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Envolvimento dos pais no processo educativo dos filhos

Capítulo II. A retenção escolar

II. 2A retenção enquanto processo

II.7 Envolvimento dos pais no processo educativo dos filhos

Tal como referido anteriormente, uma das variáveis significativas no que respeita às características parentais dos alunos retidos é o nível de envolvimento dos pais na educação dos filhos e na sua atitude em relação à escola dos filhos (Jimerson et al., 1997; Xia e Kirby, 2009a).

Também Hill e Tyson (2009) analisaram a importância do papel das famílias, das relações familiares e do envolvimento dos pais na educação dos filhos e se estes interferiam no desempenho académico dos alunos. O envolvimento dos pais na educação dos filhos foi positivamente associado ao desempenho académico sendo a socialização académica6, termo designado pelos autores, aquela que se apresenta como

o preditor mais forte durante o ensino médio (2.º e 3.º CEB). Quanto ao envolvimento em contexto familiar, é referido pelos autores que a ajuda nos trabalhos de casa não foi consistentemente associada ao desempenho académico. O envolvimento escolar

6 A socialização académica inclui aspetos como a comunicação dos pais acerca das suas expectativas sobre

o desempenho dos seus filhos, o valor atribuído à educação, as aspirações educacionais e ocupacionais dos seus filhos, a discussão de estratégias de aprendizagem e a preparação e planificação do futuro.

38 também foi positivamente relacionado ao desempenho académico, embora a relação fosse mais ténue que a relação para a socialização académica.

West (2012) evidencia que, devido ao estigma associado à retenção escolar, os pais cujo envolvimento na educação dos filhos é maior, demonstram menos predisposição para concordar com a recomendação da escola acerca da aplicação da medida de retenção.

Lahaye et al. (2001) evidenciam que o envolvimento dos pais na vida escolar também influencia a forma como os jovens veem as relações escolares e familiares. Os pais que participam ativamente na vida escolar dos seus filhos estimulam-nos a escolher uma política de relacionamento escolar e familiar mais envolvente contrariamente aos pais que não estão muito envolvidos na vida escolar dos seus filhos.

Epstein et al. (2002) identificaram seis tipos de práticas de envolvimento dos pais no que respeita à participação na escola. Esta identificação permite compreender e estudar as relações existentes entre a escola e a família bem como analisar se estes dois ambientes se afastam ou se aproximam em função das suas práticas. Desta forma foram definidos:

Tipo 1 – Parentalidade (Parenting): implementação de atividades para estimular a compreensão das famílias sobre o crescimento e o desenvolvimento das crianças e jovens de forma a proporcionar aos pais informações sobre saúde, segurança, nutrição ou outros bem como o desenvolvimento de ações que apoiem a educação dos alunos em cada ano de escolaridade.

Tipo 2 – Comunicação (Communicating): refere-se ao desenvolvimento de formas efetivas de comunicação entre a família e a escola e a escola e a família (comunicação bilateral), através por exemplo de telefonemas, reuniões, entre outras.

Tipo 3 – Voluntariado (Volunteering): diz respeito ao envolvimento dos pais na escola através da promoção de atividades de voluntariado por parte dos pais cujas qualidades e competências podem ajudar os alunos.

Tipo 4 - Aprendizagem em Casa (Learning at home): proporcionar à família informações necessárias acerca da forma como a mesma deve ajudar o aluno em casa

39 no que respeita aos trabalhos de casa, à planificação do estudo, entre outros, aumentando desta forma a relação entre pais e alunos no contexto familiar.

Tipo 5 – Tomada de decisão (Decision making): incluir a família nas tomadas de decisão a nível escolar garantindo que o seu parecer é ouvido e que contribui para as tomadas de decisão a nível escolar, incentivar a criação de associações de pais e representação em órgãos.

Tipo 6 – Colaboração com a comunidade (Collaborating with community): Prática de estabelecer parcerias (empresas locais, grupos religiosos, serviços, instituições, entre outros) com o objetivo de envolver a escola, a família e a comunidade em atividades benéficas para todos os intervenientes.

Sanders, Epstein e Connors-Tadros (1999) referem que quando as escolas desenvolvem programas de parceria que incluem práticas para diferentes tipos de envolvimento dos pais, as famílias respondem favoravelmente e que as atitudes das famílias em relação à escola são positivamente influenciadas pelos programas de parceria das escolas. É realçado que programas abrangentes de parceria que incluem práticas para cada um dos seis principais tipos de envolvimento identificados por Epstein et al. (2002) garantem que mais famílias recebem a orientação e a informação necessárias para se tornarem efetivamente envolvidas na educação dos seus filhos de diferentes formas. No entanto, pelos mesmos autores, é descrito que muitas escolas secundárias não proporcionam às famílias informações de como apoiar a aprendizagem dos seus filhos em casa. É referido ainda que a maioria das famílias conhece muito pouco sobre ofertas de cursos de ensino médio (2.º e 3.º CEB), as consequências de programas de educação especial para a progressão ou a implementação de medidas remediativas aos alunos. Consequentemente, detém menos informações que lhe permita estar efetivamente envolvidas na aprendizagem de seus filhos. Esta afirmação dos autores é especialmente válida para os pais que têm menos educação formal. Ainda assim, mesmo os pais que têm menos educação formal podem tornar-se mais envolvidos na educação de seus filhos se as escolas efetivarem práticas de parceria que proporcionem às famílias informações e orientações úteis.

