• Nenhum resultado encontrado

Antes de compartilharmos as informações acerca do perfil dos/as professores/as e de suas necessidades formativas e concepções de inclusão, é interessante conhecermos, mesmo que de forma breve, a instituição escolar, cenário de nossa pesquisa, um ambiente rico em cultura com lacunas a serem preenchidas com conhecimentos dos que chegam, permanecem ou vão embora. Para Magalhães (2005, p. 42),

a cultura da escola tem peculiaridades: processos de mutação podem ocorrer com a entrada e saída de um núcleo gestor, pelas flutuações referentes às transferências docentes e de alunos. Essa cultura não pode ser pesquisada visando somente a descrição da realidade como se apresenta para os sujeitos das pesquisas.

Com a finalidade de podermos conhecer um pouco mais da escola, da sua cultura, parte essencial da realidade na qual desenvolvemos o presente estudo dissertativo, foi preciso penetrar nas entranhas ocultas da escola; ler nas entrelinhas escritas e lidas por cada ator, parte da comunidade escolar; encarar face a face,

olho no olho, às vezes de perfil, aqueles que contracenam dia a dia no cenário de ensino-aprendizagem, mediante contato oral e/ou escrito.

Trata-se de uma das 54 unidades de ensino público municipal num universo de 136 existentes na rede, incluindo os Centros Municipais de Educação Infantil/CMEIs, até início do ano 2012. Funciona na Zona Norte da capital, no Pajuçara, um bairro periférico marcado pelo precário funcionamento do sistema de transporte público, por ser um dos bairros mais distantes do centro. A escola tem alcançado os seguintes Índices de Desenvolvimento da Educação Básica/IDEB19: 3.7, 3.8 e 4.1, em 2007, 2009 e 2011, respectivamente. Funciona em prédio próprio da Secretaria Municipal de Educação e foi inaugurada em 22 de maio de 2007, embora seu funcionamento tenha sido autorizado pelo Decreto n. 7.147/2003, publicado no Diário Oficial do Município do dia 13 de março de 2003 (quase quatro anos depois desse decreto).

Em consonância com a Resolução n. 004/2007 do Conselho Municipal de Educação20, que dispõe sobre o Sistema de Ensino do Município de Natal, a escola oferecia Ensino Infantil (níveis III e IV) e Ensino Fundamental (anos iniciais), de acordo com o Art. 15 da referida resolução, porém, a partir de 2012, passou a ofertar apenas o fundamental, ou seja, do 1º ao 5º ano.

Quanto ao espaço físico, dispõe de uma boa e conservada estrutura: 12 salas de aula, 01 laboratório de informática, 01 laboratório de ciências, 01 biblioteca, 01 Sala de Recursos Multifuncionais/SRM, 01 arquivo, 01 secretaria, 01 sala de coordenação pedagógica, 01 sala da direção, 01 sala de professores, 08 banheiros, 01 cozinha, 01 despensa, 01 área de serviço, 01 refeitório, 01 quadra de esportes coberta, estacionamento, rampas de acessibilidades e um amplo pátio com árvores ao centro.

Para realizar o trabalho educativo, pedagógico, a escola conta com a colaboração de 69 profissionais comprometidos em envolver o aluno na prática do exercício da cidadania. Os profissionais estão distribuídos da seguinte forma: 01 diretor/a, 01 vice-diretor/a, 01 assistente financeiro, 04 coordenadores pedagógicos, 08 auxiliares de secretaria, 02 professoras da biblioteca, 32 professores de sala de aula, 01 professor da sala de recursos multifuncionais, 13 auxiliares de serviços gerais (apoio e merenda) e 05 porteiros.

19

Disponível em: <http://ideb.inep.gov.br/>. Acesso em: 23 out. 2011.

20

No ano da coleta de dados empíricos, conforme o Censo Escolar21 (2012), a escola teve matrícula total de 689, sendo 682 matrículas iniciais e 07 após esse período. Do total de alunos matriculados, 519 foram aprovados, 78 reprovados, 34 transferidos e 10 deixaram de frequentar. Há uma média de 25 a 30 alunos por turma, sendo quatro turmas de 1º ano; quatro de 2º ano; quatro de 3º; seis de 4º; e quatro de 5º ano, nos dois turnos. No ano de 2012, a escola teve ainda 250 alunos matriculados no Programa Mais Educação (127 no turno matutino e 123 no vespertino), ligado ao Projeto de Escola em Tempo Integral, do governo federal, que é frequentado pelos alunos no contraturno da aula comum.

