como uma estratégia de fomento de desenvolvimento local que deverá possibilitar a melhoria das condições sociais, económicas e culturais das respetivas populações. Por outro lado, qualquer itinerário propicia um contacto íntimo e o aprofundamento da experiência cultural com a população local por parte do turista. Assim sendo, no nosso entender, a cultura e a história são cada vez mais um produto suscetível de ser exportado e fazendo sentido apenas quando partilhados.

Embora, no caso do município gaiense, as caves do Vinho do Porto no centro histórico de Vila Nova de Gaia sejam, por si só, um produto turístico rentável, é preciso juntar a este outros produtos para angariar mais visitantes para o município. Daí a importância da diversificação da oferta turística, centrada na experiência, o que permite não só atrair novos mercados, mas também, conquistar o interesse dos atuais turistas para que regressem e recomendem o local. É importante realçar que um serviço diferenciado permite uma experiência global, algo que é extremamente valorizado pelo turista na hora de escolher o destino. Deste modo, o destino turístico deve apresentar produtos turísticos alternativos que só são possíveis através da cooperação entre todos os interessados. Uma alimentação genuína ou um alojamento contextualizado com a temática de um itinerário, entre outras atividades económicas, complementam a oferta da visita e são considerados fatores de distinção e valorização do produto turístico.

São elementos de oferta de diferenciação turístico-cultural no território em estudo:  Artesanato (artefactos em madeira, tanoaria, cestaria, tapeçarias, etc.);

 Tradições (festas religiosas e romarias);  Gastronomia local (sável e lampreia);  Arte e música (rico em tradições folclóricas);  História da região (e.g., castro, indústria);

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 Trabalho e tecnologia (e.g., moagem, tecelagem, fundição);

 Arquitetura (e.g., edifícios construídos em lousã, edifícios industriais);

 Vestimenta ou traje (as pessoas eram distinguidas pelo seu trajar ou pela quantidade de ouro transportado, sendo possível perceber o poder económico do indivíduo através do tamanho dos brincos, cordão e medalhas);

 Atividades do tempo de lazer (e.g, desporto aquático;).

Conclui-se, assim, que o território em estudo tem muito do que é necessário para se constituir como um produto turístico atrativo e servir de complemento a um projeto turístico mais amplo e ambicioso.

7.3.4 Equipamentos/infraestruturas

Para a apresentação de um itinerário, o território que o integra terá obrigatoriamente que ter ou criar condições para receber visitantes.

Carvalho (2009) afirma que as infraestruturas contribuem para criar e proporcionar a sustentabilidade da procura, assim como, permite a fixação das populações. Ou seja, a qualidade, a quantidade e o tipo de infraestruturas ajudam a alcançar o sucesso dos destinos turísticos e influenciam a escolha do turista (Carvalho, 2009). Nesse sentido, é fundamental que sejam definidos critérios de forma a salvaguardar a segurança e a qualidade da visita. Qualquer planificação permitirá também evitar um desenvolvimento espontâneo negativo e não controlado e terá em vista desenvolvimento turístico equilibrado.

No entanto, quando se visita o território em estudo, é visível a necessidade de proceder a um investimento inicial ao nível de infraestruturas e de equipamentos. Neste ponto, torna-se fundamental o papel das entidades públicas que devem prover a oferta de infraestruturas e serviços para tornar o destino acessível e promover a associação de investimento de entidades privadas, de um modo que a visita possa ser uma experiência de carácter único para o turista/visitante. São exemplos de investimento público, as infraestruturas de acesso, uma boa sinalização, equipamentos urbanos, zonas de receção e também serviços de limpeza e de segurança. Só depois é que poderão surgir as infraestruturas e os equipamentos relacionados com o sector privado, como é o caso de equipamentos hoteleiros, de restauração e atividades lúdicas, entre outros.

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Mais especificamente no território em estudo, além do que foi apresentado anteriormente, acresce as necessidades de uma proteção patrimonial, obras de restauro em recursos com potencial turístico, criação de centros de acolhimento/informação para receber visitantes e/ou turistas em núcleos de valor intrínseco, criação de condições para ser possível dinamizar ateliers e workshops e casas de banho públicas, entre muitas outras.

De referir também a importância da realização da parte correspondente do projeto Encostas do Douro para a boa implementação deste itinerário e para o desenvolvimento geral do território em estudo. Este projeto municipal tem como objetivo a valorização a nível ambiental e paisagístico da frente ribeirinha de Vila Nova de Gaia, com um total de cerca de 20 km de extensão e incluindo o percurso entre a Ponte D. Maria Pia e o limite nascente administrativo de Lever. Este projeto apresenta como objetivos específicos (http://www.cm-gaia.pt - consultado a 16/08/2014):

 “Requalificação ambiental dos cursos de água e respetivas margens;

 Criação de percursos cicláveis e pedonais ao longo da margem do Rio Douro;  Reabilitação e reconversão das quintas existentes;

 Reabilitação e requalificação dos cais de acostagem;

 Reconstrução das pesqueiras, rampas de acesso ao rio e muros de suporte das margens;  Reabilitação e requalificação ambiental de áreas naturais notáveis (Vale de Quebrantões;

Areinho de Oliveira do Douro; Areinho de Arnelas;);

 Requalificação paisagística dos núcleos ribeirinhos antigos (Cais do Esteiro, Azenha de Campos, Arnelas, Crestuma);

 Valorização do património cultural e construído existente;  Promoção de atividades desportivas ligadas ao rio Douro;  Desenvolvimento de projetos âncora.”

Atualmente, e tal como foi referido pelo vereador Dr. Delfim Sousa na entrevista dada à autora deste projeto, o projeto Encostas do Douro encontra-se sem verbas financeiras para a sua persecução.

