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CAPÍTULO III – TURISMO EM ESPAÇOS RURAIS

3.3. Turismo industrial no espaço rural

Como foi referido anteriormente, o conceito de património é recente e coleciona elementos únicos e insubstituíveis, simbolizando a cultura e identidade de uma comunidade. Após a Segunda Grande Guerra, várias fábricas foram destruídas ou desativadas levando ao desaparecimento de representações de um período histórico mundial. Sendo o período da industrialização um dos de maior relevo ao nível das transformações na humanidade, surge a necessidade de criar um sentimento de nostalgia pelos materiais que entretanto se perderam. Os vários tipos de espólio permitem perceber a produção industrial das diferentes épocas e as suas influências.

Segundo a Comissão Internacional para a Conservação do Património Industrial (http://ticcih.org/, consultado em 01/06/2014), o Património Industrial “compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetónico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e

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utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.”

Alves (2013) afirma que o património industrial vale acima de tudo pelo meio ambiente onde se insere e pelas relações que lhe estão implícitas, pois o património envolve também espaços de vivência que criam sentimento de identidade. Este inclui também o património imaterial porque insere todos os costumes e comportamentos que uma comunidade vivenciou durante a era industrial e que teve assim uma influência obrigatória no seu modo de vida.

No entanto, a manutenção deste património tem elevados custos e alguns autores, como Abad (2004), defendem um conjunto de vantagens, entre as quais as económicas, com a reutilização dos antigos edifícios industriais, sendo esta uma das possibilidades para salvaguardar o património.

Por estas razões, e tendo em conta que, de acordo com Abad (2004), a recuperação do passado e valorização do património é o objetivo de todas as experiências turísticas, surge assim o conceito de turismo industrial. Este conceito surge muito recentemente para dar, mais uma vez, resposta à necessidade de mostrar a gerações futuras uma era marcante da humanidade. Aqui são colecionados todos os testemunhos de uma época ajudando na compreensão do passado. A valorização da paisagem cultural, como é o caso da industrial e a sua conservação, são fundamentais quando se pretende seguir uma política de promoção da economia local através do turismo patrimonial. A paisagem é um espaço físico constituído por tudo o que o homem lhe acrescenta, tais como, valores, crenças e atividades diárias.

Relativamente ao panorama nacional, há uma destruição das estruturas industriais fruto da falta de política de recuperação e preocupação com o património industrial. Investigar, documentar, conservar e divulgar os aspetos resultantes do processo de industrialização é, assim, uma forma de contribuir para a preservação da identidade cultural da comunidade e sua memória histórica.

Neste sentido, o conjunto alargado de fábricas, moinhos e outros exemplos possíveis de encontrar por todo o território sul-nascente de Gaia, reflete a memória coletiva das suas comunidades locais e são exemplares de atividade pré-industrial e industrial que acabaram por influenciar os modos de vida da população. Se comparado com a realidade inglesa, estes

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acabam por revelar o processo tardio de industrialização em Portugal, assim como a evolução de estratégias energéticas e produtivas utilizadas a partir do final do século XVIII.

Percebendo o valor patrimonial desta atividade económica no concelho e neste território rural, assim como a sua importância no reforço da identidade da comunidade, as Juntas de Freguesia daquela área chegaram a adquirir alguns exemplares. Sendo este património local facilmente visível por quem visita o concelho, assume-se, desta forma, o enorme potencial turístico do património industrial.

No entanto, e embora exista trabalho de investigação realizado, este exemplares estão condicionados por fatores críticos, claramente percetíveis durante uma visita ao local, que resultam do seu abandono.

3.4 Notas conclusivas

Os meios rurais reagem presentemente ao desenraizamento provocado pela globalização e às rápidas mudanças que resultaram em alterações no modo de vida, podendo o turismo, como contraponto, ser considerado uma forma de revitalizar estas áreas, numa reinvenção do espaço.

No nosso entender, existe um enorme potencial turístico destas áreas que passa a redescobrir o que já existia, mas agora com novas funções, manifestando-se das mais diversas formas e trazendo vantagens aos mais diversos níveis.

As áreas rurais lançam novos desafios mas também oportunidades que se baseiam na diversificação económica e valorização de recursos endógenos, com apresentação de diferentes produtos, desde que sejam únicos. Daí a importância do turismo industrial para este estudo, por se inserir na ideia de diversidade e autenticidade.

No entanto, é preciso sempre ter em conta os impactos produzidos pela atividade turística pois, apesar do espaço rural ser um espaço comercializável, não deve ser vendido de forma desmedida e sem ter em consideração o que origina a genuinidade. É também necessária a articulação entre as várias entidades envolvidas. No nosso entender, atingir um desenvolvimento do território de Arnelas, Crestuma e Lever será possível se o Estado em conjunto com as autarquias locais assumir as suas responsabilidades num desempenho

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articulado. Depois desta união, o envolvimento da comunidade é o terceiro fator essencial para o sucesso do desenvolvimento local.

É ainda de realçar que os meios rurais têm vindo a dar cada vez mais atenção ao património, em resultado da necessidade de responder aos desafios presentes e futuros dos meios rurais. Tendo em conta os fatores de diferenciação, de autenticidade e de valorização do território, assim como uma boa gestão destas características, pode assim o interesse do espaço em estudo vir a ser incrementado com vantagens para o seu desenvolvimento turístico sustentável.

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