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Capítulo III. Representações dos atores

III.1 Representações dos diretores de escola e professores

III. 1.4 Envolvimento dos pais

Através do PISA 2015 foi solicitado aos diretores dos países da OECD que relatassem legislação acerca da inclusão dos pais nas atividades escolares onde se constatou a existência de grandes diferenças entre os sistemas educacionais10. Na média

dos países da OECD mais de nove em cada dez alunos frequentavam escolas cujo diretor informou que a escola proporciona um contexto acolhedor, era recetiva ao envolvimento dos pais e projetava formas eficazes de comunicação que incluiam conteúdos acerca de programas escolares ou aproveitamento escolar dos alunos. Contudo, menos diretores evidenciaram que os pais eram incluídos nas decisões escolares (OECD, 2016b). Os mesmos autores concluíram ainda que, em média, não existiam diferenças significativas no empenho das escolas para envolver os pais, nem

10 Note-se que o questionário aplicado aos diretores apenas permite respostas de “sim” e não” a

determinadas afirmações pelo que os autores concluem que as respostas podem ter sido influenciadas pela desejabilidade social ou seja, podem ter fornecido respostas que são vistas como socialmente preferidas, dado que os mesmos responderam afirmativamente às questões acerca do seu esforço para envolver os pais.

68 entre escolas com um índice socioeconómico elevado ou baixo, nem entre escolas rurais ou urbanas, nem entre escolas públicas ou privadas.

No estudo de Rodrigues et al. (2017) a principal causa apontada pelos professores e dirigentes escolares para as dificuldades de aprendizagem ao nível da leitura é o contexto familiar do aluno, considerando que as famílias não valorizam nem acompanham o percurso escolar do aluno seja por razões socioeconómicas ou culturais. A propósito do contexto familiar Renaud (2013) referiu que a maioria dos professores inquiridos considerou o apoio dos pais fundamental motivo pelo qual eram menos propensos a reter os alunos caso os pais se envolvessem e apoiassem o aluno no contexto familiar. Range et al. (2012) declararam que os professores acreditam que a retenção aumenta a motivação dos pais para trabalhar com os seus filhos. Larsen e Akmal (2007) afirmaram que quando os pais de um aluno concordam com a retenção, a probabilidade de sucesso no ano seguinte aumentava apesar de habitualmente os pais não estarem de acordo com a aplicação desta medida.

Mafa e Makuba (2013) exploraram o ponto de vista dos professores e diretores acerca do envolvimento dos pais na escola e na educação dos seus filhos tendo sido expressados três sentimentos: os pais que monitorizam a educação de seus filhos através da supervisão dos trabalhos de casa estão envolvidos na educação de seus filhos; os pais são considerados pessoas de recurso dado que podem ter experiência em alguns assuntos podendo ajudar de alguma forma e por fim os pais que se envolvem nas atividades escolares, para além de supervisionar e ajudar os filhos nos trabalhos de casa e atuarem como pessoas-recurso, podem também participar nas atividades escolares tais como na angariação de fundos ou apoio em atividades de desenvolvimento escolar. Os mesmos autores referiram que, na generalidade, todos os professores concordaram que o envolvimento dos pais é positivo e que beneficia os alunos nomeadamente:

• No desempenho académico, considerando que se os alunos percecionarem que os seus pais manifestam interesse e se envolvem nas atividades escolares, eles tornam-se mais motivados e aumentam o desempenho para não os dececionar. Para melhoria no desempenho dos alunos foi ainda destacado pelos professores o facto de os pais conversarem com seus filhos sobre o trabalho escolar, dar-lhes tempo para que estudem em contexto de casa, monitorizar o tempo

69 despendido a ver televisão e no computador e monitorizar os sites que seus filhos visitam.

• No conhecimento dos pontos fortes e fracos dos seus filhos na medida em que tomam consciência dos problemas e desta forma os pais e os professores podem traçar o caminho a seguir.

• No desenvolvimento de infraestruturas da escola uma vez que podem responder de forma positiva às solicitações de assistência para o desenvolvimento da própria escola.

• Na obtenção de recursos, reiterando que quando os pais se envolvem na educação de seus filhos, tomam consciência das lacunas das escolas em termos de recursos educacionais, demonstrando maior predisposição para proporcionar recursos extras.

