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Fatores comuns e potencialidades turísticas de Arnelas, Crestuma e Lever

CAPÍTULO VII – PROPOSTA DE ITINERÁRIO TURÍSTICO COMO PROJETO DE

7.1 Fatores comuns e potencialidades turísticas de Arnelas, Crestuma e Lever

Arnelas, Crestuma e Lever, atualmente inseridas nas União de freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, estão localizadas na área sul nascente do concelho de Vila Nova de Gaia. Na nossa perspetiva, é importante referir o que as três partes deste território têm em comum para que se possa perceber e justificar a escolha da proposta de um itinerário.

São vários os fatores comuns na área em estudo como, por exemplo, o facto de terem o maior grau de interioridade do município de Vila Nova de Gaia devido à sua distância de aproximadamente 15 km da sede concelhia. Embora a área agrícola tenha vindo a diminuir com o passar dos anos, este território ainda é marcado por uma ruralidade própria, mas ainda é a sua pouca indústria, o principal sector económico. A falta de investimento na área interior do município resulta em infraestruturas obsoletas, falta de postos de trabalho e uma das áreas com menor povoamento do município. O acesso a este território torna-se difícil, em virtude de arruamentos estreitos e de sentido único. Ultimamente, a união de algumas empresas de transporte criou um monopólio de serviço que não cede às queixas de clientes sobre a necessidade de mudanças e o incumprimento de horários, sendo que o transporte público só se realiza de e para a sede do município. É de referir também que só muito recentemente, as comunidades tiveram acesso a saneamento básico. As infraestruturas urbanas, como bibliotecas, pavilhões para a prática desportiva ou piscinas, são quase inexistentes, sendo também baixa a qualidade dos serviços de energia, telecomunicações e particularmente, a internet. A juntar ao fator de falta de investimento para o melhoramento das infraestruturas, existe também a

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questão que, se por um lado o PDM veio proteger o património edificado, por outro, limitou a evolução do território pelo impedimento de alterações necessárias para uma melhoria nessas áreas protegidas. A recente reorganização administrativa das freguesias também veio colocar a sede de Junta de Freguesia a alguns quilómetros de distância destes territórios e sem transporte público direto para a mesma. Deste modo, o conjunto das situações atrás referidas tem levado a um certo esvaziamento populacional, na procura de melhores condições de vida.

No entanto, há algo em comum neste território que prenuncia um potencial turístico e que constituiu a principal razão para a sua escolha: trata-se aqui do rio Douro, dado que, todo o território em estudo tem contacto direto com a frente de rio.

O Douro é um rio de grande dimensão que nasce em Espanha, nos picos da Serra de Urbião, província de Sória, com 850 km de comprimento total, sendo o terceiro maior rio da Península Ibérica. Percorrendo 112km em que faz a fronteira entre Portugal e Espanha, flui depois 213 km em território português até desaguar no Oceano Atlântico. Assim, atravessa todo o norte de Portugal, vindo desaguar junto às cidades de Vila Nova de Gaia e Porto.

É relevante mencionar que, desde 14 de dezembro de 2001, a Região Vinhateira do Alto Douro é Património da Humanidade com a categoria de paisagem cultural, destacando-se pela sua beleza natural, águas límpidas, sol, montes, socalcos e espécies diversas de fauna e flora. Esta distinção mundial apela a toda a humanidade que exerça o dever de proteger aquele legado como algo único e, obviamente, isto tem originado um aumento de turistas devido à inerente notoriedade, contribuindo assim para o desenvolvimento da economia local. Por conseguinte, o tráfego fluvial também aumentou, principalmente ao nível de cruzeiros e embarcações de lazer e recreio no rio Douro. Para este efeito, contribuiu também a construção de uma nova marina perto da foz do rio, nas freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada. Localizando-se na principal via desse tráfego, o território em estudo pode tirar contrapartidas no caso de futuro investimento em cais de acostagem para barcos de cruzeiro em Arnelas e Crestuma. É importante recordar que já existem dois pequenos cais de acostagem em Arnelas e Crestuma, mas estes não permitem a acostagem de barcos de cruzeiro. No caso de Lever, com a construção da barragem de Crestuma/Lever, criou-se uma área de albufeira que poderá incentivar a navegação turística local, os desportos aquáticos e a pesca desportiva.

