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CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO E PRINCÍPIOS SOMÁTICOS PARA ABORDAGEM

3.1.2. Princípio Somático: Centro do corpo para equilíbrio, sustentação e

3.1.2.2. Equilíbrio e Dinâmica Postural

O Princípio da Dinâmica Postural de Bartenieff trata do alinhamento dinâmico do corpo que se encontra em constante modificação e reajuste em interação com o meio. O entendimento da dinâmica postural também se encontra no método Feldenkrais que explica que o aspecto dinâmico da postura faz com que esta seja compreendida em relação ao reajuste que leva de uma postura estável a outra, constituindo assim o movimento. Feldenkrais aborda a dinâmica postural, mas antes explica que o funcionamento da postura ideal, não deve demandar esforço voluntário.

Para Feldenkrais (1977) a posição ereta estável não requer gasto de energia, mas nos casos em que o movimento não está plenamente ajustado à gravidade, a percepção da passagem pela posição estável não fica definida de forma clara na auto-

81 imagem, de modo que os músculos continuam sendo acionados mesmo quando apenas é necessário o apoio do esqueleto e dos músculos que reagem ao sistema automático. A consciência sobre o ajuste e passagem pela posição estável é função do sentido proprioceptivo que informa disto ao sistema nervoso através circuitos de retro- alimentação auto-reguladores.

Assim sendo, a postura anatomicamente equilibrada não precisa de esforço, pelo contrário, a partir dela é preciso apenas de um mínimo de esforço para iniciar qualquer movimento. Em posturas mal organizadas os músculos voluntários executam uma parte do trabalho que corresponde ao sistema automático e à sustentação do esqueleto. Portanto, na posição ereta estável as tensões musculares podem dar uma espécie de coordenadas sobre as regiões que estão fazendo um esforço que não lhes corresponde. No método Feldenkrais isto pode ser percebido de forma clara, pois quando o corpo encontrar uma posição de relaxamento, os primeiros músculos em sentir que se libertam da tensão são aqueles que estavam realizando um esforço desnecessário no processo postural.

Nas primeiras lições do livro Consciência pelo movimento de Feldenkrais (1977), a partir da posição em pé se experimenta o balanço do corpo todo, para começar a perceber os músculos antigravitacionais alheios muitas vezes à consciência. Nestes exercícios de Feldenkrais, o objetivo é perceber a estabilidade e dinâmica dos músculos que organizam a postura. O ideal neste conjunto de lições é que o esforço feito pelos músculos e pela articulação coxofemural, leve a força resultante para a coluna. Desta forma, os músculos do peito e das costelas envolvidos na respiração são liberados dessa tensão que não lhes corresponde.

Nesta primeira parte de lições o primeiro exercício se chama Balançando de pé, e foi o mesmo que realizei na pesquisa prática. Com este exercício busquei aumentar a sensibilidade da ação dos músculos antigravitacionais na dinâmica de ajuste postural. Este exercício se relacionou, primordialmente, com os princípios de organização corporal da máscara neutra que, nas suas diretrizes, perpassa pelo equilíbrio postural e a economia de esforço para atingir o estado de neutralidade que leva à disponibilidade e receptividade física.

82 paralelos em relação à largura do quadril, começa um movimento de balanço do membro superior em todas as direções, como se se tratasse do envergamento de uma árvore movida pelo vento, Feldenkrais (1977) recomenda dar atenção à articulação da coluna vertebral e à cabeça, e como este movimento se relaciona com a respiração. Na segunda etapa, o corpo inteiro mantem um alinhamento vertical desde a cabeça até os calcanhares, e se move num balanço que traça com a cabeça um círculo na horizontal, como se se estivesse dentro de um cone invertido, sua ponta está nos pés e a base na altura da cabeça.

Esta etapa ativa os músculos do membro inferior, principalmente, os músculos relacionados aos tornozelos e pés. Enquanto o membro superior mantem seu alinhamento graças à ativação dos músculos que reagem ao sistema automático, isto deve ocorrer sem esforço voluntario, caso seja percebido algum esforço, a respiração ajuda a aliviar a tensão. Segundo Feldenkrais, é neste tipo de exercícios que podem ser percebidos os músculos antigravitacionais que agem o tempo todo, mas cuja ação, na maioria das pessoas, não é sentida nem apreendida pela consciência.

Na terceira etapa, Feldenkrais sugere que após o movimento circular, ainda mantendo o corpo num alinhamento vertical, sejam experimentados balanços para os lados (direito e esquerdo), para frente e para trás (vide Figura 5). Isto possibilita perceber a ação muscular antigravitacional da face anterior e posterior do corpo, e de cada um dos lados. Realiza-se o balanço para a lateral, para cada lado de forma independente, primeiro para o lado direito, por exemplo, várias vezes desse lado para a postura em pé inicial, o peso se apoia na perna direita no balanço lateral e retorna ao apoio dos dois pés na postura em pé, nesse balanço apenas o dedão do pé esquerdo toca o chão. Pode ser percebida uma ativação muscular intensa, no membro inferior de apoio, mas desta vez, à diferença da etapa anterior, nos músculos da coxa.

FIGURA 5 – Terceira etapa da lição Balançando de pé. Na imagem: Cecilia Retamoza. Crédito da imagem: Cecilia Retamoza.

83 Feldenkrais (1977) ressalta que nesta terceira etapa de balanço lateral deve haver especial atenção à respiração, para que não ocorra qualquer tipo de tensão nos músculos que realizam o processo respiratório, o movimento deve ocorrer sem interferência na respiração. Este exercício é realizado de vinte a trinta vezes no método Feldenkrais até que o balanço aconteça com fluidez e facilidade. Os pontos de tensão percebidos ao longo deste exercício revelam os músculos que realizam esforços desnecessários no processo de ajuste postural.

O exercício de Balançando de pé possibilita o aprimoramento postural, pois ressalta a ação dos músculos antigravitacionais e, deste modo, possibilita ao sistema nervoso perceber de forma amplificada a tonicidade de músculos acionados pelo sistema automático. Os exercícios que exploram uma ativação extraordinária dos músculos antigravitacionais permitem, aos poucos, que o sistema nervoso retome o seu ajuste, o que possibilita, em consequência, que o corpo retorne a um equilíbrio postural ideal.