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Etapa de Organização Corporal e Fortalecimento: Compreensão do

CAPÍTULO IV – DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA DA PESQUISA E RESULTADOS

4.2. Etapas de Planejamento e Reflexões Avaliativas

4.2.2. Etapa de Organização Corporal e Fortalecimento: Compreensão do

A Etapa de Organização Corporal e Fortalecimento (B) se relaciona predominantemente com o Princípio Somático: Centro do corpo para equilíbrio, sustentação e engajamento muscular. Devido à fundamentação somática que compreende uma complementação entre as duas referências da educação somática, procurei relacionar à ação dos músculos profundos da pélvis com os músculos fortes determinados pelo método Feldenkrais, e de modo geral, observar a ação dos músculos do membro inferior incluindo os músculos antigravitacionais. E tudo isto envolvendo a percepção e uso da respiração que se relaciona com o engajamento muscular, sustentação e organização corporal.

Dentre os exercícios que e surgiram nesta pesquisa a partir da complementação das possibilidades de fortalecimento que poderia aportar em relação à articulação do membro inferior temos as nove atitudes de Lecoq (1997), que, como exercício auxilia no ajuste postural e no processo de percepção dos músculos profundos conectados à pélvis. As nove atitudes foram relacionadas com o Princípio de Movimento Bartenieff das Conexões Ósseas que, segundo Fernandes (2006), possibilita compreender a estabilidade e mobilidade corporal, é justamente a consciência da conexão entre os pontos ósseos o que facilita perceber a relação entre diferentes segmentos do corpo, alguns estáveis, outros em movimento.

A realização das nove atitudes suscita a ação muscular do membro inferior, mas primordialmente possibilita perceber a ativação dos músculos que envolvem as coxas anterior e posteriormente, assim como a atividade da articulação coxofemoral. Ao longo

121 do processo de encadeamento de cada atitude a pélvis ganha destaque pelo fato de agir como um contrapeso que equilibra o corpo. Desta forma, durante este encadeamento a pélvis é o centro da organização do corpo como um todo.

As nove atitudes também podem ser uma preparação para outros exercícios como a caminhada ondulada pelo fato de ajudar no estabelecimento de posturas corporais que precisam ter seu fundamento na pélvis. Da mesma forma, este exercício das nove atitudes pode servir como introdução à máscara expressiva na investigação das posturas base das máscaras físicas de Contin (2003).

Também nesta Etapa de Organização Corporal e Fortalecimento (B) esta incluído o “Aquecimento modificado da Commedia dell’Arte” que permite perceber, de modo inicial, a consciência e controle corporal com enfoque na estrutura central do corpo através do processo de segmentação e articulação que envolve. Além disso, as posições de contração isométrica (Primeira posição: levantamento da perna com mão segurando o dedão; Segunda posição: equilíbrio aeroplânico e Terceira posição: wall sit), incluídas neste Aquecimento, também permitem observar à reação corporal à exigência do equilíbrio dinâmico e à ativação muscular antigravitacional.

Deste modo, este Aquecimento e em especial as três posições de contração isométrica possibilitam uma ativação muscular intensa e um processo de fortalecimento que, nesta pesquisa, foi importante para o processo de abordagem corporal para a máscara expressiva. Nesta investigação, como referido, também busquei complementar a compreensão dos músculos fortes ou grandes do método Feldenkrais com os músculos profundos do Sistema Laban/Baretnieff, pois ambas as referências encontram a região central do corpo, em especial à pélvis como lugar de início do movimento para a realização de ativações musculares intensas, assim como para a sustentação corporal.

No caso da experimentação com os Padrões Neurológicos Básicos (PNB) em Fernandes (2006), para a exemplificação das diferentes organizações corporais são apresentadas imagens de animais que, neste estudo foram utilizados como estímulos imagéticos para investigar as possibilidades de cada organização corporal. Os Padrões Neurológicos Básicos que foram experimentados nesta pesquisa forma: Respiração Celular, Espinhal; Homólogo; Homolateral e Contralateral.

122 O Padrão Neurológico Básico da Respiração Celular possibilita perceber a unidade corporal no processo de esvaziamento e enchimento corporal a partir da respiração para a ativação do corpo de forma unificada e global.

