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3. ASPECTOS EDUCACIONAIS DA ATENÇÃO ÀS PESSOAS PORTADORAS DE

3.3 Variações conceituais e de terminologia

A expressão “necessidades educativas especiais” (special education needs) tomou-se popular a partir do relatório Warnock, solicitado pelo governo britânico e elaborado por uma comissão criada em 1974 e dirigida por Mary W arnock, com o objetivo de concretizar propostas para a melhoria da educação de jovens com deficiência, naquele país. Nesse documento, conforme citado por Oliveira nos seus estudos sobre educação especial, o conceito é assim apresentado:

No pensamento daqueles que se ocupam da educação, encontra-se profundamente enraizada a idéia de que existem dois tipos de crianças: as deficientes e as não-deficientes. Pensa-se, tradicionalmente, que as primeiras requerem uma educação especial e as últimas uma educação normal. Mas a complexidade das necessidades humanas é muito maior do que esta dicotomia sugere. Além disso, descrever alguém como sendo deficiente não significa nada no que respeita ao tipo de ajuda educativa e conseqüentemente aos meios a pôr em ação. Desejamos uma abordagem mais precisa e adotamos, então, o conceito de "necessidade educativa especial" (special educational need), tomado, não no sentido de uma incapacidade específica que se pode atribuir à criança, mas ligado a tudo o que lhe diz respeito; às suas capacidades como às suas incapacidades, a todos os fatores que determinam a sua progressão no plano educativo. (Celso Oliveira, apud Guerra, 1999)

Marchesi e Martin (1995) consideram que o grande mérito desse relatório foi convulsionar os esquemas vigentes, popularizando uma concepção diferente para a educação especial que “Remete, em primeiro lugar, às dificuldades de aprendizagem,

mas também aos maiores recursos necessários para atender essas necessidades e evitar essas dificuldades”, embora esses autores considerem que essa expressão esteja sujeita a muitas críticas, principalmente por ser vaga e ser excessivamente abrangente.

O que significa ser um aluno com necessidades educacionais especiais? Em linhas gerais significa que esse aluno apresenta algum problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização, que exige uma atenção mais específica e maiores recursos educacionais do que os necessários para os colegas de sua idade. (MARCHESI e MARTÍN.1995, p. 12)

Segundo Mazzotta (2001) essa expressão tem gerado muitas interpretações equivocadas:

Alertemo-nos, também, para os grandes equívocos que cometemos quando generalizamos nosso entendimento sobre uma situação particular. Hoje, e provavelmente ainda por muitos anos do Século XXI, as expressões Alunos Especiais e Escolas Especiais são empregadas com sentido genérico, via de regra, equivocado. Ignora-se, nestes casos, que todo aluno é especial e toda escola é especial em sua singularidade, em sua configuração natural ou física e histórico-social. Por outro lado, apresentam necessidades e respostas comuns e especiais ou diferenciadas na defrontação dessas duas dimensões, no meio físico e social. Focalizando a educação de alunos com deficiências físicas, sensoriais ou mentais, é importante salientar que, da mesma maneira que os demais alunos em uma determinada realidade escolar, esses educandos apresentarão necessidades educacionais comuns e especiais em relação ao que deles se espera e ao que lhes é oferecido na escola. Portanto, somente nas situações concretas em que se encontram os alunos nas escolas é que poderemos chegar a interpretar as necessidades educacionais escolares como comuns ou especiais.

A expressão “necessidades especiais“, em lato sensu pode ser aplicada a todas as crianças que necessitam de uma atenção especial em termos educativos e a própria Declaração de Salamanca relaciona algumas dessas situações, como as crianças deficientes e as super-dotadas, as crianças de rua e as que trabalham, as crianças de origem remota ou de população nômade, as crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e as crianças de outros grupos marginalizados.

Mazzotta (2001) considera que a preocupação com as necessidades básicas dos alunos que interferem no processo de aprendizagem não é tão recente nó Brasil e vêm sendo enfatizadas e interpretadas pelos educadores brasileiros a partir da década de setenta. No entanto destaca, como marco da ampliação do reconhecimento de sua

importância, a colocação das necessidades de aprendizagem como tema da Conferência Mundial, realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990, da qual resultou a aprovação da Declaração Mundial sobre Educação para Todos e Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem.

Além de reconhecer a educação como direito fundamental de todos, as recomendações internacionais contidas em tais documentos (a Declaração Mundial sobre Educação para Todos e Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem) tiveram o mérito de explicitar o sentido das necessidades básicas de aprendizagem. Segundo tal Declaração, essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem, quanto os conteúdos básicos necessários à sobrevivência e desenvolvimento para participação ativa na vida social. (Mazzotta, 2001)

No strictu sensu a Declaração de Salamanca considera que a expressão necessidades educacionais especiais "Refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem”. (UNESCO, 1994)

A Declaração de Salamanca disseminou universalmente os princípios da educação inclusiva e o atendimento às necessidades especiais dos alunos. Embora muitas ações ainda sejam necessárias, para que a inclusão na educação se torne uma realidade, é necessário adm itir a importância prática desse documento, pelo que ele significa em termos de orientação para as políticas públicas sociais. Os signatários dessa declaração acreditam e proclamam que:

• toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,

• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas,

• sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades,

• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,

• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. (UNESCO, 1994)

A referência à diversidade na educação como necessidades educativas especiais surgiu no Brasil a partir dos anos 90, conforme registro feito por Ferreira (1998, p. 18-19):

Em 1994, o documento sobre Política Nacional de Educação Especial do MEC referia-se ao alunado da área como “aqueles genericamente chamados de portadores de necessidades educativas especiais”. Quanto à LDB: de início, em 1988, o texto apenas reproduzia a indicação da Constituição, do atendimento educacional especializado para os "portadores de deficiência”. A referência às necessidades especiais aparece a partir de 1993, quando é incluída a categoria de superdotados. Em 94, também os alunos com problemas de conduta são acrescentados àqueles com necessidades especiais. A versão final, de 96, mantém a denominação genérica, mas não mais determina quais são as categorias ou tipos de necessidades especiais — ainda que contenha uma referência pontual aos deficientes e superdotados.