A barragem de Crestuma/Lever trouxe evidentes vantagens na captação de energia, tendo aumentado a possibilidade de controlo de cheias nas povoações ribeirinhas e, permitindo, com a sua

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eclusa, o tráfego de barcos de cruzeiro de grande dimensão. Para além disso, funciona também como travessia pedonal e rodoviária entre os concelhos de Vila Nova de Gaia e Gondomar na margem direita do rio.

Com a existência de novas praias fluviais que, neste ano de 2014, tiveram pela primeira vez vigilância de nadadores salvadores, as atividades desportivas náuticas foram também favorecidas, havendo em Crestuma e Arnelas associações relacionadas com a prática de canoagem, a competir nos campeonatos nacionais e internacionais. No entanto, é preciso salientar que foram provocadas também alterações irreversíveis ao nível de fauna e flora, com a destruição da vegetação ribeirinha e alteração de ecossistemas e cadeias alimentares, como é o caso do sável e da lampreia, tão característicos da gastronomia deste território. Como consequência, a atividade piscatória, que era uma prática comum da população, foi quase extinta.

Tendo em conta estes fatores, é facilmente percetível a identificação da comunidade com o rio Douro e tudo o que lhe está associado. Pode-se, desta forma, concluir que o rio Douro é fonte de riqueza para a região e que, tendo o território em estudo esta localização privilegiada, se torna natural um conceito de união baseado nas características comuns a estas localidades. Além disto e, de um modo mais geral, dada a importância desta área enquanto local de características identitárias do concelho e da região, deverá ser ponderado o impacto do incremento ou da perda daquelas características.

Assim, é urgente que este território encontre um motor de desenvolvimento através da utilização de estratégias de promoção local, fugindo desta forma ao isolamento, à pobreza e à exclusão a que está sujeito. No nosso entender, a aposta num itinerário turístico poderá ser o fator chave para a promoção do desenvolvimento local, dada a sua localização na margem de um grande rio e podendo este ajudar a escrever mais um capítulo na história destas comunidades. É de salientar que o turismo ribeirinho do município de V. N. de Gaia, mesmo num período de conjuntura económica desfavorável, tem-se mantido como uma atividade rentável. Assim sendo, o turismo irá também permitir a salvaguarda e a rentabilização de recursos e do património no território em estudo, contrariando o risco de este se perder e funcionando como motor de desenvolvimento local.

O aumento dos números turísticos, com a sua influência na economia local e nacional, faz com que a temática do património seja um tópico abordado de uma forma recorrente. Refere-se agora a iniciativa do jornal regional “O Gaiense” que lançou em 2013 um concurso no concelho, com a temática as 7 maravilhas de Gaia. Relativamente ao território em estudo estava nomeada 1 maravilha

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por freguesia, sendo que pela freguesia de Olival foi apresentada a Capela São Mateus em Arnelas, por Crestuma, o Parque Botânico do Castelo e Sítio Arqueológico e por Lever, a Banda de Música Leverense. Embora nenhum destes recursos fosse premiado como uma das 7 maravilhas de Gaia, a Gala cumpriu o seu objetivo de divulgar o património arquitetónico, natural e cultural, de forma a dar a conhecer alguns desses pontos do município enquanto destinos turísticos.

É importante também referir que está prevista a valorização da frente de rio com o avançar do Projeto Municipal Encostas do Douro, no qual está projetada a requalificação da orla de rio desde a área da barragem Crestuma/Lever até à Ponte D. Maria Pia. Trata-se da construção de um passadiço e ciclovia que esteve na iminência de avançar, tendo sido suspensa devido à recente crise financeira do Estado. Caso tivesse sido realizada, traria enormes vantagens para a área em estudo, pelo que se aguarda que se torne uma realidade em futuros mandatos da Câmara Municipal. Este projeto não poderá contudo abranger a parte ribeirinha de Lever, dado que a autarquia local vendeu a sua frente de rio à empresa Águas do Douro e Paiva S.A. para que fosse construída uma Estação de Tratamento de Águas Residuais, visando o abastecimento de água para grande parte da Área Metropolitana do Porto.

Assim, podemos concluir que a aposta numa rota turística é uma das possibilidades para a promoção da economia local deste território, passando pelo aproveitamento cabal dos seus recursos e sempre com a consciência da necessidade de fazer a sua integração, quando possível, com outras rotas e serviços que o património da região tem para oferecer.