A experimentação do PNB Espinhal se realiza deitado no chão, conecta cabeça e cóccix e permite perceber a reciprocidade entre esses pontos ósseos. Também experimentei este PNB na postura em pé, mas sem descolamento pelo espaço, pois de acordo com Contin (2003) a organização e entendimento das possibilidades de articulação e flexibilidade da coluna vertebral, a partir da postura ereta, são muito importantes no processo de experimentação de personagens que utilizam máscara expressiva.

O PNB Espinhal também se relaciona com o estímulo imagético do animal serpente, como se dentro da própria coluna houvesse uma serpente. Este estímulo incentivar ainda mais percepção da reciprocidade e conexão no PNB Espinhal e seus polos cabeça e cóccix.

O PNB Homólogo, que divide o corpo na metade, da cintura para cima e para baixo. Desta forma permite experimentar a estabilidade do membro inferior enquanto o superior se mobilizava e vice-versa. Podemos perceber este PNB em algumas máscaras físicas como ocorre, por exemplo, na troca da perna na posição em pé do personagem Arlecchino que mobiliza apenas o membro inferior buscando não interferir na estabilidade da parte superior do corpo.

Já o PNB Homolateral que divide o corpo em dois lados (direito e esquerdo) a partir do eixo da coluna. Como visto em Fernandes (2006), o estímulo imagético com o animal lagartixa possibilita experimentar as possibilidades de movimento que este PNB sugere. Como exemplo deste PNB está a forma de caminhar da máscara física do personagem Brighella que realiza o movimento alternado de um lado e outro do corpo a cada passo.

E o PNB Contralateral que é o mais complexo, pois incluí as duas organizações anteriores - Homóloga e Homolateral - e também estabelece a relação dos lados cruzados; Superior Direito e Inferior Esquerdo e Superior Esquerdo com Inferior Direito. Este PNB tem como exemplo de imagem em Fernandes (2003) o movimento do

123 macaco e do cavalo.

Todas as máscaras físicas na investigação de Contin (2003), na sua configuração total, incorporam o PNB Contralateral, mas é possível identificar outros PNB, como mencionado, a partir de aspectos isolados da composição de cada máscara física. Na minha perspectiva, o entendimento e experimentação dos Padrões Neurológicos Básicos podem auxiliar no processo de compreensão da organização corporal de personagens e, de modo consequente, na sua apropriação em termos corporais.

A prática das máscaras físicas da investigação de Contin (2003) exige muito esforço dos músculos profundos associados à estrutura óssea central do corpo, o que envolve posturas de cada personagem que modificam em primeira instância, o posicionamento e acomodação da coluna vertebral e da pélvis.

Ao realizar as máscaras físicas busquei a percepção e enfoque no engajamento dos músculos profundos e a ativação dos músculos fortes. No caso dos músculos profundos de acordo ao Sistema Laban/Bartenieff estão o iliopsoas, os pelvitrocanterianos e o quadrado lombar, estes se constituem como músculos importantes que aportam sustentação ao corpo além de ser responsável também por movimentos de elevação dos membros inferiores e estabilização da pélvis, portanto, do centro de gravidade. O que se relacionaria com as formas de andar e posturas base dos personagens segundo as máscaras físicas de Contin (2003) que precisam ao mesmo tempo de estabilidade e mobilidade corporal de diferentes segmentos.

A forma de caminhar do personagem Zanni, por exemplo, precisa da elevação das pernas a cada passo num ângulo de aproximado 90°. Para isto deve ocorrer, em primeiro lugar, um processo de estabilidade da pélvis a partir dos seus músculos profundos, para em seguida, realizar o passo que se constitui pelo levantamento da perna a partir do engajamento do iliopsoas, que é o principal musculo responsável por este movimento de levantamento e sustentação do membro inferior. Contudo, os músculos fortes designados pelo método Feldenkrais que são os glúteos, coxas e abdome precisam também aportar suporte e ser utilizados em paralelo àqueles profundos.

124 tanto profunda como mais exterior a partir dos músculos fortes, principalmente do membro inferior como um todo, pois sua organização corporal solicita o centro de gravidade abaixado, portanto, a semi-flexão de ambos os joelhos todo o tempo. Deste modo, deve haver estabilidade do membro superior enquanto o inferior se mobiliza de forma súbita pela sua troca de perna de apoio e saltos peculiares do personagem. A experimentação com máscara expressiva no processo de apropriação das máscaras físicas segundo Contin (2003) precisa de prática que, em paralelo à criatividade e preenchimento pessoal do ator dará vida a cada personagem.