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2. ASPECTOS DA DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO DA DIVERSIDADE HUMANA

2.5 A equiparação de oportunidades

As deficiências ocorrem com as pessoas de todas as classes sociais, em todas as faixas etárias, porém, em sociedades onde existem problemas de distorção na distribuição de renda, como a brasileira, é maior o contingente de pessoas que estão em situação de minusvalia, independente do fato de terem ou não alguma deficiência. Pode ser justificado assim a presença de grande número de pessoas portadoras de

deficiência nessa situação, estando o problema da distribuição de renda na origem de muitas dessas deficiências (a desnutrição infantil, a ausência de saneamento básico e medidas profiláticas, a falta de assistência às mulheres grávidas, a exposição a trabalhos insalubres, a habitação em ambientes poluídos etc.)

A situação de minusvalia das pessoas portadoras de deficiência poderia ser evitada, se não houvesse a discriminação à deficiência e à pessoa que possui essa deficiência. A discriminação, em todas as suas formas, é prática condenada pela Constituição de vários dos países integrantes da Organização das Nações Unidas, que assim, mantém internamente o compromisso assumido com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, a qual estabelece em seu primeiro artigo que: "Todos os homens nascem iguais em dignidade e direitos."

Os países que não têm este princípio em sua Constituição, ratificam o compromisso, em outros dispositivos legais. Para que esses princípios se tornem realidade é necessário o comprometimento, e a vigilância, de toda a sociedade, e trabalhos importantes estão sendo feitos neste sentido, como a elaboração da Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, firmada em 1999, pela Organização dos Estados Americanos, em Assembléia Geral realizada na Guatemala e promulgada pelo governo brasileiro em 2001 através do Decreto n° 3.506. O termo "discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência" é definido por esse documento como sendo toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. A aplicação do documento é abrangente e o Brasil assumiu o compromisso de cumpri-la.

Quando são observados os direitos das pessoas portadoras de deficiência é necessário que se esteja atento aos dois princípios relacionados com a discriminação:

• As pessoas não podem ser discriminadas por serem portadoras de deficiência; • Essas pessoas têm direitos especiais, a elas assegurados.

A implantação desses direitos consiste na operacionalização do “direito a ser diferente”. (JANIK, 1997, p. 31)

O segundo aspecto constitui o que é denominado de discriminação positiva, caracterizada por medidas de alcance social, que têm por objetivo melhorar a qualidade de vida de grupos desfavorecidos, proporcionando-lhes condições e oportunidades para obter instrução, qualificação profissional e alocação no mercado de trabalho. Em alguns contextos é denominada também como ação afirmativa, como no caso em que se discute cotas de vagas no ensino superior brasileiro para as pessoas da raça negra.

No Brasil, alguns desses direitos especiais já estão estabelecidos em legislação14. A política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de deficiência foi criada em 1989 através da Lei 7.853 e em 2000 foi aprovada a Lei 10.098, conhecida como a Lei da Acessibilidade. Juntas, essas duas leis poderiam ter transformado, e em muito, a situação das pessoas portadoras de deficiência no país, porém falta fazer a regulamentação de vários aspectos legais.

O direito ao trabalho, com o estabelecimento de cotas, previsto na Lei 8.213/91, conhecida como a Lei de cotas, passou a ser respeitado após a regulamentação feita através do Decreto 3.298/99, quando o Ministério do Trabalho passou a ser responsável pela fiscalização e aplicação das multas cabíveis em caso do desrespeito. Conforme a Lei de cotas, variam de 2 a 5% os percentuais que devem ser reservados pelas empresas às pessoas com deficiência ou reabilitadas, beneficiárias da Previdência Social. Existe uma interpretação feita pelo Ministério da Justiça, em 2001, de que o poder público tem poderes e autonomia para fixar o

percentual máximo de vagas para os concursos públicos. Esta é uma situação em que os atos se antecipam à lei.

O direito ao transporte acessível foi esboçado desde a Lei n° 7.853/89 porém o transporte aéreo é o único que está obrigado (atendendo a Norma de Serviço IAC 2508-0796) a prestar algum atendimento diferenciado embora a obrigação de “dispor~ de maca para transportar passageiros que necessitam de assistência especial” não corresponda ao que se entende atualmente por acessibilidade no transporte aéreo.

O direito ao ensino, sob o aspecto da acessibilidade, foi contemplado na parte referente ao ensino superior pela Portaria 1.679 /99 MEC. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação - incluindo instalações, equipamentos e mobiliário - e nos transportes escolares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e materiais necessários.

O direito à comunicação recém começa a ser construído. Desde 1999, tramita no senado o Projeto de Lei n° 286, que dispõe sobre a inclusão de legenda oculta na programação das emissoras de televisão e estabelece uma cota mínima, a ser atendida pelas indústrias fabricantes de aparelhos, na produção de unidades dotadas com o circuito para decodificação de legenda oculta.

O direito à comunicação acessível no espaço digital, que contempla comunicações via computadores, televisão e telefones celulares, ainda não foi contemplado. Da mesma maneira se encontram os serviços prestados em terminais eletrônicos de atendimento a usuários.

Como fecho a este capítulo cabe acompanhar o seguinte raciocínio: Se for aceito como normal que se encontre as pessoas cegas, surdas, cadeirantes etc, esmolando pelas ruas, nunca será considerado normal que a escola se esforce para

encontrar as metodologias que permitam aos docentes educá-las com qualidade. Esses esforços vêm sendo feitos, ao longo dos últimos anos, como está apresentado no próximo capítulo.

3. ASPECTOS EDUCACIONAIS DA ATENÇÃO ÀS PESSOAS