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CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO E PRINCÍPIOS SOMÁTICOS PARA ABORDAGEM

3.1.3. Exercícios para abordagem corporal da pedagogia com máscaras

3.1.3.1. Fundamentos Corporais Bartenieff

96 suas diferentes estruturas e funções. Estes Fundamentos incluem os Exercícios Preparatórios e Seis Exercícios Básicos que procuram a reorganização corporal. Isto ocorre através da ativação da musculatura profunda e da respiração que leva à conexão corporal e aos padrões que permitem a organização do indivíduo.

Nesta pesquisa alguns dos Exercícios Preparatórios foram abordados no intuito de potencializar a percepção do centro do corpo, a acomodação da musculatura e dos ossos em relação à respiração e o engajamento muscular profundo. Já que o objetivo desta pesquisa não era realizar os Seis Exercícios Básicos do Sistema Laban/Bartenieff, me permiti, a partir da fundamentação da metodologia da Prática como Pesquisa, experimentar aqueles nos quais encontrava uma coerência para este estudo. Os mesmos foram: Irradiação Central; Pré-elevação da coxa; Elevação da pélvis; Balanço Homólogo dos calcanhares em “I” ou em “X”, descritos a seguir.

O Exercício Preparatório de Irradiação Central busca conectar o centro do corpo com as extremidades por meio da respiração. Como preparação, deitado em decúbito dorsal percebesse o ar irradiando para as seis pontas na expiração (cabeça, cóccix, pernas e braços) e de volta para o centro na inspiração (vide Figura 11). Sua execução é pautada pela dinâmica da respiração que na inspiração aproxima as extremidades ao centro do corpo e na expiração irradia o ar para as extremidades que se afastam do centro.

97 Este exercício ressalta a relação entre o centro do corpo e as extremidades. Desde o início da pesquisa realizei um exercício que chamei de “Dinâmica de Expansão e Contração com a Respiração” (ponto cinco na listagem apresentada acima) que é semelhante à Irradiação Central, mas esta Dinâmica (vide Figura 12) aconteceu nos três níveis do espaço (alto, médio e baixo) e explorando diferentes apoios, o processo da respiração também era invertido, havia momentos de expansão que aconteciam na inspiração e momentos de contração que ocorriam na expiração. Este exercício tinha o objetivo de experimentar de forma amplificada a dinâmica da respiração e mobilizar o corpo inteiro nesse processo.

FIGURA 12 – “Dinâmica de Expansão e Contração coma Respiração”. Na imagem: Cecilia Retamoza. Crédito da imagem: Cecilia Retamoza.

Já o Exercício Preparatório de Pré-elevação da coxa, segundo Fernandes (2006), consiste em estar deitado em posição de costas no chão com os membros paralelos ao corpo, a partir da metade da expiração, e por meio da ativação do músculo iliopsoas e da musculatura profunda da pélvis, acontece a flexão do joelho (vide Figura 13). O pé desliza pelo chão, o calcanhar aproxima-se ao ísquio. A partir da metade da inspiração a perna volta à posição inicial, que a devolve paralela à outra no chão. Este Exercício experimenta o engajamento muscular a partir da respiração com ênfase na musculatura profunda da pélvis.

98 A Elevação da pélvis começa a partir da “Posição Básica” que se caracteriza pela posição deitada de costas no chão com os joelhos semi-flexionados em 60 graus aproximadamente e os calcanhares estão alinhados com os ísquios. No exercício da Elevação da pélvis, a princípio percebe-se somente como a respiração influencia na acomodação da pélvis, a inspiração causa uma ligeira anteversão e a expiração uma ligeira retroversão da mesma. A execução deste Exercício acontece a partir da metade da expiração até seu final, o que ativa o músculo iliopsoas e os músculos profundos do quadril para elevar a pélvis aproximadamente cinco centímetros do chão (vide Figura 14), na inspiração à pélvis volta à posição de início. A Elevação da pélvis ocorre numa organização corporal Homóloga na qual há estabilidade da parte superior do corpo e mobilidade da parte inferior. Este Exercício também conecta cabeça e cauda por meio da respiração e da elevação da pélvis a partir do cóccix.

FIGURA 14 – Elevação da pélvis. Na imagem: Cecilia Retamoza. Crédito da imagem: Edson Lemos.

