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CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO E PRINCÍPIOS SOMÁTICOS PARA ABORDAGEM

3.1.2. Princípio Somático: Centro do corpo para equilíbrio, sustentação e

3.1.2.4. Estrutura Corporal

Durante as experimentações práticas também foi importante o Princípio de Movimento Bartenieff das Conexões Ósseas, que contribuiu nesta pesquisa no aprofundamento da percepção da estrutura óssea e sua relação com a musculatura profunda que possibilita a estabilidade e mobilidade corporal.

O Princípio de Movimento de Bartenieff das Conexões Ósseas, segundo Fernandes (2006) trata de linhas imaginárias entre diferentes Marcos Ósseos que conectam áreas do corpo. Ao mesmo tempo aportam suporte por meio da estabilidade e facilitam a mobilidade. As Conexões Ósseas se relacionam com as Correntes de

91 Movimento e com o Suporte Muscular Interno e permitem a execução dos Fundamentos Corporais Bartenieff. As Conexões Ósseas também contribuem para a Dinâmica Postural, pois permitem perceber a estrutura óssea como a estrutura que sustenta o corpo.

Fernandes (2006) explica que a percepção das Conexões Ósseas pode acontecer a partir do toque entre os dois pontos ósseos que querem ser destacados, a isto se associa a imagem de uma linha móvel entre estes. Mas Fernandes destaca que para estas Conexões virem à consciência é preciso exercitar os Fundamentos Corporais Bartenieff que as aplicam: Cabeça-Cauda; Ísquios-Calcanhares; Cabeça-Escápula; Cauda-Calcanhares; Ritmo Pélvico-Femoral; Ritmo Escápulo-Umeral.

Existem outras Conexões Ósseas a partir de exercícios do Sistema Laban/Bartenieffque, segundo Fernandes (2006), são as seguintes: Cabeça- Calcanhares (passando pelo cóccix e ísquios); Cabeça-Escápulas-Cauda (Grande Losango Vertical); Trocanter-Trocanter; Trocanter-Cauda-Sínfise Púbica (Grande Losango Horizontal do Chão Pélvico); Ísquios-Cauda-Sínfise Púbica (Pequeno Losango Horizontal do Chão Pélvico); Escápula-Escápula; Escápulas-Mãos; Cabeça-Mãos (Olhos-Mãos).

92 Deste modo, as Conexões Ósseas são linhas que ligam dois pontos e que se interligam entre si (vide Figura 9). Fernandes explica que a Conexão do Ritmo Pélvico- Femoral e Escápulo-Umeral fazem referência à articulação em questão e à movimentação desses ossos só é possível graças aos seus músculos profundos.

O Ritmo Pélvico-Femoral consiste na relação de movimentos entre a coxa e a pélvis. Este ritmo ocorre com fluidez a partir do uso eficiente do Iliopsoas, dos seis Músculos Profundos do Quadril ou Pelvitrocaterianos, facilitando o movimento da coxa a partir da Respiração e das Correntes de Movimento pela pélvis. (FERNANDES, 2006, p. 64)

Os losangos horizontais são preenchidos pelo Suporte Muscular Interno da pélvis, mas por sua vez se conectam com pontos verticais e deste modo, estabilizam a cabeça, as escapulas e em direção do membro inferior, os calcanhares. A estabilidade vertical acontece graças às duas pirâmides horizontais que compõem o Losango do Chão da Pélvis, estas se conectam com a cabeça e, por consequência permitem a Conexão Cabeça-Cauda. Este Losango também se relaciona com os estabilizadores dos membros em relação ao torso como Ísquios-Calcanhares e Escápulas-Mãos.

Fernandes (2006) aponta que as pirâmides deste Losango são muito importantes, pois ligam a cabeça, que é o lugar mais pesado do corpo, com o chão pélvico e isto acontece por meio do músculo iliopsoas que permite distribuir o peso de forma profunda até a coxa e por consequência até os calcanhares através da Conexão Cabeça-Calcanhares. É desenhada uma linha horizontal na Conexão Trocanter- Trocanter que permite perceber a profundidade da vinculação do fêmur na pélvis.

A percepção da acomodação da pélvis em cada personagem permite compreender toda sua organização corporal. Para esta compreensão, durante as experimentações práticas desta pesquisa também foi importante o Princípio de Movimento de Bartenieff das Conexões Ósseas, que contribuiu no aprofundamento da percepção da estrutura óssea e sua relação com a musculatura profunda que possibilita a estabilidade e mobilidade corporal.

Para isto relacionei a fundamentação a partir das Conexões Ósseas com as nove atitudes da pedagogia de Lecoq (1997) que se encontram dentro do seu estudo sobre a Técnica dos Movimentos. Esta abordagem não utiliza máscara e trata-se da

93 experimentação de nove posturas e a transição entre estas, o que permite ao ator começar o processo de percepção de atitudes essenciais.

As nove atitudes realizam-se como uma sequência de posturas que envolvem o corpo inteiro na mudança de uma posição a outra (vide Figura 10). O posicionamento entre atitudes acontece com diferentes inclinações do torso e a flexão e extensão alternada dos membros inferiores: as pernas e sua articulação coxofemoral, por sua vez o quadril age com um pêndulo durante o encadeamento de cada atitude. Na realização das nove atitudes, Lecoq (1997) destaca a importância do alinhamento corporal e reciprocidade entre pélvis, tronco e cabeça.

94 O Princípio das Conexões Ósseas ajudou no processo de entendimento de cada uma das nove atitudes de Lecoq por meio da observação das linhas que ligam os pontos ósseos em cada uma das atitudes. A estabilidade que a pélvis aporta pode ser percebida por meio das Conexões que conectam diferentes pontos pélvicos entre si e em relação com outros pontos ósseos do membro superior e inferior. O destaque da conexão entre diferentes pontos ósseos ajuda no processo de alinhamento, pois destaca como todo o corpo reage e se organiza em relação ao deslocamento da pélvis. Lecoq (1997) aponta que a máscara neutra faz surgir a necessidade da realização de atitudes que permitam a experimentação do movimento para além do gesto natural. Ele determina que uma atitude é como se fosse um tempo forte no “interior” do movimento, um momento de pausa que pode ser colocado no fim, no início ou em algum momento de transição. Lecoq também apresenta as nove atitudes como um repertório para a experimentação criativa, que pode ser utilizado tanto na pedagogia com máscara como na criação de personagens.

Ao longo da pesquisa prática, segundo este entendimento, procurei utilizar as nove atitudes como um processo introdutório para ambas as máscaras. Na máscara neutra como uma forma de perceber o alinhamento corporal e reciprocidade entre pélvis, tronco e cabeça. E na máscara expressiva para levar a atenção ao centro de gravidade e para perceber como o posicionamento da pélvis influenciava na organização corporal total, o que também se relaciona com as máscaras físicas de Contin (2003). Do mesmo modo, as nove atitudes fizeram parte da ativação muscular e do fortalecimento do membro inferior que se conecta à região central do corpo.