Baseado nos seis tipos de práticas de envolvimento dos pais com a escola de Epstein et al. (2002), Md. Nor e Neo (2001) investigaram as perceções dos professores acerca destas práticas. Os resultados indicam que a grande maioria dos professores considerou ser necessário um maior envolvimento dos pais no Tipo 1: parentalidade; Tipo 4: aprendizagem em casa; Tipo 6: colaboração com a comunidade e Tipo 2: comunicação. Foram identificadas pelos professores como necessidade mínima de envolvimento por parte dos pais as práticas Tipo 5: Tomada de decisão e do Tipo 3: voluntariado. As práticas menos comuns foram as do Tipo 5 onde foi referido que apesar de os pais participarem em reuniões e em programas de envolvimento parental nas escolas, não participavam na tomada de decisão e em aspetos relacionados com a gestão escolar; do Tipo 6; do Tipo 3, considerando que o voluntariado dos pais na escola não foi uma prática comum nas suas escolas apesar da colaboração na angariação de fundos e do tipo 1, mais especificamente o facto de as escolas não fornecerem aos pais/famílias estratégias ou técnicas para ajudar os alunos nos trabalhos de casa, nem cursos ou seminários sobre parentalidade. Quanto às práticas relativas à aprendizagem em casa, Tipo 4 os professores indicaram que solicitavam aos pais um envolvimento nas aprendizagens dos alunos em contexto de casa nomeadamente na realização dos trabalhos de casa e nas atividades de leitura.

70 Mafa e Makuba (2013) mencionaram que os professores identificavam o envolvimento dos pais nas reuniões gerais (que geralmente são uma por período), nas cerimónias de entrega de prémios e nas reuniões com o professor sendo esta última identificada como a mais eficaz na articulação entre pais e professores. Os mesmos autores referiram também que os professores e diretores declararam que os pais tinham liberdade para procurar esclarecimentos e pedir sugestões sempre que necessitavam.

Md. Nor e Neo (2001) identificaram barreiras ao envolvimento dos pais percecionadas pelos professores, quer devido a fatores escolares, quer devido a fatores dos próprios pais. Em termos escolares foram identificadas as atitudes negativas dos professores nomeadamente: não saberem como envolver os pais; falta de iniciativas de professores; baixo relacionamento entre os professores e os pais; falta de tempo para organizar atividades para envolvimento dos pais; falta de recursos financeiros para atividades em parceria (3º fator mais citado) e falta de oferta de atividades que estimulem esta parceria. Quanto aos pais, os professores percecionaram que os mesmos constituiam uma barreira para a parceria escola/família devido fundamentalmente: às atitudes negativas dos pais (2º fator mais citado) e à falta de competência para colaborar na escola; à falta de tempo dos pais devido ao trabalho (1º fator mais citado); ao baixo índice socioeconómico da família (4º fator mais citado); à baixa escolaridade e à distância entre a escola e a residência. Mafa e Makuba (2013) corroboraram alguns destes aspetos dado que salientaram quatro barreiras ao envolvimento dos pais na escola e na educação dos filhos. A primeira referiu-se ao facto de os pais não terem conhecimento nem colaborarem, tendo sido identificada por praticamente 50% dos participantes (não podem supervisionar os trabalhos de casa, não ajudam os filhos em casa e não respondem positivamente quando convidados para ir a reuniões à escola, porque não podem ou não querem) constatando que estes alunos demonstraram mais dificuldade na realização dos trabalhos de casa bem como mais problemas disciplinares. A segunda mencionou o fator tempo dada a existência de pais que têm empregos com pouca flexibilidade de horário apesar de existir flexibilidade na marcação de reuniões. A terceira reportou-se a problemas económicos uma vez que foi descrito que alguns pais ou responsáveis poderiam deixar de frequentar as atividades

71 na escola devido a problemas económicos nomeadamente de transporte. Por fim, a quarta barreira identificou problemas de comunicação visto que os professores comunicavam com pais através de mensagens enviadas pelos filhos.

Como ferramentas de comunicação entre a escola e os pais, foi identificado pelos professores o telefone, a carta, a caderneta ou os boletins informativos sendo que o motivo de contacto entre a escola e os pais/família assentou sobretudo nas dificuldades académicas dos alunos e acerca dos distúrbios de comportamento na sala de aula não sendo salientados contactos acerca do sucesso educativo dos alunos (Md. Nor & Neo, 2001). Como sugestões para melhorar o envolvimento parental, foram sugeridas pelos professores o uso de tecnologias de informação, sensibilizar os pais sobre a necessidade de participar no processo educativo dos seus educandos, a criação de um clima aberto, a comunicação efetiva e políticas que responsabilizassem os pais a envolverem-se (Mafa & Makuba, 2013).