40 Symeou (2001) analisou as práticas escolares em diferentes contextos escolares e concluiu três grandes aspetos. O primeiro, relativo às características da escola, referindo que o tamanho e a localização da escola são aspetos relevantes para o estabelecimento do vínculo escola-família. As escolas com uma população reduzida de alunos e escolas rurais, em oposição a escolas maiores e não-rurais, parecem viver um vínculo maior com as famílias, com significativamente mais contactos entre os professores e a família, oportunidades de troca de informações e convites para famílias se voluntariarem em práticas na escola. O segundo evidencia que a variável ser membro da Associação de Pais da escola tem um impacto bastante significativo na forma como a família se envolve no percurso educativo do aluno tendo um contato mais próximo com os professores dos seus filhos, tendo uma voz mais ativa e oferecendo-se com maior frequência para desenvolver trabalhos voluntários na escola. Por último, o terceiro, refere-se ao facto de as famílias com baixos rendimentos socioeconómicos solicitarem mais informações orais acerca dos seus filhos assim como as escolas com famílias cujo rendimento socioeconómico é mais baixo tenderem a ser mais frequentemente convidadas a participar em trabalhos de voluntariado nas escolas comparativamente às famílias como rendimentos mais altos.

Pelos dados PISA 2015, é possível afirmar que atualmente os pais tentam encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal onde muitas vezes as interações com os filhos são efetivadas nas poucas horas livres de dias altamente preenchidos. Por outro lado, os filhos adolescentes iniciam as suas próprias vidas sociais com realidades familiares diversas como por exemplo pais separados ou pais solteiros que trabalham muitas horas. Estes fatores podem aumentar a dificuldade que os pais enfrentam para disfrutar horas de qualidade com os seus filhos e para se envolver convenientemente na educação dos mesmos (OECD, 2017).

Rodrigues et al. (2017) evidenciam que o sistema de ensino e as escolas assumem a família como uma força que opera em convergência com o trabalho desenvolvido na escola e consideram que quando isto não se verifica, o insucesso dos alunos aumenta considerando por isso que as condições familiares são um forte preditor de insucesso. Neste sentido, os professores evidenciam que a retenção permite compensar a ausência de condições familiares propícias. A Recomendação nº 2/2015, de 25 de março,

41 produzida pelo CNE salienta ser fundamental o envolvimento, compromisso e responsabilização dos alunos e das famílias dentro de um contexto que procura formas de combate ao insucesso e retenção escolar. Para além das dificuldades de ordem cognitiva, a indisciplina em contexto de sala aula é um dos fatores que causa maior constrangimento no processo de construção das aprendizagens. Tomando este aspeto em consideração, devem encontrar-se forma de promover o compromisso e a corresponsabilização das famílias. A par, deve ser valorizada, quer pelas famílias, quer pela escola, a representação parental em órgãos e estruturas escolares através do envolvimento e vinculação destes representantes no processo de construção de caminhos de combate ao insucesso escolar.

O PISA 2015 destaca que em todos os sistemas educacionais existem diferenças consideráveis na maneira como a legislação e as escolas incentivam o envolvimento dos pais. O PISA não tem dados que permitam analisar de que forma a legislação ou as escolas podem promover o envolvimento dos pais nas atividades escolares, no entanto evidencia-nos que em todos os países da OECD, os diretores das escolas manifestam que reúnem esforços para envolver os pais nas atividades escolares tendo também informado acerca da existência de legislação para este efeito. Da análise verifica-se que os diretores têm seis vezes mais probabilidade de relatar que as suas escolas incluem os pais nas decisões escolares quando existe legislação sobre a inclusão dos mesmos nas atividades escolares comparativamente aos diretores de escolas dos países onde não existe a referida legislação (OECD, 2016b).

A perceção dos alunos sobre o interesse dos pais neles próprios e na sua vida escolar pode influenciar a suas próprias atitudes em relação à educação. Os alunos que relatam que os seus pais se interessam pelas atividades escolares, evidenciam um maior desempenho no PISA relativamente aos alunos que manifestam falta de interesse dos mesmos (OECD, 2017). A respeito do acompanhamento familiar, o mesmo relatório salienta que praticamente todos os pais conversam diariamente com os filhos sobre a escola, fazem uma refeição com eles e conversam sobre variados temas no entanto, quase 50% declara que raramente ajudam os filhos na realização dos trabalhos de casa, padrão que se pode justificar dado que são jovens com 15 anos de idade e que, dada a idade, pode depreende-se terem autonomia no seu estudo (Ferreira et al., 2017). Em

42 cinco países, onde Portugal se inclui, mais de 90% dos pais fazem, todos os dias ou quase todos os dias, uma refeição com seu filho (OECD, 2017). No que respeita à articulação da família com a escola é constatado que o principal motivo que conduz os pais à escola é o progresso das aprendizagens e o comportamento dos filhos. Portugal e Espanha são os países onde os pais mais vão à escola, maioritariamente por iniciativa da escola apesar de alguns o fazerem por iniciativa própria. Portugal é um dos países onde os pais menos participam nas atividades escolares sendo que a taxa de participação se divide entre atividades extracurriculares e atividades em órgãos de gestão (Ferreira et al., 2017).