Fernandes (2006) explica que as funções aplicações do exercício do Balanço Homólogo dos calcanhares em “I” ou em “X”, possibilita conectar as Correntes de Movimento, o Suporte Respiratório e as Conexões Ósseas segundo cada corpo.

(...) fortalece todas as conexões, conscientizando o corpo de seus Marcos Ósseos contra o chão – cabeça, calcanhares, diferentes pontos da coluna e quadril, escápulas, mãos. As principais conexões envolvidas são a Cabeça- Calcanhares, a Cabeça-Cauda, e o Grande Losango Vertical (Cabeça-Cauda- Escápulas) e, principalmente no Balanço em “X”, a Escápulas-Mãos. (FERNANDES, 2006, p. 83)

O Balanço Homólogo dos calcanhares em “I” ou em “X” começa na Posição em “I”, o corpo deitado de costas nos chão com braços ao longo do corpo palmas para baixo ao lado do quadril e pernas paralelas. A preparação deste Exercício acontece

99 através da inspiração abdominal, sua execução balança sutilmente o corpo inteiro na cadência respiratória a partir dos calcanhares (vide Figura 15) que se movem para cima e para abaixo apoiados contra o chão ao longo de uma linha vertical entre calcanhares e cabeça.

FIGURA 15 – Balanço homólogo dos calcanhares em “I”. Na imagem: Cecilia Retamoza. Crédito da imagem: Edson Lemos

Na posição em “X” que seria a partir da organização corporal de Irradiação Central (vide Figura 16), também acontece o balanço dos calcanhares que neste exercício ativam de forma diferente as conexões ósseas do membro superior.

FIGURA 16 – Balanço homólogo dos calcanhares em “X”. Na imagem: Cecilia Retamoza. Crédito da imagem: Edson Lemos

De forma geral, no processo de investigação da abordagem corporal para a pedagogia com máscaras, de forma prévia ou intercalada antes de realizar uma ativação muscular mais intensa, levei em consideração os Fundamentos Corporais Bartenieff referidos acima. Estes permitem a conexão corporal em relação às suas diferentes estruturas e funções, pois seus Exercícios Preparatórios permitem a reorganização corporal através da ativação da musculatura profunda e da respiração que leva à conexão corporal e aos padrões que possibilitam a organização do indivíduo com relação a si mesmo, outras pessoas, objetos e o espaço.

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3.1.3.2. “Aquecimento modificado de Commedia dell’Arte”

Contin (2003) destaca que, para o treinamento com máscara, é preciso de uma potente ativação muscular. Levar isto em consideração nesta pesquisa provocou a necessidade de tonificação e ativação muscular do membro inferior como um todo, e pelo fato de compreender os princípios somáticos em destaque neste estudo procurei que isto fosse fundamentado a partir da importância dos músculos fortes segundo o método Feldenkrais, principalmente, devido ao destaque que seu método dá aos músculos fortes para locomoção e sustentação.

O entendimento da necessidade de uma ativação muscular intensa para a pedagogia com máscara, principalmente expressiva, aconteceu por meio de vários exercícios experimentados na oficina de Commedia que cursei em 2011, a começar pelo alongamento/aquecimento no qual havia diferentes posições que exigiam ação muscular. Este aquecimento também trouxe à consciência, de forma isolada, diferentes partes do corpo por meio da segmentação corporal. Segundo Contin (2003) a segmentação corporal permite potencializar as principais partes que compõem o torso, incluindo cabeça e pélvis. A segmentação permite exercitar cada parte do corpo de forma isolada, para aprimorar posteriormente a conjuntura e disposição total de cada personagem.

O aquecimento que realizei na prática desta investigação tem sua origem naquele que aprendi na oficina de Commedia dell’Arte, mas este foi modificado em função de sua apropriação pelo grupo de pesquisa NUPTA da UFPB, durante sua experimentação ao longo do segundo semestre do ano de 2011. Dentre estas modificações estão a inserção de posturas de contração isométrica que surgiram com o objetivo de realizar um aquecimento corporal mais intenso para o trabalho com máscaras e com outros treinamentos experimentados pelo grupo de pesquisa. Deste modo, na experimentação prática da presente investigação realizei o aquecimento resultado das modificações mencionadas com destaque a três posições de contração isométrica, ao qual chamei de “Aquecimento modificado de Commedia dell’Arte”.

