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3. ASPECTOS EDUCACIONAIS DA ATENÇÃO ÀS PESSOAS PORTADORAS DE

3.7 A sociedade inclusiva

O modelo da inclusão social tem sido considerado uma das propostas mais inovadoras das últimas décadas e está associado a movimentos e políticas sociais importantes, como o "desenho para todos" e a "educação para todos". Sob esse modelo compreende-se uma sociedade que aceite a diversidade étnica, estética, cultural, corporal, intelectual, religiosa etc, como característica do ser humano. Uma sociedade que acolha a todas as pessoas, entre elas tanto as pessoas com elevadas habilidades como as que apresentam algumas habilidades comprometidas, e se fortaleça com a contribuição dessas pessoas.

Contudo, é importante observar que a inclusão é um processo que vem sendo desenvolvido ao longo dos séculos, assumindo estágios e características distintas em sociedades diversas. Em termos de movimentos pró inclusão, que tiveram repercussão em várias outras sociedades, pode-se destacar a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", que foi promulgada pela Assembléia Nacional Francesa em 1789, mas, naquela época, as mulheres estavam excluídas da categoria dos cidadãos.

Os 34 países das Américas, representados na Conferência Internacional que gerou a Declaração de Manágua, em 1993, concordaram que:

Para assegurar bem estar social a todos os seus membros, as sociedades devem estar baseadas na justiça, igualdade, equidade, inclusão e interdependência e reconhecer e aceitar a diversidade. As sociedades devem também considerar seus membros, sobretudo, como pessoas e garantir-lhes seus direitos, dignidade, auto-determinação, amplo acesso aos serviços sociais e a oportunidade para que possam contribuir com a vida de sua comunidade. (CACL, apud Porter, 2001).

A Organização Mundial de Saúde, no documento do ICIDH-2, define a participação como sendo o resultado das complexas relações existentes entre as condições individuais de saúde dos cidadãos, associadas a fatores pessoais e fatores externos, que representam as circunstâncias em que a pessoa vive. Devido a isso, pessoas com as mesmas deficiências e limitações de atividades podem ter níveis de participação bem distintos, resultantes de fatores contextuais, como as barreiras existentes no espaço físico e no espaço digital, as ajudas técnicas disponíveis, as condições de acesso às tecnologias de comunicação e informação etc. Pode-se, portanto, considerar que a sociedade também obstaculiza a participação das pessoas portadoras de deficiência, quando permite a existência das barreiras, sejam elas arquitetônicas, urbanísticas, atitudinais ou de acesso à informação, e quando esquece de definir políticas sociais adequadas à educação, qualificação profissional e alocação no mercado de trabalho, criando assim uma situação de exclusão social indireta para essas pessoas.

A pequena taxa de participação das pessoas portadoras de deficiência, na força de trabalho, está diretamente relacionada com a exclusão das mesmas do sistema educacional. Isto acaba ocasionando situações de pobreza e de dependência aos serviços sociais, representando também um desperdício de potencial humano, e acarretando muitas vezes em abandono, e desespero, à pessoa e aos seus familiares.

A OMS estima que apenas 5% das crianças com deficiência, nos países em desenvolvimento, tenham acesso a serviços de apoio de alguma espécie, e que menos de 2% recebam atendimento escolar. As barreiras físicas e atitudinais frequentemente

impedem que as fam ílias e as comunidades cuidem para que essas crianças tenham as mesmas oportunidades que as demais crianças (CIDA, 2000 apud Porter, 2001). Estas mesmas barreiras são enfrentadas pelas pessoas que adquirem a deficiência quando jovens ou- adultas e procuram aperfeiçoar- seus estudos ou participar do mercado -de— trabalho.

A inclusão social beneficia não apenas às pessoas que possuem a deficiência, mas também a todas aquelas que convivem com ela, pois em seu estudo sobre pessoas estigmatizadas Goffman (1963, p. 39) concluiu que "os problemas enfrentados por uma pessoa estigmatizada espalham-se em ondas de intensidade decrescente".

Uma sociedade que tenha a inclusão social entre seus objetivos deve se esforçar para eliminar as restrições à participação de seus membros. Isto pode ser alcançado zelando-se para eliminar as barreiras à acessibilidade no espaço físico e no espaço digital e cuidando sempre para equiparar as oportunidades. Parmenter (1998) observou que, embora existam barreiras para todos, o direito à participação, no limite da capacidade individual, deve prevalecer:

Hay barreras a la plena participación para todos nosotros, pero tenemos el derecho a participar hasta el máximo de nuestras capacidades. Nosotros podemos remover algunas barreras por nosotros mismos, pero otras pueden ser removidas por la sociedad en que vivimos. Una de las metas tempranas de los programas de discapacidad era ayudar a las personas con discapacidad a llegar a ser independiente. Este concepto ha sido sobreseído por el término interdependiente, un reconocimiento de que todos somos simultáneamente independientes y dependientes. El concepto de inclusión captura el espíritu tanto de participación como de interdependiente.,

Sassaki (1998, p. 10) considera que embora já haja resultados em termos da inclusão escolar a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda ocorre, na maioria das vezes, sob o modelo da integração, cabendo à pessoa com a deficiência adaptar-se ao que as empresas solicitam.

Uma sociedade que queira se aproximar do modelo da sociedade inclusiva deve procurar soluções para garantir a participação das pessoas portadoras de deficiência em todos os setores sociais, tais como a educação, o trabalho e o lazer.

Essas modalidades de participação das pessoas na sociedade são altamente dependentes da legislação existente, e dos sistemas de comunicação e transporte, sendo por isso importante que, no estabelecimento das políticas públicas para esses setores, seja sempre observado o seu impacto sobre as pessoas portadoras de deficiência e a relação da política, de um setor, com os demais setores.