7.3.5 Marketing e divulgação

O marketing e a divulgação do itinerário são fatores fundamentais para o sucesso do mesmo. Assim, qualquer projeto de itinerário a apresentar compreenderá também a edição de algumas

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publicações e inventários com os elementos marcantes da cultura que perpetuam o modo de vida do município gaiense, em específico no território em estudo.

É importante também salientar que existe pouca divulgação ao turista/visitante das diferentes ofertas e do restante património do concelho por parte da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Habitualmente aquelas ofertas não estão articuladas entre si e não há também continuidade na sua divulgação. Relativamente a estes fatores, será também importante apostar em diferentes estratégias criativas de programação para abranger vários tipos de turistas.

Embora recentemente o Parque Biológico de Gaia que gere também o Parque Botânico do Castelo em Crestuma, ambos sob a tutela da Câmara Municipal de Gaia, tenha editado algum material de merchandising, continua com falta de suficiente apoio por parte do Gabinete de Comunicação e Divulgação da Câmara Municipal para a divulgação de ações dentro do município de Vila Nova de Gaia. Por outro lado, o centro histórico de Vila Nova de Gaia poderia canalizar variados visitantes se houvesse também ali uma divulgação eficaz.

Ao nível do marketing e da divulgação são possíveis as apostas:

- Merchandising e noutros produtos de marketing pois conferem ao itinerário uma certa identidade e contribuem posteriormente para a memorização da visita;

- Participação em feiras internacionais de turismo e outros eventos para se dar a conhecer o produto e ganhar notoriedade.

- Visita de jornalistas da especialidade de forma a promover a região e o itinerário. - Sinalização turística e cultural;

- Informação disponível em diferentes idiomas;

- Uso de novas tecnologias, fundamental para uma divulgação através de websites, redes sociais, vídeos promocionais e panfletos.

Relativamente ao uso de novas tecnologias, outro dado referido no PENT (Turismo de Portugal I.P., 2007) é a diminuição de viagens organizadas e sob a forma de pacotes turísticos. Ou seja, existem dados relativos ao aumento das vendas diretas sem intermediários como, por exemplo, a compra direta às companhias aéreas, hotéis e outros promotores de serviço. Verifica-se, assim, a alteração gradual de um modelo clássico de negócio com uma progressiva desintermediação da oferta e substituição pela utilização da internet. Deste modo, torna-se cada vez mais importante a disponibilização de serviços relacionados com novas tecnologias. São exemplos:

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- Informação disponível na internet (o website da União das Juntas de Freguesia de Sandim, Olival, Lever e Crestuma não existe sequer, contudo, qualquer sítio web do itinerário a propor deve apostar num site com a possibilidade de comunicar noutros idiomas, com atualizações permanentes e onde esteja disponível um contacto para dar resposta a qualquer iniciativa externa visando experimentar o itinerário);

- Redes sociais - as redes sociais são um mecanismo de comunicação com um forte alcance e em muito poderão contribuir para a divulgação do itinerário. Sem site próprio, o único meio de comunicação digital utilizado pela União das Juntas de Freguesia de Sandim, Olival, Lever e Crestuma é a sua página no facebook, que embora seja atualizada com frequência, apenas está a abranger um universo de cerca de 800 pessoas.

7.3.6 Qualificação profissional

Será fundamental para a qualidade do serviço oferecido a aposta na qualificação profissional dos recursos humanos ligados ao itinerário, nomeadamente, os guias, intérpretes ou animadores que façam a receção e o acompanhamento às visitas turísticas (Turismo de Portugal I.P., 2007). A nosso ver, este é claramente mais um fator a colmatar.

Igualmente importante será, em nosso entender, uma formação contínua e consistente dos próprios agentes políticos, como presidentes de autarquia e vereadores, e também da comunidade local dado que é esta que recebe e estabelece o primeiro contacto com o turista. Assim poder-se-á melhorar a imagem transmitida ao turista, o que poderá ser outro fator capaz de influenciar a escolha num mercado turístico bastante competitivo.

7.3.7 Atividades lúdicas

O Turismo de Portugal (2007: 41) refere também uma alteração do comportamento do turista, revelando novas tendências ao nível do consumidor e mostrando que atualmente os turistas estão interessados em socializar, divertir-se e experimentarem novas práticas, como a visita de restaurantes típicos ou fazer a prova de vinhos portugueses, entre outras. Desta forma, as atividades lúdicas durante o período de visita são fundamentais para o sucesso desta, visto proporcionarem experiências únicas e contribuírem para a memorização da mesma, por parte do turista e da sua família.

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A transmissão do património de uma região ocorre através do envolvimento do turista na construção do seu próprio saber e tendo em conta os seus interesses e motivações.

Através da informação disponível na página de facebook da União das Juntas de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma e outras associações locais, dá-se conta apenas da existência de algumas atividades pontuais, para breve consumo imediato e sem qualquer continuidade e, embora seja de referir um certo interesse e envolvimento da comunidade, a divulgação daquelas atividades continua a ser muito escassa. São exemplos:

 Caminhadas;  Feiras tradicionais;

 Corrida de carros de rolamentos.

O itinerário necessita de contar com parcerias com empresas de animação turística que desenvolvam atividades relacionadas com a temática da história local, ligação ao rio através da dinamização constante, por exemplo, do património arqueológico, da história das comunidades e da região, do património edificado, dos moinhos, da indústria, da agricultura, da paisagem e do sável. O itinerário poderá também ter um papel na preservação e divulgação do património imaterial através da transmissão de saber-fazer de técnicas e estruturas produtivas antigas. Isto contribuirá para trazer mais turistas ao território.