O “Aquecimento modificado de Commedia dell’Arte” busca destacar a articulação e segmentação corporal estabelecendo a diferenciação, principalmente, entre cabeça,

101 torso e pélvis. E permite explorar as possibilidades de cada segmento do corpo a partir da sua movimentação em diferentes direções. A sua descrição é a seguinte: começa com a cabeça, por meio dos “golpes da máscara” (“colpidimaschera”) de Contin (2003) que movimenta a cabeça em diferentes direções por meio de movimentos súbitos para cima, frente, embaixo; para frente para trás e de forma lateral, além de movimentos de rotação. Depois da cabeça, se mobiliza o peito, na sua translação para os lados, para frente e para trás. Em seguida, o quadril também nas suas possibilidades de translação e rotação.

Em seguida começa o processo de transição e realização das posições de contração isométrica incluídas neste Aquecimento (Primeira posição: levantamento da perna com mão segurando o dedão; Segunda posição: equilíbrio aeroplânico e Terceira posição: wall sit). Estas posições exigem ativação muscular e equilíbrio dinâmico durante cada posição, assim como para ocorrer a transição entre uma posição e outra (principalmente entre a Primeira e Segunda posição).

O processo de realização das posições de contração isométrica inicia a partir do enfoque nas pernas. Primeiro uma perna é flexionada, dobra-se o joelho em direção ao peito, o resto do corpo permanece no eixo vertical, os braços seguram essa perna na altura da canela e a aproximam a parte anterior da coxa ao abdome, o torso, por sua vez, permanece alinhado verticalmente com a perna de apoio. Logo essa perna começa a se desdobrar lentamente para frente do corpo num ângulo de aproximadamente 90º em relação à perna de apoio, a mesma mão do lado da perna que se estende irá segurar o dedão desse pé, chegando assim à Primeira posição: levantamento da perna com mão segurando o dedão (vide Figura 17).

102 FIGURA 17 – Primeira posição: levantamento da perna com a mão segurando o dedão. (Kaminoff;

Matthews, 2013, p. 42)

Depois de permanecer trinta segundos nessa Primeira posição, a mão solta o dedão do pé e a perna permanece suspensa no ar no ângulo de 90°, por meio de uma ativação muscular mais intensa, que envolve o músculo iliopsoas. Permanece nesta posição durante aproximadamente trinta segundos, após este tempo a perna é flexionada de volta em direção ao peito para descansar. Depois esta perna é levada para trás do corpo, vai ocorrer o encontro entre o calcanhar e o glúteo máximo com ajuda das mãos que seguram o pé e permitem esta transição, ao mesmo tempo em que as mãos pressionam o calcanhar contra o glúteo. Provocando assim, o alongamento da parte anterior da coxa, ou seja, dos músculos que envolvem o quadríceps femoral.

A seguir se solta esse pé que estava sendo segurado pelas mãos e a perna começa a se estender para trás enquanto o torso se inclina para frente até que este e a perna ficam na horizontal, e estabelecem a Segunda posição: equilíbrio aeroplânico (vide Figura 18), se permanece nesta posição também trinta segundos.

103 FIGURA 18 – Segunda posição: equilíbrio aeroplânico.26

(Haas, 2011, p. 186)

Em seguida o corpo retorna pelo mesmo caminho pelo qual chegou à posição isométrica de equilíbrio aeroplânico do seguinte modo; flexiona a perna que se encontra estendida atrás enquanto o tronco se levanta com um bloco só aproveitando, principalmente, a ativação muscular e força dos eretores da espinha. As mãos seguram mais uma vez o calcanhar contra o glúteo máximo. Logo, a perna retorna flexionada para frente do corpo, as mãos seguram na altura da canela com a intenção de aproximar o joelho em direção ao peito. Mais uma vez, estende-se a perna para frente no ângulo de 90° (mas sem segurar o dedão do pé desta vez) e em seguida deixa esta perna balançar para frente e para trás como um pêndulo num ângulo de aproximadamente 45°, mas sem que o pé toque o chão. A parte superior do corpo permanece estável enquanto acontece este balanço da perna. O balanço cessa, de forma progressiva, até apoiar novamente o pé no chão.

