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PLENÁRIA DA ECONOMIA SOLIDÁRIA CONTRIBUIÇÕES PARA O PME Data: 08/

“ESCOLA DE CONSUMO EM SÃO CARLOS – SP”

Muitos dos problemas ambientais e sociais da sociedade ocidental moderna são decorrentes das formas de consumo predominantes nesta época de globalização e crescimento econômico desenfreado. Práticas irresponsáveis têm levado tanto à degradação ambiental, algo que nas últimas décadas passou a ser amplamente debatido, como à precarização de trabalhadores, contribuindo para a desigualdade social. O debate da questão ambiental tem elementos de ligação claros com a produção e consumo de produtos que se transformam em resíduos que, ou não são reaproveitáveis e descartados na biosfera, ou em que na sua produção, distribuição ou utilização causam danos ambientais, como a utilização massiva de meios de transporte que são supridos por combustíveis fósseis ou a extração extensiva de recursos ambientais, que ainda geram resíduos, bem como o desmatamento que abre espaço à produção agrícola e pecuária. Contudo, a questão social do consumo não é tão privilegiada por este debate. Formas de consumo desenfreadas e que privilegiam determinados tipos de produtos e de produtores, provocamdesequilíbrios sociais, tais como a concentração de renda por parte de uma minoria, enquanto que a grande parte dos trabalhadores encontra-se em condições de precariedade socioeconômica. O consumo irrefletido, responsável em parte por essas condições, tem características como a tendência para consumir sem necessidades reais, com o uso de critérios parciais, circunstanciais ou individualistas (privilegiando a aparência, a promessa de valorização social pela publicidade, a disponibilidade imediata de bens e serviços), além do impacto ao meio ambiente. Portanto, processos de sensibilização e conscientização quanto às conseqüências dos comportamentos de consumo são necessários para uma mudança deste quadro de desequilíbrio associado a este padrão.

O grupo ConsumoSol surgiu a partir de iniciativa da Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar (INCOOP/UFSCar) justamente pela articulação entre consumidores, produtores e distribuidores em busca de estratégias que otimizem as formas de produção, distribuição e consumo compatíveis com uma perspectiva solidária, justa e ambientalmente correta. O grupo mantém ou colabora com atividades como feiras de trocas, compras coletivas (com a proposta de estabelecer relações diretas e de confiança entre produtores e consumidores, e reduzir os custos de intermediários), oficinas de consumo ético, solidário e responsável, entre outras. A partir de experiências espanholas, identificadas como parte das atividades de um estágio pós-doutoral realizado por membro do grupo ConsumoSol naquele país, implementadas por meio das denominadas Escolas de Consumo criadas e mantidas em algumas Comunidades Autônomas da Espanha como forma de atendimento a uma política pública nacional de educação para o consumo, o grupo iniciou discussões e estudos voltados para a proposição de estratégias similares, ao menos em âmbito local, em São Carlos. As Escolas de Consumo espanholas funcionam em parceria com outras instituições

197 como as universidades ou ONGs. Suas ações prevêem a discussão e sensibilização da temática do consumo e que busca uma formação cidadã.

O Grupo ConsumoSol foi criado a partir de projetos voltados para o apoio à Economia Solidária. Esta alternativa de organização e comercialização ao capitalismo convencional centra-se em alguns princípios que atendem aos interesses da educação para o consumo. De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária59, e economia solidária é definida pelo conjunto de atividades econômicas que se organizam pela autogestão, pela participação democrática dos membros nos processos decisivos e pela distribuição equitativa dos resultados. O cenário da Economia Solidária vem se expandindo no país. Vários municípios da Federação têm projetos de fomento à Economia Solidária ou lei já aprovadas. É o caso de cidades como São Bernardo do Campo, SP; Londrina, PR; Osasco, SP; São Carlos, SP; e até estados como o Rio Grande do Sul. A existência de leis que garantam que a Economia Solidária se torne uma política de estado, mais do que de governos específicos, fortalecendo organizações populares solidárias, representa oportunidade relevante para inserir práticas de consumo menos destrutivas socialmente. No caso específico de São Carlos, a Lei Municipal prevê, na Sessão I dos Instrumentos, no artigo 10º, “inclusão do tema Economia Solidária na rede municipal de ensino”, podendo esta constituir uma base para inserir o tema do consumo ético, responsável e solidário nesta rede. Na mesma direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais60, no conjunto temático Meio Ambiente dos Temas Transversais para o terceiro e quarto ciclos da educação básica, indica como responsabilidade da escola e dos professores o questionamento dos valores de consumo:

"Portanto, deve-se possibilitar aos alunos o reconhecimento de fatores que produzam bem-estar ao conjunto da população; ajudá-lo a desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo que respeite o ambiente e as pessoas de sua comunidade" (p.202)

Em busca de estratégias que possibilitem a inserção da formação para o consumo, de modo estável e duradouro, como parte constituinte da formação de cidadãos, estamos em busca de parceiros que, sensibilizados por tal necessidade participem dos esforços coletivos para encontrar vias concretas de implementação de ações educativas para promoção de práticas de consumo éticas, responsáveis e solidárias, eventualmente na forma de uma escola de consumo no município, considerando a experiência espanhola e as especificidades de São Carlos. Etapas intermediárias e experimentais de construção do projeto poderão ser propostas e implementadas, a partir de um trabalho conjunto, que terá maior chance de sucesso à medida que estejam envolvidos em seu desenvolvimento gestores públicos e pesquisadores que se dedicam à temática.

Esta iniciativa é inovadora e apresenta perspectivas de melhoria de vida aos educandos, pois serão motivados a consumir produtos mais saudáveis e ao exercício da cidadania, que por sua vez, contribuirá para o melhor equilíbrio social e ambiental das relações de consumo.

59 Secretaria Nacional de Economia Solidária / MTE. Termo de referência para o mapeamento da

economia solidária e Sistema Nacional de informações em Economia Solidária. Brasília: TEM/SENAES,

2004

60Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: temas transversais - meio ambiente. vol.

198 Neste sentido, colocamo-nos à disposição para outros esclarecimentos que se façam necessários e sugerimos a definição de pelo menos um interlocutor para darmos prosseguimento ao debate sobre nossa proposta.

São Carlos, 25 de Novembro de 2010

Em nome da equipe de apoio ao ConsumoSol,

ANA LUCIA CORTEGOSO (16) 9174-1593

199 ANEXO F – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos

Pesquisador: Título:

Instituição:

Versão: CAAE: