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Equilíbrio entre vida e trabalho remete ao balanço de tempo despendido entre as atividades profissionais e todas as demais, como compromissos pessoais, familiares, tratamento de saúde, lazer. Trata-se de uma troca de menos trabalho por mais “vida” (COLLINS, 2007). O conceito de equilíbrio trabalho/vida implica a separação de duas dimensões: a do trabalho e a da vida, que por vezes, se confunde com o significado de lazer. Mas essas dimensões são completamente interligadas. Primeiro que o mundo do trabalho está dentro da vida. Segundo, o trabalho pode ser uma fonte de amizade e prazer. E pode inclusive haver uma caracterização reversa, onde o trabalho é a parte mais prazerosa da vida e o ambiente de casa e familiar é pesado e com trabalho duro. Ou seja, lazer para alguns empregados está associado ao ambiente de trabalho (HOCHSCHILD, 1997).

Pettinger (2004) também questiona a separação rígida entre trabalho e lazer, uma vez que várias das atividades que são consideradas lazer envolvem trabalho não pago, como por exemplo, estudar, praticar esportes, planejar e organizar viagens.

Trabalho, família/parceria e lazer formam os domínios mais importantes na vida da maioria das pessoas. Existe fraca inter-relação entre esses três domínios e a maior parte dos indivíduos alcança sucesso em um ou dois deles, sendo pouco comum obter sucesso em todos ou nenhum. Formação educacional, suporte social e habilidade para resolver problemas e lidar com estresse são positivamente associados aos três tipos de sucesso. Enquanto renda, fatores laborais de estresse e autoeficácia têm correlação com apenas um tipo. Bom proveito no campo do lazer resulta em altos níveis de emoções positivas – interação prazerosa com o ambiente, diversão, entusiasmo, alegria (COHEN e PRESSMAN, 2006) – enquanto sucesso no trabalho e nas relações íntimas somam pouco. Para minimizar sintomas de depressão, não

é necessário ter sucesso nos três domínios, bastam dois (PINQUART e SILBEREISEN, 2010).

A pesquisa de Pinquart e Silbereisen (2010) ilumina a grande importância do lazer/vida pessoal. Apesar de a satisfação no trabalho e nas relações pessoais serem suficientes para reduzir as chances de depressão, o único campo da vida capaz de produzir altos níveis de emoções positivas, para a maioria das pessoas, é o lazer.

Gorz (1982) salienta que trabalhar menos não significa descansar mais, mas sim “viver mais”, e poder realizar por si mesmo coisas que o dinheiro não pode comprar. Trabalhar, segundo definição do autor, implica realizar atividades para outras pessoas, sem utilidade nem consumo diretos do trabalhador. Portanto, o trabalho na concepção capitalista moderna limitou-se a uma troca mercantil entre o direito à vida e a alienação do tempo, ou seja, perde- se vida para ganhá-la. A conclusão remete à redução do tempo de trabalho heterodeterminado, ou seja, determinado por outrem, e, para mais tempo, autodeterminado, com atividades definidas pelo próprio indivíduo, que lhe tragam satisfação ou utilidade direta.

O trabalho autônomo é visto, por vezes, como uma forma de melhorar o equilíbrio vida pessoal/trabalho. Sem chefe, com mais flexibilidade e autonomia, oferece uma boa oportunidade para estabelecer limites confortáveis entre o trabalho e o privado. Mas o estudo de Tremblay e Genin (2008) com profissionais canadenses de tecnologia da informação aponta outra direção. Segundo elas, a principal motivação para tornar-se um trabalhador autônomo são vantagens financeiras. Os autônomos de tecnologia da informação ganham mais do que seus colegas assalariados, apesar dessa situação não ser extensível a todo tipo de trabalhador. E o equilíbrio não é citado como uma vantagem relevante nesse tipo de arranjo profissional.

Um dos momentos da vida onde a flexibilidade e o tempo fora do trabalho se faz mais premente é após o nascimento ou adoção de filhos. A dedicação e o cuidado natural que essa fase da vida exige dos pais, conjugado ao desejo de acompanhar o crescimento e as primeiras conquistas fazem com que muitos pais, predominantemente as mães, abram mão da carreira profissional, pelo menos temporariamente. Essa preocupação vem sendo encarada com maior atenção pela opinião pública, inclusive por governos. Em 1999, no Reino Unido, foi garantido a pais e mães o direito a 13 semanas por ano de licença não remunerada para dedicar mais tempo a filhos com até cinco anos de idade (What is term-time working? Sítio: http:// www.ivillage.co.uk/workcareer/worklife/flexwork/articles/0,,202_160620,00.html acessado em 25 de julho de 2010). Em 2003, o mesmo Reino Unido instituiu em lei o direito aos

trabalhadores com filhos de até 16 anos requererem aos empregadores condições de trabalho flexíveis (Requesting flexible work - how do I do it?. Sítio: http://www.flexibility.co.uk/ flexwork/ general/requesting-flexible-work.htm acessado em 24 de julho de 2010).

Uma série de estudos citados por Gorz (2004, p. 72-73) – Yankelovich (1991) nos Estados Unidos, Zoll (1989) na Alemanha, Coupland (1991) no Canadá, Cannon (1996) na América do Norte, Reino Unido e Países Baixos – apontou para uma preferência dos jovens, por empregos precários e temporários, em detrimento de empregos fixos. À primeira vista surpreendente, a razão dessa preferência tem base na vontade de dispor do maior tempo livre possível para atividades autodeterminadas, favoritas, de lazer, enfim, de valor ético e utilidade social mais elevados que um emprego qualquer. O estudo de Lebaube (1991 apud Gorz, 2004, p. 74), publicado no jornal francês Le Monde, com jovens diplomados em universidades francesas de renome e excelência, ratifica as conclusões supracitadas: “Tentados pela carreira rápida, desejosos de tudo abandonar por prazeres mais autênticos, sempre querendo chegar o mais cedo possível à aposentadoria, ou mesmo viverem de renda, seu objetivo é não serem tragados pela máquina”.

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