A Segunda posição: equilíbrio aeroplânico, segundo Haas (2011) ativa os músculos profundos de sustentação e os músculos associados ao processo postural que compreende o grupo paravertebral profundo até os músculos do membro inferior. O equilíbrio dinâmico é aportado pela ativação dos músculos antigravitacionais que

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104 funcionam a partir do sistema automático. Desta forma, entre mais equilibrado esteja o corpo maior será a otimização da ativação muscular e menor será o desgaste por esforço. Segundo Haas (2011) a respiração também permite liberar a tensão e ajuda no processo de equilíbrio e estabilização do corpo.

Esta sequência de equilíbrio dinâmico leva da Primeira posição de contração isométrica para a Segunda e isto acontece sem devolver o pé ao chão, apenas uma perna tem apoio durante toda a sequência. Deste modo, ocorre também uma intensa ativação dos músculos do quadríceps femoral da perna de apoio, pois ao longo deste processo se ativam diferentes músculos que agem contra a força da gravidade.

A Terceira posição: wall sit (vide Figura 19) ativa a musculatura da coxa de forma mais intensa. Esta posição se realiza através do apoio das costas contra a parede e pela flexão dos joelhos num ângulo de 90°. Esta Terceira posição, permite ativar em conjunto os músculos da parte anterior e posterior da coxa. Segundo Haas (2011) o exercício que esta posição isométrica propõe, envolve a ativação, ao mesmo tempo, dos músculos anteriores e posteriores da coxa, o que proporciona maior estabilidade ao quadril para apoio e suporte da estrutura corporal como um todo.

FIGURA 19 – Terceira posição: wall sit.27

(Haas, 2011, p. 132)

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105 A realização deste Aquecimento e suas posições de contração isométrica, teve o objetivo de fortalecer o corpo de forma global, principalmente os músculos que envolvem a região do corpo associados a sua estrutura central, tendo como convergência a pélvis. Sua fundamentação ocorreu segundo ambas as referências da educação somática desta pesquisa. A partir do método Feldenkrais que explica a importância da utilização dos músculos fortes associados à pélvis (glúteos, abdominais e coxas) para o processo de locomoção e uso dos mesmos para atividades vigorosas, fato que evita lesões, pois leva a força resultante à estrutura óssea.

Além disso, o “Aquecimento modificado de Commedia dell’Arte” permitiu a ativação e a percepção dos músculos antigravitacionais também destacados pelo método Feldenkrais no processo de manutenção do equilíbrio durante o encadeamento ou permanência em cada posição isométrica. Do mesmo modo, a ativação destes músculos ressalta a percepção da correlação da estrutura óssea e muscular para apoio e suporte corporal.

Para sentir a ativação muscular profunda, busquei que as posições de contração isométrica fossem realizadas com ênfase na percepção e utilização da dinâmica da respiração a partir dos princípios somáticos levantados segundo o Sistema Laban/Bartenieff. Procurei aproveitar a expiração na tentativa de ativar e sentir a ação dos músculos profundos e também para perceber os músculos antigravitacionais no processo de equilíbrio dinâmico.

A ativação muscular tanto mais exterior apontada por Feldenkrais, como profunda segundo a compreensão do Sistema Laban/Bartenieff permite compreender em maior medida a atividade muscular e acomodação óssea de cada uma das máscaras físicas de Contin (2003). Como acontece, por exemplo, com o personagem Zanni que, na sua forma de caminhar realiza o levantamento da perna semi-flexionada num ângulo de 90° ou mais tendo que engajar tanto o músculo iliopsoas, que pertence à musculatura profunda da pélvis, assim como os abdominais, coxas e glúteos de forma mais exteriorizada. Por sua parte, a retroversão da pélvis nesta máscara física contribui para aportar estabilidade e evitar que haja desequilíbrios na acomodação da coluna vertebral, apesar da intensa atividade do membro inferior.

106 isométrica também se relacionou durante a prática com a realização das nove atitudes da pedagogia de Lecoq (1997) e sua compreensão através do Princípio das Conexões Ósseas no intuito de realizar um fortalecimento muscular pautado na mobilidade e na estabilidade corporal.