A escola realiza planejamento pedagógico anual, com todos os docentes da escola, e semanal, por turno, da seguinte forma: na segunda-feira, com os professores das disciplinas específicas (Educação física, Artes, Religião e professor do AEE); na terça-feira, com os dos 1º e 2º anos; na quarta-feira, com os dos 3º; na quinta-feira, com os dos 4º; e na sexta-feira, com os professores dos 5º anos, todos articulados pelos coordenadores de cada turno.

Realiza também reuniões administrativas anuais, com todos os colaboradores da escola, e bimestrais, com os pais. Nestas, são tratados assuntos relacionados tanto ao comportamento do aluno e seu rendimento escolar quanto à dinâmica escolar, como datas comemorativas, eventos, passeios, entre outros que envolvam a participação dos alunos.

Do total de alunos já mencionado, 11 eram atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais, conforme mostra o quadro com os dados organizamos, abaixo:

Atendimentos na Sala de Recursos Multifuncionais

Turno Matutino Vespertino

Ano 3º 4º 5º 2º 5º Deficiência física 2 1 Deficiência intelectual 1 4 Déficit cognitivo 1 Déficit de atenção 1 Síndrome de Dubowitz 1

Quadro 2 – Atendimentos na Sala de Recurso Multifuncional por turno Fonte: Elaborado a partir dos dados coletados pelo autor.

21

Sendo cinco no turno matutino e seis do vespertino. Dos cinco alunos do turno matutino, três apresentavam deficiência física causada por paralisia cerebral (dois no 3º ano e um no 5º); um, deficiência intelectual (4º ano); e o outro, déficit cognitivo (4º ano), conforme laudo médico. Dos seis alunos do turno vespertino, quatro têm deficiência intelectual, sendo um com características de Síndrome de Down (todos do 5º ano); um, déficit de atenção (5º ano); e um, Síndrome de Dubowitz (2º ano).

Os alunos com deficiência, depois de matriculados, são distribuídos nas salas de aula regular, de acordo com a aceitação de cada professor e com a disponibilidade de professor/a auxiliar pela Secretaria Municipal de Educação/SME. Mesmo considerando que o AEE deve ser oferecido no contraturno, todos os alunos mencionados frequentam o atendimento educacional especializado no horário da manhã, devido à ausência do profissional especializado no turno da tarde. Desde que o serviço foi implantado, a SME enviou profissional apenas para um turno.

Ressaltamos que alguns desses alunos não constam no Censo Escolar da Educação Especial por não terem laudo médico, mas as causas de suas necessidades específicas se encontram em fase de investigação junto a outros profissionais.

Com relação à origem social da população atendida pela escola estudada, podemos afirmar que é composta por filhos de trabalhadores assalariados que procuram bairros mais afastados do centro por estes terem um menor custo de vida. É interessante destacar que o povoamento da área onde a escola está situada iniciou-se, segundo dados do Projeto Político-Pedagógico/PPP da escola, em 1987, com a construção dos conjuntos habitacionais Pajuçara I e II. Contudo, foi a partir da década de 1990 que esse povoamento intensificou-se por meio do Plano de Ação Imediata de Habitação do Governo Federal/PAIH, financiamento concedido pela Caixa Econômica Federal para construção de embriões (imóveis com dois vãos: sala com uma pia e banheiro), contemplando a população de baixa renda, até então excluída do mercado habitacional (PPP, 2009).

Nessa direção, podemos nos reportar a um estudo realizado por Barroso (2003, p. 18) sobre os Indicadores de Qualidade de Vida/IQV22 na cidade de Natal/RN, o qual contemplou três dimensões: renda, educação e questão ambiental.

22

O autor destaca que “os bairros localizados nas regiões norte e oeste apresentaram os mais baixos índices, conjuntamente com 06 bairros da região leste [...] e apenas um bairro da região sul” (BARROSO, 2003, p. 18). Afirma ainda que

todos os bairros das regiões norte e oeste foram classificados com nível baixo em relação à dimensão renda. Isto significa dizer que esses bairros concentram a menor renda média dos chefes de domicílios e os maiores percentuais de chefes com renda até 2 salários mínimos (BARROSO, 2003, p. 27).

Com relação à educação, Barroso (2003, p. 24) expõe que o bairro Pajuçara está entre “os onze, distribuídos nas regiões norte, leste e oeste, que atingiram o nível médio do índice educação”.

O trabalho de Silva, Pereira e Magalhães (2011, p. 151), realizado na mesma escola, aponta que a instituição tem se mostrado aberta a receber e atender qualitativamente os alunos com deficiência. Nesse sentido, começa a se consubstanciar o direito desse grupo à escolarização.